UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE FRAUDE EM SEGUROS DE TRANSPORTES DE CARGAS NO BRASIL Por: Leonardo de Araújo Cardoso Orientador Prof. Sergio Majerowicz Rio de Janeiro 2010 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES 2 PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE FRAUDE EM SEGUROS DE TRANSPORTES DE CARGAS NO BRASIL Apresentação Candido de Mendes monografia como à requisito Universidade parcial para obtenção do grau de especialista em Logística Empresarial. Por: . Leonardo de Araújo Cardoso 3 AGRADECIMENTOS Aos colegas de turma, pelo constante apoio. Aos professores do curso de pósgraduação de Logística Empresarial da AVM. 4 DEDICATÓRIA Dedico à minha família e a Deus. 5 RESUMO Investigou-se nesta pesquisa que fatores são importantes para a redução e o combate do índice de fraudes em seguros. As fraudes no seguro de transportes de carga afetam diretamente a sociedade. A tipificação das fraudes varia daquela mais comum até as mais sofisticadas, onde se envolvem o embarcador, transportador e o cliente. No Brasil, predomina o transporte rodoviário, o qual sofre com os problemas como estradas esburacadas, violência e insegurança. O setor sofre ainda com a falta de investimento e ainda não foi conceituado como vital para o desenvolvimento do país. O custo logístico do processo produtivo também é composto por uma parcela do seguro de transporte. E em praticamente tudo que consumimos, este custo está presente, tudo se transporta. A fraude encarece o prêmio de seguro e este aumento é repassado para o consumidor, por isso se torna relevante para a sociedade o estudo dos meios de detecção e combate às fraudes. Verificouse que é necessário desenvolver métodos preventivos de detecção de fraude antes que ocorram. O processo de combate não poderá ser isolado, deve envolver seguradora e corretores, principalmente com relação a averbações de carga. 6 METODOLOGIA A metodologia de pesquisa que será aplicada a este trabalho com a intenção de atingir o objetivo geral proposto. A pesquisa será de natureza exploratória e explicativa. A investigação exploratória é realizada em área que na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado. A investigação explicativa tem como principal objetivo tornar algo intangível justificar-lhe os motivos. Visa, portanto, esclarecer quais fatores contribuem, de alguma forma, para a ocorrência de determinado fenômeno. O meio de investigação será do tipo bibliográfica, pois este tipo de estudo é sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - Seguro 10 CAPÍTULO II - Seguro de transporte 14 CAPÍTULO III – Fraude 19 CONCLUSÃO 29 ANEXOS 31 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 32 ÍNDICE 33 FOLHA DE AVALIAÇÃO 35 8 INTRODUÇÃO O custo do seguro de cargas está presente em quase todos os produtos que consumimos e, com o os elevados índices de fraudes, as seguradoras se vêem obrigadas a elevar o preço do seguro, que é repassado ao consumidor. Para minimizar esse impacto tornou-se necessário identificar fatores importantes para a redução e o combate às fraudes. A atividade de transporte de cargas e imprescindível para o desenvolvimento do país, movimentando o mercado consumidor e produtor. O custo logístico das operações de produção é composto de uma parcela representativa do transporte de carga. Por esse motivo a investigação se limitou a uma visão teórica e alguns casos práticos a respeito de fraudes de seguros na carteira de transportes de carga das seguradoras brasileiras. O seguro conseqüentemente possui grande participação no custo, partindo da teoria de que nenhuma carga é transportada sem contrato de seguro e seu custo é repassado ao consumidor. A ocorrência de fraudes contribui para o encarecimento do produto final oferecido ao consumidor. Daí a importância do aperfeiçoamento da estrutura dos meios de detecção e combate às fraudes em seguros. O combate às fraudes nos seguros é obrigação das seguradoras, evitando que toda a sociedade seja atingida. Porém as fraudes acontecem de varias maneiras e cada vez mais ousadas e sofisticadas. Apesar da fraude ser um crime e sendo o contrato de seguro caracterizado pela boa fé, a sociedade não distingue dessa maneira. Ludibriar a seguradora é visto como um ato de esperteza. A cultura de seguro deve ser cada vez mais incluída no dia a dia da sociedade. Partindo do problema de que as seguradoras vêm sofrendo com a questão de fraudes em suas operações dificultando o crescimento do volume de prêmios na carteira de transportes, torna-se relevante um estudo sobre a prevenção e combate às fraudes nas seguradoras brasileiras. 