UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO (PROPEG) PROGRAMA DE PÓS-GRAUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL (PPG-MDR) Curso de Mestrado JOSÉ IDALÉCIO DE SOUSA GALVÃO A OPERACIONALIDADE DO PRONAF “A” EM ASSENTAMENTOS RURAIS: ESTUDO DE CASO DO PA. MORENO MAIA, RIO BRANCO, AC. Rio Branco - Acre Maio – 2008 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. ii JOSÉ IDALÉCIO DE SOUSA GALVÃO A OPERACIONALIDADE DO PRONAF “A” EM ASSENTAMENTOS RURAIS: ESTUDO DE CASO DO PA. MORENO MAIA, RIO BRANCO, AC. Dissertação Elaborada Junto ao Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional (PPG-MDR) - Área de Concentração: Desenvolvimento Regional, para obtenção do Título de Mestre em Economia. Orientador: Prof. Dr. Lucas Araújo Carvalho Rio Branco - Acre Maio 2008. iii JOSÉ IDALÉCIO DE SOUSA GALVÃO Dissertação submetida ao Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional (PPG-MDR) - Área de Concentração: Desenvolvimento Regional, para obtenção do Título de Mestre em Economia. Aprovada em 09 de maio de 2008. COMISSÃO EXAMINADORA _______________________________ Prof. Dr. Lucas Araújo Carvalho Universidade Federal do Acre _______________________________ Prof. Dr. Sílvio Simione da Silva Universidade Federal do Acre _______________________________ Prof. Dr. Tadário Kamel de Oliveira Universidade Federal do Acre Rio Branco – Acre Maio/ 2008 iv Dedico este trabalho àqueles que compreenderam o tempo que tive de abdicar em prol de sua realização, e que, acima de tudo, compartilharam comigo as tristezas e, principalmente, as alegrias que a vida nos proporciona. Aos meus queridos pais, José Anísio Galvão e Lenir Farias de Sousa (em memória) por serem meus melhores amigos. v AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, a Deus pela graça concedida de chegar a este momento tão esperado por mim e por todos aqueles que acreditaram que um dia este sonho se tornaria realidade. Em segundo lugar, guardo um espaço especial para agradecer àqueles que direta ou indiretamente foram fundamentais para execução deste trabalho: Ao meu orientador, Dr. Lucas Araújo Carvalho, pela contribuição recebida. Sua orientação, sempre lúcida e relevante, foi fundamental em todas as fases desta dissertação. Ao professor Dr. Sílvio Simione por sua colaboração na organização deste trabalho, transmitindo os seus conhecimentos e vivência interdisciplinares, principalmente entre a Geografia e a Economia, colaborando dessa forma com a dinâmica dos movimentos sociais no campo, neste caso, os movimentos sociais desta região e a sua conseqüente implicação no desenvolvimento local. vi SUMÁRIO Resumo/Palavras-chave viii Summary ix Lista de abreviaturas x Lista de quadros xi Lista de imagem xiii Lista de figuras xix Lista de mapas xv CAPITULO I – Introdução 16 1.1- Estrutura e organização da dissertação 21 1.2 – Problematização 21 1.3 - Justificativas e relevância 23 1.4 - Objetivos da pesquisa 24 1.4.1. Objetivo Geral 24 1.4.2. Objetivos específicos 24 1.5 – Hipótese 24 1.6 – Metodologia 25 1.7 - Instrumentos de pesquisa 26 CAPÍTULO II – Produção familiar e crédito rural – em busca de 27 fundamentos explicativos 2.1- Alguns clássicos – a influência do capitalismo na agricultura 28 2.2 - Outros autores: produção familiar e o papel do crédito rural 33 2.3 - A Política de Criação e objetivos do Crédito FNO 37 2.4 - O PRONAF – contextos e possibilidades 39 Capítulo III - Esboço da organização da produção rural no Estado, via projetos de assentamentos e a presença das instituições públicas de assessoramento ao PRONAF 44 vii 3.1 - Condições do Crédito Rural do PRONAF 46 3.2 - Crédito Rural - do ponto de vista da SEATER como instituição de ATES 60 3.3 - Crédito Rural - do ponto de vista do BASA como agente financeiro 62 3.4 - Crédito rural – do ponto de vista do INCRA 64 3.5 -Crédito rural - do ponto de vista dos presidentes de associações do Moreno 68 Maia 3.6 - Crédito rural - do ponto de vista dos produtores do Moreno Maia 69 3.7 - Cenário atual da operacionalidade do PRONAF no Moreno Maia e a 70 atuação das instituições de assessoramento Capítulo IV - Caracterização do Projeto de Assentamento Moreno Maia 75 4.1 - Assentamentos Rurais no Estado do Acre 75 