CONVÊNIOS CNPq/UFU & FAPEMIG/UFU Universidade Federal de Uberlândia Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação DIRETORIA DE PESQUISA COMISSÃO INSTITUCIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA 2008 – UFU 30 anos O QUE ACONTECE COM A INFORMAÇÃO NÃO ATENDIDA EM UMA TAREFA DE BUSCA VISUAL? Paula Lemes¹ Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Psicologia, Av. Pará, 1720, Umuarama, Uberlândia, 38405-320. e-mail: [email protected] Prof. Dr. Joaquim Carlos Rossini² Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Psicologia. Universidade Federal de Uberlândia e-mail: [email protected] Resumo: Diariamente uma grande quantidade de estímulos relevantes e irrelevantes é apresentada ao sistema visual humano que, de maneira geral, apresenta uma capacidade limitada de processamento. O modelo de gargalo atencional, proposto inicialmente por Broadbent (1958), aponta para o descarte eficiente da informação irrelevante. A presente pesquisa visou investigar se a informação descartada de maneira pré-atentiva influencia o processamento da informação relevante em uma tarefa de busca visual. Para tanto foi delineado um experimento de busca visual, no qual os participantes foram solicitados a localizar um alvo em meio a estímulos relevantes (distratores) e irrelevantes (textura). Em 50% das provas um elemento com muitas características do alvo foi apresentado em meio à textura (elemento intruso). A análise dos dados confirmou um aumento linear do tempo de reação (TR) dos participantes em função do número de estímulos relevantes apresentados e do contraste entre estímulos relevantes e a textura. A presença do estímulo intruso apresentou um efeito significativo no TR dos participantes nas condições em que o contraste entre os estímulos relevantes e a textura era pequeno. Este resultado sugere que o descarte da informação irrelevante é eficiente nas condições nas quais o contraste entre os estímulos relevantes e a textura é grande, porém, ineficiente nas condições em que o contraste é pequeno. Tal fato aponta um controle inadequado dos recursos atencionais nesta condição (slippage), bem como um processamento hierárquico da informação. Palavras-chave: Atenção Visual, Busca Visual, Processos Cognitivos. 1- Acadêmica do curso de Psicologia 2- Orientador 1 1- INTRODUÇÃO A possibilidade de processamento da informação visual fora do foco atencional em uma tarefa de busca ainda é uma questão controversa nos modelos que tentam explicar o funcionamento do sistema de busca visual humano. No entanto, há certo consenso sobre a existência de um foco atencional, ou seja, uma área no campo visual na qual a informação é selecionada e analisada com mais rapidez e precisão. Para Broadbent (1958), no seu modelo pioneiro do funcionamento da atenção, a eficiência na seleção da informação relevante implica na existência de um filtro capaz de eliminar do processo de busca os estímulos irrelevantes (Broadbent, 1958, 1971). A partir disso, os processos atentivos relacionados à seleção visual de estímulos relevantes para a adaptação do comportamento foram intensamente investigados, resultando em alguns modelos bastante sofisticados acerca dos processos de focalização e filtragem dos estímulos visuais. Diariamente uma grande quantidade de estímulos relevantes e irrelevantes é apresentada ao sistema visual humano, que de maneira geral, apresenta uma capacidade limitada de processamento. Este fato torna necessário um mecanismo de seleção atentiva que possibilite o processamento eficiente da informação, evitando assim uma sobrecarga do sistema cognitivo. Um dos primeiros modelos a abordar este problema foi proposto por Broadbent (1958) e prediz que a seleção de estímulos visuais poderia acontecer baseada apenas nas características físicas dos estímulos. Neste modelo, conhecido como modelo do gargalo atentivo, os participantes eram expostos a uma grande variedade de estímulos, de forma que seria impossível processar todos eles. Esse fato indicou que há um sistema análogo a um “gargalo”, o que significa dizer que apenas alguns estímulos são processados e passariam pelo filtro atentivo. As pessoas poderiam processar esses estímulos baseando-se nas suas características físicas, tais como: localização, cor e tamanho. É interessante notar que os participantes encontram rapidamente um estímulo com uma característica física particular, quando numa tarefa de seleção dos estímulos. Em contrapartida, os participantes demoravam mais quando realizavam uma tarefa de identificação de estímulos com propriedades semânticas. O modelo seminal de Broadbent propõe a existência de uma memória sensorial imediata que opera antes do filtro atentivo. Esse sistema mnemônico foi subdividido por Neisser (1967) em memória icônica (iconic memory) no caso da visão e memória ecóica (echoic memory) no caso da audição. Particularmente acerca da memória icônica, uma grande quantidade de informação ficaria ativa por um curto período de tempo, sem, no entanto, ser processada atentivamente. Isso é o que Broadbent denominou de memória pré-atentiva imediata. Essa memória possibilitaria atender e processar dois estímulos serialmente, um após o outro, mesmo quando são apresentados breve e simultaneamente numa tarefa. Após um breve intervalo de tempo, os estímulos não atendidos seriam eliminados da memória icônica, enquanto que os estímulos com características relevantes seriam avaliados em processos cognitivos superiores. Neste processo, e sob certas circunstâncias, algumas características apresentadas pelos elementos irrelevantes poderiam ser processadas atentivamente e serialmente pelo sistema cognitivo superior, evidenciando um controle inadequado dos recursos atencionais denominado “slippage”. Assim, o processo de slippage ocorre quando os sujeitos precisam mudar seu foco atencional para os estímulos irrelevantes para que estes possam ser processados. Por outro lado, muitos teóricos sustentam que a informação visual contida fora do foco atencional pode ser processada sem a mobilização do foco atencional sobre suas características, em um processo denominado “leakage”. Neste processo, os estímulos irrelevantes teriam suas características processadas em paralelo, sem a participação dos processos atencionais. Para estes teóricos, a identificação de um estímulo seria possível sem a participação dos processos atencionais. As evidências favoráveis e contrárias à existência destes dois processos, foram extensivamente investigadas por Lachter, Forster e Ruthruff (2004) que observaram a possível preponderância do processo de slippage em uma série de condições experimentais delineadas para a investigação das etapas da seleção e processamento da informação visual. Lachter et al. (2004) apontam várias características do processo de focalização atencional que corroboram o modelo de seleção precoce proposto por Broadbent (1958). Por outro lado, vários pesquisadores sugerem que o filtro atentivo pode não ser muito seletivo, ou em situações extremas, ser inexistente, o que corroboraria o modelo de seleção tardia da informação proposto inicialmente por Deutsch e Deutsch (1963). 1.1 Tempo de Reação e Processos Atentivos Várias tarefas experimentais foram propostas para a investigação desta questão tendo como variáveis dependentes o tempo de reação (TR) e a taxa de erro (TE). A rapidez com que uma tarefa pode ser realizada muitas vezes é considerada como uma indicação das exigências atentivas da tarefa sendo um fator importante na investigação do processamento da informação. Neste sentido, ainda em meados do século XIX, Frans Cornelis Donders, um fisiologista holandês, propôs o uso do tempo de reação a fim de estabelecer o tempo exigido para várias operações mentais. Ele demonstrou que o tempo de reação total gasto em uma determinada tarefa era composto por estágios sucessivos de processamento, temporalmente definidos, e que um método algébrico seria útil na investigação dos processos mentais envolvidos, o qual ficou conhecido como “método da subtração” ou “método donderiano”. Donders comparou o tempo de reação de duas tarefas, uma de reação simples em que o participante era solicitado a identificar determinado estímulo, e uma segunda tarefa de reação de escolha onde o participante realizava uma escolha na identificação dos estímulos. Donders assumiu que ambas as tarefas contavam com um estágio de reconhecimento, mas que a segunda tarefa exigia um estágio a mais envolvendo a