9 CAPÍTULO I SEGURO O CONCEITO Conforme definição do dicionário do IRB, seguro é conceituado como um contrato realizado, mediante a pagamento de premio, onde uma das partes se compromete a indenizar a outra pela ocorrência de eventos específicos ou eventuais. Alvim (1999), descreve seguro da seguinte forma: Seguro é a operação pela qual o segurador recebe dos segurados uma prestação, chamada prêmio, para formação de um fundo comum por ele administrado e que tem por objetivo garantir o pagamento de uma soma em dinheiro àqueles que forem afetados por um dos riscos previstos. 1.1 – Breve histórico Mesmo com o a baixa participação no PIB, o mercado segurador brasileiro vem crescendo. Vários fatores dificultam o crescimento da atividade securitária no país, como, por exemplo, falta de divulgação da importância dos seguros para o país, falta de cultura geral do povo sobre o assunto, minguada renda per capta da população, ensino do seguro não faz parte do currículo da maioria das carreiras acadêmicas e o fato de termos poucos profissionais formados na área (LEAL DA SILVA, Ademar, 2005, p. 20). 1.2 – Conceitos do seguro Alguns termos são relevantes na pesquisa o que torna necessária as definições a seguir: 10 Seguradora: instituição responsável em garantir indenização ou reposição do bem, mediante ao pagamento do prêmio. No Brasil as seguradoras não estão sujeitas à falência e nem podem pedir concordata, mas podem ser liquidadas voluntária ou involuntariamente. Sinistro: ocorrência do acontecimento especificado no contrato de seguro e que, legalmente, a seguradora é obrigada a indenizar. Indenização: é a contraprestação do segurador ao segurado que, com a efetivação do sinistro. Averbação: é a declaração das coisas postas em risco. No seguro de transporte é a relação das cargas efetuadas com as especificações necessárias para que a cobertura de seguro seja analisada e efetivada. Contrato de seguro: é geralmente expresso em uma apólice com o objetivo de formalizar o contrato de seguro, ou seja, onde se expressa a obrigação da seguradora, mediante ao pagamento de prêmio, em ressarcir o segurado por perdas e danos causados pelo sinistro ocorrido. Risco: é o evento incerto ou de data incerta que independentemente da vontade das partes se contrata o seguro. Apólice: é o instrumento do contrato de seguro pelo qual o segurado transfere à seguradora a responsabilidade sobre os riscos acordados na mesma. 1.3 – O contrato de seguro O contrato de seguro é o documento que formaliza o acordo pelo qual o segurado, mediante a pagamento do prêmio ao segurador, garante indenizações de prejuízos que venha a sofrer. Em todo contrato de seguro, há uma prestação e uma contraprestação: o segurado deve pagar um prêmio pela cobertura do risco e a seguradora obriga-se a indenizar pelas perdas e danos em caso de sinistro. 1.3.1 – Características do contrato de seguro 11 Além dos elementos comuns a todos os contratos, o de seguro tem características pecuniárias: Bilateral: obrigações mútuas tanto para o segurado como pra o segurador. Ambas as partes assumem uma obrigação. Solene: sua forma e redação segundo o Código Civil. Máxima boa fé: atuar com máxima honestidade na interpretação dos termos do contrato e na determinação dos compromissos assumidos. Aleatório: condicionado pela possibilidade de que ocorra ou não um acontecimento. O segurado só se beneficiará se ocorre, no futuro, o acontecimento incerto. Oneroso: não é gratuito para nenhuma das partes. 1.4 – Finalidade e características do seguro O objetivo do seguro é garantir a reposição de um bem, ou minimizar a perda de uma pessoa ou bem, através do pagamento da quantia estipulada na apólice. 1.4. 1 – Características O seguro possui três características básicas: Previdência: é o ato de prevenir-se. O seguro oferece proteção contra perdas e danos que possam atingir, no futuro, as pessoas ou seus bens. Mutualismo: no seguro, um grupo e pessoas, com interesses seguráveis comuns, que concorrem para a formação de uma massa econômica com a finalidade de suprir necessidades eventuais de algumas daquelas pessoas. Incerteza: o acontecimento é possível porem não se pode afirmar quando e como de fato ele ocorrerá. 1.4.2 – Funções 12 O seguro desempenha algumas funções no aspecto desenvolvimento econômico e social: Aspecto econômico: o seguro, na sociedade, possui função reparadora garantindo e repondo patrimônios e riquezas. Aspecto social: cria riquezas (pelo investimento que faz de suas reservas financeiras), favorece as classes economicamente mais fracas. 