Profª Christianne Perali Os bufalos foram introduzidos no Brasil, há pouco mais de cem anos, oriundos, principalmente, da Itália e do continente Asiático. Os búfalos são criados no Brasil para a produção de carne e leite, principalmente, servindo, ainda, como animal de trabalho (sela, tração, aração e afins), meio de transporte; atração turística, dentre outras. Pertencem à espécie Bubalus bubalis e em todo o mundo são conhecidos como búfalos d'água (water buffalo), sendo descritas três subespécies: a) Variedade bubalis - é o búfalo preto que apresenta cariótipo 2n = 50 cromossomos, denominado de búfalo de rio (river buffalo), abrangendo os rebanhos da Índia, Paquistão, China, Turquia e de vários países da Europa e América, inclusive os italianos e, no Brasil, está representado pelas raças Jafarabadi, Mediterrâneo e Murrah, todas reconhecidas pela Associação Brasileira de Criadores de Búfalos - ABCB; b) Bubalus bubalis, variedade kerebao - é o búfalo da Malásia, Indonésia, Filipinas, Tailândia, etc., apresentando cariótipo 2n = 48 cromossomos. Está representado pela raça Carabao ou Rosilha (como era denominado, no passado, na ilha de Marajó, como referência à pelagem nesse tom). É conhecido na literatura mundial como búfalo de pântano (swamp buffalo) e, c) Bubalus bubalis, variedade fulvus – é o búfalo nativo da região Nordeste da Índia, especialmente do Assam, vivendo geralmente em estado selvagem ou semi-doméstico, sendo um animal de porte menor que os das subespécies anteriores. É de coloração pardacenta ou avermelhada, tendo alguma semelhança com o tipo Baio do Brasil (MARQUES, 2000). Quatro raças são criadas no Brasil para a produção de carne e leite, sendo reconhecidas oficialmente pela ABCB, com sede em São Paulo. De acordo com Marques (2000) são as seguintes: Carabao: É conhecida como o "trator vivo do oriente", foi uma das primeiras a serem introduzidas no país. No Brasil, hoje, há poucos rebanhos desses animais, sendo considerado um grupo genético com risco de extinção e/ou descaracterização. A maior população dessa raça está concentrada na Ilha de Marajó, no estado do Pará. •Suas características raciais segundo a ABCB são: •cabeça na posição fronto-nasal, perfil craniano retilíneo, com chanfro, também, reto. Chifres: longos, grandes e fortes, de seção triangular, emergindo lateralmente da cabeça e dirigindo-se em posição horizontal para fora e depois para trás e para cima. •Pelagem cinza escura ou rosilha, sendo portadores de manchas de tonalidade clara ou branca nas patas, na forma de uma a três coleiras no pescoço, logo abaixo da mandíbula e próximo ao peito, dispostas em listras circulares e paralelas, além de tufos claros nas arcadas orbitárias superiores, nas comissuras labiais e no ventre. •Apresenta temperamento nervoso, sem ser bravio Apresenta porte de médio a grande. Peso médio nas fêmeas adultas de 550 kg e dos machos 750 kg; É especializada na produção de carne e para o desenvolvimento de trabalhos de tração. A raça Carabao é uma importante força de trabalho nos países pantanosos da Ásia, nas plantações de arroz. Após a introdução desta raça, através da ilha de Marajó, os animais multiplicaram-se através de cruzamentos desordenados, principalmente com a raça Mediterrâneo, predispondo-a a uma descaracterização que culminou com poucos animais considerados puros (2n = 48). Quando em cruzamento com as outras raças bubalinas, o produto apresenta fenótipo dominante em relação a algumas particularidades, como: pelos mais claros na região das patas, lábios e no pescoço, bem como conformação corporal mais compatível com o padrão da raça Carabao. Jafarabadi: É originário da Floresta de Gir, península Kathiavar, oeste da Índia. Caracteriza-se pela forma peculiar da cabeça com os chifres longos, caídos e voltados para cima. A pelagem é preta e bem definida. No Brasil há duas variedades bem distintas a Gir búfalo, mais delicada e de ossatura leve, habitava as áreas de florestas e a Palitana. É um animal de ossatura mais pesada, possuindo grande carapaça na região frontal, sendo artifício de defesa legado pela seleção natural, imposta pela necessidade de enfrentamento que esses animais deveriam ter para se protegerem dos leões, que viviam em grande número pelas pradarias indianas. Segundo a ABCB o padrão da raça Jafarabadi, no Brasil, é a seguinte: a cabeça tem posição fronto-nasal, com perfil craniano ultraconvexo e chanfro de retilíneo a sub-convexo. Seus Chifres são longos, fortes e grossos, de seção ovalada ou triangular, dirigidos para trás e para baixo, com curvatura