Reitor em exercício da Universidade Federal do Ceará, Prof. Henry de Holanda Campos, em nome do qual saúdo todos os integrantes da mesa. Minhas caras concludentes, meus caros concludentes, em nome dos quais saúdo seus familiares. Minhas senhoras, meus senhores. Minhas saudações a todos os estudantes em seu dia! John Lennon certa vez disse: “um sonho que se sonha só, é apenas um sonho que se sonha só, mas um sonho que se sonha junto, é realidade”. E este sonho de vocês que se realiza hoje, certamente foi compartilhado por muitas pessoas, dentre elas seus familiares, amigos e colegas de curso. Com efeito, os sonhos são muito importantes, e a partir deles a Humanidade realizou muitas conquistas. Um dos discursos mais famosos da História, proferido por Martin Luther King Jr, é conhecido pelo nome “I have a dream” (“Eu tenho um sonho”). De fato, eu penso que se você é capaz de sonhar, você é capaz de fazer. Os sonhos nos impulsionam na busca pelos nossos ideais, se constituem em alimento para nossa alma, e os ideais são nossa bússola pelos caminhos da vida. O comandante das forças aliadas na segunda Guerra Mundial, General Douglas Macarthur, tem um frase que nos faz refletir sobre isso: “os anos enrugam a pele, mas a falta de uma ideal enruga a alma”. E é por isso que vemos tantas pessoas, que como a nossa UFC, estão na terceira idade, mas têm uma alma jovem. Naturalmente que parte desses ideais nos remetem a conquistas no campo intelectual, como a conquista da noite de hoje. Mas a forma como vemos o mundo, pode influenciar na identificação desses ideais, mesmo quando restritos ao campo da aquisição do conhecimento intelectual. E isso me lembra uma parábola oriental em que, certo dia, um príncipe indiano mandou chamar um grupo de pessoas que nasceram sem a capacidade de enxergar, e os reuniu no pátio do palácio. Ao mesmo tempo, mandou trazer um elefante e o colocou diante do grupo. Em seguida, conduzindo-os pela mão, foi levando as pessoas até o elefante para que o apalpassem. Um apalpava a barriga, outro a cauda, outro a orelha, outro a tromba, outro uma das pernas… Quando todos tinham apalpado o elefante, o príncipe ordenou que cada um explicasse aos outros como era o animal. O que tinha apalpado a barriga disse que o elefante era como uma enorme panela. 1 O que tinha apalpado a cauda até os pelos da extremidade, discordou e disse que o elefante se parecia mais com uma vassoura. Aquele que tinha apalpado a orelha falou: “Se ele se parece com alguma coisa é com um grande leque aberto.”. O que apalpara a tromba deu uma risada e interferiu: - “Vocês estão por fora. O elefante tem a forma de uma mangueira de água…” Por fim o último, que apalpara a perna, replicou “ele é como o tronco de uma grande árvore” O príncipe então disse: “O elefante é tudo isso que vocês falaram. No entanto, tudo isso que cada um de vocês percebeu é só uma parte do elefante. Não devem negar o que os outros perceberam. Devem apenas juntar as experiências de todos, e tentar imaginar como a parte que cada um apalpou se une com as outras, para formar esse todo que é o elefante.”. Essa parábola nos mostra que todo aspecto da vida depende da perspectiva que temos da mesma. Pessoas diferentes podem ter visões diferentes de um mesmo problema, e nenhuma delas estará errada, apenas terá uma visão incompleta da realidade. A Natureza é como esse elefante, e as áreas de conhecimento definidas pelos homens, a Engenharia, a Física, Química, Biologia, Filosofia, Psicologia, dentre outras, são apenas partes desse elefante. E nós, enquanto estivermos enxergando e analisando a Natureza apenas pelos sentidos de nossa especialização profissional, seremos com as pessoas que descreveram apenas parcialmente o elefante, e não teremos uma visão completa dos problemas que teremos que resolver. Com isso quero dizer que muitos problemas que vocês deverão se defrontar em suas vidas profissionais, não estarão restritos apenas à área de conhecimento mais específica de vocês, e conseqüentemente as soluções também não estarão. De fato, a complexidade cada vez maior dos problemas que nossos profissionais de Ciência e Tecnologia deverão enfrentar, não permite mais que eles sejam vistos apenas como problemas de Ciência e Tecnologia. Afinal, Ciência, Tecnologia, Humanidades e tantos outros termos usados para delimitar o conhecimento, são invenções dos homens, não da Natureza, pois a Natureza é uma só. É verdade que os avanços nas diversas áreas do conhecimento não permitem mais que um só homem o detenha de forma completa, como acontecia no mundo renascentista. Mas uma especialização que nos torne completamente cegos quanto a outras áreas de conhecimento, pode nos levar a soluções que nos trarão ainda mais problemas, ao longo do tempo. Os problemas que tentamos resolver não estão isolados de quem tenta resolvê-los. Esse modelo restrito precisa ser substituído por uma visão mais abrangente do mundo, e a própria Física Quântica, pelo menos na interpretação de Copenhagen, reconhece que o observador e o objeto observado, fazem parte de um mesmo sistema, influenciando-se um ao outro. O fenômeno do aquecimento global, com as suas duras repercussões, sentidas em nosso próprio estado, nos fornece um exemplo claro dessa interdependência, como se a Natureza estivesse nos querendo dizer algo. No entanto, muitas vezes não a escutamos, e precisamos de mais tecnologia para sanar problemas que o uso da tecnologia provocou; e o ciclo continua... Não que a Ciência e a Tecnologia sejam causadoras de problemas na natureza, como o 2 aquecimento global; mas o uso que fazemos delas pode sim, ser danoso. Daí a importância do profissional dessas áreas terem sim contato com conhecimentos