PROUCA: descobertas e inovações no cotidiano escolar Carla Spagnolo1, Edemilson Jorge Ramos Brandão2 1 2 Escola Municipal de Ensino Fundamental “Caminhos do Aprender”- Av Antonio Ferronato, 225 - Centro, 95333-000 Fagundes Varela – RS – Brasil Faculdade de Educação – Universidade de Passo FundoPasso Fundo – RS – Brasil {caispa}@hotmail.com, [email protected] Abstract: This paper examines reports by teachers about an experience in Project One Laptop per Child - OLPC (Projeto Um Computador por Aluno – PROUCA) in progress at the Municipal School of Elementary Education "Caminhos do Aprender" the city of Fagundes Varela / RS, in the perspective of interactions and possibilities innovative and their reflexes on everyday school life. In continuity to action plan of the project, the city promoted in partnership with the Department of Education at the University of Passo Fundo, a course / teacher training with the intention to promote forms of appropriation of resources from the technological processes developed by OLPC school of critical and creative way. During this process, teachers are excited about the OLPC expressed because of the numerous possibilities of interaction and innovation in teaching practices, may teach and learn by reciprocity and ownership among teachers and students, but at the same time, show themselves concerned about the enormous challenge of ensuring a quality education in the face of new emerging paradigms of this process. Resumo: Este artigo analisa através de relatos de professores sobre uma experiência no âmbito do Projeto Um Computador por Aluno – PROUCA em curso na Escola Municipal de Ensino Fundamental “Caminhos do Aprender” do município de Fagundes Varela/RS, à luz das interações e possibilidades inovadoras e seus reflexos no cotidiano escolar. Em continuidade ao plano de ação do projeto, o município promoveu, em parceria com a Faculdade de Educação da Universidade de Passo Fundo, um curso de capacitação docente com o intuito de promover formas de apropriação dos recursos tecnológicos provenientes do PROUCA nos processos desenvolvidos pela escola de forma crítica e criativa. Durante todo esse processo, os professores se manifestaram entusiasmados com o PROUCA em razão das inúmeras possibilidades de interação e inovação nas práticas escolares, de poder ensinar e aprender através da reciprocidade e apropriação entre professores e alunos, mas, ao mesmo tempo, demonstram-se preocupados com o enorme desafio de se assegurar uma educação de qualidade, diante dos novos paradigmas emergentes deste processo. Introdução Os desafios das instituições de ensino de se apropriarem de tecnologias no seu cotidiano vêm se constituindo como um dos aspectos a ser constantemente ressaltado na educação brasileira. Assegurar uma educação de qualidade para todos, implica não apenas em dar acesso a tecnologia, mas promover a formação de professores nos diferentes aspectos, tanto profissional como pessoal, principalmente em tempos de rápidas e constantes mudanças. Visualizar o processo de construção do conhecimento em um mundo cada vez mais tecnológico requer, dos envolvidos com a educação, concepções coerentes e atualizadas em relação à proposta político-pedagógica da escola. Refletir sobre as necessidades sociais e pessoais do mundo real, fortemente influenciado por questões tecnológicas, demonstra a incessante busca pela construção de novos conceitos, posturas e práticas. Adaptar-se a evolução da tecnologia pode ser o primeiro passo em direção a melhorias nas ações pedagógicas, tendo em vista que os fenômenos educativos são multidimensionais, que dependem de autores, ideias, processos e estruturas. A busca pela qualidade educacional em diferentes aspectos reside fundamentalmente na clareza dos objetivos das propostas metodológicas, pedagógicas e na conduta dos sujeitos que fazem a educação, diante da questão de para que, como e para quem se educa hoje. Nesse sentido, a escola, como um espaço que proporciona a valorização de conhecimentos prévios em diferentes realidades, promove a ampliação de conhecimentos, levando em consideração todas as dimensões do ser humano: o saber saber, o saber fazer, o saber ser e conviver. Em seu livro ¿Para qué educamos hoy? Augusto Pérez Lindo (2009) destaca que em um contexto de mutações e incertezas, parece sensato adotar atitudes programáticas utilizando métodos eficazes para que os discentes aprendam os conteúdos que necessitam para seu desempenho social e laboral.1 1 Tradução dos autores Neste cenário de incertezas e, ao mesmo tempo, de avanços da introdução de novas tecnologias no contexto escolar, este