final para cima e para dentro, em harmonia com o perfil craniano. O peso médio é de 500 a 1.200 Kg nos machos (às vezes até 1.500 kg) e nas fêmeas de 450 a 900 kg. A pelagem possui forte correlação entre a cor dos pêlos e da pele em todo o corpo, sendo pretos os pêlos e a pele. É uma raça de aptidão mista, carne e leite e, no Brasil, é o mais pesado dos bubalinos, todavia apresenta o mais baixo rendimento de carcaça (por volta de 46%). Pode ser criada pura e/ou para cruzamentos, com as raças Murrah e Mediterrâneo. O rebanho bubalino da raça Jafarabadi no Brasil é pequeno, porém é uma raça bastante utilizada em cruzamentos. Apresenta excelente performance produtiva, contudo, o rendimento de carcaça é menor de 4 a 7%, dependendo da variedade, comparando-se com as outras raças bubalinas. Em condições naturais de pastagens nativas de boa qualidade, em terra inundável, pode atingir 500 ou mais quilos com idade entre 18 e 24 meses de idade. Devido ao grande porte, deve ser criada em condições mais intensivas, em pastagens cultivadas ou em sistemas integrados de várzea / alagados e terra firme, de boa qualidade. Deve ser mineralizada e, se for o caso, quando se tratar de exploração leiteira, deve ser suplementada com ração contendo 18 % de PB e, no mínimo, 70 % de NDT. Não obstante a isso se adapta muito bem às áreas de campos naturais abertos, em sistema extensivo, convivendo sem problemas com o ambiente natural. É de temperamento bastante dócil e impressiona pelo tamanho e formato da cabeça. Mediterrâneo De origem italiana os animais desta raça apresentam porte médio e são medianamente compactos. Devido sua origem, é também conhecido como búfalo preto ou italiano, importado, em diversas épocas, da Itália para Ilha de Marajó e, mais tarde, para diversos pontos do País. É de aparência intermediária entre o Murrah e o Jafarabadi, e a pelagem, também, é preta. O padrão da raça Mediterrâneo, no Brasil, de acordo com a ABCB, é: cabeça na posição fronto-nasal, com perfil craniano convexo e chanfro de retilíneo a sub-côncavo. O peso médio das fêmeas é de 550 kg e dos machos 750 kg. Apresentam pelagem com forte correlação entre a cor dos pêlos e da pele em todo o corpo, sendo pretos os pêlos e a pele. Cor preta também nos chifres, cascos, espelho nasal e mucosas . • É uma raça de dupla aptidão (leite e carne), embora os mediterrâneos brasileiros sejam utilizados para a produção de carne. Por ter uma origem com base em várias raças apresenta grande variabilidade fenotípica, mostrando grande adaptação aos processos de seleção natural, oriundos de vários conjuntos gênicos introduzidos, há muitos séculos, nas regiões paludinosas do Sul da Itália. O rebanho fundador no Brasil apresentou um número considerável de animais, demonstrado pelas numerosas importações realizadas pelos criadores do Pará e, mais recentemente, de outros estados, principalmente, conferindo uma variabilidade que muitas vezes está evidenciada na conformação corporal e níveis de produção de leite, ou seja, aquelas que são resultantes de fortes interações entre o genótipo e o ambiente. As introduções mais recentes da Itália, com base em germoplasma conhecido, provocaram uma ampliação na variabilidade genética da base do rebanho brasileiro, permitindo, inclusive, a mensuração da produção através do progresso genético das características produtivas, principalmente, carne e leite. Murrah A raça Murrah, nos rebanhos mais fechados, apresenta-se com a morfologia corporal “melhor acabada” em conformação, porém, com pouca variabilidade de forma. O rebanho fundador, no Brasil, teve uma base bastante estreita, o que é demonstrado pelas poucas importações realizadas, contudo, em muitos casos, foi ampliada pela introdução de genes da raça Mediterrâneo que confere uma variabilidade que muitas vezes está clara na conformação corporal, caracterizando-se como uma variedade distinta. Quando fechado, o conjunto gênico Murrah, apresenta muitos problemas congênitos (atresias, paralizações, espasmos, dentre outros), resultado da endogamia, sendo reflexo direto da pouca variabilidade existente na base genética do rebanho Murrah brasileiro. Algumas novas introduções, denominadas de “nova opção”, aumentaram esta base e, consequentemente, a variabilidade da raça, todavia, não se conhece a procedência desse germoplasma, dificultando uma análise mais profunda e concreta das gerações futuras. Para que os efeitos de um trabalho de melhoramento seja sentido deve-se efetuar rigorosa seleção dentro do grupo genético que está sendo trabalhado, principalmente