II Congresso Internacional de Educação Cientifica e Tecnológica – Santo Ângelo – 2012 PRÁTICA EM BIOLOGIA: UMA EXPERIÊNCIA DOCENTE 1 Maiara Bakalarczyk Corrêa1 IURI Santo Ângelo/ Departamento de Ciências Biológicas/ [email protected] 1 CONTEXTO DO RELATO A organização do ensino de Ciências tem sofrido nos últimos anos inúmeras propostas de transformação. Em geral, as mudanças apresentadas têm o objetivo de melhorar as condições da formação do espírito científico dos alunos em vista das circunstâncias histórico-culturais da sociedade. As alterações tentam situar a ciência e o seu ensino no tempo e no espaço, enfatizando em cada momento um aspecto considerado mais relevante na forma de o homem entender e agir cientificamente no mundo por meio de um conhecimento que, de modo geral, está além do senso comum (KRASILCHIK E MARANDINO, 2004). Porém, no Brasil, o ensino de ciências tem pouca ênfase dentro da educação básica, apesar da forte presença da tecnologia na vida das pessoas e do lugar central que a inovação tecnológica detém enquanto elemento de competitividade entre as empresas e as nações. Enquanto isso, em diversas partes do mundo, inclusive da América Latina, tem-se experimentado o impacto positivo do ensino de ciências sobre a qualidade da educação (WEISSMANN, 1998). A Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) – Campus Santo Ângelo, enquanto curso de Ciências Biológicas/Licenciatura; inclui em seu processo de formação o trabalho com oficinas práticas para projeção de futuros docentes capacitados. Conforme a Resolução CNE/CP 01, de 18 de fevereiro de 2002 no art.12º §2º consta que a prática pedagógica deverá estar presente desde o início do curso e permear toda a formação do professor, acrescentando ainda no art. 13º §1º que esta prática deverá ser desenvolvida com ênfase nos procedimentos de observação e reflexão, visando à atuação em situações contextualizadas, com o registro dessas observações realizadas e a resolução de situações problemas. Considerando a importância de tal, o Curso de Ciências Biológicas conta com quatro disciplinas de Laboratório de Ensino de Ciências Naturais, que utiliza como base o aprender fazendo; sendo que LEC I proporciona a vivência de algumas práticas em educação ambiental, com discussões e relatórios que seja, reflexivos a esta questão; LEC II foca no ensino de Ciências, o planejamento de aulas e a gestão pedagógica, além de, proporcionar o conhecimento sobre projetos e seus fundamentos, LEC III e IV permite aos alunos o desenvolvimento e aplicação dos conhecimentos de educação na elaboração de práticas de ensino em Ciências e Biologia, respectivamente; como meios para a iniciação da prática docente fundamentada e de qualidade. A formação inicial de professores deve ser organizada de modo que os futuros professores possam ir adquirindo as competências necessárias ao bom desempenho profissional. Assim, a formação de professores não deve consistir em um treinamento de técnicas e métodos, e sim, na ajudar aos futuros professores no seu desenvolvimento e autonomia profissional (CANDAU, 1988). O que o Curso de Ciências Biológicas da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) – Campus Santo Ângelo, consegue de forma satisfatória com a realização das oficinas realizadas nas LEC do currículo. Tal sucesso na aplicação da disciplina pode ser observada através das práticas realizadas pelos acadêmicos nas escolas dos municípios da região, que sempre dispõe espaço no ambiente educativo URI, 27-29 de junho de 2012. II Congresso Internacional de Educação Cientifica e Tecnológica – Santo Ângelo – 2012 para realização de tais atividades, pois reconhecem seu valor tanto para a formação acadêmica quanto para a qualidade do ensino de seus alunos. 2 DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES Considerando que atividades práticas, sejam elas manipulativas ou jogos, facilitam algumas habilidades científicas como observar e manipular; oportunizando a exploração, a extensão e o limite de determinados modelos e teorias (MIGUENS E GARRET, 1991); foi desenvolvida prática apresentando como objetivo identificar os grupos sanguíneos e determinar as diversas possibilidades de transfusão de sangue no sistema ABO, através da manipulação de peças. Para iniciar foram entregues as peças dos quebra-cabeças aos grupos formados. Explicou-se que as peças maiores representavam as hemácias com seus respectivos aglutinogênios, que estavam simbolizados pelos diferentes recortes junto