13 CAPÍTULO II SEGURO DE TRANSPORTE Os principais fatores que compõem o nível de serviço de um sistema logístico são: prazo de entrega, avarias na carga, extravios e reclamações diversas. O seguro de transporte visa propiciar aos segurados que o serviço contratado será realizado, caso contrário, a indenização será recebida pelo segurado. O seguro de transporte representa grande parte do custo do processo. 2.1 – Transporte O transporte é uma das principais funções logísticas. Além de representar a maior parcela dos custos logísticos, tem papel fundamental no desempenho de diversas dimensões do serviço ao cliente. Do ponto de vista de custos, representa mais da metade das despesas logísticas, o que em alguns casos pode significar duas ou três vezes o lucro de uma companhia, como é o caso, por exemplo, do setor de distribuição de combustíveis. As principais funções do transporte na logística estão relacionadas basicamente às dimensões de tempo e utilidade de lugar. Desde os primórdios o transporte de mercadorias tem sido utilizado para disponibilizar produtos onde existe demanda em potencial, dentro do prazo certo às necessidades do comprador. Mesmo com o avanço de tecnologias que permitem a troca de informações em tempo real, o transporte continua sendo fundamental para que seja atingido o objetivo logístico, que é o produto certo, na quantidade certa, na hora certa, no lugar certo ao menor custo possível. 2.2 – Conceito de seguro de transporte 14 O seguro de transporte visa garantir a indenização por perdas e danos causados a carga transportada. Segundo Leal da Silva (2005), o seguro de transporte de carga tem como objetivo segurar até o limite da importância segurada contratada e, de acordo com as condições contratuais do seguro, o pagamento ao segurado por prejuízos ocorridos e devidamente comprovados, decorrentes dos riscos cobertos. O ramo de transportes é um dos mais antigos em operação nas seguradoras. O conceito de transporte de bens e mercadorias deve ser substituído pelo conceito de logística de operações, que é mais amplo que transporte. As atividades do ramo de seguro de transporte é regulamentada pela SUSEP (Superintendência de seguros privados), na circular 178, de 26 de dezembro de 2001. Nesta circular, todos os procedimentos, disposições legais e o modo de controle são estabelecidos. 2.3 – Subdivisão do seguro de transporte No Brasil, existem basicamente cinco modais de carga e que o transporte rodoviário é disparadamente aquele que tem maior participação. A SUSEP subdividiu, para efeitos de controle, o ramo de transportes em vários sub-ramos: RCTRC – (Responsabilidade civil do transportador rodoviário de carga) – garante ao segurado, até o limite do valor segurado, o reembolso das reparações pecuniárias, pelas quais, por disposições legais, for ele o responsável em virtude das perdas e danos sofridos pelos bens ou mercadorias transportadas, por rodovia e em território nacional, contra conhecimento de transporte rodoviário, nota de embarque ou ainda outro documento hábil desde que as perdas sejam decorrentes de acidentes decorridos durante o transporte como: capotagem, colisão, tombamento, abalroamento, incêndio ou explosão. 15 RCFDC – (Responsabilidade civil facultativa rodoviário desaparecimento de cargas) – a contratação não é obrigatória, e se contratado, garante a indenização pecuniária devido a danos sofridos decorrentes do desaparecimento da carga. Serve de cobertura aos riscos de dolo (roubo ou desvio) do conteúdo da carga transportada. RCTAC – (Responsabilidade civil do transportador aéreo) – garante reparações pecuniárias ao segurado referente a danos causados as mercadorias de terceiros. Destinado a empresas que possuem autorização do departamento de aviação civil, para operar como transportadora aérea. E tem-se, Riscos nacionais terrestres, RF- riscos ferroviários e RR – riscos rodoviários, transportes internacional e nacional. E ainda temos algumas modalidades, de acordo com o meio de transporte: terrestre, marítimo e aéreo. O seguro de transporte nacional é para o dono da carga, e é obrigatório, oferecendo cobertura completa incluindo roubo e furto em território nacional. 