RPCV (2011) 106 (577-580) 43-46 R E V I S TA P O R T U G U E S A DE CIÊNCIAS VETERINÁRIAS Determinação do crescimento e desenvolvimento de potros puro sangue inglês em Bagé-RS Growth and development rates in thoroughbred foals in Bagé-Brazil Fabiane P. S. Garcia1, Hero Alfaya2,*, Luciana A. Lins3, Cláudia Haetinger1, Carlos E. W. Nogueira4 1 Médica Veterinária Autônoma Departamento de Zootecnia – Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel-UFPel 3 Faculdade de Veterinária- URCAMP 4 Faculdade de Veterinária-UFPel 2 Resumo: O objetivo deste trabalho foi caracterizar o crescimento e desenvolvimento de potros Puro Sangue Inglês criados no município de Bagé, no sul do Rio Grande do Sul. Foram considerados três diferentes haras, avaliando-se um total de 514 potros. Para a avaliação do desenvolvimento dos potros, foram analisados mensalmente o peso corporal e a altura da cernelha ou garrote, do nascimento aos 18 meses de idade. O peso corporal médio ao nascimento foi 51,56 kg nos machos e 49,86 kg nas fêmeas, chegando aos 18 meses pesando em média 422,96 e 401,19 kg respectivamente. O período de crescimento mais rápido ocorreu nos primeiros 30 dias, onde o ganho de peso diário médio foi de 1,52 kg/dia, diminuindo conforme a idade, chegando a 0,2 kg/dia aos 18 meses. A altura do garrote média ao nascimento foi 1,01 m para os machos e 1,00 m para as fêmeas, estando em 1,53 m e 1,52 m aos 18 meses, respectivamente. Os animais em estudo apresentaram em média 10% de seu peso adulto ao nascimento, estando com 79% do peso corporal aos 18 meses de idade. Os resultados encontrados foram similares aos obtidos nos Estados Unidos e Canadá, demonstrando que os potros nascidos e criados em Bagé-RS, têm um desenvolvimento similar aos norte-americanos. Palavras-chave: Equinos, crescimento e desenvolvimento, Puro Sangue Inglês Summary: The aim of this paper was to determine the growth and developmental rates of Thoroughbred foals raised in Bagé city, southern Brazil. Three different stud farms and their 514 foals were evaluated. To evaluate the development of the foals body weight and withers height were measured once a month, from birth to eighteen months. The average body weight on birth was 51.56 kg for the colts and 49.86 kg for the fillies, getting to the eighteenth month with 422.96 and 401.19 kg respectively. The first month was the fastest growth period, where the average daily weight gain was 1.52 kg/day, reducing with the age, until the 0.2 kg/day that occurred at the eighteenth month. Average withers height at birth for the colts were 1,01m and 1.00 m for the fillies, getting to 1.53 and 1.52 m at the eighteenth month, respectively. The animals at this study were born with 10% of their final weight, with 79% of the adult weight in *Correspondência: : [email protected] Tel: +(55) 53 92416101 the eighteenth month. These results were similar to those observed in the United States and Canada, showing that the foals born and raised in Bagé have a similar developmental rate to those in the North America. Keywords: Equine, growth and development, Thoroughbred Introdução O plantel de cavalos Puro Sangue Inglês (PSI) no Brasil é bastante expressivo, alcançando em torno de 20 mil animais. As atividades relacionadas à criação e utilização desses animais são incluídas na chamada "Indústria do Cavalo", proporcionando milhares de empregos diretos e indiretos. De acordo com Westphalen (2000), nos últimos anos, o país passou de importador para exportador de produtos de alta qualidade, inserindo-se no cenário turfístico mundial. O Brasil apresenta três grandes pólos de criação da raça PSI, localizados nos estados do Rio Grande do Sul (RS), Paraná e São Paulo. O pólo sul-riograndense, representado pelo município de Bagé, é conceituado nacional e internacionalmente, sendo considerado semelhante àqueles tradicionais da Argentina e Chile. Esse ótimo conceito é confirmado pelo do trabalho de Nogueira et al. (1997), demonstrando que entre os dez haras líderes nas estatísticas de produtores de cavalos ganhadores de corridas clássicas no Brasil, seis estão localizados no criatório de Bagé-RS. Soma-se a este, o fato de que no "ranking" nacional de haras com mais de cinco animais ganhadores de "provas de grupo", das gerações nascidas nos últimos dez anos, oito estão localizados nesse município. O acompanhamento da taxa de crescimento dos animais é de fundamental importância para assegurar uma conformação harmoniosa e uma estrutura músculoesquelética consistente, que proporcione ao animal um desempenho excelente em pistas de corrida. 