de outras áreas, e é por isso que teu trouxe a parábola do Elefante para nossa reflexão. Assim, penso que é importante termos consciência que os conhecimentos que adquirimos, em nosso processo de formação acadêmica, são apenas parte de um todo muito maior, e que portanto, a conversa entre saberes é importante para que tenhamos uma idéia desse imenso elefante que é o mundo. A verdade é que, como a própria Internet nos lembra, somos todos conectados. Mas não apenas na forma tecnológica; estamos todos conectados na grande teia da vida, e novamente a questão das mudanças climáticas nos mostra isso. Como profissionais de áreas que têm o potencial para influenciar essas mudanças, temos que ter a consciência que vivemos todos numa mesma casa: o Planeta Terra. Nossas intervenções no mundo afetam outras vidas, que por sua vez nos afetam. É fundamental reconhecermos que em qualquer atividade humana, a vida deve vir em primeiro lugar. Assim, nenhum problema está confinado exclusivamente a área técnico-científica, e portanto nenhuma solução pode levar em conta apenas aspectos técnicos-científicos. É preciso ter a mente aberta para esse aspecto multidisciplinar dos problemas e suas soluções, e como diz o escritor francês Louis Pauwels, “mente é como paraqueda, só funciona quando está aberta.” Assim, enquanto profissionais atuando em nossas atividades, devemos lembrar que não estaremos lidando apenas com cálculos e números, mas que o resultado de nosso trabalho pode impactar na vida, na esfera humana, animal e vegetal. Isso nos leva a uma segunda reflexão importante, qual seja a questão da ética. Poderia dizer ética profissional, mas para mim, o que existe é ética. Se eu tenho ética, tenho ética profissional. Eu creio, que a busca pelos nossos ideais a que me referi no inicio, não deva incluir tão somente o ideal de alcançarmos a excelência técnica-profissional, mas também uma excelência ética. Einstein nos lembra isso, quando dizia, “não tentes ser bem sucedido, tenta antes ser um homem de valor”. O mundo hoje necessita sobremaneira do homem de valor, que posso traduzir pelo termo Cidadão. Cidadão no sentido que Platão nos coloca em sua magistral obra A República. Para Platão, portador, neste livro da palavra de Sócrates, o cidadão é o ser consciente dentro do estado, e a cidadania não é algo que se conquista pelo nascimento, mas pela constatação individual de suficiente capacidade intelectual e moral. O verdadeiro cidadão alia o saber-intelectual ao fazer-ético, e qualquer civilização que não considerar que o conhecimento intelectual deva estar associado à prática ética, estará fadada a desaparecer nas esquinas do tempo. A História no-lo mostra, e como dizia Cícero, estadista, orador e filósofo Romano, e antes dele Aristóteles, “as nações que desprezam a história estão condenadas a repetir suas tragédias”. 3 A evolução de um sociedade deve, portanto, ser pautada pelo seu avanço tanto na direção do vetor intelectual quanto do vetor ético sem o que a força resultante não nos levará para frente, numa direção evolutiva. Nossos valores, atualmente, estão tão focados apenas no aspecto intelectualprofissional, que é comum, quando se encontra um adolescente, perguntar-lhe “o que você quer ser?”, querendo, naturalmente, referir-se à sua futura profissão, quando, ao meu ver, a pergunta mais importante deveria ser “quem você gostaria de ser?”, denotando as virtudes e valores que serviriam de modelo para a construção daquele jovem em um Engenheiro, um Analista, um Físico, um Biólogo, um Químico, um Professor, todos profissionais-cidadãos. E nesse ponto refiro-me ao professor, porque ele deve ser um formador de cidadãos, e portanto tem que ser o modelo para o estudante, na escola ou na universidade, assim como os pais o deveriam ser em casa, como bem o diz o psicólogo Içami Tiba, em seu grande livro “Quem Ama, Educa”. Penso que a atuação do professor não deva se restringir apenas em um disseminador ou gerador de conhecimento intelectual, mas também em um propagador de valores éticos. E penso ainda, que a melhor forma de propagar esses valores é através dos exemplos. Sim, pois os exemplos são mais fortes que as palavras. Como dizia São Francisco de Assis, “se a palavra convence, o exemplo arrasta”. Esse, portanto, minhas senhoras e meus senhores, é o grande desafio: formar uma sociedade de cidadãos, particularmente para nós, profissionais-cidadãos. Proponho então, nessa noite em que um sonho se realiza, iniciarmos um novo sonho. Um sonho em que, com a ajuda dos profissionais que formamos hoje, os futuros profissionais em ciência e tecnologia possam reconhecer, tal como nos ensinou o príncipe indiano na fábula, a necessidade de uma abordagem multidisciplinar na soluções dos problemas que nos afetam, para que essas soluções possam levar o bem estar de todos nós. E mais, proponho ainda que nossas atuações como profissionais, sejam pautadas não apenas pelo saber técnico-científico, mas pelo fazer ético. E que, em assim fazendo possamos então, através desses exemplos, mostrar que não é necessário abrir mão do progresso para termos uma sociedade justa. Eu sei, talvez o que eu esteja propondo seja apenas um sonho, o sonho de uma pessoa só. No entanto, recorro novamente a John Lennon e concluo: se todos nós aqui presentes, sonharmos esse sonho juntos, ele pode se tornar realidade. Parabéns a todos vocês!! Muito obrigado!! Prof. Helano de Sousa Castro Coordenador do Curso de Engenharia de Computação da UFC Departamento de Engenharia de Teleinformática Centro de Tecnologia (UFC) Proferido por ocasião da solenidade de formatura dos concludentes nos cursos de Ciências, Tecnologia e Ciências Agrárias , no ano de 2015, 2o semestre. 4