2.3.1 – Transporte internacional Os segurado de viagens internacionais de importação poderão ser contratados mediante aplicação de clausulas estrangeiras, devidamente traduzidas, e que serão aprovadas pelos órgãos competentes. Para os seguros de exportação são utilizadas cláusulas estrangeiras, objetivando facilitar ao importador o exato conhecimento das coberturas concedidas. Neste caso, deverá ser emitido um certificado de seguro transportes bilíngüe em inglês e português. A prática do comércio em geral, utiliza uma serie de termos especiais para definir as condições de pagamento e entrega de mercadorias. Quando alguém vende algo a alguém, é indispensáveis definir quem paga as despesas de embraques, transporte e seguro da mercadoria, ou qualquer outra relacionada com a transação. Torna-se evidente a necessidade de empregar terminologia comercial única, quando se faz um contrato de venda ao comercio exterior. 16 O comercio exterior é regido pelos Incoterms, adotando termos para transportes internacionais marítimo, aéreo e terrestre. Os Incoterms relacionados a seguir determinam as responsabilidades na contratação do seguro internacional: Ex – Works (sem serviços prestados) – o vendedor deixa a mercadoria à disposição do comprador em seu estabelecimento. FOB – FREE ON BORD (livre a bordo) – o vendedor é responsável pela mercadoria até a colocação da mesma a bordo de veículo transportador. CIF – COST , INSURANCE AND FREIGHT (custo, seguro e frete) – o vendedor é responsável pela mercadoria, inclusive pelo frete e seguro, ate a sua entrega no destinatário final. C&F – COST AND FREIGHT (custo e frete) – a responsabilidade do vendedor termina quando a mercadoria ultrapassa o limite do navio. C.I – COST AND INSURANCE (custo e seguro) – o vendedor é responsável pela mercadoria, inclusive seguro, ate a sua entrega ao destinatário final. 2.3.2 – Seguro no Mercosul Os governos do Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Bolívia e peru, firmaram convenio de transporte terrestre internacional, no qual prevê a obrigatoriedade deste seguro. O seguro de RCTR-VI – CARGA (responsabilidade civil do transportador rodoviário em viagem internacional – danos a carga), o presente seguro garantirá ao segurado, as quantias pelas quais for ele responsável em virtude de perdas e danos sofridos pelos bens ou mercadorias pertencentes a terceiros que lhe tenham sido entregues para transporte terrestre internacional, com a emissão de conhecimento de embarque. 17 O seguro de RCTRC-VI – danos a terceiros (responsabilidade civil do transportador rodoviário em viagem internacional - danos a terceiros), destinados a empresas transportadoras (carga/pessoas) em viagens aos paises do Conesul, sejam caminhões, ônibus (linhas regulares e de turismo), táxis e pick-ups em trafego fronteiriço. Este seguro visa garantir ao segurado transportador as quantias pelas quais seja civilmente responsável, em sentença judicial transitada em julgamento, ou por acordo autorizado de modo expresso pela Seguradora, por eventos ocorridos durante a vigência do seguro, relativos a danos materiais e ou pessoais causados a terceiros (inclusive passageiros de ônibus) em território internacional. 18 CAPÍTULO III FRAUDE O dicionário de seguros do IRB define fraude do seguinte aspecto: “o código penal no art. 171, capitula como crime a fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro. (Pena: reclusão de um a cinco anos)”. 3.1 – Conceito Existem pessoas que pensam que é uma pratica comum tentar receber mais que o devido das seguradoras, mas é importante ressaltar que isto é crime e pode levar a prisão (Parodi, 2008). E ainda de acordo com o autor a ocorrência de fraudes contribui para o encarecimento do preço do seguro. O segurado não deve usar a instituição de seguro para lucrar (Silva, 2005). Alguns fatores listados pelo autor são determinantes para a existência de fraudes nos seguros de transporte, são eles: ausência de cultura de seguros entre a população, falta de colaboração o mercado, falta de investimentos em sistemas de detecção de fraudes, ausência de procedimentos claros de detecção de fraudes no seguros de transportes, dificuldade de investigação e ausência de punição, as próprias seguradoras e complexidade da legislação no assunto fraude. Segundo Parodi (2008), em alguns casos o possível fator de incentivo é a impunidade, entretanto algumas seguradoras acabam não processando criminalmente os envolvidos em fraudes para evitar possíveis danos à imagem. O perfil dos fraudadores são traçados da seguinte maneira: fraudador de ocasião ou oportunista, comete o ato ilícito e consegue justificar a fraude contra a seguradora (Nóbrega,Eduardo; para receber Clementino,Marcus, uma 2006); indenização fraudador de indevida carreira, pertencem à quadrilhas, são especialistas, se aproveitam de brechas nos 19 processos, conhecem os processos de seguros, descobrem novos métodos de fraudes, persistem se não forem processados e condenados. (Bueno, 2003). 