usando animais o menos aparentados possível. Pode ser criado como raça pura, pois produz satisfatoriamente leite, além de excelente performance de ganho em peso. A raça Murrah, apesar de produzir sem problemas em sistemas extensivos, convivendo sem problemas em ambientes naturais, é mais adaptada aos sistemas mais controlados de pastagens cultivadas de terra firme de boa qualidade, aproveitando-se a grande aptidão leiteira. É, também, de temperamento dócil. Deve ser mineralizada e, se for o caso, quando explorada para leite deve ser suplementada com ração, contendo 18 % de PB e, no mínimo, 70 % de NDT. Além destas há o tipo Baio, um búfalo que integra o trabalho de conservação de recursos genéticos da Embrapa Amazônia Oriental, encontrando-se no Banco de Germoplasma Animal da Amazônia Oriental – BAGAM, em Salvaterra, na ilha de Marajó, no estado do Pará. Tipo Baio: Não é considerada raça, havendo poucos espécimes no Brasil. Alguns autores se referem a esse grupo genético como animais oriundos do Assam, na Índia, pertencente à Subespécie Fulvus, sem, portanto, comprovação científica de tal assertiva. Foi introduzido no Brasil em 1961/62, através da Usina Leão, Alagoas. Hoje, há pouquíssimos animais Baios no Brasil, sendo o rebanho do BAGAM / EMBRAPA, na ilha de Marajó, um dos únicos do País. No Brasil há pouca literatura e/ou informações sobre esse grupo, sendo o Pará, talvez, o único estado que dispõe de informações a respeito da performance desses animais. Estes animais estão catalogados pela FAO/UNEP (2000), dentro dos grupos em perigo de extinção, estando mantidas em programa de conservação Os machos adultos pesam em média aproximadamente 750 kg e as fêmeas 550 kg, com um comprimento e uma altura média de 139 cm e de 133 cm respectivamente. São animais de coloração pardacenta, de pelagem baia e possui dupla aptidão, leite e carne. Seu padrão racial pode ser resumido da seguinte maneira: cabeça leve e perfil retilíneo a ligeiramente côncavo a mediano; corpo mediano a grande; garupa mediana a grande e larga; membros medianos e fortes. Fenotipicamente, assemelha-se a raça Murrah ou apresenta características de animais mestiços entre a raça Murrah e a Mediterrâneo. Dados zootécnicos Gestação: 10 meses e 20 dias; Desmama: em janeiro e fevereiro; Poliéstricos estacionais: Dentição: aos nove meses o búfalo tem todos os dentes; a dentição permanente se dá da seguinte forma: primeiro par de 2,5 a 3 anos; segundo par de 3,5 a 4 anos; terceiro par de 4 a 5 anos; quarto par de 5 a 5,5 anos Longevidade: o búfalo vive 40 anos; a vida produtiva das matrizes é de 25 anos; até 17 lactações a produção é normal; a partir de então, começam os abortos; Dados zootécnicos Rendimento de carcaça: de 50 a 53%, podendo atingir 59%; Peso: fêmeas, de 450 a 850kg, podendo chegar a 1.000kg; machos: de 600 a 1.200kg podendo chegar a 1.600kg; Problema sanitário: vermes e piolho (haematophinus tuberculatus: piolho preto; hixodus resinas: piolho branco) Produção de leite: Média 1.900 litros por búfala/300 dias de lactação, com média de 7% de matéria gorda; o recorde é 7.000 litros em 300 dias. Quem é mais produtivo? BÚFALO? A população bacteriana do rúmen do búfalo é maior; o pH é diferente e o alimento passa mais lentamente no intestino do animal, fazendo com que este tenha uma conversão alimentar superior à do bovino. O búfalo é mais rústico e mais fértil do que o bovino (97% das búfalas parem uma vez por ano, se estiverem bem alimentadas); A dentição: primeira muda se dá entre 30 e 36 meses. A desmama natural se dá em janeiro quando os pastos são bons e quando o bufalinho tem dez meses de idade; assim, o animal enfrenta a primeira estação seca com idade superior a 15 meses, sem muda dentes. O leite da búfala rende mais que o do dobro em queijo e em mozzarella do que o leite de vaca; Idade ao 1º parto = 3 anos; IP = 13 meses. Temperamento calmo. Quem é mais produtivo? BOVINO? Em condições nutricionais adequadas, fertilidade semelhante, porém produtividade superior (produção de leite e ganho de peso); A primeira muda dentária se dá próximo aos 18 meses, porém se 2 estações de parto/ano, diferença com búfalo não visível. A desmama controlada diferença não visível. Lactação mais longa e maior produção (Kg/dia e kg/lactação). Apesar de comportamento sangüíneo, manejo diário (rotina) e mestiçagem com europeu origina animais mais calmos; Idade a 1º parto = 2 anos; IP = 14 meses. Melhoramento zootécnico intenso em todas as raças, elevado nº de reprodutores testados e de animais registrados (baixa consanguinidade)