PROUCA: descobertas e inovações no cotidiano escolar
Carla Spagnolo1, Edemilson Jorge Ramos Brandão2
1
2
Escola Municipal de Ensino Fundamental “Caminhos do Aprender”- Av Antonio
Ferronato, 225 - Centro, 95333-000 Fagundes Varela – RS – Brasil
Faculdade de Educação – Universidade de Passo FundoPasso Fundo – RS – Brasil
{caispa}@hotmail.com, [email protected]
Abstract: This paper examines reports by teachers about an experience in
Project One Laptop per Child - OLPC (Projeto Um Computador por Aluno –
PROUCA) in progress at the Municipal School of Elementary Education
"Caminhos do Aprender" the city of Fagundes Varela / RS, in the perspective
of interactions and possibilities innovative and their reflexes on everyday
school life. In continuity to action plan of the project, the city promoted in
partnership with the Department of Education at the University of Passo
Fundo, a course / teacher training with the intention to promote forms of
appropriation of resources from the technological processes developed by
OLPC school of critical and creative way. During this process, teachers are
excited about the OLPC expressed because of the numerous possibilities of
interaction and innovation in teaching practices, may teach and learn by
reciprocity and ownership among teachers and students, but at the same time,
show themselves concerned about the enormous challenge of ensuring a
quality education in the face of new emerging paradigms of this process.
Resumo: Este artigo analisa através de relatos de professores sobre uma
experiência no âmbito do Projeto Um Computador por Aluno – PROUCA em
curso na Escola Municipal de Ensino Fundamental “Caminhos do Aprender”
do município de Fagundes Varela/RS, à luz das interações e possibilidades
inovadoras e seus reflexos no cotidiano escolar. Em continuidade ao plano de
ação do projeto, o município promoveu, em parceria com a Faculdade de
Educação da Universidade de Passo Fundo, um curso de capacitação docente
com o intuito de promover formas de apropriação dos recursos tecnológicos
provenientes do PROUCA nos processos desenvolvidos pela escola de forma
crítica e criativa. Durante todo esse processo, os professores se manifestaram
entusiasmados com o PROUCA em razão das inúmeras possibilidades de
interação e inovação nas práticas escolares, de poder ensinar e aprender
através da reciprocidade e apropriação entre professores e alunos, mas, ao
mesmo tempo, demonstram-se preocupados com o enorme desafio de se
assegurar uma educação de qualidade, diante dos novos paradigmas
emergentes deste processo.
Introdução
Os desafios das instituições de ensino de se apropriarem de tecnologias no seu
cotidiano vêm se constituindo como um dos aspectos a ser constantemente ressaltado na
educação brasileira. Assegurar uma educação de qualidade para todos, implica não
apenas em dar acesso a tecnologia, mas promover a formação de professores nos
diferentes aspectos, tanto profissional como pessoal, principalmente em tempos de
rápidas e constantes mudanças.
Visualizar o processo de construção do conhecimento em um mundo cada vez mais
tecnológico requer, dos envolvidos com a educação, concepções coerentes e atualizadas
em relação à proposta político-pedagógica da escola.
Refletir sobre as necessidades sociais e pessoais do mundo real, fortemente influenciado
por questões tecnológicas, demonstra a incessante busca pela construção de novos
conceitos, posturas e práticas. Adaptar-se a evolução da tecnologia pode ser o primeiro
passo em direção a melhorias nas ações pedagógicas, tendo em vista que os fenômenos
educativos são multidimensionais, que dependem de autores, ideias, processos e
estruturas.
A busca pela qualidade educacional em diferentes aspectos reside fundamentalmente na
clareza dos objetivos das propostas metodológicas, pedagógicas e na conduta dos
sujeitos que fazem a educação, diante da questão de para que, como e para quem se
educa hoje.