3.2 – Fraudes internas As fraudes internas ocorrem em conseqüência do descobrimento de falhas na lógica dos sistemas e processos permitindo que seja proporcione vantagens. Durante a operacionalização do seguro podemos encontrar fraudes nos seguintes pontos: liberação de comissões indevidas para corretores e aceitação de riscos sem a documentação correta. Existem fraudadores internos que são mais ousados, cadastram empresas prestadoras de serviços, abrem contas em seu nome e até mesmos agem em parceria com corretores. A impunidade continua sendo o grande motivo da ocorrência de fraudes internas. As seguradoras se preocupam com sua imagem perante seus clientes e procuram não transparecer que são vitimas de fraudes. 3.3 – Tipos de fraude em seguros de transporte Entre as fraudes mais comuns que envolvem o usuário de seguro, segundo Parodi (2008) tem-se, o facilitamento de alguma forma a ocorrência do sinistro para receber indevidamente o beneficio, denunciar sinistros não ocorridos, omitir e ou ocultar informações com relação ao sinistro, falsificar documentos ou provas para receber uma indenização indevida ou a favor de terceiros. De acordo com Silva (2005) entre as fraudes mais comuns que ocorrem no seguro de transporte tem-se: O saque da mercadoria transportada: o segurado diante de um eventual acidente com sua carga, por exemplo, um tombamento, ele recupera a carga restante e alega saque. Assim o segurado recebe a indenização e com a carga salvada; 20 O segurado alega roubo para receber indevidamente a indenização: pode ocorrer quando os próprios motoristas alteram o destino da carga e posteriormente faz um boletim de ocorrência como se fosse roubo de carga. Estufagem do container: o container é carregado de mercadorias somente nas extremidades preenchendo o restante com objetos sucatados, e quando se constata o evento o segurado atribui à a ação de piratas ou roubo; Utilização do seguro para lavagem de dinheiro por criminosos: estima-se que organizações criminosas possuem navios de carga operando. Simulações de acidentes: acidentes são simulados para reclamar indenização por uma carga já danificada. Aproveitamento do sinistro ocorrido: o segurado adiciona mais mercadorias à carga sinistrada, geralmente pode ocorrer quando são lugares de difícil acesso; Os segurados, com relação ao seguro de transportes, cometem a mais comum fraude neste segmento que é a falta de averbação. Eles deixam de averbar para economizar o valor do seguro em embarques que, por exemplo, já foram entregues em perfeitas condições, curtos trajetos ou só averbam cargas de altos valores. 3.4 – Prevenção Segundo Parodi (2008) existem empresas que tem a função de investigar e detectar fraudes, as seguradoras costumam contratar os serviços destas empresas quando detectam algo suspeito. E o autor ainda descreve que fraude é fraude, independentemente do tamanho e valor envolvido e o crime é considerado o mesmo. E devemos combater a cultura que a sociedade possui de que uma pequena fraude não gera problemas e as seguradoras devem provocar um ambiente que não seja propício para que essas fraudes ocorram, ou seja, extinguir a imagem de impunidade. 21 As seguradoras precisam permear em toda sua estrutura o pensamento de combate às fraudes. Os padrões devem ser criteriosos no pagamento de indenizações, diante de precauções como descrição clara das cláusulas do contrato não deixando margem para dúvida. Um fato que ocorre no mercado segurador é a seguradora indenizar o segurado visando interesse comercial. (Silva, 2005). 3.5 – Averbação de carga As cargas devem ser averbadas de acordo com o modo de averbação especificado na apólice, podendo ser de forma simplificada ou não, ou seja, o segurado deve informar para sua seguradora suas viagens de forma mensal ou diária. O modo como a averbação pode ser realizada variam de seguradora para seguradora, sendo por envio de arquivo e sistemas offline ou online. O envio de arquivo com a relação de embarques geralmente são aceitos de forma mensal, por esse motivo a ocorrência de fraudes são comuns e acontecem de varias formas como: a troca de veículos informados visando benefício no recebimento de possíveis indenizações, troca de percursos e mercadorias visando o abatimento de taxas, sempre com o objetivo de sonegar o prêmio de seguro. Os sistemas offline e online são nos quais o segurado cadastra suas averbações diretamente em um programa oferecido ou diretamente no site da seguradora. Esses sistemas são implementados e direcionados para serem padrão nas seguradoras, pois poupam o trabalho da área de faturamento e são relativamente menos propensos á ocorrência de fraudes. Em algumas seguradoras o modo de processamento das averbações de cargas pela área de faturamento não apresentam nenhum procedimento básico em prevenção de fraudes, como previa verificação da veracidade das informações ou mesmo algum indício de fraude. Esta inibição deve-se ao interesse comercial de não abalar a relação com o segurado de grande importância ou pela cultura da seguradora de visar sempre o lucro. 