17 de Maio de 2007 Ramiro Marques Quando reflicto sobre o que correu mal ao Francisco, o filho de um amigo meu que desenvolveu uma esquizofrenia, na sequência do consumo continuado de ecstasy, concluo que uma das principais razões que explica o que aconteceu foi o não exercício da autoridade paternal por parte dos pais do Francisco. É cada vez mais difícil o exercício da autoridade paternal. A década de 60 do século passado marcou o início desse fenómeno. À medida que os pais se demitem da sua autoridade, substituindo-a pelo conforto material e satisfação dos caprichos e exigências dos filhos, por mais disparatadas que sejam, torna-se cada vez mais difícil voltar a exercê-la. Sem autoridade paternal e sem referências culturais e familiares firmes, os adolescentes substituem essa ausência pelas referências que encontram na rua ou que são disseminadas pelos mass media, ficando, assim, sujeitos à influência de modas e padrões de vida perniciosos. De tanto amarem o Francisco, os pais dele foram aceitando as exigências disparatadas e confusas e os padrões de vida do filho, pensando que, com a idade e a maturidade psicológica, o rapaz iria reencontrar a via da rectidão. Não encontrou. À medida que os pais iam contribuindo, por passividade, omissão ou acção, para a realização das exigências disparatadas do Francisco, tornava-se cada vez mais difícil dizer que não. A palavra não tornou-se, pouco a pouco, uma palavra proibida. Uma das palavras mais difíceis para os pais. Quando o Francisco concluiu o mestrado e informou os pais que não queria procurar trabalho, os pais, incrédulos, não disseram nada. Limitaram-se a aceitar com receio de magoar o filho. Quando o Francisco lhes disse que queria ir para Amesterdão, não para estudar ou para trabalhar, mas para se juntar a um grupo de jovens que viviam numa casa ocupada e que passavam os dias a consumir ecstasy, os pais reagiram timidamente, ainda tentaram argumentar, mas acabaram por aceitar com medo de perderem o afecto do filho. Passadas algumas semanas, os pais do Francisco, habituados à ideia de terem um filho que não era capaz de encontrar uma vocação, passaram a fazer transferências bancárias para a conta do rapaz, com medo de que ele não tivesse dinheiro suficiente para se alimentar. Passados seis meses, receberam um telefonema da polícia de Amesterdão, anunciando aquilo que eles mais temiam.