Nesse sentido, a escola, como um espaço que proporciona a valorização de
conhecimentos
prévios
em
diferentes realidades,
promove a ampliação de
conhecimentos, levando em consideração todas as dimensões do ser humano: o saber
saber, o saber fazer, o saber ser e conviver.
Em seu livro ¿Para qué educamos hoy? Augusto Pérez Lindo (2009) destaca que em
um contexto de mutações e incertezas, parece sensato adotar atitudes programáticas
utilizando métodos eficazes para que os discentes aprendam os conteúdos que
necessitam para seu desempenho social e laboral.1
1
Tradução dos autores
Neste cenário de incertezas e, ao mesmo tempo, de avanços da introdução de novas
tecnologias no contexto escolar, este estudo objetiva analisar, através de relatos de
professores, uma experiência no âmbito do Projeto Um Computador por Aluno –
PROUCA2, em curso na Escola Municipal de Ensino Fundamental “Caminhos do
Aprender” do município de Fagundes Varela/RS, à luz das interações e possibilidades
inovadoras decorrentes deste processo e seus reflexos no cotidiano escolar no que tange
as distintas maneiras de se apropriar e construir novos conhecimentos neste novo
cenário tecnológico.
Essa é a nossa realidade
Fundado em 1987, Fagundes Varela é um município da região da Serra Gaúcha,
com aproximadamente dois mil e seiscentos habitantes. Atualmente o município atende
mais de quinhentos alunos na educação básica (educação infantil, ensino fundamental e
médio) nas redes municipal e estadual de ensino. Embora seja um município
relativamente novo, as escolas públicas atendem a clientela local com uma
infraestrutura adequada e um quadro de professores formado na maioria por egressos de
cursos superiores na área das licenciaturas.
A Escola Municipal de Ensino Fundamental “Caminhos do Aprender”, única da rede
municipal atualmente em atividade atende atualmente duzentos e vinte alunos desde a
Educação Infantil (creche e pré-escola) até a quarta série do Ensino Fundamental. A
escola está localizada no centro de Fagundes Varela, desde mil novecentos e noventa e
oito, quando as escolas do interior do município, começaram a ser nucleadas.
Os alunos que frequentam a Escola “Caminhos do Aprender” são provenientes das áreas
urbanas e rural do município, e também filhos de migrantes procedentes de outras
cidades e estados.
Durante o ano letivo, a escola oferece aos alunos diversas oficinas3 que preconizam o
desenvolvimento de diferentes habilidades, conforme destaca a “teoria das inteligências
múltiplas” de Gardner onde [...] “todos nós temos capacidade de desenvolver diversos
tipos de habilidades. O potencial de cada um é resultado da interação dessas
2
3
http://www.uca.gov.br/institucional/
Dentre as oficinas trabalhadas, está incluído o Inglês, a Expressão Corporal, Hora do Conto, Música e
Informática.
competências [...] (2011, p. 48). Essas oficinas são trabalhadas por especialistas nas
respectivas áreas durante as atividades de classe, para todas as turmas da escola,
atendendo ao dispositivo proposto no projeto político pedagógico da escola que define
educação como um processo permanente, pelo qual o homem se desenvolve, se
aperfeiçoa e se realiza como pessoa, exercendo a cidadania pelas ações individuais e
coletivas, com alicerce na experienciação, ensino, instrução e informação.
O corpo docente da Escola “Caminhos do Aprender” é formado por dezenove
professores, dos quais, treze professores são efetivos do quadro, cinco são professores
estagiários e apenas um professor é contratado. Onze possuem sua formação em nível
superior, cinco ainda se encontram em formação em nível de graduação (licenciatura) e
apenas três possuem o nível médio na modalidade normal/magistério. Além desses
professores, a escola conta com uma equipe diretiva (diretor, vice-diretor e pedagoga) e
com uma equipe multiprofissional de apoio (psicopedagogia, psicologia e nutrição).