22 3.6 – Treinamento dos colaboradores Os colaboradores de uma organização são responsáveis por manter e propagar a cultura organizacional. O próprio ambiente das seguradoras pode ser incentivo as fraudes, devido a falta de informação sobre prevenção e fraudes. O treinamento sugue como forma de divulgação, busca a conscientização dos colaboradores sobre o assunto. Todos os colaboradores devem ter conhecimento mínimo sobre fraudes e as formas mais comuns, para que diante de algum indício possa identificar um possível caso o direcionando para a área responsável. Algumas seguradoras oferecem cursos online, palestras e divulgam informativos sobre fraude e sua prevenção. Porem não se preocupam em verificar se realmente o objetivo esta sendo alcançado, somente visam a realização de objetivos estratégicos. 3.7 – Combate Com relação ao combate às fraudes, existem alguns órgãos nacionais que se preocupam com o assunto. Usando sistemas de indicadores algumas poucas seguradoras desenvolveram sistemas internos de sinistros para identificar possíveis fraudes. No Brasil, vários elementos facilitadores das fraudes entre os quais temos: inadequada inspeção de riscos, inadequada regulação de sinistros, inadequada investigação, inadequada filtragem prévia dos sinistros. A tendência mundial do setor de seguros é de aperfeiçoar a maneira de combate a fraudes, ou seja, se os fraudadores não contassem com o fato de que alguém já cometeu a fraude e não sofreu nenhuma penalidade (Parodi, 2008). 3.8 – Indicadores de fraudes 23 O analista de sinistro aprende a suspeitar das fraudes devido a experiência adquirida, porém ele só ganha experiência com a ocorrência de fraudes ao longo dos anos. Assim é necessário que ocorram fraudes para que ele ganhe experiência e se torne cada vez mais produtivo, mas desta maneira se tarda muito a formação de analistas. É importante que a empresa procure novas formas de acelerar esta transferência de conhecimento com intuito de minimizar custos de formação. Para detectar fraudes, busca-se sintomas das mesmas, descobrindo os detalhes e provas para formas as evidencias. A constatação de que o indicio apresentado no processo de detecção de fraudes é importante ou forte o suficiente para iniciar uma investigação, é de forma não sistêmica. A fraude é detectada, na maioria das vezes, através da experiência dos analistas de sinistro. Existem alguns métodos de detecção das fraudes como a denuncia anônima, detecção no sistema informático e a detecção pelos profissionais envolvidos. A denúncia anônima é um elemento importante no combate a fraude, varias seguradoras incentivam e facilitam a utilização pela população. Os sistemas informáticos promovem indícios de fraudes restritas aos dados cadastrais e contratuais do seguro. Realizando o levantamento corretamente esses sistemas, contribuem no processo de detecção de fraudes. O processo de tramitação do sinistro varia de seguradora para seguradora, porem todas elas seguem as mesmas atividades: aviso do sinistro pelo segurado; elaboração do laudo; analise da documentação; detecção de indicadores de fraudes; decisão da investigação. As seguradoras possuem controlabilidade relacionado ao controle das fraudes, podendo ser automático ou manual. O controle da detecção das fraudes automático é baseado no sistema de informação da empresa e o manual é baseado nos procedimentos estabelecidos. Exemplos de indícios de fraudes no seguro de transportes, controlados de forma manual: quebra de numeração nas notas fiscais pelo embarcador, quebra na numeração do conhecimento do embarque pela transportadora, documentação adulterada, 24 excesso de documentação comprobatória do evento, insistência do segurado em conhecer os procedimentos internos de regulação de sinistro, muita insistência na rapidez na regulação do sinistro, relato do acidente excessivamente detalhado, a escolta não percebeu o roubo da mercadoria, rotas diferentes, a mercadoria sinistrada está fora de linha ou é de consumo sazonal, setor econômico do qual o segurado pertence está em crise, testemunhas pouco confiáveis, datas do sinistro muito próximas do inicio ou termino da vigência da apólice. E como exemplos de indícios de fraudes no seguro de transportes, controlados de forma automática: demora na entrega da documentação necessária, roubos e avarias constantes para o mesmo segurado, boletim de ocorrência efetuado muito depois do evento, nervosismo exagerado, sistemas de alarme que não funcionam no momento mas depois funcionam, motoristas sem cadastro nas empresas gerenciadoras de risco, sinistros nos fins de semana ou feriados, aviso de sinistro feito por terceiros. 