43 Garcia FPS et al. Para a realização deste estudo foram considerados os dados de três diferentes haras localizados no município de Bagé-RS, durante um período de 22 anos (1975-1997). Foram utilizadas informações referentes a 514 potros, sendo 257 machos e 257 fêmeas. Todos os criatórios apresentam as mesmas condições ambientais e submetem os animais à nutrição e manejo semelhantes. Os animais são mantidos a campo em pastagens cultivadas de azevém, cornichão e trevo branco no inverno e pastagem nativa durante o verão, recebendo suplementação com grãos de aveia e feno de alfafa. Os potros são desmamados aos seis meses de idade, quando são separados em lotes de machos e fêmeas. Para a avaliação do desenvolvimento dos potros, foram analisados mensalmente o peso corporal e altura do garrote desde as primeiras 24 horas de vida até os 18 meses de idade. Para a aferição do peso corporal foi utilizada balança mecânica e a altura do garrote foi medida com auxílio de hipômetro. Para a avaliação estatística, inicialmente foi efetuada uma análise conjunta, das observações dos três locais para as avaliações especificas (ao nascimento, aos 6, 12 e 18 meses) a fim de caracterizar as variações atribuíveis aos efeitos principais e interações dos fatores sexo, local e ano. A análise, através do método de Tukey, revelou ausência de significância (p> 0,05) dessas interações, foi realizado um novo processamento, ignorando as interações. Procedeu-se então a análise de variância conjunta pelo método de ANOVA, 44 Resultados e discussão O peso corporal médio ao nascimento foi 51,56±10,40 kg nos machos e 49,86±8,56 kg nas fêmeas. Aos 6 meses pesaram 215,97±11,51 kg e 206,7±11,90 kg, respectivamente, aos 12 meses os machos pesaram 333,12±10,72 kg e as fêmeas 315,90±12,31 kg, chegando aos 18 meses pesando em média 422,96±11,24 kg e 401,19±9,75 kg (Figura 1). O período de crescimento mais rápido ocorreu nos primeiros 30 dias, quando em geral o peso corpóreo dobrou. O ganho médio diário (GMD) de peso no 1º mês foi de 1,5 kg/dia, diminuindo constantemente com a idade. Com 6 meses o GMD foi 0,8 kg/dia, aos 12 meses 0,4 kg/dia e 0,2 kg/dia aos 18 meses. Os machos foram, aparentemente, maiores que as fêmeas desde o nascimento e as diferenças permaneceram até os 18 meses, porém não houve significância (p > 0,1) para o efeito sexo. A altura do garrote média ao nascimento foi 1,01±3,33 m para os machos e 1,00±3,10 m para as fêmeas. Aos 6 meses a média para os machos foi 1,34±1,04 m e 1,33±1,00 m para as fêmeas. Aos 12 meses a média para os machos foi de 1,47±1,09 m e 1,45±1,21 m para as fêmeas. Aos 18 meses a altura do garrote média foi de 1,53±0,98 m e 1,52±0,78 m para machos e fêmeas respectivamente (Figura 2). Figura 1 - Peso corporal médio de potros machos e fêmeas do nascimento aos 18 meses. peso (kg) Material e métodos com nível de significância de 5%, das observações das dezoito avaliações dos três locais para a caracterização das variações atribuíveis a sexo, local e ano. machos femeas Idade (meses) Figura 2 - Altura do garrote média, em metros, de potros machos e fêmeas criados no município de Bagé-RS do nascimento aos 18 meses de idade. machos peso (kg) Também estão associados a isto fatores ambientias e genéticos, os quais gradualmente vão determinar o potencial atlético do animal (Van Weeren et al., 2000). De acordo com Pagan et al. (1996) a avaliação do desenvolvimento de animais jovens tem sido baseados principalmente em características como idade, peso corporal e altura da cernelha ou garrote. Jelan et al. (1996) também incluem nesta lista o ganho médio diário de peso corporal. Embora a velocidade de crescimento tenha uma base genética, a manifestação do potencial de desenvolvimento está baseada no aporte nutricional (McIlwraith, 2004; Staniar et al., 2007). Assim, são de grande relevância estudos de características como altura do garrote e peso corporal, bem como outros fatores que possam afetar o desenvolvimento de potros criados no Brasil, como a base genética. Informações relativas ao desenvolvimento de potros PSI são descritas para outros países, porém a transferência destes conhecimentos nem sempre é aconselhável por não serem apropriados para a realidade existente na América do Sul. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi caracterizar o crescimento e desenvolvimento de potros PSI criados no município de Bagé-RS. RPCV (2011) 106 (577-580) 43-46 femeas Idade (meses) Garcia FPS et al. RPCV (2011) 106 (577-580) 43-46 mento mais rápido em Kentucky foi relacionado as éguas que demonstraram ganho de peso, nesses potros foi observado escore de condição corporal mais elevados (Pagan et al., 2006). Um acompanhamento no desenvolvimento de potros PSI é de fundamental importância, pois esta fase é determinante para que o animal possa ter sucesso na sua vida esportiva. Figura 3 - Peso corporal médio em três diferentes criatórios de PSI. Figura 4 - Altura média (m) no garrote de potros de diferentes criatórios de PSI. Bibliografia Finocchio EJ, Rosenzweig M (1995). Significance of birthrank, maternal age, and parity on race performance in Thoroughbreds. Proceeding of the American Association of Equine Practitioners, 41, 64-67. Frape DL (2004). Equine Nutrition and Feeding. 3.ed. Blackwell Publishing. Green DA (1969). A study of growth rate in Thoroughbred foals. British Veterinary Journal, 125, 539-546. Harris PA (2008). Hints on nutrition for optimal growth. 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Proceeding of the 2nd European Conference on Equine Nutrition, 12, 285-289. peso (kg) peso (kg) Considerando que o peso e a altura do garrote média de animais adultos sejam 550 kg e 1,65 m para garanhões e 500 kg e 1,60 m para reprodutoras, os animais em estudo apresentaram aproximadamente 10% de seu peso adulto ao nascimento, 45% aos 6 meses, 65% aos 12 e 79% aos 18 meses de idade. Esses resultados são similares àqueles reportados por Hintz et al. (1979), Frape (2004) e Pagan et al. (1996). Já as médias de altura do garrote, ao nascimento e aos 6, 12 e 18 meses representam, respectivamente, 63, 85, 90 e 95% da altura do garrote adulta. Os animais considerados nesta pesquisa são comparativamente menores e mais leves do que aos animais referidos em outros estudos, onde a média do peso corporal ao nascimento foi de 55,2 kg (Elliot et al., 2009) e essas diferenças foram observadas em todos os intervalos até os 18 meses. Os machos neste estudo foram discretamente mais pesados que as fêmeas ao nascimento, não apresentando diferença significativa, e essas diferenças permaneceram durante todo o período observado (Figura 1). Porém, a altura do garrote foi semelhante desde o nascimento até os 18 meses, corroborando aos resultados encontrados por Green (1969), em potros na Inglaterra, o qual não encontrou diferenças significativas de peso e altura do garrote entre machos e fêmeas. Os gráficos a seguir mostram a curva de crescimento de potros em diferentes criatórios localizados no hemisfério Norte comparado com os animais criados na região de Bagé- RS. Os animais criados em Kentucky nasceram aparentemente maiores e mais pesados que os demais potros, porém as diferenças a partir dos 6 meses foram mínimas (Figuras 3 e 4). Os resultados encontrados em Bagé-RS foram similares aos obtidos na América do Norte (EUA e Canadá), demonstrando que os potros nascidos e criados em Bagé-RS, têm um crescimento e desenvolvimento similares aos norte-americanos. Em um estudo recente em potros que apresentaram cresci- meses meses Fonte: Ontário-Canadá (Finocchio & Rosenzweig, 1995). KentuckyEUA (PAGAN et al., 1996). Fonte: Ontário-Canadá (Finocchio & Rosenzweig, 1995). KentuckyEUA (PAGAN et al., 1996). 45 Garcia FPS et al. Pagan JD, Brown-Douglas CG e Caddel S (2006). Body weight and condition of Kentuky thoroughbreds mares and their foals as influenced by month of foaling, season and gender. In Nutrition and Feeding of the broodmare. EAAP No. 120. Pp 245-252. Miraglia N. and MartinRosset W. (Eds.). Van Weeren PR, Brama PAJ, Barneveld A (2000). Exercise at young age may influence the final quality of the equine musculoskeletal system. Proceedings of the American Association of Equine Practitioners, 46, 29-35. 46 RPCV (2011) 106 (577-580) 43-46 Staniar WB, Kronfeld DS, Akers RM, Harris PA (2007). Insulin-like growth factor I in growing thoroughbreds. Journal of Animal Physiology and Animal Nutrition, 91(9-10), 390. Thompson KN (1995). Skeletal growth rates weanling and yearling thoroughbred horses. Journal Animal Science, 73(9), p.2513-2517. Westphalen F (2000). A criação brasileira. Revista Puro Sangue Inglês, 60, 18-19.