Sessenta anos de pensamento na CEPAL
UNISC, agosto de 2011
Ricardo Bielschowsky, CEPAL
Continuidade e mudança
Continuidade em 60 anos: método históricoestrutural, teorização sobre o “subdesenvolvimento
relativo” (a “não-convergência”)
Periodização: seis décadas, cinco mensagens
Periodização (segundo mensagens
organizadoras da reflexão cepalina)
Etapa estruturalista (1948-1990)
• Anos 50: Industrialização
• Anos 60: Reformas
• Anos 70: Estilos (e discussão sobre endividamento versus
fortalecimento exportador)
•Anos 80: Superação com crescimento - asfixia da dívida
Etapa neo-estruturalista (1990-2011)
•Anos 90: Transformação produtiva com eqüidade (TPE) - fase
inicial
• 1998-2011: TPE (fase de amadurecimento e refinamento)
O pensamento estruturalista original e
sua atualidade
Teoria estruturalista (1º elemento)
 Caracterização das economias “periféricas” em
contraste com as “centrais”
 Anos
1950:
Baixa
diversidade produtiva e
especialização em bens primários;
 Hoje: diversidade produtiva e exportadora inadequada,
baixos efeitos de encadeamento, baixa densidade
tecnológica;
 Consequencias : Anos 1950: capacidade de geração de
divisas é limitada e a pressão por divisas é alta, diante
da necessidade de investimentos simultâneos em muitos
setores – processo muito exigente em matéria de divisas
(vulnerabilidade externa) e de poupança/investimento;
 Hoje: vulnerabilidade externa por brecha de divisas
6
Teoria estruturalista (2º elemento)

Anos 1950 e hoje : Grande heterogeneidade estrutural e
oferta abundante de mão-de-obra com rendimentos
próximos à subsistência;

Consequencias:
 Anos 1950 e hoje: Heterogeneidade determina
pobreza e má distribuição da renda;
 Anos 1950 e hoje : baixa produtividade média e hiato
de produtividade com relação aos países centrais
limitam o investimento e a competitividade
internacional;
7
Teoria estruturalista (3º elemento)