escolha entre estímulos. A diferença no TR entre as duas tarefas era atribuída à duração deste estágio a mais, de escolha da resposta, na segunda tarefa. Um século mais tarde, Saul Sternberg (1969) propôs um método baseado em estágios temporais, o que representou um avanço do método proposto por Donders. No método proposto por Sternberg, o processamento mental da informação ocorre em estágios definidos temporalmente e aditivamente. Assim é possível manipular o efeito temporal do processamento de um dado fator, sem afetar o tempo de processamento de um estágio subseqüente. Este método é conhecido como “Método dos Fatores Aditivos” (MFA) (Sternberg, 1969). Esta lógica investigativa tem sido amplamente utilizada nas pesquisas sobre os processos atentivos em diferentes arranjos experimentais. Especificamente na investigação dos processos de seleção na busca visual, uma das teorias mais aceitas foi proposta por Anne Treisman e colaboradores no início da década de 1980 e conhecida como Teoria da Integração das Características (TIC). De acordo com a Teoria da Integração das Características (TIC) (Treisman & Gelade, 1980; Treisman & Sato, 1990), o processo de busca visual pode ocorrer basicamente de duas maneiras: uma, pré-atentiva, de busca rápida, e outra mais lenta realizada mediante a mobilização serial do foco da atenção. A busca pré-atentiva ocorre simultaneamente sobre todo o campo visual e possibilita a detecção automática do alvo. Por outro lado, se o alvo é composto por uma combinação de várias características a sua detecção torna-se consideravelmente mais lenta, este processo mais lento de análise da informação é atribuído a uma estratégia serial de integração e identificação dos objetos representados na cena de busca. Para Treisman e colaboradores (1980, 1990), a atenção é o processo responsável pela integração das características de um objeto composto por vários atributos em uma posição específica no espaço retinotópico de representações. Como os recursos atentivos são limitados, as posições ocupadas pelos objetos são integradas uma após a outra, em um processamento serial aleatório de estímulo para estímulo que se estende até a detecção do alvo (Rossini & Galera, 2008). Com isso, a relação entre o tempo necessário para a detecção do alvo nas provas com o alvo presente e o número de elementos relevantes é expressa na função: TR= α + (β/2) (n + 1), onde, n é o número de objetos a serem integrados, Beta (β) é o coeficiente angular da função TR relacionado diretamente ao tempo necessário para a integração e análise de cada item, e Alfa (α) é o tempo necessário para os demais processos relacionados à busca do objeto, tais como a representação inicial dos estímulos no sistema visual e a execução da resposta motora (Dosher, 1998; Rossini & Galera, 2008). A teoria da integração das características de um objeto de Treisman (1986) explica porque uma busca de características pode ser rápida e independente do número de estímulos distratores, enquanto que a busca de um conjunto de características é lenta e fortemente dependente do número de distratores. Esta teoria explica o fenômeno como uma conseqüência da forma em que o estímulo é analisado e codificado no processamento precoce do sistema visual. Assim, com a integração de determinada característica são formados “mapas”, os quais são representações que codifica cada local da exposição pelo valor de um tipo de característica. Esta idéia de percepção com mapas é análoga à codificação retinotópica que tem sido considerada como vários níveis do sistema visual. Análises simultâneas de várias características na mesma tarefa ocorrem em paralelo, o que ocorre sem a atenção - pré-atentivamente (Dosher, 1998). Ainda para Dosher (1998) se um alvo pode ser identificado pela combinação ou conjunção de duas ou mais características, a busca é requerida onde a atenção é focada nas sucessivas áreas da tarefa no sentido de unir as características no local de dois ou mais mapas de características. A seleção dos itens para avaliação deve ser feita baseada em uma de suas características, quando o alvo é definido por duas ou mais características. Alguns estudos mostraram que a análise da atenção é precedida de um processo de seleção grupal. Em um destes estudos, Egeth, Virzi eGarbart (1984) apresentaram evidências de que o processo de busca seria restrito apenas a um grupo de estímulos selecionados com base em uma característica em comum com o alvo. Através desse processo, os elementos não selecionados, ou irrelevantes, seriam descartados de maneira rápida e simultânea, como um objeto único de textura. Isso foi confirmado no estudo realizado por Kaptein, Theewes e van der Hejden (1995), que manipularam o número de estímulos a serem atendidos e não atendidos. Os resultados mostram que o TR apresentou um aumento em função do número de estímulos a serem atendidos, mas não em função dos não atendidos, assim como os de Egeth e colaboradores. Estes resultados são, ainda, tomados como evidência de que a seleção envolve inicialmente a segregação do campo em dois grupos de estímulos, um dos quais será analisado de forma serial até que o alvo seja encontrado. Vários resultados têm demonstrado que a eficácia da busca visual não é prejudicada pela presença de elementos homogêneos apresentados no campo visual e que caracterizam uma textura, desde que esta seja suficientemente distinta dos estímulos relevantes em, pelo menos, uma característica visual importante, tal como a luminância (Galera, 1997; 2001; 2003; Galera, Lopes, & von Grünau, 2000). Nesse caso, a presença da textura não altera a taxa de busca (β) da função TR, permitindo supor que a textura foi eliminada do processo de análise. No entanto, alguns resultados sugerem que este processo de seleção pode não ser realizado de maneira pré-atentiva ou com recursos ilimitados, pois o descarte da textura é acompanhado de um custo temporal de aproximadamente 40 ms expresso no termo constante da função TR (α) (Rossini & Galera, 2008). Quando o estímulo alvo de uma tarefa está localizado em locais imprevisíveis, o sujeito tem que avaliar apenas metade do campo de busca antes de achar o alvo. Assim, o tempo necessário para avaliar um item em particular é de 10 a 50 milissegundos ou mais por item (Dosher, 1998). Tomados em conjunto, estes resultados podem representar uma limitação para os modelos de seleção através de processos discretos, nos quais a seleção dos estímulos relevantes seria finalizada antes do início do processo de análise. A presente pesquisa teve como objetivo investigar se a informação descartada de maneira pré-atentiva influencia o processamento da informação relevante em uma tarefa de busca visual. Para isto, foi delineado um experimento de busca visual em que os participantes foram solicitados a localizar um alvo em meio à distratores (elementos relevantes com a mesma luminância do alvo) em meio a uma textura irrelevante com uma luminância menor que os estímulos relevantes. Em 50% das provas um elemento com muitas características do alvo foi apresentado em meio à textura (elemento intruso). Caso a seleção ocorresse de maneira eficiente, a presença do elemento intruso não deveria representar um impacto no tempo de detecção do alvo, caso contrário, um aumento sistemático no tempo de reação ocorreria nas provas com a presença do intruso em comparação as provas sem este elemento, representando assim um possível processo de slippage ou leakage dos recursos atencionais propostos por Lachter, Forster e Ruthruff (2004). 2- EXPERIMENTO O presente experimento delineou uma condição na qual um estímulo intruso era apresentado em meio a uma textura homogênea. O estímulo intruso apresentava as mesmas características do estímulo alvo, com exceção de duas: a luminância, que foi sempre a mesma apresentada pela textura (elementos irrelevantes a serem descartados), e a orientação, sempre oposta à apresentada pelo alvo. A questão principal investigada nesta condição diz respeito a uma possível interferência na média do tempo de reação dos participantes na presença deste estímulo intruso. Nesta situação a hipótese principal foi que se a seleção da informação relevante ocorresse de uma maneira eficiente, o tempo de busca ao alvo seria o mesmo, com ou sem a presença do intruso. Por outro lado, se a presença do estímulo intruso causasse um aumento significativo no coeficiente angular que define a função TR, isto poderia ser uma indicação favorável à existência de um sistema de seleção não tão eficiente, como preconizado por Broadbent em seu modelo de atenção seletiva. Uma terceira hipótese seria a de um efeito temporal não no coeficiente angular da função TR, mas sim no tempo atribuído ao processo de descarte dos elementos irrelevantes, nesta condição experimental representados pela textura. 