O compromisso dos educadores e da equipe diretiva com a proposta político-pedagógica
da escola é consistente e assumido com seriedade. Os princípios que norteiam este
ambiente educacional estão relacionados com a construção e desenvolvimento de
projetos que objetivam proporcionar ao educando condições favoráveis para
desenvolver suas potencialidades, tornando-o dessa maneira, um ser criativo, crítico,
transformador e capaz de exercer a cidadania.
Em vista destes aspectos que norteiam o processo pedagógico, a escola buscou no
PROUCA, meios para manter permanentemente ativa a filosofia do educandário:
“Prazer em ensinar, prazer em aprender”. Uma busca de alternativas que resultasse em
mudanças nos processos metodológicos, com utilização de estratégias didáticas,
recursos tecnológicos e inovações no modo de fazer educação. Neste contexto, o papel
da escola se amplia: além de mediar e aproximar conhecimentos deve considerar os
alunos nos seus contextos sociais, ambientais e culturais, oferecendo condições para que
ocorram as aprendizagens através do lúdico, brincadeiras orientadas ou livres, do acesso
à tecnologia e da exploração da curiosidade, e garantindo desta maneira, a ampliação
das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas, éticas, sociais e
intelectuais.
Mas a efetivação de uma proposta de descobertas e inovações no cotidiano escolar na
escola envolve mais do que questões metodológicas, passa por questões diretamente
relacionadas aos referenciais epistemológicos adotados pelo professor, ou seja, as suas
crenças, seus conceitos, seus pressupostos e tudo aquilo que ele acredita que neste
processo também constituem variáveis importantes. Daí a necessidade da formação
continuada e do engajamento dos sujeitos que fazem acontecer à educação com as
propostas da escola face aos avanços e mudanças que ocorrem na sociedade
contemporânea.
Formação de professores – PROUCA, uma experiência coletiva inovadora
As políticas municipais na área educacional de Fagundes Varela priorizam o
constante aperfeiçoamento, valorização dos professores e incentivo à aplicabilidade de
projetos que promovam à construção do conhecimento e à formação de valores na
comunidade. Fica evidente na leitura dos documentos oficiais a preocupação com a
formação humana, bem-estar dos professores e com todo o processo de ensino e
aprendizagem.
Na sociedade contemporânea, é indispensável que haja professores competentes para
responder à demanda e diversidade dos alunos que frequentam a escola. Como reflexo,
obtemos possibilidades em ações para o aprender a conhecer, aprender a fazer,
aprender a viver em conjunto e aprender a ser, tendo em vista os pilares da educação
atual, definido por Dellors (2000). Neste sentindo, proporcionar novas estratégias de
ação e refletir sobre o que a escola pode fazer para contribuir para a qualificação do
professor, é preocupar-se com o seu bem-estar. Neste sentido, merece destaque uma
proposta de formação/capacitação de professores que vá ao encontro dos avanços
tecnológicos, sem “deletar” os valores essenciais para à sobrevivência do professor
enquanto sujeito social - as virtudes existentes nas relações humanas. Assim, a
formação de professores passa a
(...) constituir um instrumento importante para a aquisição de
competências profissionais relevantes para aumentar a sua
autoconfiança e probabilidade de sucesso, tornando-se mais
eficazes no confronto com potenciais fatores de stress (...)
[JESUS 2007, p. 3])
Os dizeres de Jesus (2007) defendem que a formação dos professores deve adequar-se a
realidade atual. Oferecer oportunidades para a cooperação entre professores, no sentido
da resolução de problemas comuns, criar perspectivas futuras para a educação e o
fornecimento de apoio mútuo. O ensinar deve ser algo desenvolvido e construído por
nós, no plural e coletivo, significando cooperação e união.
O desafio posto atualmente ao Programa Um Computador Por Aluno - PROUCA,
enquanto iniciativa de governo, em específico da Presidência da República, coordenada
em conjunto com o Ministério da Educação, é promover a inclusão digital e o
desenvolvimento dos processos de ensino-aprendizagem de alunos e professores de
escolas públicas brasileiras, mediante a utilização de computadores portáteis
denominados laptops educacionais4.