Anos 1950 : Quadro institucional e composição de
agentes pouco favoráveis à acumulação de capital e ao
progresso técnico
Hoje: idem, com atualizações: escassez de “global
players”, precariedade no sistema nacional de inovação
e nos
sistemas de financiamento, Estado pouco
aparelhado, etc ;
Consequencias : baixo investimento, inserção
internacional desfavorável, vulnerabilidade externa
 Análise das relações “centro-periferia” com base nesse
contraste.
8
Implicações analíticas e de política (I)
Tendências negativas:
Anos 1950: desequilíbrios estruturais na balança de
pagamentos (deterioração nos termos de intercâmbio,
assimetria entre importações e exportações, etc.), inflação
causada por fatores estruturais
Hoje: vulnerabilidade externa (nos ambitos produtivo e
financeiro) como fator central explicativo da instabilidade
macroeconomica
Análise da dinâmica do processo de substituição de
importações (anos 1950), análise da dinâmica cíclica
determinada por fatores internacionais
9
Implicações analíticas e de política (II)
 Como a industrialização espontânea (anos 1950) nas
estruturas periféricas é muito problemática (hoje: como a
diversificação produtiva e o progresso técnico nas
estruturas produtivas sao problematicas), é necessário
planejamento e suporte estatal, e há que atuar no âmbito
do comércio internacional a fim de atenuar as
desvantagens da periferia;
 A condição periférica supõe um modo próprio de
introduzir avanços técnicos, crescer, distribuir a renda e
relacionar-se com o resto do mundo (“dependente”), que
exige um esforço de teorização autônoma.
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Implicações analíticas e de política (III)
Subproduto do esforço teórico-histórico: Método
histórico-estrutural de análise do subdesenvolvimento
periférico latino-americano (Prebisch/Furtado) – Anos
1950 e hoje
(Interação entre o enfoque indutivo e o marco teórico
estruturalista: a análise das estruturas subdesenvolvidas
figura como referência teórica genérica para exame das
tendências históricas, constituindo um método que leva em
conta as mudanças de comportamento dos agentes sociais
e a trajetória das instituições).
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Aportes de Furtado ao estruturalismo
 Inclusão da dimensão histórica de longo prazo ao enfoque
estruturalista (Formação econômica do Brasil e da mérica
Latina)
 Análise da tendência à continuidade do subemprego
(Desenvolvimento e subdesenvolvimento)
 Vínculo entre crescimento e distribuição da renda
(Subdesenvolvimento e estancamento na América Latina,
Teoria e política do desenvolvimento econômico)
 Percepção do subdesenvolvimento como um “sistema de
cultura” (material e não-material): sistema cultural “travado”
(Dialética do Desenvolvimento, Cultura e Desenvolvimento em
Época de Crise)
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Tendências perversas a serem combatidas
 Etapa estruturalista
1.
2.
3.
4.
Desequilíbrio estrutural na balança de pagamentos,
inflação,
vulnerabilidade externa;
Insuficiência de investimento, de progresso técnico e de crescimento;
Preservação do subemprego, da pobreza e da má distribuição de renda;
Destruição da natureza (formulação de 1980)
 Etapa neo-estruturalista
qualificações
1.
2.
3.
4.
:
idem,
com
pequenas
Vulnerabilidade externa (devido ao comércio e finanças internacionais),
instabilidade macroeconômica;
Insuficiência de investimento, de progresso técnico e de crescimento;
Preservação do subemprego, da pobreza, da má distribuição de renda,
do não-cumprimento dos direitos da cidadania;
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Destruição da natureza
Periodização (segundo mensagens
organizadoras da reflexão cepalina)
Etapa estruturalista (1948-1990)
• Anos 50: Industrialização
• Anos 60: Reformas
• Anos 70: Estilos (e discussão sobre endividamento versus
fortalecimento exportador)
•Anos 80: Superação com crescimento - asfixia da dívida
Etapa neo-estruturalista (1990-2011)
•Anos 90: Transformação produtiva com eqüidade (TPE) - fase
inicial
• 1998-2011: TPE (fase de amadurecimento e refinamento)
Sexta década : Cinco novas formulações
1. Balanço das reformas
2. Cidadania e coesão social
3. Fusão entre
schumpteriano
os
enfoque
estruturalista
e
4. Uma agenda para a era global
5. Fluxos de capitais, vulnerabilidade externa e
política macroeconômica anticíclica: refinamento
da análise
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Balanço das reformas
LUZES
Institucionalidade
macroeconômica mais estável
Redução da inflação e controle de
déficit fiscal
SOMBRAS
Vulnerabilidade externa, problemas de
balança de pagamentos
Crescimento econômico instável e
volátil
Dinamismo exportador
Poupança e investimento insuficientes
Atração do investimento
estrangeiro direto
Baixa propensão à inovação
Modernização produtiva de
grandes empresas
Altos níveis de desemprego, precariedade
laboral e informalidade, baixos salarios
Aumento do gasto social
Altos níveis de pobreza
Democracia
Alguma melhora nos indicadores
sociais
Melhora muito insuficiente nos
indicadores sociais
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Deterioração ambiental
Cidadania e coesão social
1.
Análise da problemática social da TPE sob uma nova
arquitetura conceitual:




2.
Prisma dos direitos humanos (entendidos como universais,
indivisíveis e interdependentes)
Políticas sociais regidas pelos princípios da universalidade,
soliderariedade e eficiência
Integralidade no tratamento das políticas sociais: conexões
entre elas e com as políticas econômicas
Integração dos cidadãos à vida política.
Análise da participação dos cidadãos nos processos
decisórios sobre as políticas sociais (estudos sobre
“percepção” e sobre organização social)
Fusão entre os enfoques estruturalista e
schumpteriano
Modelo de “não-convergência”, restrição determinada pelo
comércio internacional, medida pelas elasticidades de
exportação e importação (enfoque estruturalista), e determinada
pelo fato de que estas últimas resultam da “brecha tecnológica”
(enfoque schumpteriano)
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Uma agenda para a era global
(em três dimensões: global, regional e nacional )