2.1 Material e Método 2.1.1 Participantes O experimento contou com a participação voluntária de vinte e nove sujeitos, quinze do sexo masculino e quatorze do sexo feminino, todos destros e que apresentaram visão normal ou corrigida. O presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa, CEP (abril/2007). 2.1.2 Material A apresentação dos estímulos foi feita em um monitor com tela de 17 polegadas e o registro do tempo de reação dos participantes foi realizado pelo software SuperLab Pro (Cedrus, 2001). 2.1.3 Estímulos Os estímulos relevantes para a tarefa de busca visual (5, 10, ou 15 distratores e o alvo) foram sinais de soma (+) formados pela conjunção de dois segmentos de 1 x 0,1 graus de ângulo visual, apresentados com uma luminância constante de 0,5 cd/m² sobre o fundo branco da tela (70 cd/m²). O alvo apresentou seu segmento vertical deslocado 0,18 graus de ângulo visual para a direita ou para a esquerda em relação ao ponto central do segmento horizontal. Os elementos da textura foram definidos pela conjunção de segmentos de 1,4 x 0,1 graus de ângulo visual, dispostos em um ângulo de 45° (×). Os estímulos relevantes foram distribuídos aleatoriamente em uma matriz imaginária com 49 posições (7x7), que cobriu uma área de 8,7 por 8,7 cm2 no centro da tela do monitor. A distância entre o centro de duas caselas adjacentes foi de 1,3 graus de ângulo visual. As posições da matriz não ocupadas pelos distratores e pelo alvo foram ocupadas pelos elementos da textura. A casela central do arranjo foi sempre ocupada pelo sinal de fixação formado pela conjunção de dois segmentos com 0,5° x 0,1° de ângulo visual e luminância de 0,5 cd/m2. A textura foi apresentada em duas luminâncias (Contraste em relação aos estímulos relevantes= 25 %, e Contraste em relação aos estímulos relevantes= 75%). Em metade das provas foi apresentado, em meio aos estímulos da textura, um estímulo intruso com as mesmas características do alvo, exceto luminância, que foi a mesma apresentada pela textura, e orientação, sempre contrária a do alvo, como mostra a Figura 1. 2.1.4 Procedimento A tarefa de busca visual exigiu que o participante discriminasse um deslocamento do segmento vertical do alvo para a direita ou para a esquerda. Os dois níveis de contraste da luminância foram apresentados de maneira aleatória e todas as provas contaram com a presença do alvo. Em metade das provas o segmento apresentou um deslocamento para a direita, e na outra metade para a esquerda. O estímulo intruso foi apresentado em metade das provas. Cada prova foi iniciada com a apresentação de um sinal de fixação “+” com 0,5° x 0,5° de ângulo visual, que permaneceu no centro da tela até a conclusão da prova. Após 1s de apresentação do sinal de fixação, todos os estímulos foram apresentados simultaneamente e permaneceram na tela até a resposta do participante. Após a resposta do sujeito, uma mensagem de “resposta correta” ou “incorreta” foi apresentada por 1s. A Figura 1 B mostra a seqüência de eventos apresentados em cada prova do experimento. A tarefa do participante foi pressionar a tecla “1” do teclado numérico caso o alvo apresentasse um deslocamento do segmento vertical para a esquerda, ou a tecla “2” caso o alvo apresentasse um deslocamento do segmento vertical para a direita. O participante foi instruído a ser o mais rápido possível, sem cometer erros, considerando relevantes para a busca apenas os estímulos apresentados em preto, ignorando assim os demais. O ambiente experimental foi reservado somente a tarefa. Os participantes permaneceram sentados, com os olhos a aproximadamente 57 cm de distância do monitor, com os dedos indicador e médio da mão direita sobre as teclas “1” e “2” do teclado numérico. Cada sujeito participou de uma sessão experimental composta por dois blocos de 180 provas (30 provas por condição experimental). Antes do primeiro os participantes realizaram 20 provas treino. 