4.2. O Projeto de Assentamento Moreno Maia 80 4.3 - Infra-estrutura Física e Social 92 4.4 – Agroindustrialização da produção 103 4.5 – Crédito PRONAF “A”no período de 2001/2007: constatação empírica e 111 análise interpretativa CAPITULO V – Considerações Finais 121 Referências Bibliográficas 124 ANEXOS 128 Anexo 01 - Quadro: Condições do crédito rural do PRONAF 129 viii RESUMO O objetivo desta dissertação é discutir os principais fatores operacionais e institucionais que dificultam o acesso dos agricultores familiares ao crédito rural do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Tomou-se então como campo de pesquisa o PRONAF “A”, no projeto de assentamento Moreno Maia, localizado na circunscrição do município de Rio Branco, Estado do Acre, na região norte do Brasil. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de campo no local e entrevistas com agentes do INCRA, SEATER, BASA e representantes de associações de produtores rurais e produtores. Conclui-se que além do PRONAF apresentar um caráter seletivo e excludente, criado sob uma lógica produtivista, que idealiza um “tipo ideal” de agricultor familiar a ser incentivado no país, excluindo todos os demais produtores “incapazes” de se enquadrarem em seus preceitos, os atores institucionais (INCRA, órgão de extensão rural e agente financeiro, associações de trabalhadores rurais) encarregados de realizar sua implantação e operacionalização no âmbito local apresentaram-se insuficientes e (descoordenados) para essa atividade. Estes são os principais elementos responsáveis pelo desempenho sofrível dessa política pública no assentamento pesquisado. Desse modo, caso esses obstáculos não sejam removidos, a tendência é que esta situação perpetue-se ao longo dos anos com impactos negativos ao desenvolvimento local. Palavras chave: Agricultura familiar, Crédito, Amazônia. ix ABSTRACT The objective of this dissertation is to discuss the principal operational and institutional factors that inhibit small farmers’ access to rural credit in the National Program for Strengthening of Family Agriculture (PRONAF). PORNAF “A” was studied in the Moreno Maia settlement project located in the municipality of Rio Branco, Acre state, in the Northern region of Brazil. To this end, field research was carried out at the site in addition to interviews with employees of INCRA, SEATER, BASA, and representatives of rural farmer and producer associations. It was found that in addition to PRONAF presenting a selective and exclusive character, created under a productionist logic, that idealizes incentives for an “ideal type” of small farmer, excluding all other types of producers as “incapable” of fitting within its precepts, the institutional actors (INCRA, the organization responsible for rural extension and the financial agency, rural worker associations) responsible for its implementation and operationalization at a local level appear insufficient and uncoordinated for this activity. These are the principal elements responsible for the problematic progress of this policy in the studied settlement. In this way, if these obstacles are not removed, the tendency is for the situation to perpetuate itself over time with negative impacts on local development. Key words: Agriculture, family credit, Amazon. x LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Sigla Significado PA Projeto de Assentamento PAD Projeto de Assentamento Dirigido PAR Projetos de Assentamento Rápido MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário PAE Projeto de Assentamento Agro-Extrativista ATER Assistência Técnica e Extensão Rural PDS Projeto de Desenvolvimento Sustentável PAF Projeto de Assentamento Florestal PE Projeto Estadual RESEX Reserva Extrativista PDSA Plano de Desenvolvimento Sustentável do Assentamento ZEE Zoneamento Ecológico-Econômico PMDR Plano Municipal de Desenvolvimento Rural CMDR Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural UDR União Democrática Ruralista SEATER Secretaria de Assistência Técnica e Extensão Agroflorestal BASA Banco da Amazônia INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária PROCERA Programa Especial de Crédito para a Reforma Agrária PRODEX Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Extrativismo