3.9 – Meios de combate e SQF A palavra de ordem é desestimular, punir, combater, reduzir e identificar as fraudes. O mercado de seguros brasileiro está preocupado em trabalhar de forma unificada na prevenção da fraude, em 2003 a Fenaseg instaurou um projeto de prevenção a fraudes. No projeto um dos sistemas utilizados foi a quantificação das fraudes que ocorreram no mercado, que só foi possível com o fornecimento de informações dos seguradores. O compartilhamento das informações é um ponto importante para a eficácia de um programa de prevenção e combate às fraudes. A federação também estruturou um disque fraude em seguros, por meios de convênios firmados com serviços de disque denúncia estaduais. No sentido de quantificar a fraude contra o seguro, a Fenaseg desenvolveu um sistema inédito de quantificação da fraude para reunir informações do mercado brasileiro sobre os indicadores de fraude, chamado SQF – Sistema de Quantificação da Fraude. 25 O Sistema de Quantificação da Fraude (SQF) consiste no fornecimento de informações das seguradoras, dentro de indicadores pré-estabelecidos, quais são as experiências em suas carteiras relacionadas à incidência de fraude, seja por indicio, como fraude comprovada ou, ainda, a que possui fortes indícios, mas não pode ser comprovada. A seguradora somente recusa o pagamento da indenização quando tem a comprovação e pode sustentá-la de forma legal, de que houve irregularidade ao contrato estabelecido. O SQF funciona como um instrumento para orientar o direcionamento das ações de combate à fraude, permite a aferição das ações implantadas, fundamentar a justificativa de retorno dos projetos das seguradoras na prevenção e redução das fraudes e promover a conscientização dos setores governamentais, da sociedade, dos segurados e do próprio mercado de seguros sobre a gravidade da incidência da fraude contra seguros. 3.10 – Tratamento das fraudes Algumas seguradoras inovaram com a implantação de canais de comunicações de fraudes como o disque fraude. As denuncias são anônimas, e são feitas geralmente por segurados, prestadores de serviço, funcionários e corretores. O aviso de sinistro também pode ser realizado por centrais de atendimento, disponíveis 24 horas por dia, assim a seguradora tem a oportunidade que registrar e prestar assistência ao segurado no momento mais próximo da ocorrência. O intuito destes serviços é, além de prestar serviços em casos de acidentes, chegar rápido ao local da ocorrência, evitando possíveis fraudes. As seguradoras tendem a inibir a atuação de fraudadores, porem alguns de seus processos internos podem ser falhos. A regulação de sinistros é um processo administrativo pelo qual a seguradora verifica as causas e as conseqüências de um evento, em face de um pedido de indenização de um cliente. Este processo é composto por documentos e dados obtidos junto ao segurado e ou terceiro eventualmente envolvido. O objetivo da regulação de sinistro é constatar a possibilidade da existência de uma fraude. 26 Em determinadas situações o regulador de sinistro, ao suspeitarem de alguns sinistros e dando inicio ás ações de investigação, sofrem ameaças de todo tipo. Se o profissional não estiver preparado, pode acontecer de ele não dar continuidade ao processo de investigação. Existem algumas empresas que atuam na vistoria, regulação liquidação de sinistros de transporte, auditoria de averbamento e perícias. Nos ramos de transporte, automóvel e vida, as seguradoras contratam essas empresas para realizar o trabalho. 