estudo objetiva analisar, através de relatos de professores, uma experiência no âmbito do Projeto Um Computador por Aluno – PROUCA2, em curso na Escola Municipal de Ensino Fundamental “Caminhos do Aprender” do município de Fagundes Varela/RS, à luz das interações e possibilidades inovadoras decorrentes deste processo e seus reflexos no cotidiano escolar no que tange as distintas maneiras de se apropriar e construir novos conhecimentos neste novo cenário tecnológico. Essa é a nossa realidade Fundado em 1987, Fagundes Varela é um município da região da Serra Gaúcha, com aproximadamente dois mil e seiscentos habitantes. Atualmente o município atende mais de quinhentos alunos na educação básica (educação infantil, ensino fundamental e médio) nas redes municipal e estadual de ensino. Embora seja um município relativamente novo, as escolas públicas atendem a clientela local com uma infraestrutura adequada e um quadro de professores formado na maioria por egressos de cursos superiores na área das licenciaturas. A Escola Municipal de Ensino Fundamental “Caminhos do Aprender”, única da rede municipal atualmente em atividade atende atualmente duzentos e vinte alunos desde a Educação Infantil (creche e pré-escola) até a quarta série do Ensino Fundamental. A escola está localizada no centro de Fagundes Varela, desde mil novecentos e noventa e oito, quando as escolas do interior do município, começaram a ser nucleadas. Os alunos que frequentam a Escola “Caminhos do Aprender” são provenientes das áreas urbanas e rural do município, e também filhos de migrantes procedentes de outras cidades e estados. Durante o ano letivo, a escola oferece aos alunos diversas oficinas3 que preconizam o desenvolvimento de diferentes habilidades, conforme destaca a “teoria das inteligências múltiplas” de Gardner onde [...] “todos nós temos capacidade de desenvolver diversos tipos de habilidades. O potencial de cada um é resultado da interação dessas 2 3 http://www.uca.gov.br/institucional/ Dentre as oficinas trabalhadas, está incluído o Inglês, a Expressão Corporal, Hora do Conto, Música e Informática. competências [...] (2011, p. 48). Essas oficinas são trabalhadas por especialistas nas respectivas áreas durante as atividades de classe, para todas as turmas da escola, atendendo ao dispositivo proposto no projeto político pedagógico da escola que define educação como um processo permanente, pelo qual o homem se desenvolve, se aperfeiçoa e se realiza como pessoa, exercendo a cidadania pelas ações individuais e coletivas, com alicerce na experienciação, ensino, instrução e informação. O corpo docente da Escola “Caminhos do Aprender” é formado por dezenove professores, dos quais, treze professores são efetivos do quadro, cinco são professores estagiários e apenas um professor é contratado. Onze possuem sua formação em nível superior, cinco ainda se encontram em formação em nível de graduação (licenciatura) e apenas três possuem o nível médio na modalidade normal/magistério. Além desses professores, a escola conta com uma equipe diretiva (diretor, vice-diretor e pedagoga) e com uma equipe multiprofissional de apoio (psicopedagogia, psicologia e nutrição). O compromisso dos educadores e da equipe diretiva com a proposta político-pedagógica da escola é consistente e assumido com seriedade. Os princípios que norteiam este ambiente educacional estão relacionados com a construção e desenvolvimento de projetos que objetivam proporcionar ao educando condições favoráveis para desenvolver suas potencialidades, tornando-o dessa maneira, um ser criativo, crítico, transformador e capaz de exercer a cidadania. Em vista destes aspectos que norteiam o processo pedagógico, a escola buscou no PROUCA, meios para manter permanentemente ativa a filosofia do educandário: “Prazer em ensinar, prazer em aprender”. Uma busca de alternativas que resultasse em mudanças nos processos metodológicos, com utilização de estratégias didáticas, recursos tecnológicos e inovações no modo de fazer educação. Neste contexto, o papel da escola se amplia: além de mediar e aproximar conhecimentos deve considerar os alunos nos seus contextos sociais, ambientais e culturais, oferecendo condições para que ocorram as aprendizagens através do lúdico, brincadeiras orientadas ou livres, do acesso à tecnologia e da exploração da curiosidade, e garantindo desta maneira, a ampliação das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas, éticas, sociais e intelectuais. Mas a efetivação de uma proposta de descobertas e inovações no cotidiano escolar na escola envolve mais do que questões metodológicas, passa por questões