VAL , MARGARIDA BARROS DO . ACABOU - SE O QUE ERA DOCE , BRINCANDO DE GENTE
GRANDE: A VIOLÊNCIA DO TRABALHO INFANTIL. DISSERTAÇÃO (MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA,
AREA DE CONCENTRAÇÃO : PRODUÇÃO , AMBIENTE E SAÚDE ). N ÚCLEO DE ESTUDOS DE
SAÚDE COLETIVA E FACULDADE DE MEDICINA, UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO,
RIO DE JANEIRO, 2003. O RIENTADORA: ANAMARIA TESTA TAMBELLINI .
RESUMO
O trabalho infanto-juvenil é um problema que afeta a saúde desta população e se constitui
num problema mundial, que se verifica mais intensamente nos países ditos “em
desenvolvimento”. No Brasil, esta modalidade de trabalho é uma realidade e impõe-se a
necessidade de desenvolver pesquisas nesta área dado que é escassa a produção científica
sobre o tema. Como objetivo temos identificar, caracterizar e analisar o trabalho infantojuvenil (7 à 14 anos) em comunidade favelizada da zona norte do município do Rio de
Janeiro (RJ), tendo em vista as características das famílias, suas definições de saúde e o
conhecimento sobre a relação desta com o trabalho infanto-juvenil.Usando um censo
sanitário local (FUNASA) foi possível identificar um grupo de 41 famílias com filhos
pertencentes ao grupo etário de 7 à 14 anos (população alvo). Através de entrevistas semiabertas, estas famílias foram caracterizadas segundo variáveis sócio-demográficas, conceitos
de saúde, relações do trabalho infanto-juvenil com a saúde e a existência de menores
trabalhadores. Os cinco menores trabalhadores identificados foram observados em suas
atividades laborais e submetidos à entrevista semi-aberta onde relataram suas experiências
de trabalho, conceitos de saúde e seu pensamento sobre as relações do trabalho exercido
com sua própria saúde. A metodologia utilizada compõe aspectos quantitativos e qualitativos
do objeto e suas relações no interior das unidades familiares e assume forma analítica
qualitativa quando se refere à observação e relato dos pequenos trabalhadores. Evidenciouse a forma contingente, porém acomodada, com que o trabalho é aceito e justificado, seja
pela família, seja pelos pequenos trabalhadores, deixando claro, a importância dos ganhos
econômicos por ela auferidos na manutenção da renda familiar, dado o quadro de desemprego
e precarização do trabalho dos adultos. Nestes termos, o trabalho infanto-juvenil não é
encarado como violência social, nem como atividade que possa produzir doença, agravar
ou deteriorar as condições de saúde destes menores, o que fica patente quando se compara
às famílias cujos filhos trabalham com àquelas onde tal não acontece.As justificativas que
mantém este tipo de trabalho, além das econômicas, são de ordem cultural: os pais
entraram precocemente no mercado de trabalho e vêem a inserção precoce com naturalidade;
social: o trabalho é tomado como experiência de aprendizado e realização do indivíduo no
meio social, além de ser considerado como elemento que previne a marginalidade a que
estão expostos os jovens e crianças no meio em que vivem.
Os próprios trabalhadores precoces negam os riscos do trabalho no intuito de serem
aceitos pelo coletivo de trabalhadores adultos, e já incorporam a idéia de naturalidade
do trabalho infanto-juvenil, glorificando a condição de trabalhador. A observação
mostra que todos os trabalhos executados por menores são inseguros/insalubres, (riscos
biológicos, psicológicos, mecânicos, químicos, de diferentes tipos de acidentes e violências),
a carga de trabalho não é adequada para a idade, e, apesar do exposto, nenhum deles
tem direitos e/ou benefícios respeitados. O trabalho infanto-juvenil pode ser considerado
como marca da exploração e manutenção do regime econômico em que vivemos: os
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empregadores não respeitam a legislação existente; os pais não levam em conta os
cuidados exigidos para a saúde dos filhos no grupo etário estudado, seja por ignorância
ou carências nos planos da cidadania, educação, informação e econômico
principalmente; as crianças e jovens trabalhadores aceitam e corroboram as idéias dos
pais sobre a saúde, o trabalho e a relação entre ambos e estão submetidos a riscos à
saúde e comprometimento de sua educação formal devido a necessidade de trabalhar
e ganhar dinheiro para ajudar na sobrevivência do núcleo familiar.
PALAVRAS-CHAVE
Trabalho Infanto-juvenil, saúde do trabalhador, conceitos populares de saúde
“Lapsed that was sweet, kidding of people large: the violence of the
work infantile”
ABSTRACT
The infant-juvenile work is a world wide problem. It affects the health and development of
children and adolescents, especially in the so called developping countries. The problem is
particularly important in Brazil, despite the appropriate legislation. Further research is
needed in order to understand and provide means to organize the control of these figures
and their health consequences prevention. To analyse the work-health relationships within
a group of working children and adolescents (7-14 years old) who lived in a slum community
of the city of Rio de Janeiro, Brazil. Using data from a local sanitary census, 41 families
with 7-14 years old children were identifiend (target population). By aplying semi-open
interwiews, the families were characterized according to sociodemographic variables, health
concepts, existence of infant-juvenile workers and the types of infant-juvenile works and
health relationships. They were observed while performing their labour activities and submited
to a open intervieves about their work, concepts of health and effects of the work upon their
our health conditions. It was evident that this kind of work is accepted and justified by the
children/adolescent workers and their families. Its importance to the mantainance of
familiy income was highlighted, in view of the high levels of adult unemployment. Besides,
this kind of work is not perceived as a social or familiar violence, neither as a risk factor for
disease ocurrence or health state deterioration. Such perceptions could be verified through
the comparison among families with and without that kind of work, and may be explained
by variables of cultural, social and economic order. The working children/adolescents
denied the risks and hazards related with their activies in order to be accepeted by the adult
workers. The observations showed that all of the working activities were unsafe and/or
morbigenous and full of occupational risks. The work load is heavy, extensive and none of
these workers have their rights preserved. The infant-juvenile work can be considered as an
indicator of the economic system maintenance and explotation: the entrepeneurs doesn’t
respect the legislation; the parents doesn’t care about their sons health, because they have
no information, little education, lower socio-economic status so they doesn’t understand
how to care or they can’t care; children and adolescents workers accept and reinforce their
parents ideas about health, work and its relantionship and they are submitted to health
risks and formal education lost because they have to work and get money to help their
families to survive.
KEY WORDS
Infant-juvenile work, workers health, health popular concepts
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Acabou-se o que era doce, brincando de gente grande