3- RESULTADOS O tempo de reação médio (TR) de cada participante, obtido na condição experimental foi submetido a uma análise da variância para medidas repetidas (ANOVA) (Alfa = 0,05). Três fatores foram investigados: 1- presença ou ausência do estímulo intruso na textura, com dois níveis: presente e ausente; 2- contraste da luminância, com dois níveis: 25% e 75%; 3- número de estímulos relevantes para a busca visual, com três níveis: cinco (5) estímulos, dez (10), e quinze (15). Os tempos de reação que excederam dois desvios padrão além da média do TR obtido por cada participante em cada condição experimental não foram incluídos na análise dos dados. Esta análise confirmou um aumento linear do TR em relação ao número de estímulos relevantes para a busca visual, com 5, 10 ou 15 estímulos (F(2,56) = 462,31; p<0,01) mostrado na Figura 2. De maneira geral, houve também um efeito significativo do fator presença ou ausência do intruso na textura (F(1,28) = 29,73; p<0,01). O fator contraste da luminância foi significativo (F(1,28) = 21,08; p<0,01). Figura 2. Gráfico do Tempo de Reação médio (TR) dos participantes em função do relevantes para a busca visual, com 5, 10 ou 15 estímulos. número de estímulos 3.1 Análise do Tempo de Reação Uma vez que o objetivo dessa pesquisa foi o de investigar se a informação descartada de maneira pré-atentiva influencia o processamento da informação relevante em uma tarefa de busca visual, foram comparadas as possíveis relações existentes entre os três fatores investigados. Dessa forma, o efeito da interação entre o fator presença ou ausência do estímulo intruso na textura e o fator contraste da luminância foi significativo (F(1,28) = 6,18; p<0,05). O efeito da interação entre o fator número de elementos relevantes e presença ou ausência do intruso na textura não foi significativo (F(2,56) = 2,32; p=0,10). Não houve interação significativa entre o fator número de estímulos relevantes e o fator contraste da luminância (F(2,56) = 2,97; p> 0,05). A interação desses três fatores não apresentou efeito significativo (F(2,56) = 0,05; p=0,94). O TR nas provas com contraste de 75% (média do TR = 1066 ms) é 62 ms menor do que nas provas com contraste de 25% (média do TR = 1128 ms). Já nas provas com a presença do intruso (média do TR = 1119 ms) o TR é 42 ms maior do que nas provas com ausência do intruso na textura (média do TR = 1076 ms). O TR apresentou a seguinte variação em função do número de elementos relevantes apresentados: provas com o intruso – 5 elementos relevantes (TR médio = 888 ms), 10 elementos relevantes (TR médio = 1120 ms) e com 15 elementos relevantes (TR médio = 1348 ms); provas sem intruso – 5 elementos relevantes (TR médio = 857 ms), 10 elementos relevantes (TR médio = 1089 ms) e 15 elementos relevantes (TR médio = 1282 ms). O TR apresentou, ainda, a seguinte variação em função do contraste: provas com o intruso - contraste 75% (TR médio = 1077ms), contraste 25% (TR médio = 1160ms); provas sem intruso - contraste 75% (TR médio = 1055ms), contraste 25% (TR médio = 1096ms). 3.2 Análise dos Erros cometidos pelos participantes Foram calculadas as porcentagens de erros para cada condição experimental e as taxas de erro foram submetidas à analise estatística para todas as condições experimentais (presença e ausência do elemento intruso; contrastes alto e baixo; número de elementos relevantes para a busca visual: 5, 10 e 15; e a interação entre cada fator e entre todos eles), porém não houve efeito significativo do erro para nenhuma delas. 4- DISCUSSÃO O tempo de reação (TR) em função dos fatores investigados apresentou um efeito que corrobora a Teoria da Integração das Características (Treisman & Sato, 1990; Dosher, 1998). Houve um aumento linear do TR em relação ao número de estímulos relevantes para a busca visual, com 5, 10 ou 15 estímulos. Isto significa que houve uma busca serial, ou seja, elemento após elemento dentro do conjunto de elementos com características semelhantes ao alvo. Um efeito significativo do fator presença ou ausência do intruso foi observado, mas este interagiu significativamente com o fator contraste da textura. Houve também um efeito do fator contraste da