diretamente relacionadas aos referenciais epistemológicos adotados pelo professor, ou seja, as suas crenças, seus conceitos, seus pressupostos e tudo aquilo que ele acredita que neste processo também constituem variáveis importantes. Daí a necessidade da formação continuada e do engajamento dos sujeitos que fazem acontecer à educação com as propostas da escola face aos avanços e mudanças que ocorrem na sociedade contemporânea. Formação de professores – PROUCA, uma experiência coletiva inovadora As políticas municipais na área educacional de Fagundes Varela priorizam o constante aperfeiçoamento, valorização dos professores e incentivo à aplicabilidade de projetos que promovam à construção do conhecimento e à formação de valores na comunidade. Fica evidente na leitura dos documentos oficiais a preocupação com a formação humana, bem-estar dos professores e com todo o processo de ensino e aprendizagem. Na sociedade contemporânea, é indispensável que haja professores competentes para responder à demanda e diversidade dos alunos que frequentam a escola. Como reflexo, obtemos possibilidades em ações para o aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver em conjunto e aprender a ser, tendo em vista os pilares da educação atual, definido por Dellors (2000). Neste sentindo, proporcionar novas estratégias de ação e refletir sobre o que a escola pode fazer para contribuir para a qualificação do professor, é preocupar-se com o seu bem-estar. Neste sentido, merece destaque uma proposta de formação/capacitação de professores que vá ao encontro dos avanços tecnológicos, sem “deletar” os valores essenciais para à sobrevivência do professor enquanto sujeito social - as virtudes existentes nas relações humanas. Assim, a formação de professores passa a (...) constituir um instrumento importante para a aquisição de competências profissionais relevantes para aumentar a sua autoconfiança e probabilidade de sucesso, tornando-se mais eficazes no confronto com potenciais fatores de stress (...) [JESUS 2007, p. 3]) Os dizeres de Jesus (2007) defendem que a formação dos professores deve adequar-se a realidade atual. Oferecer oportunidades para a cooperação entre professores, no sentido da resolução de problemas comuns, criar perspectivas futuras para a educação e o fornecimento de apoio mútuo. O ensinar deve ser algo desenvolvido e construído por nós, no plural e coletivo, significando cooperação e união. O desafio posto atualmente ao Programa Um Computador Por Aluno - PROUCA, enquanto iniciativa de governo, em específico da Presidência da República, coordenada em conjunto com o Ministério da Educação, é promover a inclusão digital e o desenvolvimento dos processos de ensino-aprendizagem de alunos e professores de escolas públicas brasileiras, mediante a utilização de computadores portáteis denominados laptops educacionais4. Nos documentos da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO sobre padrões de competências em Tecnologia de Informação e Comunicação - TIC para professores, percebe-se a preocupação com a adoção de estratégias de formação/capacitação que promovam metodologias inovadoras nas práticas educacionais. Para viver, aprender e trabalhar bem em uma sociedade cada vez mais complexa, rica em informação e baseada em conhecimento, alunos e professores precisam se apropriar de tecnologias de forma efetiva. Os professores na ativa precisam adquirir competências que lhes permitirá proporcionar a seus alunos oportunidades de aprendizagem com apoio da tecnologia (...). Os professores precisam estar preparados para ofertar autonomia a seus alunos com as vantagens que a tecnologia pode trazer. [UNESCO 2009, p. 1] As propostas educacionais nos atuais cursos de formação/capacitação docente oferecem condições aos professores para usar tecnologias, mas nem sempre condições para uma apropriação desses recursos em seu cotidiano, como forma de sobrevivência e de protagonismo nos espaços onde atua. 4 De acordo com o Ministério de Educação, os equipamentos poderão ser utilizados tanto nos espaços escolares (sala de aula, pátio, laboratório, etc.), por estudantes e professores, de acordo com regras a serem estabelecidas pelas Escolas, como em suas residências, iniciando assim, um processo de inclusão digital de famílias e da comunidade em geral. Em razão de vários motivos, hoje, é difícil despertar a motivação e o interesse pela aprendizagem tanto nos alunos quanto nos professores, tendo em vista que os interesses e projetos das escolas nem sempre coincidem com as diferentes percepções e expectativas de professores e alunos com relação aos avanços tecnológicos. A diferença de gerações e disparidade de opiniões gera muitas vezes movimentos de resistência à mudança por parte de professores e defesa incondicional de acesso à tecnologia por parte de alunos, resultando em situações de conflito e mal estar nas escolas. O Programa Um Computador por Aluno além de disponibilizar laptops para serem utilizados pelos alunos, preconiza a interação com os professores e o desafio de conectividade para um espaço além da escola, uma vez que possibilita não apenas receber e enviar informações, mas também desenvolver capacidades cognitivas e processos de inclusão da escola e da própria família na cultura digital. Com o intuito de assumir um papel de protagonismo neste novo cenário e buscar alternativas metodológicas e ferramentas que promovessem descobertas e inovações no cotidiano escolar, o PROUCA foi adotado pela Escola Municipal de Ensino Fundamental “Caminhos do Aprender”, com o consentimento e aceitação de todo o corpo docente e com o entusiasmo dos alunos. Essa iniciativa além de promover, a priori, momentos de formação e conscientização da dinamicidade aos professores, oportuniza momentos de reflexão e de engajamento com novos conceitos e modalidades de trabalho em “rede”, não só virtualmente, mas também em “rede” de cooperação entre colegas. Uma vez adquiridos os laptops educacionais e dando continuidade ao plano de ação do PROUCA no município de Fagundes Varela deu início um processo de busca de informação sobre o projeto em pesquisas, relatos de experiências e, principalmente, através de visitas a escolas gaúchas que já incluídas no programa. Constatou-se que o projeto seria bem mais explorado se paralelo a aquisição dos computadores ocorresse a formação/capacitação dos professores e equipe diretiva da escola, mediante práticas voltadas à apropriação tecnológica e à construção cooperativa da aprendizagem, em consonância com as especificidades da proposta curricular da escola. Figura 1: Plano de ação do PROUCA Tendo em vista que o plano de ação do PROUCA (Figura 1) inclui infraestrutura tecnológica, pesquisa, avaliação e formação docente, surgiu à preocupação com a formação dos professores para orientá-los na elaboração de práticas inovadoras e na apropriação dos recursos tecnológicos no cotidiano escolar. Após inúmeros diálogos, com diferentes profissionais e instituições de ensino de nível superior, foi possível formatar uma proposta de formação juntamente com a Faculdade de Educação da Universidade de Passo Fundo, baseada nas seguintes perspectivas: Promover formas de apropriação dos recursos tecnológicos provenientes do PROUCA nos processos desenvolvidos pela escola de forma crítica e criativa. Promover competências básicas para o desenvolvimento de projetos interdisciplinares na escola nos quais os computadores do PROUCA sejam concebidos como parte integrante dos recursos disponíveis às atividades didáticopedagógicas, tanto para a disseminação de informações quanto para a construção de novos conhecimentos. Estimular a autoria e a apropriação por parte dos professores dos diversos recursos e ferramentas disponíveis nos computadores do PROUCA e na Internet, promovendo a sua capacitação para este fim. Descobertas e inovações no cotidiano escolar: a percepção dos professores O Curso de Formação de Professores do município de Fagundes Varela, intitulado PROUCA: Formas de Apropriação Tecnológica, loco onde foram coletadas as percepções dos professores do município de Fagundes Varela sobre as possibilidades de descobertas e inovações no cotidiano escolar. O curso foi desenvolvido através de oficinas prático-teóricas com professores e gestores municipais em atividades de laboratório, grupos de estudos e projetos específicos para o uso e apropriação didático-pedagógica dos computadores do PROUCA, na elaboração e produção de material didático e na melhoria da comunicação didática entre professores e alunos. O curso foi elaborado em um total de sessenta horas/aula, sendo dez horas destinadas às atividades orientadas a distância e acompanhamento de projetos desenvolvidos pelos professores. Como recurso didático-pedagógico o curso dispõe de um espaço virtual de aprendizagem onde alunos, professores e dirigentes podem interagir, publicar e construir novas aprendizagens em rede, desenvolvido na forma de blog.5 Nesse sentido, é importante que no momento da formação se criem estratégias de pensamento, de percepção, de estímulos que centram a tomada de decisões para processar, sistematizar, comunicar e refletir o conhecimento, por meio de atividades significativas que envolvam diferentes práticas de ensino ao mesmo tempo em que se estabeleçam condições para a realização de estudos com vistas ao aperfeiçoamento de todo o processo. Seja através de postagens no blog do curso, seja através de manifestações presenciais nos momentos de formação. Enquanto espaço de formação, a indagação reflexiva pode ser uma estratégia que os futuros professores podem vir a utilizar no exercício da docência, facilitando uma tomada de consciência dos desafios e perspectivas frente ao trabalho pedagógico [PIMENTA 2002]. Sobre isso, Perrenoud (2002) destaca que o professor deve refletir constantemente sobre sua prática, com o objetivo de propiciar uma evolução rumo à profissionalização e favorecer a acumulação de saberes a partir de suas experiências. Preparar professores e 5 http://projetofagundesvarela.blogspot.com construir um saber de qualidade e significativo para ele é uma ação a ser perseguida permanentemente pela formação docente, aliando conhecimentos científicos, pedagógicos e tecnológicos específicos da área, para uma ampla e consistente visão da realidade humana, social, política e econômica do país. Nos diversos registros feitos por professores sobre a proposta de formação destaca-se um depoimento postado no blog onde a professora afirma: “Minhas expectativas estão sendo atendidas. Só espero que realmente renovemos o jeito de trabalhar. Não gostaria de usar o computador para repetir apenas o que já se faz em sala de aula”. Esta manifestação reafirma as ideias de Charlot de que o professor é um agente social e cultural, pois é através de sua função cultural que exerce sua função social, mas também pode ser o inverso, ao mesmo tempo em que o professor contribui para a reprodução social, transmite saberes, instrui e educa. O autor problematiza a função do ser professor afirmando que o ensinar não é somente transmitir, “é por meio de saberes, humanizar, socializar, ajudar um sujeito singular a acontecer” [CHARLOT 2005, p.85]. Outro aspecto ressaltado nos depoimentos dos professores diz respeito à motivação e entusiasmo com a efetiva implementação do PROUCA na escola. “Espero aprender muito neste curso e poder ensinar aos meus alunos todos os recursos que a máquina oferece, pois acho que é um recurso novo e bem incentivador”. “Com esse curso iremos nos apropriar da tecnologia que já está presente na realidade dos alunos, podendo assim tornar a aula mais dinâmica e divertida. Aproveitemos ao máximo”. Encontramos em Bazarra (2008, p.30), algumas características fundamentais que, de modo especial, traduzem e exemplificam uma prática docente motivada e dinâmica, quando afirma: “Para que nós, enquanto professores, seduzamos para que comuniquemos rigor, paixão, entusiasmo, os primeiros que precisam sentir-se persuadidos, seduzidos pela vida, somos nós mesmos”. A autora expõe com clareza que o ato de ensinar é sucedido de resultados positivos, quando em primeiro lugar, os professores tornam-se sujeitos ativos, envolvidos e interessados em aprender, e principalmente, ser educador movido pelos sonhos e pela alegria de viver. Em consonância com os depoimentos, Jesus (2007, p. 26) afirma que parece ser essencial o bem-estar do professor para a sua motivação, seu próprio envolvimento, aprendizagem, desenvolvimento, satisfação e sucesso profissional. Interessantes são as ideias do autor, pois vai ao encontro das expectativas dos professores sobre o PROUCA, na medida em que considera (...) “o trabalho em equipe e a formação profissional são fatores que melhor podem contribuir para o bem-estar no domínio profissional” (...) Jesus (2007, p. 26) afirma ainda que prioritariamente, deveriam ser introduzidas alterações na abordagem que os meios de comunicação fazem da escola e do trabalho do professor, no sentido de serem mais positivas tais abordagens e sendo divulgadas as boas experiências. Compartilhar conhecimento e experiência com colegas, alunos e comunidade escolar é outro ponto revelado pelos professores evidenciando a importância do processo de ensinar e aprender como um ato de reciprocidade e apropriação, onde professores e alunos aprendem juntos: “Como é bom termos em nossa escola oportunidades como esta, de atualizarmos e compartilharmos nossos conhecimentos em tecnologia com todos os alunos e, com certeza, aprendermos muito com eles também”. Sobre os reflexos das tecnologias na aprendizagem, Palfrey e Gasser (2011 p. 277 e 278), analisam o seu impacto na educação, e trazem a ideia de que as escolas que vão além de investimentos em infraestruturas de tecnologia conseguem dialogar, compartilhar informações e conhecimentos, fundamentais para as aprendizagens tecnológicas. “As escolas devem priorizar as descobertas de qual é a maneira mais correta de integrar a tecnologia no currículo (...) mas usá-la de modo eficiente. As escolas devem usar as tecnologias digitais para encorajar a aprendizagem em equipe”. Seguindo as ideias de Palfrey e Gasser (2011) de que as escolas do futuro vão necessitar de corpo docente capacitado para atuar com o futuro, pode-se concluir que o acesso e a apropriação tecnológica constituem momentos importantes tanto para os alunos, “nativos digitais”, quanto para professores. O trabalho com distintas ferramentas tecnológicas é mais um instrumento para os professores atingirem os alunos na sala de aula e buscar uma educação de qualidade em conexão com o mundo externo. Os professores da Escola “Caminhos Aprender” demonstram preocupação com o enorme desafio que representa assegurar uma educação de qualidade, diante dos novos paradigmas emergentes deste processo: “Formação continuada aliada com tecnologia, nos dias atuais e dentro do processo educativo, sempre motiva as pessoas a procurarem o melhor, crescerem em conjunto e reformularem os paradigmas educacionais. Avante para um mundo melhor!” Esse depoimento reforça as ideias de Marchesi (2008 p 61-62) sobre as habilidades dos professores para favorecer o envolvimento dos alunos com suas aprendizagens: “(...) capacidade de inovação. A elaboração de situações de aprendizagens variadas e adaptadas ao contexto de cada turma exige flexibilidade mental, segurança emocional e criatividade”. Os depoimentos dos professores postados no blog, bem como as reflexões realizadas durante os encontros presenciais enfatizam a importância de momentos de encontros, de interações e de troca de informações e experiências entre professores e alunos que, conforme observou Jesus (2007) faz com que os professores possam trabalhar em conjunto com os colegas e alunos, e aprender com a experiência profissional, numa perspectiva de autodescoberta de suas qualidades pessoais, as quais podem ser aproveitadas na prática profissional. Considerações iniciais As análises realizadas neste artigo, tomando como base relatos de professores que participam do Projeto Um Computador por Aluno – PROUCA, em curso na Escola Municipal de Ensino Fundamental “Caminhos do Aprender” do município de Fagundes Varela/RS, evidenciou as interações e possibilidades inovadoras deste projeto e seus reflexos no cotidiano da escola como resultado de um processo de formação/capacitação docente que promovam formas de apropriação tecnológica de forma crítica e criativa. Durante todo o processo investigativo que utilizou o blog do curso como instrumento de coleta de dados e espaço de reflexão sobre práticas desenvolvidas no cotidiano da escola, e os professores se manifestaram entusiasmado com o PROUCA em razão das inúmeras possibilidades de interação e inovação que o projeto possa incidir sobre as práticas escolares. Destacam como ponto positivo que um dos princípios do projeto envolve o poder ensinar e aprender através da reciprocidade e apropriação entre professores e alunos, mas, ao mesmo tempo, demonstram-se preocupados com o enorme desafio de se assegurar uma educação de qualidade, diante dos novos paradigmas emergentes deste processo. O papel de protagonista neste processo advém, não apenas do acesso à tecnologia ou da formação recebida, mas sobretudo do compromisso dos professores com a proposta político-pedagógica da escola e com os princípios que norteiam este novo cenário educacional onde a construção do conhecimento resulta de aprendizagens em rede através de práticas criativas, críticas e transformadoras. Referências bibliográficas Bazarra, Lourdes; Casanova, Olga; Ugarte, Jerônimo Garcia. Ser professor e dirigir professores em tempos de mudança. São Paulo: Paulinas, 2008. Charlot, Bernard. Relação com o saber, formação dos professores e globalização: questões para a educação hoje. Porto alegre: Artmed, 2005. Gardner, Howard. A identidade da inteligência. Revista Mente e Cérebro. N. , p. 46-53, 2011. Jesus, Saul Neves de. Professor sem stress. Porto Alegre: Mediação Editora, 2007. Marchesi, Álvaro. O bem-estar dos professores. Porto Alegre: Artmed, 2008. Palfrey, John; Gasser, Urs. Nascidos na era digital: entendendo a primeira geração de nativos digitais. Porto Alegre: Armed, 2011. Perrenoud, P. A prática reflexiva no ofício de professor: profissionalização e razão pedagógica. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002. 232p. Pimenta, Selma Garrido. (Org.). Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez, 2002. Unesco. Padrões de Competências em TIC para professores. 2009.