PRORURAL Programa de Apoio a Produção Familiar Rural Organizada DAP Declaração de Aptidão ao PRONAF FAO Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura xi Lista de Quadros Quadro Discriminação Pág. Quadro 01 Participação % do PRONAF, sobre os recursos do FNO 46 Quadro 02 Projetos de assentamentos de Acrelândia 47 Quadro 03 Projeto de assentamento de Assis Brasil 47 Quadro 04 Projetos de assentamentos de Brasiléia 47 Quadro 05 Projetos de assentamentos de Bujarí 48 Quadro 06 Projetos de assentamentos de Capixaba 48 Quadro 07 Projetos de assentamentos de Cruzeiro do Sul 48 Quadro 08 Projetos de assentamentos de Epitaciolândia 49 Quadro 09 Projetos de assentamentos de Feijó 49 Quadro 10 Projetos de assentamentos de Mâncio Lima 49 Quadro 11 Projetos de assentamentos de Manoel Urbano 49 Quadro 12 Projetos de assentamentos de Marechal Thaumaturgo 50 Quadro 13 Projetos de assentamentos de Plácido de Castro 50 Quadro 14 Projetos de assentamentos de Porto Acre 50 Quadro 15 Projetos de assentamentos de Porto Walter 50 Quadro 16 Projetos de assentamentos de Rio Branco 51 Quadro 17 Projetos de assentamentos de Rodrigues Alves 51 Quadro 18 Projetos de assentamentos de Santa Rosa do Purus 52 Quadro 19 Projetos de assentamentos de Sena Madureira 52 Quadro 20 Projetos de assentamentos de Senador Guiomard 53 Quadro 21 Projetos de assentamentos de Tarauacá 53 xii Quadro 22 Projetos de assentamentos de Xapuri 53 Quadro 23 Aplicação do PRONAF no Estado do Acre 2004 55 Quadro 24 Aplicação do PRONAF no Estado do Acre 2005 e 2006 56 Quadro 25 Aplicação do PRONAF no Estado do Amapá 2004 56 Quadro 26 Aplicação do PRONAF no Estado do Amapá 2005 e 57 2006 Quadro 27 Aplicação do PRONAF no Estado do Pará em 2004 57 Quadro 28 Aplicação do PRONAF no Estado do Pará em 2005 e 58 2006 Quadro 29 Aplicação do PRONAF no Estado do Amazonas em 58 2004 Quadro 30 Aplicação do PRONAF no Estado do Amazonas 2005 e 59 2006 Quadro 31 Aplicação do PRONAF no Estado de Rondônia em 2003 59 Quadro 32 Aplicação do PRONAF no Estado de Rondônia em 2005 60 e 2006 Quadro 33 Rede de energia em km/famílias beneficiadas 87 Quadro 34 Principais Produtos Agrícolas 99 Quadro 35 Rebanho bovino e tamanho do pasto 101 Quadro 36 Produtos beneficiados 103 Quadro 37 Calendário Agrícola do Estado do Acre 106 Quadro 38 Calendário extrativista do Estado do Acre 107 Quadro 39 Calendário pecuário do Estado do Acre 109 Quadro 40 Assistência Técnica Individual 110 Quadro 41 Assistência Técnica Coletiva 110 Quadro 42 Crédito Rural Investimento: Produtores Financiados 112 Quadro 43 Crédito estruturação – INCRA: Famílias beneficiadas 113 xiii Lista de imagem Imagem Imagem 01 Discriminação Localização da área de estudo Pág. 80 xiv Lista de Figuras Figura Discriminação Pág. Figura 01 Área da Regional do Baixo Acre afetada 82 Figura 02 Arco do desmatamento na Amazônia 82 Figura 03 Raio de exploração madeireira 83 Figura 04 Rio Antimari 84 Figura 05 (rio Antimarí) Pequeno barco utilizado no escoamento da 86 produção e transporte dos produtores. Figura 06 Aspecto de relevo suave ondulado a ondulado 89 Figura 07 Aspecto do Rio Acre, fonte de alimentação e via de 90 transporte do P. A. Moreno Maia Figura 08 Condições dos Ramais internos em épocas chuvosas do 92 Moreno Maia Figura 09 Condições de algumas pontes dos ramais internos do P. A. 93 Moreno Maia Figura 10 Ponte sobre Riozinho do Rola – Ramal do Riozinho 93 Figura 11 Escola de Ensino Fundamental São Sebastião 94 Figura 12 Tipos de residências existentes no P. A. Moreno Maia 95 Figura 13 Tipos de residências existentes no P. A. Moreno Maia 95 Figura 14 Cultura de mandioca 101 Figura 15 Carvão vegetal, com aproveitamento de restos de queimadas 104 xv Lista de Mapas Mapa Mapa 01 Discriminação Mapa de infra-estrutura do P. A. Moreno Maia Pág. 97 16 1 - Introdução Este trabalho faz um estudo do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF, em especial o Grupo “A”, em assentamentos rurais do município de Rio Branco, tendo como local de estudo o Projeto de Assentamento Moreno Maia. Analisa os condicionantes que explicam o baixo acesso dos produtores rurais a esse instrumento de política pública, conforme demonstram dados do Banco da