Eles são da turma que sempre diz não!
Eles são da turma que sempre diz não!
Não se aborreça se, em qualquer circunstância e por qualquer motivo, o vocabulário de seu filho
parecer restrito à palavra não.
Na pré-adolescência, a garotada começa a fazer parte da turma do contra e é capaz de dizer,
até, que detesta batata frita. Só para contrariar, é claro. Essas contestações fazem parte do
desenvolvimento e de um tipo de exercício em que a meninada começa a arriscar os primeiros
palpites e opiniões, especialmente em relação à própria vida. Então, eles passam a resistir a
quase tudo: estudar inglês, fazer natação, tocar um instrumento, dividir as tarefas domésticas,
tomar um ônibus quando a carona dos pais é impossível e, eventualmente, iniciar uma terapia.
Dizer não a tudo passa a ser quase tão comum quanto dizer "bom dia". Evidentemente, pode
haver dificuldades reais por trás de alguns desses nãos. Mas, tanto quanto conversar com os
futuros mocinhos e mocinhas, os pais devem prestar atenção às resistências deles e,
principalmente, saber administrar as concessões feitas aos filhos. Acertando o passo. Um certo
rigor é necessário porque este é o momento de começar a mostrar para os filhos que, na idade
adulta, as responsabilidades são maiores, o tempo disponível é menor e as chances de fazer,
errar e refazer qualquer coisa ou experiência tendem, naturalmente, a diminuir. De fato, o
período dos 10 aos 20 anos é a fase do treino para a vida, um aprendizado que inclui a
educação formal, o desenvolvimento da iniciativa, do traquejo social, da maneira de se colocar e,
literalmente, de se virar no mundo. A construção desses alicerces tem um marco importante
entre os 10 e 13 anos, um intervalo que costuma ser difícil para os jovenzinhos e seus pais encarregados de tourear, entre outras coisas, as resistências dos filhotes.
Sem medo de limites. Dialogar, expor e ouvir os argumentos contra e a favor de qualquer
atividade é a melhor ferramenta para desbastar resistências. Mas, dizem os especialistas, os pais
não devem abrir mão de sua autoridade, nem sequer negociar com os filhos questões que
julguem importantes para a formação deles. Voltar atrás em uma decisão nessa área, então, nem
pensar. Não se trata de intransigência. Os pais, dizem os profissionais, são as autoridades
máximas e mais próximas da meninada. Por isso precisam ter uma postura firme, determinadora
de limites, que, apesar das broncas, funcionam como proteção para as crianças. Se elas não
aprenderem a respeitar os pais, provavelmente também não respeitaram outras autoridades,
como professores, o guarda e outras figuras presentes no seu dia-a-dia.
Evidentemente, nenhuma dessas observações exclui o exercício do bom senso no momento em
que, por exemplo, vocês propuserem que o mocinho ou a mocinha comecem o curso de inglês.
Ou então tiverem de enfrentar as resistências deles em continuar o curso. Nessa e em outras
situações semelhantes, um bom argumento vale mais do que qualquer imposição. Aproveitem,
como quem não quer nada, situações do cotidiano para apontar a importância de dominar esse
idioma. É mais fácil do que parece: a frase em inglês que aparece durante um jogo no
videogame ou no computador, pode ser um excelente mote para isso. Se vocês planejam uma
viagem ao exterior, essa pode ser outra boa oportunidade para vocês valorizarem a importância
do domínio do inglês. Com situações práticas e um tom bem informal na conversa, eles poderão
perceber as vantagens e desvantagens. O poder do jeitinho. Mais do que em qualquer fase, o
modo de falar, sugerir e até mandar pesa muito no tratamento com o pré-adolescente. O
jeitinho pode ser a chave mestra para vencer algumas resistências dessa idade, principalmente
em novas empreitadas. Uma sugestão é bem melhor acolhida do que uma imposição. Se eles
resistem a praticar um esporte, aprender um instrumento ou uma dança, um silencioso trabalho
de convencimento pode valer mais do que mil palavras. Leva-los a assistir a um jogo, à
apresentação de um balé a uma orquestra sinfônica, pontuando as virtudes particulares de um
jogador, músico ou dançarino e o modo como eles se destacam, pode ser muito mais eficaz do
que um enfadonho discurso. E não se irrite se seu filho disser que detestou, apesar de perceber
que ele gostou da partida ou espetáculo. Faz parte do jogo da idade e o programa já estará
registrado entre suas experiências. Bom senso também é necessário na hora de reconhecer
algumas limitações dos mocinhos. Entre 10 e 13 anos, muitos deles já estão experientes em
acampamentos com a escola. Outros já se arriscam a viajar com grupos que não conhecem. E há
uma tropinha que se anima até em ir para o exterior e se hospedar durante um tempo na casa
de uma família desconhecida, num intercâmbio cultural. Não se zangue se esse tipo de aventura
não entusiasmar se filho. Ou se ele desistir na última hora. Para alguns pré-adolescentes, uma
viagem assim é tão aterrorizante, que eles não querem sequer ouvir falar a respeito. O medo e a
angústia de ficar longe da família, nesses casos, são mais fortes do que o gosto pelo desafio.
Por isso, o apoio familiar é fundamental. Os pais precisam contar que esse tipo de sensação é
normal e faz parte da experiência. Qualquer aventura só será válida se o jovem não for
empurrado, obrigado a fazer parte dela. A viagem apenas fará sentido se, com ela, o préadolescente começar a descobrir o mundo. Caso contrário, ele se sentirá diminuído,
incompetente e frustrado.O susto da independência. Participar de um intercâmbio é uma entre
muitas situações da vida real que geram independência e, por isso, assustam os préadolescentes que relutam em participar de ritos de passagem que marquem a transição para a
vida adulta. Em muitas situações, a recusa funciona como um manto de agressividade que, na
verdade, esconde exatamente a fragilidade de quem teme ser grande.
Fontes: Gil Leonardi, psicopedagogo do Agapanto.
Grupo Especializado em Educação, Beatriz Varella e
Zoca Freire, psicólogas.
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