INTERVENÇÃO
DO GENERAL ANTÓNIO RAMALHO EANES
É a história que nos permite inventariar o trabalho que tanto os povos
como as instituições produziram, os contextos em que o realizaram, o seu
significado e efeitos na preservação e desenvolvimento da sociedade. E é
tudo isto que permite pensar, com justo acerto, sobre os diferentes
tempos e as diversas situações, compará-los e, assim, encontrar as razões
dos erros que contribuíram para gerar insucessos e as razões das políticas
que conduziram aos êxitos; e que permite, também, constatar, nesse
balanço que pensar e comparar proporcionam, que as instituições só
conseguem perenizar-se quando, no seu percurso histórico, o somatório
dos êxitos supera sempre o dos fracassos. Sucessos e insucessos, pelos
quais, em última instância, responsáveis são, sempre, os seus
governantes, a sua capacidade de liderança, a qualidade executiva, a
competência estratégica de que disponham e empenhem.
Tudo isto está contido e é expresso, pelo menos implicitamente, na
perenização, a um só tempo, antiga, já, de 175 anos, mas sempre
rejuvenescida, da AIP e das instituições que a precederam.
De destacada qualidade foi, logo, o seu escol fundacional, em que se
contavam, além de destacados empresários, outras personalidades
relevantes “pelas suas ideias liberais e pela sua cultura científica”.
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Reconhecendo o atraso, sobretudo industrial, de Portugal, logo nos seus
primeiros estatutos se estabelecem para a economia do País “propósitos e
metas de desenvolvimento, de modernização e de competitiva
internacionalização”.
Difícil, bem difícil, foi dar realização a tão ambiciosas metas e projectos
num Estado – o português – em permanente atraso relativamente à
Europa industrializada. Na verdade, o País carecia de quase tudo o que
importava a uma verdadeira modernização económica. À falta, frequente,
de condições políticas suficientes se somavam a carência de capitais, a
falta de vias de comunicação, a insuficiência de um sistema educacional, a
inexistência de formação profissional, a existência de um largo
analfabetismo e, o que não era menos grave, a vigência imperantemente
conservadora de uma cultura agrária.
Óbices, estes, todos, que a instituição dos empresários portugueses
enfrentaria, contribuindo com a formação de operários especializados,
mostrando à Sociedade Civil e ao Estado a “necessidade de uma mudança
profunda na economia”, a realizar através da industrialização, da
modernização económica em geral e do desenvolvimento social.
Transmutação, esta, que tentou afirmar através de empreendimentos
diversos, exposições de produtos portugueses no estrangeiro e
congressos, nomeadamente (em 1933 realiza o Iº congresso da indústria
portuguesa, no qual, pela primeira vez em Portugal, se reúnem
“empresários, economistas, engenheiros, professores e órgãos do
Estado”).
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Notável e diversificada foi a acção histórica desenvolvida pela associação
dos empresários portugueses, pois contribuído terá para a modernização
económica do País e, também, para o seu desenvolvimento social, para a
formação de quadros competentes, cosmopolitas, ousados, para a
progressiva e actualizada formação profissional (especialização operária),
para o alargamento da classe média portuguesa, para a personalização e
dinamização da Sociedade Civil.
Resultados, estes, entre vários outros, que nos mostram quão importante
foi a função da AIP, pois consabido é, historicamente, que só com classes
médias poderosas a acção do poder político se contém nos limites que a
ética impõe, que o bem comum sempre exige; só elas mobilizam a
organização dos diferentes interesses que percorrem a Sociedade Civil,
permitindo-lhe um diálogo virtuoso com o Estado.
É pensando no percurso, em geral de sucesso, da AIP, apesar de tantas e
tão variadas condições adversas, que se pode pressagiar quão importante
pode, e deve, ser a sua acção neste tempo especial de crise, importante
na formação de líderes capazes, na modernização competitiva do aparelho
produtivo para que, mobilizando investimentos, trabalho e saberes
(científico, nomeadamente), criando riqueza e emprego, possa gerar
esperança de melhor futuro, de levar a sociedade a libertar-se do
crepúsculo em que se deixou aprisionar.
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Creio que foi o seu papel histórico, o significado da sua frutuosa
modernização cosmopolita, a acção presente e o que se espera que seja o
seu futuro o que levou todas as personalidades, que agora foram
distinguidas, a dedicarem-lhe atenção cuidada e até, colaboração.
Creio poder afirmar que todos nos sentimos honrados por de nós se ter
lembrado a tão prestigiada AIP. E honrado me sinto eu, também, por me
caber, creio que por imerecida generosidade, todos representar neste
agradecimento à AIP.
António Ramalho Eanes
Lisboa, 3 de Fevereiro de 2012
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