Análise de Regressão Notas de Aula Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Estatística Aplicada 2 Modelos de Regressão Modelos de regressão são modelos matemáticos que relacionam o comportamento de uma variável Y com outra X. Quando a função f que relaciona duas variáveis é do tipo f (X) = a + b X temos o modelo de regressão simples. A variável X é a variável independente da equação enquanto Y = f (X) é a variável dependente das variações de X. O modelo de regressão é chamado de simples quando envolve uma relação causal entre duas variáveis. O modelo de regressão é multivado quando envolve uma relação causal com mais de duas variáveis. Isto é, quando o comportamento de Y é explicado por mais de uma variável independe X1, X2, ....Xn. Os modelos acima (simples ou multivariados) simulam relacionamentos entre as variáveis. Esse relacionamento poderá ser do tipo linear (equação da reta ou do plano) ou não linear (equação exponencial, geométrica, etc.). A análise de regressão compreende, portanto quatro tipos básicos de modelos; - linear simples; - linear multivariado; - não linear simples; - não linear multivariado. Para que serve determinar a relação entre duas variáveis? 1 - Para realizar previsões sobre o comportamento futuro de algum fenômeno da realidade. Neste caso extrapola-se para o futuro as relações de causa-efeito – já observadas no passado – entre as variáveis. Pode-se, por exemplo, prever a população futura de uma cidade simulando a tendência de crescimento da população no passado. 2 - Pesquisadores interessados em simular os efeitos sobre uma variável Y em decorrência de alterações introduzidas nos valores de uma variável X também usam este modelo. Por exemplo: de que modo a produtividade (Y) de uma área agrícola é alterada quando se aplica certa quantidade (X) de fertilizante sobre a terra. No exemplo acima o pesquisador seleciona “n” pedaços de terra x1, x2, x3,....xn, aos quais são aplicadas quantidades definidas de fertilizante. Em seguida, medem-se as quantidades colhidas em cada pedaço de terra y1, y2, y3, ....yn, obtendo assim pares de valores (x1,y1) (x2,y2), ......(xn, yn) que podem ser plotados em um gráfico cartesiano chamado de diagrama de dispersão. Diagrama de Dispersão Ao se plotar num gráfico cartesiano os pares de informação referente a cada observação obtemos uma “nuvem” de pontos definidos pelas coordenadas x e y de cada ponto. Essa nuvem, por sua vez, definirá um eixo ou direção que caracterizará o padrão de relacionamento entre X e Y. A regressão será linear se observada uma tendência ou eixo linear na nuvem de pontos cartesianos. A relação entre as variáveis será direta (ou positiva) quando os valores de Y aumentarem em decorrência da elevação dos valores de X . Será inversa (ou negativa) quando os valores de Y variarem inversamente em relação aos de X. A figura 1 mostra o diagrama de dispersão referente as variáveis X e Y. O diagrama mostra uma relação direta entre as variáveis, ou seja: o crescimento de Y está diretamente ligado ao crescimento de X. Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Estatística Aplicada 3 Figura 1 x y ____________ 30 430 21 335 35 520 42 490 37 470 20 210 8 195 17 270 35 400 25 480 Modelos de Regressão Linear Regressão é o processo matemático pelo qual derivamos os parâmetros “a” e “b” de uma função f (X). Estes parâmetros determinam as características da função que relaciona ‘Y’ com ‘X’que no caso do modelo linear se representa por uma reta chamada de reta de regressão. Esta reta explica de forma geral e teoricamente a relação entre X e Y. Isto significa que os valores observados de X e Y nem sempre serão iguais aos valores de X’e Y’ estimados pela reta de regressão. Haverá sempre alguma diferença, e essa diferença significa; (1) que as variações de Y não são perfeitamente explicadas pelas variações de X ou; (2) que existem outras variáveis das quais Y depende ou; (3) que os valores de X e Y são obtidos de uma amostra específica que apresenta distorções em relação a realidade. Esta diferença em estatística é chamada de erro ou desvio. O processo de regressão significa, portanto, que os pontos plotados no gráfico são definidos, modelados ou regredidos, a uma reta que corresponde à menor distância possível entre cada ponto plotado e a reta. Em outras palavras, busca-se reduzir ao mínimo possível os somatórios dos desvios entre Y e Y’. Veja a figura 2 abaixo. Y = α+βX equação da reta a partir dos dados coletados Y’ = a + b X’ equação da reta a partir das estimativas Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Estatística Aplicada 4 Figura 2 Somas x y x.y x2 Projeção 30 430 12.900 900 409,21 21 335 7.035 441 321,57 35 520 18.200 1.225 457,91 42 490 20.580 1.764 526,07 37 470 17.390 1.369 477,38 20 210 4.200 400 311,83 8 195 1.560 64 194,98 17 270 4.590 289 282,62 35 400 14.000 1.225 457,91 360,52 25 480 12.000 625 270 3.800 112.455 8.302 b= 9,7381 a= 117,0702 Y = 117,07 + 9,74 x Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Estatística Aplicada 5 Método dos Mínimos Quadrados É o método de computação matemática pelo qual se define a curva de regressão. Esse método definirá uma reta que minimizará a soma das distâncias ao quadrado entre os pontos plotados (X, Y) e a reta (X’,Y’). Pelo método dos mínimos quadrados calculam-se os parâmetros “a“ e “b” da reta que minimiza estas distâncias ou as diferenças (ou o erro) entre Y e Y’. Esta reta é chamada de curva de regressão. (1) Erro = E = (Y- Y’) (2) E12 + E22 + E32 + ..... + En2 = Mínimo Diferença entre o valor levantado Y (na amostra) e o estimado Y’(pela reta de regressão) Objetivo do modelo de regressão (3) Erro Total = Σ (Y-Y’) 2 Hipótese de trabalho (4) Y’ = a + bX Equação da reta de regressão que minimiza o erro Substituindo (4) em (3) (5) Σ (Y- a - bX) 2 Para que a soma dos quadrados dos erros tenha um valor mínimo, devem-se aplicar os conceitos de cálculo diferencial com derivadas parciais. Como as incógnitas do problema são os coeficientes "a" e "b" estrutura-se um sistema de duas equações. Assim aplicando os conceitos acima referidos monta-se o sistema de equações normais que permitirá extrair os valores de a e b, ∂e ------ = - 2 Σ (Y- a - bX) ∂a - 2 Σ Y + 2 Σ a + 2 Σ bX Σ Y = Σ a + Σ bX (6) Σ Y = Na + b Σ X ΣY+bΣX (7) a = -----------------N (8) Σ (9) XY = a Σ X + b Σ X2 N Σ XY - Σ X.Σ Y b = --------------------------a Σ X2 - ﴾ Σ X﴿2 Equação Normal N – tamanho da amostra Equação Normal Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Estatística Aplicada 6 Os valores a e b acima correspondem aos parâmetros da equação de regressão que minimiza as diferenças entre os valores de Y (levantados) e os de Y’ (estimados pela regressão). Portanto, o problema de “fitting” (ajustar) uma reta que melhor se adeque à nuvem de dados se reduz em calcular os parâmetros a e b da equação de regressão. GRAU DE UTILIDADE DA RETA DE REGRESSÃO A reta de regressão que se obtém através do método dos mínimos quadrados é apenas uma aproximação da realidade, ela é um modo útil para indicar a tendência dos dados. Mas até que ponto a reta de regressão obtida é útil para avaliar a realidade? Duas medidas podem indicar o quanto útil ou aproximado da realidade é a reta: ▪ erro padrão da estimativa; ▪ coeficiente de determinação Erro Padrão da Estimativa O erro padrão da estimativa Se mede o desvio médio entre os valores reais de Y e os valores estimados Y’. Ele informa de modo aproximado a extensão do erro entre os valores obtidos das estimativas e os valores de Y fornecidos pela amostra. Se é medido na unidade de Y. O que se busca é conseguir o menor valor possível de Se. Pode-se interpretar o Se como um desvio padrão dos resíduos, pois assumindo que estes resíduos são "normalmente distribuídos", pode-se dizer então que 68% dos pontos (plotados) encontramse dentro de 1 desvio padrão: -1 ≤ Se ≥ 1; e que 95% dos pontos encontram-se dentro de 2 desvios padrão: -2 ≤ Se ≥ 2. Sendo os desvios normalmente distribuídos a fórmula de Se é obtida da definição da variância da amostra Se2, com n-2 graus de liberdade: Se2 = Σ (Y – Y’)2 ----------------------- = N-2 Σ (Y – Y’)2 Se = N–2 Ao se ajustar a reta se espera que ela explique o conjunto de dados coletados. Se os dados estivem todos contidos numa reta teremos uma reta de regressão coincidente com os dados Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Estatística Aplicada 7 levantados. Nesse caso a somatória dos desvios ao quadrado será zero e, o ajuste da reta será completo. A reta de regressão explica perfeitamente a relação entre X e Y. O erro padrão existirá sempre que o poder de explicação da reta não for completo. O valor do erro significa então que existem outros fatores que interferem no comportamento de Y além da variável X. Coeficiente de Determinação Ao se analisar a reta de regressão observamos que os pontos (xi, yi) estão distribuídos acima e abaixo da mesma. Na Figura 3 relacionamos cada ponto (Y), com o seu valor estimado (Y’ - a reta de regressão) e com o valor médio de Y (Y* -reta paralela ao eixo X). Como podemos observar a diferença entre o valor de Y e o valor de Y* (valor médio de Y) é o desvio total do ponto em relação a sua média. A soma dos desvios ao quadrado de todos os pontos em relação a média de Y é chamada de Variação Total. Isto é: Σ (Y – Y*)2 A diferença entre o valor de um ponto Y (xi, yi) e seu valor estimado Y' (xi’,yi’) isto é a distancia entre o ponto Y e a reta de regressão, é chamada de Variação Não Explicada pela reta de regressão. Isto é: Σ (Y – Y’)2 Já a diferença entre o valor Y’ (estimativa de Y) situado sobre a reta de regressão e o valor médio de Y* (situado sobre a reta paralela ao eixo x) é conhecida como Variação Explicada pela reta de regressão. Isto é: Σ (Y’ – Y*)2 Conforme mostra a Figura 3, Variação Total = Variação Explicada + Variação não Explicada Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Estatística Aplicada 8 Figura 3 yi Y Variação não Explicada Y’ yi’ Variação Explicada Y* y* Y’= a+ bX’ xi Conclui-se que: Σ (Y – Y*)2 = Σ (Y – Y’)2 + Σ (Y’ – Y*)2 O Coeficiente de Determinação r2 é Definido pela seguinte relação: Σ (Y – Y*)2 = Σ (Y’ – Y*)2 _______________________ Σ (Y – Y*)2 = r2 = Variação Explicada Variação Total CÁLCULO DO COEFICIENTE DE DETERMINAÇÃO x y 30 430 21 335 35 520 42 490 37 470 20 210 8 195 17 270 35 400 25 480 Média y 380 b 9,74 a 117,07 Projeção 409,21 321,57 457,91 526,07 477,38 311,83 194,98 282,62 457,91 360,52 Soma Explicada 853,48 3.413,93 6.069,21 21.337,07 9.483,14 4.646,74 34.234,14 9.483,14 6.069,21 379,33 95.969,39 Variação Não explicada 432,04 180,33 3.855,77 1.301,20 54,49 10.369,96 0,00 159,23 3.353,01 14.274,58 33.980,61 Total 2.500 2.025 19.600 12.100 8.100 28.900 34.225 12.100 400 10.000 129.950 Coeficiente de Determinação 0,7385 F observado 22,5939 Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Estatística Aplicada 9 O coeficiente de determinação deve ser interpretado como a proporção de variação total da variável dependente Y que é explicada pela variação da variável independente X. Tomando o exemplo acima se pode concluir que 73,85 % das variações de Y são explicadas pela variação de X. Coeficiente de Correlação O coeficiente de determinação é igual ao quadrado do coeficiente de correlação. Assim a partir do valor do coeficiente de determinação podemos obter o valor do coeficiente de correlação. No exemplo acima para um coeficiente de determinação r2 = 0,738 obtemos o coeficiente de correlação, r = 0,85. O coeficiente de determinação é sempre positivo, enquanto que o coeficiente de correlação pode admitir valores negativos e positivos. Valores de r igual ou próximos de 1 ou –1 indica que exige uma forte relação entre as variáveis: no primeiro caso a relação é direta, enquanto que no segundo a relação é inversa. Valores próximos de Zero, significa que existe pouco relacionamento entre as variáveis. Portanto, -1 ≥ r ≤ +1 O coeficiente de determinação indica o quanto a reta de regressão explica o ajuste da reta, enquanto que o coeficiente de correlação deve ser usado como uma medida de força da relação entre as variáveis Resumindo: - Os valores de r estão limitados entre -1 ≤ r ≤ +1 - O coeficiente de correlação tem um valor único para a população ou amostra. - Coeficiente de correlação padroniza dentro dos horizontes acima as variações da covariância - Por isso o coeficiente de correlação pode ser expresso: Cov (X,Y) rX,Y σX σY Cov (X,Y) – – – = onde, σX • σY desvio padrão da variável X desvio padrão da variável Y Covariância de X e Y Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Estatística Aplicada 10 Erro Padrão do Coeficiente b, (Sb) O erro padrão do coeficiente b indica o grau de aproximação entre o coeficiente b da equação de regressão e o coeficiente β da população. Essa variação existe porque embora os dados sejam retirados da população há sempre variações entre os dados da amostra e os dados da população. A fórmula abaixo mede a diferença entre b e β: Sb = S2b = S2b Sb ------------------ = --------------------(n-1) x Var (x) (n-1) x Var (x) Pela fórmula acima se pode concluir que o erro padrão do coeficiente b: • é diretamente proporcional ao erro padrão da estimativa Se, e; • e inversamente proporcional ao valor do desvio padrão de x e o tamanho da amostra menos 1.