Discours de Pascal Teixeira da Silva
Ambassadeur de France au Portugal
à l'occasion de la remise des insignes de Chevalier des Arts et des Lettres
à Madame Leonor Silveira
Palais de Santos, mardi 25 janvier 2011
Mestre Manoel de Oliveira,
Senhoras e senhores,
Caras amigas, caros amigos,
Obrigado por terem aceite o nosso convite.
Chère Leonor Silveira,
Nous sommes rassemblés ce soir pour célébrer la chère et brillante amie que vous êtes
pour la France. Votre relation avec notre pays vient de loin.
Vos plus jeunes années sont imprégnées par la culture française puisque votre enfance
est marquée par la figure de votre arrière grand-mère, Andrée-Mireille Goldstein et
celle de votre grand-mère, Ginette Goldstein, deux françaises d’exception.
Ces dernières ont dirigé durant près d’un demi-siècle le York House, situé Rua das
Janelas Verdes, à quelques pas seulement du Palais de Santos. En quelques années, la
petite pension familiale devint, sous leur influence, un hôtel de référence qui
accueillait les artistes, les grandes figures intellectuelles et politiques de passage à
Lisbonne.
Mais c’est au cours de la seconde guerre mondiale que le York House connut un rôle
majeur. Il fut un lieu d’accueil pour beaucoup de réfugiés qui tentaient de rejoindre
l’Amérique à partir de Lisbonne. Pour ce haut-fait, votre arrière grand-mère obtint la
légion d’honneur des mains du Général de Gaulle.
Vous grandissez dans cette ambiance singulière au York House et fréquentez – comme
l’ensemble de votre famille (dont votre célèbre cousine, la comédienne
Beatriz Batarda) – le Lycée français Charles Lepierre pendant toute votre scolarité.
Vous y suivez des cours de théâtre et êtes dirigée, le temps d’une Cantatrice chauve,
par Philippe Fridman, professeur de philosophie au lycée français iconoclaste,
exigeant, et accessoirement excellent metteur en scène.
Estas aulas foram certamente do seu agrado, mas não foi por isso que pensou ser
actriz.
Porém, um dia, quando acompanhava uma das suas colegas a um casting, propõem-lhe
fazer uma audição para o próximo filme de Manoel de Oliveira, Os Canibais.
E, é Manoel de Oliveira, em pessoa, que lhe anuncia que fora seleccionada...
A Leonor tinha apenas 17 anos, 2 meses de rodagem em perspectiva com um dos
maiores cineastas portugueses e… o “baccalauréat” francês no final do ano …
Hesita ...
Família, amigos, professores, todos a encorajam a aceitar este papel e a tentar a
experiência.
Olhando para trás, é incrível saber hoje que aquela foi a única audição em toda a sua
vida! Este primeiro filme fundador, revelador do seu imenso talento, foi apenas o
princípio do que ía ser uma brilhante carreira.
Tornou-se a actriz “fétiche” de Manoel de Oliveira e participou em 18 dos seus filmes
entre os quais, O convento (1995), Party (1996), O Principio da Incerteza (2001) ou
ainda Espelho mágico (2005).
A imaginação fértil de Manoel de Oliveira conduzi-la-á mesmo a revisitar uma
personagem de excepção da nossa literatura – Emma Bovary – no filme Vale Abraão
(1993): a sua interpretação neste filme é de tal forma comovente que as críticas do
mundo inteiro esgotam os superlativos!
Acompanha perto de uma dezena de vezes o seu mentor a Cannes e sobe a escadaria
ao lado de Catherine Deneuve, Michel Piccoli, Marcello Mastroianni ou ainda John
Malkovich.
Trabalha igualmente com outros grandes realizadores portugueses tais como
Luís Galvão Telles (1990), João Botelho (1993), Joaquim Pinto (1993) e
Vicente Jorge Silva (1996). Renato Berta, director da fotografia de numerosos filmes
de Manoel de Oliveira disse a seu respeito : “Leonor é uma actriz que se parece um
pouco com as personagens que Manoel de Oliveira lhe dá para interpretar. Sibilina,
impenetrável, misteriosa... Transparece dela uma personalidade tão forte que talvez
meta medo a outros cineastas”. Como se vê – felizmente – não é completamente
verdade.
Sibilina, misteriosa, sim, mas também altamente profisionnal. Permita-me contar uma
pequena piada que me foi segredada. Durante um ensaio duma das partes do filme
Je rentre à la maison (com Michel Piccoli e Catherine Deneuve), onde se fazia a
representação de uma peça de teatro onde o Rei era meio maluco, Manoel de Oliveira,
a certa altura, ao entrepor-se qualquer assunto fora do contexto da peça, perdeu o
sentido do que tinha já ensaiado e, baralhado, disse : “Bem, tenho de voltar tudo ao
princípio”, quando a Leonor lhe repetiu todas as passagens já ensaiadas e assim
Manoel de Oliveira pôde continuar. Então ele disse para a Leonor : “Você dava uma
excelente assistente de realização, Silveira Leonor !”.
Talvez não seja por acaso que não se limitou a ser actriz. Pois paralelamente às
rodagens, continua os seus estudos e obtem uma licenciatura em Relações
Internacionais na Universidade Lusíada. Posteriormente, especializa-se ainda em
Direito da Cultura e do Património Cultural.
Após ter entrado, em 1998, para o Gabinete do Ministro da Cultura,
Manuel Maria Carrilho – que hoje nos honra com a sua presença e que eu saúdo –
integrou o Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia (ICAM) em 2000 onde
tinha a tarefa de coordenar e promover as obras portuguesas.
Em 2005, é promovida e torna-se Sub-Directora desta prestigiada instituição.
Dans le cadre de vos missions actuelles, vous représentez notamment le Portugal
auprès du Comité de direction d’EURIMAGES et travaillez en étroite liaison avec le
Centre National de la Cinématographie (CNC) en France.
Vous participez régulièrement, en tant que Jury, à d’importants festivals à travers le
monde et vous êtes d’ailleurs invitée, en 2009, par le Président Gilles Jacob à faire
partie de l’un des Jurys du Festival de Cannes.
Votre implication dans le monde du cinéma et vos talents de comédienne sont
unanimement reconnus et salués par vos pairs en France, qui vous choisissent en 2009
pour être Correspondante internationale de l’Académie des Beaux-Arts à l’Institut de
France.
Vous êtes décorée ce soir, et je m’en réjouis, à l’Ambassade de France… mais c’est
loin d’être la première fois.
Já recebeu numerosas distinções. Saliento apenas o prestigioso prémio BORDALO da
Imprensa para a “melhor actriz” em 1997 e, no mesmo ano, foi-lhe atribuído, pelo
Presidente da República Portuguesa Jorge Sampaio, o grau de Comendadora da ordem
de Mérito.
Debater, intervir, pensar o mundo do cinema foi o combate que escolheu... não
deixando contudo de ir construindo uma brilhante carreira de actriz.
Ao encontrar o feliz equilíbrio entre essas duas vertentes, a Leonor granjeou a
admiração daqueles que a rodeiam.
A esta vida que poderíamos qualificar de um verdadeiro “sonho acordado” veio juntarse a graça de ser mãe de duas crianças.
Chers amis,
Chère Leonor Silveira,
La France tient ce soir à saluer votre talentueuse personnalité. Car c’est sans doute à
cause de – ou plutôt grâce à – ce penchant de la France pour l’universalisme (qui peut
agacer certains, mais qui fonctionne dans les deux sens) que la République française
tient à honorer des artistes et des écrivains, des créateurs et des interprètes du monde
entier, dont l’art, le talent et la rayonnement ont une portée universelle, bien au-delà de
leurs liens personnels avec notre pays. C’est pour cela qu’a été justement créé l’Ordre
des Arts et des Lettres en 1957 et qu’il est décerné à des personnalités telles que vous.
Madame Leonor Silveira, c’est avec un immense honneur et plaisir que, au nom
du Ministre de la Culture et de la Communication, je vous remets les insignes de
Chevalier de l’Ordre des Arts et des Lettres.
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Discours Arts et Lettres Leonor Silveira 25_01_11