Os cuidadores divorciados sentem menos segurança emocional do que os solteiros, casados ou viúvos. (…) os cuidadores solteiros e os viúvos têm menos relacionamentos românticos do que os casados e os divorciados. O presente artigo teve como objectivo analisar o impacto da solidão em cuidadores de pessoas com deficiência mental. Foi utilizado como instrumento de recolha de informação a Escala Diferencial da Solidão para População Não Estudante de Schmidt & Sermat (1983). A escala foi aplicada a 42 cuidadores, 36 do sexo feminino e 6 do sexo masculino. Constatamos que o estado civil é o único preditor de solidão. Foram encontradas diferenças significativas em relação ao estado civil em quase todas as subescalas. Também verificamos diferenças no que diz respeito à escolaridade e à empregabilidade. Segundo Lavela e Arther (2009), os cuidadores experienciam grandes dificuldades cognitivas como tensão, stress, angústia, solidão, depressão e uma fraca saúde mental. No nosso estudo foi possível verificarmos que os divorciados sentem menos segurança emocional do que os solteiros, casados ou viúvos. Verificou-se ainda, que os solteiros e os viúvos têm menos relacionamentos românticos do que os casados e os divorciados. Contudo, 90,5% da amostra considera que é fácil exprimir sentimentos de afecto para com os membros da sua família; 71,4% da amostra afirmam que obtêm a segurança emocional que precisam através de uma relação romântica ou sexual; os casados e os divorciados consideram-se mais importantes no bemestar do companheiro/a ou namorado/a do que os solteiros e viúvos. De acordo com Coelho e Coelho (2001), as famílias com portadores de deficiência mental são muito fechadas e pouco impulsionadoras de contactos sociais, isto é, evitam grupos pequenos nos quais a criança possa sobressair mais, acabando por contactar apenas com famílias portadoras do mesmo problema. De facto, no nosso estudo verificamos que 88,1% da amostra, sempre que possível, evita o contacto com a família; 76,2% da amostra, não se entendem bem com a família. Contudo, 83,3% da amostra considera que a família os compreende realmente; 76,2% da amostra refere que sentem que a família lhes dá o apoio que necessita; 88,1% da amostra considera que têm um bom relacionamento com os membros da família; 81,0% da amostra sentem que a família conhece os seus pontos fortes e qualidades. Florian e Krulik (1991) referem que as mães de crianças afectadas por doenças crónicas e cujo as suas vidas se encontram ameaçadas podem vir a ser sujeitas de uma maior solidão existencial. Apesar disto, ao nosso dados mostram que as mulheres têm significativamente mais amigos com quem podem falar do que os homens. Segundo Almeida (2006), os cuidadores com baixas habilitações e os cuidadores com habilitações elevadas isolam-se mais e têm um menor apoio sócio-emocional do que os cuidadores com habilitações médias. Através deste estudo, foi possível verificar que os sujeitos analfabetos, com escolaridade obrigatória e com ensino secundário sentem que o seu esforço para ter amigos é significativamente mais recompensado do que os sujeitos com escolaridade básica. Os indivíduos analfabetos, com escolaridade básica e escolaridade obrigatória passam mais tempo com a família de forma individual, do que os sujeitos com ensino secundário. De acordo com Ferreira (2009), a qualidade de vida dos cuidadores de pessoas deficientes encontra-se mais afectada em todos os domínios (físico, psicológico, social e ambiental). O domínio ambiental encontra-se mais afectado do que os restantes, mas por outro lado, o domínio social é o menos afectado. Estes dados foram corroborados pelos nossos resultados: as pessoas que não têm emprego sentem que as pessoas à sua volta são significativamente menos estranhos do que quem tem emprego; quem não tem emprego sente-se significativamente mais compreendido pelos amigos do quem tem emprego; quem não tem emprego sente significativamente mais que os outros se interessam pelo que eles pensam, do que quem não tem emprego; quem tem emprego sente que a família se preocupa com eles significativamente menos do que quem não tem emprego; as pessoas que não têm emprego (reformados, desempregados e necessidade de cuidar dos filhos) sentem que têm significativamente mais amigos com quem podem falar abertamente do que as pessoas que não têm emprego devido a problemas de saúde. Em relação à subescala relações romântico-sexuais verificamos que os casados e os divorciados sentem-se significativamente menos sós do que os solteiros ou viúvos; em relação à subescala amizade constatamos que os solteiros e os casados sentem-se significativamente menos sós do que os divorciados e viúvos; em relação à subescala relações com a família os casados sentem-se significativamente menos sós do que os solteiros, divorciados e viúvos. O “estado civil” é a variável que tem maior poder preditivo na variável dependente “solidão total”. In Rocha, L (2012). A Solidão em Cuidadores de Pessoas com Deficiência Mental. Dissertação de Mestrado em Trabalho Social e Intervenção Socioeducativa, ISCET: Porto.