luminância no TR dos participantes, indicando que houve uma seleção pré-atentiva dos elementos relevantes para a identificação do alvo, como mostra a Figura 2. O efeito significativo na interação entre o fator presença ou ausência do estímulo intruso e o fator contraste da luminância, sugere que o intruso é descartado juntamente com os elementos da textura. Todavia, na condição experimental na qual o contraste é de 25%, o que implica em uma seleção menos eficiente dos elementos relevantes, há um efeito significativo e sistemático do elemento intruso. Não foi observada uma interação significativa entre o fator número de elementos relevantes e presença ou ausência do intruso na textura, o que indica que, de maneira geral, o intruso não é processado no estágio de análise da informação relevante. Esta não interação corrobora outros achados (Rossini & Galera, 2008), e sugere uma seleção discreta dos elementos relevantes para a localização do alvo em uma tarefa de busca visual. Também está de acordo com os achados desta pesquisa a memória pré-atentiva imediata do modelo seminal de Broadbent, o qual propôs a existência de uma memória sensorial imediata que opera antes do filtro atentivo. Nesta memória sensorial, uma grande quantidade de informação ficaria ativa por um curto período de tempo, sem, no entanto, ser processada atentivamente. Essa memória possibilitaria atender e processar dois estímulos serialmente, um após o outro, mesmo quando são apresentados breve e simultaneamente numa tarefa. Após um breve intervalo de tempo, os estímulos não atendidos seriam eliminados da memória icônica (memória visual), enquanto que os estímulos com características relevantes seriam avaliados em processos cognitivos superiores. Na nossa condição experimental os estímulos permaneciam expostos até a resposta do participante, o que permitiu um longo intervalo de tempo para uma realocação momentânea nos elementos descartados. Assim, é possível que o efeito do intruso no estágio de seleção pré-atentiva não represente um processamento fora do foco atentivo, mas sim, uma alocação inadequada de recursos atentivos em elementos já descartados, mas ainda presentes na cena visual. Este efeito vem sendo descrito na literatura como um processo de slippage (Lachter, Forster & Ruthruff, 2004). Geralmente este processo ocorre quando os sujeitos alocam recursos atencionais em estímulos irrelevantes. Assim, algumas características apresentadas por estes estímulos poderiam ser processadas atentivamente e serialmente pelo sistema cognitivo superior, evidenciando um controle inadequado dos recursos atencionais. Estes resultados ainda são corroborados por Treisman e colaboradores (1980, 1990), visto que as posições ocupadas pelos objetos são integradas uma após a outra, em um processamento serial aleatório que se estende até a detecção do alvo. Este processo de busca por um conjunto de características é bem representado por um modelo de processamento em que o tempo de reação (TR) varia de forma linear em função do número de estímulos relevantes na tarefa. Vários estudos comparam o desempenho na tarefa de busca visual em situações nas quais os estímulos relevantes (o alvo e os distratores) são apresentados em um campo visual limpo, o qual é preenchido por elementos de fundo, dispostos como uma textura, e irrelevantes para a tarefa de busca. Esses resultados têm mostrado que a eficácia da busca visual não é prejudicada pela presença da textura, desde que esta seja suficientemente distinta dos estímulos relevantes em, pelo menos, uma característica visual importante, tal como a luminância (Galera, 1997; 2001; 2003; Galera, Lopes, & von Grünau, 2000). No entanto, alguns resultados sugerem que este processo de seleção pode não ser realizado de maneira pré-atentiva ou com recursos ilimitados, pois o descarte da textura é acompanhado de um custo temporal de aproximadamente 40 ms expresso no termo constante da função TR (α). De acordo com o “Método dos Fatores Aditivos” proposto por Sternberg (1969, 1998), o processamento mental da informação ocorre em estágios definidos temporalmente e aditivamente. Assim, os estágios de processamento apresentam uma independência de processamento. Esta independência é