Buscar uma globalização mais equilibrada

Fortalecer o papel crítico do espaço regional

Impulsionar estratégias nacionais ante a
globalização
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Fluxos de capital, vulnerabilidade externa e
política macroeconômica anticíclica

Controlar o excesso de entrada de capitais de curto prazo e seus
efeitos sobre a taxa de câmbio e a atividade econômica

Vigiar os desajustes financeiros, tanto nos fluxos como nas
estruturas dos balanços; evitar os déficits públicos e privados
insustentáveis

Manejar as políticas cambiais, fiscais e monetárias de forma
anticíclica (flexibilidade no manejo das políticas)
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Desafios da sétima década: o documento
“A Hora da Igualdade”, e depois
Mensagem central : Dinamismo econômico
integrado a igualdade social
•
Crescer para igualar e igualar para crescer
 Com uma macroeconômia que suavize a volatilidade, fomente a produtividade e
seja favorável à inclusão
 Com dinâmicas produtivas que fechem brechas internas e externas
•
Igualar potenciando capacidades humanas e revertendo ativamente disparidades:
 Universalizar direitos e prestações
 Convergencia de setores e territórios
•
Com mais e melhor Estado para redistribuir, regular e fiscalizar, garantindo
segurança social
Elementos estruturalistas en el “la Hora de la
Igualdad”
•
Uma análise de natureza histórico-estrutural dos impactos da crise
recente sobre a región;
•
Uma análise dos problemas da instabilidade gerada pela
vulnerabilidade externa, e das políticas macroeconomicas para seu
enfrentamento considerando-se nossas condiçoes estruturais e
institucionais periféricas;
•
Uma análise da heterogeneidade estrutural e das brechas de
productividade nos países da região, assim como das políticas
necessárias à homogeneização e à diversificação produtiva e
exportadora;
25
Elementos estruturalistas no
“A Hora da Igualdade”
•
Uma análise que toma nosso padrão de desenvolvimento
económico – ritmo de crescimento e natureza da mudança
estrutural – como base para entender a dinâmica do emprego e
da institucionalidade do trabalho, e para avsaliar as causas das
brechas sociais por fechar;
(Dito de outro modo, a heterogeneidade social é um reflexo dla
heterogeneidade produtiva, tal como - em base à idéia de
heterogeneidade produtiva que estava nos textos inaugurais de
Prebisch - Pinto y Furtado assinalaram com tanto ênfase nos
anos 1960).
•
Uma análise da necesidade de contar com o Estado para
construir a equação de solução aos problemas pendentes.
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Visão de conjunto da contribuição cepalina nos 60 anos:
subdesenvolvimento como processo evolutivo específico
de estruturas produtivas e sociais heterogêneas
Análise das debilidades da estrutura institucional, produtiva e social, e
de suas exigências em termos de políticas econômicas
•Análise das barreiras à criação, incorporação e difusão do progresso técnico
•Análise do subemprego (informalidade), da pobreza e da má distribuição de
renda
•Análise de fragilidades institucionais
•Análise da insustentabilidade ambiental
Análise das interações entre crescimento e distribuição de renda
( padrão, estilo de desenvolvimento)
Análise da inserção internacional e da vulnerabilidade externa
Análise de determinantes não-monetários do processo inflacionário
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Considerações finais: especulações sobre desafios
temáticos para os próximos dez anos
a) A macroeconomia latino-americana e caribenha no novo contexto
financeiro global
b) Determinantes de investimentos fixos (maior equilíbrio com
inovação)
c) Análise conjunta entre a heterogeneidade produtiva e a social
e) Ênfase na mudança climática
f) Desafios da expansão chinesa e asiática à industria e à
diversificação produtiva
f) Retorno à ideia de estilos de desenvolvimento
h) Mais Estado - para impulsionar que projetos de investimento ?
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