Nos documentos da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura - UNESCO sobre padrões de competências em Tecnologia de Informação e
Comunicação - TIC para professores, percebe-se a preocupação com a adoção de
estratégias de formação/capacitação que promovam metodologias inovadoras nas
práticas educacionais. Para viver, aprender e trabalhar bem em uma sociedade cada vez
mais complexa, rica em informação e baseada em conhecimento, alunos e professores
precisam se apropriar de tecnologias de forma efetiva.
Os professores na ativa precisam adquirir competências que
lhes permitirá proporcionar a seus alunos oportunidades de
aprendizagem com apoio da tecnologia (...). Os professores
precisam estar preparados para ofertar autonomia a seus alunos
com as vantagens que a tecnologia pode trazer. [UNESCO
2009, p. 1]
As propostas educacionais nos atuais cursos de formação/capacitação docente oferecem
condições aos professores para usar tecnologias, mas nem sempre condições para uma
apropriação desses recursos em seu cotidiano, como forma de sobrevivência e de
protagonismo nos espaços onde atua.
4
De acordo com o Ministério de Educação, os equipamentos poderão ser utilizados tanto nos espaços
escolares (sala de aula, pátio, laboratório, etc.), por estudantes e professores, de acordo com regras a
serem estabelecidas pelas Escolas, como em suas residências, iniciando assim, um processo de inclusão
digital de famílias e da comunidade em geral.
Em razão de vários motivos, hoje, é difícil despertar a motivação e o interesse pela
aprendizagem tanto nos alunos quanto nos professores, tendo em vista que os interesses
e projetos das escolas nem sempre coincidem com as diferentes percepções e
expectativas de professores e alunos com relação aos avanços tecnológicos. A diferença
de gerações e disparidade de opiniões gera muitas vezes movimentos de resistência à
mudança por parte de professores e defesa incondicional de acesso à tecnologia por
parte de alunos, resultando em situações de conflito e mal estar nas escolas.
O Programa Um Computador por Aluno além de disponibilizar laptops para serem
utilizados pelos alunos, preconiza a interação com os professores e o desafio de
conectividade para um espaço além da escola, uma vez que possibilita não apenas
receber e enviar informações, mas também desenvolver capacidades cognitivas e
processos de inclusão da escola e da própria família na cultura digital.
Com o intuito de assumir um papel de protagonismo neste novo cenário e buscar
alternativas metodológicas e ferramentas que promovessem descobertas e inovações no
cotidiano escolar, o PROUCA foi adotado pela Escola Municipal de Ensino
Fundamental “Caminhos do Aprender”, com o consentimento e aceitação de todo o
corpo docente e com o entusiasmo dos alunos. Essa iniciativa além de promover, a
priori, momentos de formação e conscientização da dinamicidade aos professores,
oportuniza momentos de reflexão e de engajamento com novos conceitos e modalidades
de trabalho em “rede”, não só virtualmente, mas também em “rede” de cooperação entre
colegas.
Uma vez adquiridos os laptops educacionais e dando continuidade ao plano de ação do
PROUCA no município de Fagundes Varela deu início um processo de busca de
informação sobre o projeto em pesquisas, relatos de experiências e, principalmente,
através de visitas a escolas gaúchas que já incluídas no programa. Constatou-se que o
projeto seria bem mais explorado se paralelo a aquisição dos computadores ocorresse a
formação/capacitação dos professores e equipe diretiva da escola, mediante práticas
voltadas à apropriação tecnológica e à construção cooperativa da aprendizagem, em
consonância com as especificidades da proposta curricular da escola.
Figura 1: Plano de ação do PROUCA
Tendo em vista que o plano de ação do PROUCA (Figura 1) inclui infraestrutura
tecnológica, pesquisa, avaliação e formação docente, surgiu à preocupação com a
formação dos professores para orientá-los na elaboração de práticas inovadoras e na
apropriação dos recursos tecnológicos no cotidiano escolar. Após inúmeros diálogos,
com diferentes profissionais e instituições de ensino de nível superior, foi possível
formatar uma proposta de formação juntamente com a Faculdade de Educação da
Universidade de Passo Fundo, baseada nas seguintes perspectivas:

Promover formas de apropriação dos recursos tecnológicos provenientes do
PROUCA nos processos desenvolvidos pela escola de forma crítica e criativa.

Promover
competências
básicas
para
o
desenvolvimento
de
projetos
interdisciplinares na escola nos quais os computadores do PROUCA sejam
concebidos como parte integrante dos recursos disponíveis às atividades didáticopedagógicas, tanto para a disseminação de informações quanto para a construção de
novos conhecimentos.

Estimular a autoria e a apropriação por parte dos professores dos diversos recursos e
ferramentas disponíveis nos computadores do PROUCA e na Internet, promovendo
a sua capacitação para este fim.
Descobertas e inovações no cotidiano escolar: a percepção dos professores
O Curso de Formação de Professores do município de Fagundes Varela,
intitulado PROUCA: Formas de Apropriação Tecnológica, loco onde foram coletadas as
percepções dos professores do município de Fagundes Varela sobre as possibilidades de
descobertas e inovações no cotidiano escolar.
O curso foi desenvolvido através de oficinas prático-teóricas com professores e gestores
municipais em atividades de laboratório, grupos de estudos e projetos específicos para o
uso e apropriação didático-pedagógica dos computadores do PROUCA, na elaboração e
produção de material didático e na melhoria da comunicação didática entre professores
e alunos.
O curso foi elaborado em um total de sessenta horas/aula, sendo dez horas destinadas às
atividades orientadas a distância e acompanhamento de projetos desenvolvidos pelos
professores.
Como recurso didático-pedagógico o curso dispõe de um espaço virtual de
aprendizagem onde alunos, professores e dirigentes podem interagir, publicar e
construir novas aprendizagens em rede, desenvolvido na forma de blog.5 Nesse sentido,
é importante que no momento da formação se criem estratégias de pensamento, de
percepção, de estímulos que centram a tomada de decisões para processar, sistematizar,
comunicar e refletir o conhecimento, por meio de atividades significativas que
envolvam diferentes práticas de ensino ao mesmo tempo em que se estabeleçam
condições para a realização de estudos com vistas ao aperfeiçoamento de todo o
processo. Seja através de postagens no blog do curso, seja através de manifestações
presenciais nos momentos de formação.
Enquanto espaço de formação, a indagação reflexiva pode ser uma estratégia que os
futuros professores podem vir a utilizar no exercício da docência, facilitando uma
tomada de consciência dos desafios e perspectivas frente ao trabalho pedagógico
[PIMENTA 2002].
Sobre isso, Perrenoud (2002) destaca que o professor deve refletir constantemente sobre
sua prática, com o objetivo de propiciar uma evolução rumo à profissionalização e
favorecer a acumulação de saberes a partir de suas experiências. Preparar professores e
5
http://projetofagundesvarela.blogspot.com
construir um saber de qualidade e significativo para ele é uma ação a ser perseguida
permanentemente
pela
formação
docente,
aliando
conhecimentos
científicos,
pedagógicos e tecnológicos específicos da área, para uma ampla e consistente visão da
realidade humana, social, política e econômica do país.
Nos diversos registros feitos por professores sobre a proposta de formação destaca-se
um depoimento postado no blog onde a professora afirma:
“Minhas expectativas estão sendo atendidas. Só espero que realmente
renovemos o jeito de trabalhar. Não gostaria de usar o computador
para repetir apenas o que já se faz em sala de aula”.
Esta manifestação reafirma as ideias de Charlot de que o professor é um agente social e
cultural, pois é através de sua função cultural que exerce sua função social, mas também
pode ser o inverso, ao mesmo tempo em que o professor contribui para a reprodução
social, transmite saberes, instrui e educa. O autor problematiza a função do ser professor
afirmando que o ensinar não é somente transmitir, “é por meio de saberes, humanizar,
socializar, ajudar um sujeito singular a acontecer” [CHARLOT 2005, p.85].
Outro aspecto ressaltado nos depoimentos dos professores diz respeito à motivação e
entusiasmo com a efetiva implementação do PROUCA na escola.
“Espero aprender muito neste curso e poder ensinar aos meus alunos todos
os recursos que a máquina oferece, pois acho que é um recurso novo e bem
incentivador”.
“Com esse curso iremos nos apropriar da tecnologia que já está presente na
realidade dos alunos, podendo assim tornar a aula mais dinâmica e divertida.
Aproveitemos ao máximo”.
Encontramos em Bazarra (2008, p.30), algumas características fundamentais que, de
modo especial, traduzem e exemplificam uma prática docente motivada e dinâmica,
quando afirma: “Para que nós, enquanto professores, seduzamos para que
comuniquemos rigor, paixão, entusiasmo, os primeiros que precisam sentir-se
persuadidos, seduzidos pela vida, somos nós mesmos”. A autora expõe com clareza que
o ato de ensinar é sucedido de resultados positivos, quando em primeiro lugar, os
professores tornam-se sujeitos ativos, envolvidos e interessados em aprender, e
principalmente, ser educador movido pelos sonhos e pela alegria de viver.
Em consonância com os depoimentos, Jesus (2007, p. 26) afirma que parece ser
essencial o bem-estar do professor para a sua motivação, seu próprio envolvimento,
aprendizagem, desenvolvimento, satisfação e sucesso profissional. Interessantes são as
ideias do autor, pois vai ao encontro das expectativas dos professores sobre o PROUCA,
na medida em que considera (...) “o trabalho em equipe e a formação profissional são
fatores que melhor podem contribuir para o bem-estar no domínio profissional” (...)
Jesus (2007, p. 26) afirma ainda que prioritariamente, deveriam ser introduzidas
alterações na abordagem que os meios de comunicação fazem da escola e do trabalho do
professor, no sentido de serem mais positivas tais abordagens e sendo divulgadas as
boas experiências.
Compartilhar conhecimento e experiência com colegas, alunos e comunidade escolar é
outro ponto revelado pelos professores evidenciando a importância do processo de
ensinar e aprender como um ato de reciprocidade e apropriação, onde professores e
alunos aprendem juntos:
“Como é bom termos em nossa escola oportunidades como esta, de
atualizarmos e compartilharmos nossos conhecimentos em tecnologia
com todos os alunos e, com certeza, aprendermos muito com eles
também”.
Sobre os reflexos das tecnologias na aprendizagem, Palfrey e Gasser (2011 p. 277 e
278), analisam o seu impacto na educação, e trazem a ideia de que as escolas que vão
além de investimentos em infraestruturas de tecnologia conseguem dialogar,
compartilhar informações e conhecimentos, fundamentais para as aprendizagens
tecnológicas. “As escolas devem priorizar as descobertas de qual é a maneira mais
correta de integrar a tecnologia no currículo (...) mas usá-la de modo eficiente. As
escolas devem usar as tecnologias digitais para encorajar a aprendizagem em equipe”.
Seguindo as ideias de Palfrey e Gasser (2011) de que as escolas do futuro vão necessitar
de corpo docente capacitado para atuar com o futuro, pode-se concluir que o acesso e a
apropriação tecnológica constituem momentos importantes tanto para os alunos,
“nativos digitais”, quanto para professores. O trabalho com distintas ferramentas
tecnológicas é mais um instrumento para os professores atingirem os alunos na sala de
aula e buscar uma educação de qualidade em conexão com o mundo externo.
Os professores da Escola “Caminhos Aprender” demonstram preocupação com o
enorme desafio que representa assegurar uma educação de qualidade, diante dos novos
paradigmas emergentes deste processo:
“Formação continuada aliada com tecnologia, nos dias atuais e dentro
do processo educativo, sempre motiva as pessoas a procurarem o
melhor, crescerem em conjunto e reformularem os paradigmas
educacionais. Avante para um mundo melhor!”
Esse depoimento reforça as ideias de Marchesi (2008 p 61-62) sobre as habilidades dos
professores para favorecer o envolvimento dos alunos com suas aprendizagens: “(...)
capacidade de inovação. A elaboração de situações de aprendizagens variadas e
adaptadas ao contexto de cada turma exige flexibilidade mental, segurança emocional e
criatividade”.
Os depoimentos dos professores postados no blog, bem como as reflexões realizadas
durante os encontros presenciais enfatizam a importância de momentos de encontros, de
interações e de troca de informações e experiências entre professores e alunos que,
conforme observou Jesus (2007) faz com que os professores possam trabalhar em
conjunto com os colegas e alunos, e aprender com a experiência profissional, numa
perspectiva de autodescoberta de suas qualidades pessoais, as quais podem ser
aproveitadas na prática profissional.
Considerações iniciais
As análises realizadas neste artigo, tomando como base relatos de professores
que participam do Projeto Um Computador por Aluno – PROUCA, em curso na Escola
Municipal de Ensino Fundamental “Caminhos do Aprender” do município de Fagundes
Varela/RS, evidenciou as interações e possibilidades inovadoras deste projeto e seus
reflexos no cotidiano da escola como resultado de um processo de formação/capacitação
docente que promovam formas de apropriação tecnológica de forma crítica e criativa.
Durante todo o processo investigativo que utilizou o blog do curso como instrumento de
coleta de dados e espaço de reflexão sobre práticas desenvolvidas no cotidiano da
escola, e os professores se manifestaram entusiasmado com o PROUCA em razão das
inúmeras possibilidades de interação e inovação que o projeto possa incidir sobre as
práticas escolares. Destacam como ponto positivo que um dos princípios do projeto
envolve o poder ensinar e aprender através da reciprocidade e apropriação entre
professores e alunos, mas, ao mesmo tempo, demonstram-se preocupados com o
enorme desafio de se assegurar uma educação de qualidade, diante dos novos
paradigmas emergentes deste processo.
O papel de protagonista neste processo advém, não apenas do acesso à tecnologia ou da
formação recebida, mas sobretudo do compromisso dos professores com a proposta
político-pedagógica da escola e com os princípios que norteiam este novo cenário
educacional onde a construção do conhecimento resulta de aprendizagens em rede
através de práticas criativas, críticas e transformadoras.
Referências bibliográficas
Bazarra, Lourdes; Casanova, Olga; Ugarte, Jerônimo Garcia. Ser professor e dirigir
professores em tempos de mudança. São Paulo: Paulinas, 2008.
Charlot, Bernard. Relação com o saber, formação dos professores e globalização:
questões para a educação hoje. Porto alegre: Artmed, 2005.
Gardner, Howard. A identidade da inteligência. Revista Mente e Cérebro. N. , p. 46-53,
2011.
Jesus, Saul Neves de. Professor sem stress. Porto Alegre: Mediação Editora, 2007.
Marchesi, Álvaro. O bem-estar dos professores. Porto Alegre: Artmed, 2008.
Palfrey, John; Gasser, Urs. Nascidos na era digital: entendendo a primeira geração de
nativos digitais. Porto Alegre: Armed, 2011.
Perrenoud, P. A prática reflexiva no ofício de professor: profissionalização e razão
pedagógica. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002. 232p.
Pimenta, Selma Garrido. (Org.). Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo:
Cortez, 2002.
Unesco. Padrões de Competências em TIC para professores. 2009.
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PROUCA: descobertas e inovações no cotidiano escolar