expressa, na nossa condição experimental, na não interação entre o fator contraste (seleção) e número de elementos relevantes (análise). Os resultados mostram um efeito do elemento intruso sobre o fator contraste (seleção) e uma independência do fator número (análise). Em outras palavras, estes resultados sugerem que o filtro atentivo é eficiente no descarte da informação irrelevante. Contudo, se estes estímulos permanecerem no campo visual, características em comum entre o alvo e o estímulo intruso podem ser processadas atentivamente por um processo de slippage. Esta interpretação vai ao encontro da lógica do Método dos Fatores Aditivos Ainda para Treisman e Gelade (1980), Treisman e Sato (1990) e Dosher (1998) caso um alvo seja identificado pela combinação, ou conjunção, de duas ou mais características, o processo de busca se dá sucessivamente pelo campo visual integrando as características do objeto em uma posição e em um conjunto de características coerentes. È possível que neste processo, e em intervalos prolongados de tempo de exposição dos elementos irrelevantes, algumas características previamente descartadas sejam processadas. 5- CONCLUSÃO Os resultados sugerem que a presença do estímulo intruso causa um aumento significativo no TR dos participantes em condições de pouco contraste entre elementos relevantes e irrelevantes, isto poderia ser uma indicação favorável à existência de um sistema de seleção não tão eficiente, como preconizado por Broadbent em seu modelo de atenção seletiva. No entanto uma análise mais cautelosa dos resultados mostra que o efeito temporal do elemento intruso interage significativamente com o estágio de seleção e não de análise da informação. Nesta condição o coeficiente angular que define a função TR sofre pouca variação, sendo observado um efeito temporal no descarte da textura. Esta hipótese foi comprovada pelos resultados, no tempo atribuído ao processo de descarte dos elementos irrelevantes, nesta condição experimental representados pela textura. Em condições nas quais o contraste entre a textura e os elementos relevantes não é suficientemente distinto, os elementos irrelevantes que mais se assemelham ao alvo podem ser processados atentivamente. 6- AGRADECIMENTOS Ao CNPq/UFU pelo financiamento deste estudo. 7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BROADBENT, D. Perception and Communication. London: Pergamon, 1958. DOSHER, B. A. Models of visual search: finding a face in the crowd.In D. Scarborough and S. Sternberg (Eds.). 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Av. Pará, 1720, Umuarama, Uberlândia, 38405-320 e-mail: [email protected] Abstract: Every day a large quantity of relevant and irrelevant stimuli is presented to the human visual system, which in general, has a limited capacity of processing. The model of attentional neck, originally proposed by Broadbent (1958), points to the efficient disposal of irrelevant information. This study aimed to investigate whether the information discarded on a pre-attentive affects the processing of relevant information in a visual task of searching. For this, a visual search experiment was outlined in which participants were asked to locate a target in the midst of relevant stimuli (distractors) and irrelevant (texture). In 50% of evidence an element with many characteristics of the target was presented in the midst of texture (element intruder). The analysis of the data confirmed a linear increase of the reaction time (RT) of participants in function of the number of relevant stimuli presented and the contrast between important stimuli and texture. The presence of the intruder stimulus had a significant effect on the RT participants on the conditions which the contrast between the relevant stimuli and texture was small. This result suggests that the disposal of irrelevant information is effective under the conditions in which the contrast between the relevant stimuli and texture is great, but inefficient under conditions where the contrast is small. This fact indicates an inadequate control of attentional resources in this condition (slippage) and a hierarchical processing of information. Key words: Visual Attention; Visual search; Cognitive Processes.