à superfície das mesmas. E que as peças menores representavam os anticorpos, que se encontram no plasma (parte líquida) do sangue. Foi solicitado aos alunos que separassem sobre suas mesas as hemácias, formando conjuntos de peças iguais, segundo o tipo de aglutinogênio que cada uma possuía; separando os anticorpos seguindo suas respectivas formas. Deixou-se que os alunos formassem sozinhos, grupos de anticorpos que encaixassem nas hemácias e grupos de anticorpos que não se encaixassem nas hemácias. Estes, então, anotaram e perceberam as diferenças de cada grupo (mesmo ainda sem entender bem o porquê). Neste ponto explicou-se que: Quando peças se encaixam (aglutinogênio + anticorpo) formam-se grumos, aglutinação das hemácias. A aglutinação sangüínea pode interromper a circulação em determinados vasos, provocando: derrames, enfartes etc., por isso, em cada tipo sanguíneo só existe antígeno que não vá aglutinar o próprio sangue e que em uma transfusão não pode ocorrer o risco de haver aglutinação no sangue do receptor, etc. Foi indicado, portanto, que os alunos formassem grupos de hemácias e anticorpos de forma que não se encaixassem, explicando que é para que não ocorra aglutinação, estes serão os tipos de sangue. Em seguida, eles preencheram um quadro com os tipos de sangue do sistema ABO, de acordo com o que eles aprenderam, a partir da constituição destes novos conjuntos formados pelo grupo. E a partir deste e do quebra-cabeça responderam algumas questões para fixação. Preenchendo, por fim, outro quadro, que expressou as possíveis doações sanguíneas. Aulas práticas são excelentes para o contato direto com material biológico e fenômenos naturais, devem incentivar o envolvimento, a participação e o trabalho em equipe. Isto será possível no momento que um experimento bem planejado seja investigativo e tenha relação com o contexto de vida do aluno. Evita-se também a armadilha de achar que as aulas devem ser extremamente atrativas e coloridas. Na verdade o envolvimento, o interesse e a participação virão pelos “significados” que o tema possa gerar nos educandos e não pelo espetáculo que proporcionam (KRASILCHIK, 2004). 3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DO RELATO A atividade relatada ao ser realizada com os alunos evidenciou a diferença de aprendizado a partir de atividades práticas daqueles conteúdos que são ensinados somente de forma teórica. Considerando que a teoria por si muitas vezes URI, 27-29 de junho de 2012. II Congresso Internacional de Educação Cientifica e Tecnológica – Santo Ângelo – 2012 não alcança as relações necessárias a um compreendimento satisfatório do tema trabalhado. É difundida a necessidade de se conhecer os fundamentos/teorias para que, a partir destes se desenvolvam habilidades necessárias à transformação destes em prática para aplicação no dia-a-dia, o que torna o aprendizado significativo e útil. O que se encontra hoje como um dos principais desafios no ensino, alcançar um entendimento em nível de ultrapassar as barreiras da teoria distante do cotidiano para aplicação nas atividades diárias. Sendo que atividades, como a prática apresentada, possibilitam esta aprendizagem a ser aplicada à vida individual e coletiva dos alunos e para com a sociedade. Além disso, sestá ligada a uma questão apresentada como necessidade pelas redes de saúde, o que proporciona a reflexão da nossa contribuição na sociedade. Segundo Dewey, o aprendizado só ocorre quando há uma situação de problema real para se resolver. Com base nos conhecimentos teóricos e na experiência prática é possível solucionar o problema passando por cinco fases: caracterização da situação problemática; desenvolvimento da sugestão, observação e experiência; reelaboração intelectual; e verificação dos resultados. A prática aplicada se enquadra exatamente na situação de aprendizado mencionada por Dewey, onde foi previamente trabalhada a teoria, com auxílio de ilustrações e esquemas, sendo posteriormente, aplicada a prática que proporcionou a fixação e aplicação da teoria apreendida. Isto por meio de um problema apresentado e testado de duas formas, percebendo as consequências de cada uma delas, a partir das quais foi percebido o funcionamento sanguíneo no corpo e as possibilidades de transfusão. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a realização da prática referente à Transfusão sanguínea, além de se perceber ativamente o processo entre hemácias, anticorpos e antígenos no funcionamento do corpo, foi possível perceber a necessidade deste conhecimento na aplicação e transfusões de sangue, compreendendo as consequências de uma transfusão errônea ou a eficiência de uma transfusão feita de forma adequada. Num momento onde debates referente à saúde pública, manutenção de saúde e medidas preventivas, o trabalho com tipos sanguíneos e transfusões já se encontra justificado. Ao se considerar a importância deste conhecimento para instituições de saúde este conhecimento já se encontra referenciado. Além disso, ao se pensar o quão baixa é a taxa de doação sanguínea em nosso país – apenas 2% da população – para uma necessidade de mais de 5.500 litros/dia, toda a reflexão a respeito se torna, mais do que justificada ou referenciada, de extrema necessidade. Sendo que, segundo a Organização Mundial de Saúde, está porcentagem deveria estar próxima a 5. Em termos de ensino, a prática apresentada serve como exemplo e incentivo, aos trabalhadores em educação, quanto a necessidade em se aliar teoria e prática para se obter uma qualidade de ensino. O que se intensifica quando se fala no ensino de Ciências/Biologia, considerando sua importância para todos os indivíduos, independente das funções que venham a assumir ou a realidade em que se encontram. Já que sabe-se que a melhor maneira de cuidar do corpo/prevenir doenças é conhecendo seu funcionamento. Com este relato pode-se mostrar que é possível trabalhar com práticas apesar dos escassos períodos da disciplina nas escolas e com os resultados obtidos nota-se a diferença que gera na aprendizagem dos alunos. Já que por meio das URI, 27-29 de junho de 2012. II Congresso Internacional de Educação Cientifica e Tecnológica – Santo Ângelo – 2012 práticas podem interagir com o conhecimento adquirindo, aplicando-a em sala de aula e, posteriormente, em seu cotidiano; a partir das inúmeras reflexões realizadas para a conclusão da prática e as tentativas aplicadas que levam a avaliação dos resultados. Considerando o processo de formação acadêmica, práticas como esta permitem iniciar as experiências de práticas escolares onde os acadêmicos interajam com os alunos, de forma que seja possível conhecer as dificuldades no trabalho, exercitar a forma de atuar diante de uma turma e perceber a importância do papel a ser desempenhado, ressaltando a influência que o professor exerce sobre a maioria dos alunos. Servindo a própria prática como meio de valorização do ato educativo e da necessidade de se observar a turma como um todo sem deixar de dedicar um olhar individual aos alunos. Esta possibilidade de atuação constitui um verdadeiro treinamento para a docência, familiarizando o acadêmico com um expediente que exige solidez por parte de sua formação acadêmica e a busca e definição de uma didática efetiva para a abordagem e transmissão do conteúdo. Sendo, então, possível atingir uma ressignificância no trabalho com conteúdos já percorridos na graduação e acumular experiência na prática da docência. 5 REFERÊNCIAS HENGEMUHLE, A. Gestão de ensino e práticas pedagógicas. Rio de Janeiro: Vozes, 2004. KRASILCHIK, M. e MARANDINO, M. Ensino de ciências e cidadania. São Paulo: Moderna, 2004. KRASILCHIK, M. Prática de ensino de biologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2004. LIBÂNEO, J. C. Educação escolar, políticas, estruturas e organização. 2.ed. SP: Cortez, 2005. MALDANER, Otávio. A. A formação inicial e continuada de professores de química professor/pesquisador. Ijuí: Unijuí, 2000. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Referenciais para a formação de professores. Secretaria de Educação Fundamental: Brasília, 1999. MOURA, G. R. S.; VALE, J. M. F. do. O ensino de ciências na 5ª e na 6ª séries da escola fundamental. In: NARDI, R. (Org.). Educação em ciências da pesquisa à pratica docente. 3.ed. São Paulo: Escrituras, 2003. NARDI, Roberto (org.). Questões atuais no ensino de Ciências. São Paulo: Escrituras, 1998. NÓVOA, António. Formação de professores e profissão docente. In: António Nóvoa (coord.). Os professores e a sua formação. 3.ed. Lisboa (Portugal): Publicações Dom Quixote. 1997. OLIVEIRA, D. L. de. Considerações sobre o ensino de ciências. In: OLIVEIRA, D. L. de. (Org.). Ciências nas salas de aula. 2.ed. Porto Alegre: Mediação, 1999. PCN. Parâmetros curriculares nacionais: ciências naturais / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. WEISSMANN, H. Didática das ciências naturais: contribuições e reflexões. Porto Alegre: ArtMed, 1998. URI, 27-29 de junho de 2012.