27 CONCLUSÃO Ao longo do trabalho, verificou-se que há carência de informação estruturada e de metodologia investigativa no processo de detecção e, que na maioria dos casos o processo de investigação e detecção é regido pela experiência do analista de sinistros. Tão importante quanto detectar rapidamente a fraude, é desenvolver métodos preventivos para detectá-las antes mesmo que aconteçam. A prevenção não deve ficar somente nas intenções, é preciso pro atividade e, para isso, é preciso implantar sistemas e métodos. Conhecer o cliente, os envolvidos e os processos internos é o principal meio de evitar as fraudes. As seguradoras necessitam trabalhar no aspecto preventivo com relação ás averbações das apólices abertas de seguro de transporte, pois a falta de controle proporciona e incentiva as fraudes. O processo de averbação precisa de freqüente inspeção, havendo necessidade da atuação conjunta entre seguradora e corretores, a luta contra as fraudes não pode ser isolada. Os seguros devem ser mais bem entendidos no contexto da logística e ter valorizado sua importância através de ação educativa das seguradoras. Toda a sociedade tem dependência dos transportes de cargas, e por fim com a ocorrência de fraudes a elevação do preço do seguro é repassada para o consumidor final. A proposição de uma solução para o problema de detecção de fraude envolve uma serie de disciplinas, entre elas a Administração, pois apresenta maior facilidade de gerir e organizar. Assim devido a capacidade de gerenciamento e criação de conhecimento, a experiência dos analistas de sinistro se torna possível documentá-la que facilitará a transmissão deste conhecimento para outros colaboradores da empresa. 28 ANEXOS TABELA 1 - PARTICIPAÇÃO DO MERCADO DE SEGUROS NO PIB BRASILEIRO ANO PRÊMIOS R$ Milhões Part. PIB (%) PIB R$ Milhões 2002 30.149 2,24% 1.346.028 2003 37.327 2,40% 1.556.182 2004 45.101 2,55% 1.766.621 2005 50.986 2,63% 1.937.598 Fonte: Susep, IRB, Fenaseg, Bacen, IBGE TABELA 2 - RANKING REFERENTE A PARTICIPAÇÃO DO MERCADO DE SEGUROS NO PIB PAÍSES POSIÇÃO 2007 (% DO PIB) Taiwan 1 15,7 Reino Unido 2 15,7 África do Sul 3 15,3 Holanda 4 13,4 Coréia do Sul 5 11,8 Hong Kong 6 11,8 Irlanda 7 11,6 Suíça 8 10,3 França 9 10,3 Japão 10 9,6 Outros países: EUA 13 8,9 Espanha 28 5,2 Chile 39 3,5 Brasil 47 3 Argentina 55 2,5 México 62 2 Fonte: SIGMA n°3/2008 29 Gráfico 1 - Distribuição da Representatividade - 2007 45% 42% 40% 35% 31% 30% 25% 20% 15% 11% 10% 6% 5% 5% 5% 0% Automóvel DPVAT Patrimonial Transportes Vida Demais Ramos Fonte: Relatório Completo SQF – 5° ciclo 2008 - FENASEG OPERAÇÃO DE SEGURO FUNÇÕES DO SEGURADO FUNÇÕES DA SEGURADORA (Intermediado pelo corretor) Preenche a proposta: questionário e condições do contrato de seguro Analisa o risco Se aceito estabelece o prêmio Emite a apólice Paga o prêmio No caso de sinistro, comunica o sinistro Paga a indenização ao segurado 30 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ALVIM, Pedro. O contrato de seguro. 3. ed. São Paulo: Forense, 1999. BUENO,D. Ataque às fraudes. Revista de Seguros, v.3, n.845,2003. NÓBREGA, EDUARDO; CLEMENTINO, MARCUS. Fraudadores oportunistas: Sugestões para o combate, Revista Brasileira de Risco e Seguro, Rio de Janeiro: v.2, n.3, p 85-24 abr/set 2006. PARODI, LORENZO. Manual das Fraudes. 2. ed. São Paulo: Brasport, 2008. SILVA, ADEMAR LEAL DA. Seguros de Transportes de cargas no Brasil. Um estudo de combate à fraude. Rio de Janeiro: Funenseg, Mapfre seguros, 2005. www.irb-brasilre.com.br/cgi/dicionario/index.cfm. Disponível em realizado em 15 nov 2010. Acesso Disponível em www.sulamerica.com.br/ri. Acesso realizado em 01 dez 2010. Disponível em www. Fenaseg.org.br. Acesso realizado em 01 dez 2010. 31 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 2 AGRADECIMENTO 3 DEDICATÓRIA 4 RESUMO 5 METODOLOGIA 6 SUMÁRIO 7 INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I SEGURO - O CONCEITO 10 1.1 – Breve histórico 10 1.2 – Conceitos do seguro 11 1.3 – O contrato de seguro 11 1.3.1- Características do contrato de seguro 1.4 – Finalidade e características do seguro 12 12 1.4.1 - Características 12 1.4.2 – Funções 13 CAPÍTULO II SEGURO DE TRANSPORTE 14 2.1 – Transporte 14 2.2– Conceito de seguro de transporte 15 2.3 – Subdivisão do seguro de transporte 2.3.1 – Transporte Internacional 2.3.2 – Seguro no Mercosul 15 16 18 CAPÍTULO III FRAUDE 19 3.1 – Conceito 19 3.2– Fraudes internas 20 3.3 – Tipos de fraude em seguros de transporte 20 3.4 – Prevenção 22 32 3.5 – Averbação 22 3.6 – Treinamento de colaboradores 23 3.7 – Combate 24 3.8 – Indicadores de fraudes 24 3.9 – Meios de combate e o SQF 26 3.10 – Tratamento das fraudes 27 CONCLUSÃO 29 ANEXOS 31 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 32 ÍNDICE 33 33 FOLHA DE AVALIAÇÃO Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes - AVM Título da Monografia: Fraudes em seguros de transporte de cargas no Brasil Autor: Leonardo de Araújo Cardoso Data da entrega: 25.01.2011 Avaliado por: Conceito: