ALIMENTAÇÃO CUIDADA, MAIOR QUALIDADE DE VIDA Numa altura do ano que estão praticamente concluidos os festejos natalícios, urge refletir sobre alguns aspectos que a estas celebrações estão associadas. Automaticamente o leitor é assolado por pensamentos e lembranças de encontros sociais, nos convívios familiares e não só, em toda a magia que esta época pressupõe. No entanto, existe o reverso da medalha e alguns aspectos que podem ser potenciados negativamente. Refiro-me aos excessos alimentares, à permissividade alimentar que se assiste porque “é Natal”. Existe um agravamento no consumo de alimentos hipercalóricos, de alimentos não nutritivos potenciando uma questão de sáude pública – a Obesidade Infantil. É do conhecimento da população que a obesidade infantil é uma realidade que alcança índices cada vez mais elevados, tornando-se como a OMS (Organização Mundial de Saúde) considera, uma Epidemia Global. Pode resultar em obesidade na idade adulta ou maior risco de contrair doenças cardíacas, hipertensão, diabetes, entre outras. A maioria das pessoas acredita que as crianças são obesas por ingerirem grande quantidade de comida. No entanto, esta afirmação nem sempre é verdadeira, pois, em geral, as crianças obesas comem alimentos de alto valor calórico que, mesmo ingeridos em quantidades não tão grandes, podem causar o aumento de peso (batatas fritas, hambúrguer, etc.). Está associada à ingestão excessiva de alimentos calóricos e à falta de exercício físico. A prevenção é a melhor forma de diminuir essa incidência e os Enfermeiros têm um papel importante na mesma. De acordo com o guias orientadores de boa prática em Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica (GOBPESIP), é ao Centro de Saúde que a maior parte dos pais recorre quando tem dúvidas relacionadas com a alimentação. É referido que “ a OMS e a UNICEF consideram que as práticas adoptadas nos serviços de saúde podem ter um efeito importante sobre a amamentação e, posteriormente no padrão alimentar da criança” (GOBPESIP). Os guias orientadores de boa prática em Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica, constituem linhas orientadoras, elaborados por um conjunto de especialistas de Enfermagem de saúde infantil e pediátrica, baseados em estudos, fontes científicas, entidades com credibilidade inquestionável. Estes podem ser uma base para organizar as Intervenções dos Enfermeiros, proporcionando uma maior eficiência e segurança das intervenções à eficácia do resultado, traçando desta forma o melhor caminho para a qualidade dos cuidados e o desenvolvimento da profissão. A alimentação infantil é uma das áreas de atenção de uma equipa multidisciplinar de saúde. Os Enfermeiros têm um papel muito importante na orientação e aconselhamento dos pais. A maior parte das ações direcionadas à criança tem uma projeção ou repercursão no seu futuro. Neste sentido e tal como já foi referido anteriormente a prevenção é uma filosofia de cuidado há muito adoptada nos cuidados de saúde primários, pois como sabiamente diz o ditado popular: “mais vale prevenir do que remediar!” A família é uma constante na vida da criança e como tal, é através dela, que se alteram hábitos e rotinas, de forma a que o desenvolvimento da criança se faça da melhor forma possível. Os enfermeiros, que na sua prática estão envolvidos nos cuidados de saúde infantil, assumem o compromisso de uma monitorização constante da criança. Acompanham o crescimento e o desenvolvimento, desde o seu nascimento até a fase adulta, avaliando o seu peso e altura, a capacidade física e a alimentação. Deste modo detectam áreas em risco ou problemas potenciais e aconselham os pais ou cuidadores de uma forma adequada. O sedentarismo facilitado pelos avanços tecnológicos (computadores, televisão, etc.), faz com que as crianças não pratiquem o exercício físico tal como seria desejado. Muitas vezes a violência urbana, a insegurança das ruas, o aumento de tráfego faz com que as crianças permaneçam dentro de casa, sendo desestimuladas as atividades físicas como: correr, jogar a bola, andar de bicicleta. As horas em frente à TV ou de outro equipamento eletrónico são quase sempre acompanhadas com alimentos ricos em gorduras saturadas e açúcares (bolachas com creme, batatas fritas ou sumos). Os meios de comunicação, principalmente a TV têm uma grande influência sobre a criança, nomeadamente no seu desenvolvimento e comportamento infantil. As campanhas agressivas das grandes empresas de fast-food, levam a criança a ser influenciada na sua escolha alimentar. Tudo isto cria um ciclo vicioso: maior número de horas em frente à TV, menos prática de exercício físico e menor apetência para praticá-lo. É necessário ter muito cuidado na hora de alimentar os seus filhos! Os alimentos não devem ser uma recompensa. Os pais não devem usar estratégias que incluam “chantagens” ou castigos, para que a criança se alimente. Tal fato pode, assim, ocasionar um distúrbio alimentar. Eles devem ser prudentes, tendo paciência, tranquilidade e dando um bom exemplo, para que a criança produza um comportamento alimentar saudável. Devido aos contextos laborais atuais, alguns pais tornam-se por vezes, “ausentes” nas questões referentes à alimentação dos seus filhos, deixando assim que eles aprendam a comer o que quiserem. Assim, não têm limites no horário, na quantidade, na qualidade e no local da alimentação. No contato privilegiado que têm com as famílias e crianças, compete aos enfermeiros a orientação dos pais sobre algumas formas de prevenção, para que possam interagir com os seus filhos, mostrando as consequências da doença e posteriormente os benefícios de uma melhor qualidade de vida. Se a obesidade já estiver instalada, os enfermeiros atuam no aconselhamento da criança e da família sobre os benefícios de um tratamento adequado, evitando consequências desfavoráveis, além de orientar sobre o tratamento adequado pela equipe multidisciplinar. È importante que toda a família reveja os seus hábitos alimentares, para melhorar a qualidade de vida e para incentivar a criança a desenvolvê-los. Aqui ficam algumas recomendações aos pais e/ou cuidadores que contribuirão para a prevenção da obesidade infantil, não esquecendo que bons hábitos alimentares devem abranger toda a família, já que os adultos servem de exemplo para as crianças: - Oferecer uma alimentação equilibrada, rica em frutas, legumes e verduras; - Respeitar os horários das refeições e não petiscar ou ingerir guloseimas nos intervalos das refeições; - Evitar alimentos ricos em gordura, doces, refrigerantes; - Entusiasmar a criança para a prática do exercício físico, brincadeiras ao ar livre, jogos desportivos e outros, em detrimento da TV, computador ou outro; - Devem estar atentos às compras do supermercado, mostrando e incentivando a compra de verduras, frutas e legumes, alimentos variados, com todos os nutrientes necessários. A alimentação saudável não é a mais cara, mas a que possibilita uma maior qualidade de vida; - Incentivar a prática de atividade física, como por ex.: jogos à bola, caminhadas, natação; - Oferecer água. A água é importantíssima no bom desempenho das funções do organismo. Principalmente para quem pratica exercício físico, pois mantém o corpo sempre hidratado. A prevenção da obesidade infantil continua a ser o melhor caminho para uma vida adulta saudável! Regina Freitas Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica