Os Elefantes de Dilma
Monica Baumgarten de Bolle
Economista, Professora da PUC-RJ e Diretora do IEPE/Casa das Garças
10 de janeiro de 2013
(Publicado no jornal O Estado de S. Paulo do dia 11/01/2013)
No centro comercial de Bangcoc, na interseção de dois enormes shopping centers e de
um complexo de hotéis de luxo, rodeado por grandes telões luminosos da mais alta
tecnologia, símbolos da supremacia asiática nesta área, está o santuário de Erawan.
Visitado diariamente por milhares de turistas curiosos e habitantes locais que fazem
suas rezas e oferendas ao deus hindu Brahma, o santuário é anacrônico. O grau de
surrealismo é delicioso: Givenchy e Lanvin ao lado de muito incenso, guirlandas de
flores e dançarinas com trajes típicos tailandeses. Erawan é o nome tailandês do mítico
elefante branco de três cabeças do budismo e do hinduísmo. Para muitos povos
orientais, o elefante branco é um animal sagrado, reverenciado, um símbolo de sorte e
vida longa. Um sinal de bom agouro.
Pena que para nós, ocidentais, ele tenha outro significado. Para nós, “elefante branco” é
uma expressão que designa a posse de algo do qual não é possível se desvencilhar, cujo
custo – de manutenção, ou de se carregar – supera o seu suposto benefício ou valor. O
ano de 2013 se inicia com o vislumbre de pelo menos um elefante branco – o oneroso
sistema elétrico brasileiro, que tende a se tornar ainda mais problemático devido às
interferências recentes do governo e à dependência das usinas hidrelétricas de fio
d’água, que nos submetem às variações climáticas que afetam os níveis dos
reservatórios. A alta dos preços de energia no mercado livre proveniente do uso
intensivo do sistema termelétrico já está levando os grandes consumidores industriais a
considerar a hipótese de um “racionamento branco”, uma redução intencional do
consumo de energia. Se a indústria reduzir a demanda por energia elétrica, um insumo
fundamental para a produção, o ritmo da atividade no setor poderá ser menor,
influenciando as perspectivas para o crescimento econômico de 2013. Ou seja, o
racionamento branco derivado de um sistema de geração e distribuição de energia
descorado pode gerar uma expansão econômica sem o grau de pigmentação desejado
pelo governo, ano em que se espera algo com mais vivacidade do que o pálido 1% de
crescimento de 2012.
O elefante branco da energia elétrica tem outras implicações. Como alertam os peritos
do setor, ele pode impedir a redução das tarifas – os 20% almejados pela Presidente –
que tanto bem faria para a inflação de 2013. Diante das ameaças para a atividade e para
o rumo dos preços nesse ano que se inicia, sobretudo depois de resultados pouco
auspiciosos nos seus primeiros dois anos de governo, não surpreende que Dilma tenha
decidido convocar uma reunião de emergência para avaliar a situação energética do
País. Tomara que não tenha sido tarde demais.
Mas a manada de elefantes da Presidente não é totalmente desprovida de cor. As
infelizes manobras contábeis para garantir o cumprimento da meta de superávit primário
em 2012 – o resgate antecipado de R$ 12,4 bilhões do Fundo Soberano, além da
antecipação de dividendos do BNDES e da Caixa – pisoteiam a credibilidade fiscal
como um imenso elefante vermelho que estraçalha um dos pilares fundamentais da
estabilidade macroeconômica. Não há estabilidade sem credibilidade na política
econômica, uma lição que já deveríamos ter aprendido. E uma das razões para o
superávit mais baixo foi justificada: a ampliação das desonerações, das ações do
governo para diminuir os custos das empresas. A ofuscação deliberadamente tosca dos
efeitos disso sobre as contas públicas é mais um motivo para que os periódicos
internacionais que nossas autoridades não mais acompanham continuem a publicar
matérias jocosas a respeito das trapalhadas do governo brasileiro.
Enquanto crescem os riscos econômicos de curto e médio prazos, o Ministro da
Fazenda, em fase zen, promete mais calma e serenidade em 2013, afirmando que a
maioria das medidas para reanimar a economia brasileira já foi tomada. A ver.
Uma coisa, contudo, parece certa: a saraivada de medidas adotadas em 2012 é uma
manada de elefantes brancos e vermelhos que adentra 2013 para fiel nenhum – budista
ou hindu – pôr defeito.
Download

Os Elefantes de Dilma