Amazônia, que confirmam o não cumprimento das metas anuais traçadas pela instituição. O PRONAF é um programa criado em 1996 pelo Decreto nº 1.946 para apoiar o desenvolvimento rural sustentável e garantir segurança alimentar, fortalecendo a agricultura familiar por meio de financiamentos a pequenos agricultores, bem como associações e cooperativas de produtores rurais. O objetivo principal é o fortalecimento e a valorização do agricultor familiar, visando integrá-lo à cadeia de agronegócios e proporcionar-lhe aumento de renda e agregação de valor ao produto e à propriedade, com sua profissionalização e modernização do seu sistema produtivo. Para fins de obtenção do crédito do PRONAF as famílias são enquadradas nos Grupos “A”, “A/C”, “B”, “C”, “D” e “E”, além de outros enquadramentos em linhas especiais como: PRONAF Mulher1, PRONAF Jovem2, Custeio Agroindústria3 e Cotas-Partes4. Essa classificação leva em conta a renda bruta 1 Para mulher pertencente a unidade familiar de produção. O enquadramento da mulher é o mesmo da família. 2 Para filho ou filha de Pronafiano, com idade entre 16 e 25 anos que tenha que tenham concluído ou esteja cursando o último ano em centros familiares de formação por alternância, ou em escolas técnicas agrícolas de nível médio, que atendam à legislação em vigor para instituições de ensino, ou que tenham participado de curso de formação profissional que preencha os requisitos definidos pela Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário. 3 Pessoa física Pronafiano (a), ou jurídica em que no mínimo 90% dos participantes sejam dos Grupos B, C, D ou E, no mínimo 70% da matéria prima a industrializar/beneficiar seja de produção própria ou de associado/participante. 4 Pronafianos filiados à cooperativa de produção rural em que no mínimo 90% dos participantes sejam agricultores familiares e com patrimônio líquido de mínimo de R$ 50 mil e máximo de R$ 1 milhão e até um ano de funcionamento 17 anual gerada pela família, o percentual dessa renda procedente da atividade rural, o tamanho e gestão da propriedade e a quantidade de empregados na unidade familiar. O PRONAF como instrumento de crédito requisita uma agricultura familiar moderna, necessitando de insumos modernos para sua operação (defensivos e fertilizantes químicos, maquinário agrícola, assistência técnica e financeira), além da organização fundiária para transformar o setor de pequenos produtores em uma agricultura familiar consolidada, ou seja, unidades produtivas e integradas ao mercado, usuárias de tecnologias modernas, com amplo acesso a créditos e outras políticas agrícolas governamentais. Segundo Neves (2002) a “Agricultura Familiar” deverá ser considerada como “uma categoria de ação política que nomeia um amplo e diferenciado segmento mobilizado à construção de novas posições sociais mediante engajamento político” (NEVES, 2002. p.137). Assim, sendo um dos principais instrumentos de apoio ao pequeno agricultor familiar, o PRONAF objetiva aumentar a capacidade produtiva dos pequenos agricultores, permitindo-lhes gerar emprego e aumentar sua renda. Em síntese, o Programa tende a evoluir para uma trajetória de mudança na organização econômica e social da produção familiar visando: a) ajustar as políticas públicas à realidade da agricultura familiar; b) viabilizar a infra-estrutura rural necessária à melhoria do desempenho produtivo; c) elevar o nível de profissionalização de agricultores, apresentando-lhes novos padrões tecnológicos e de gestão. Perseguindo os objetivos, o PRONAF busca contribuir para a eliminação ou redução dos problemas enfrentados pelo agricultor familiar, principalmente aqueles que dizem respeito à burocracia excessiva e muitas vezes intransponível que tornam o crédito rural inacessível; o nível educacional limitado, que impede o conhecimento e o aprendizado de novas técnicas agrícolas; o pequeno poder de negociação, que o deixa nas mãos dos “atravessadores”; a falta de uma estrutura de comercialização, além da própria ausência de organização das unidades de produção, que, por serem muitas, ficam dispersas, sendo difícil desenhar um modelo de articulação eficiente. 18 Os requisitos para atendimento pelo PRONAF indicam que o agricultor precisa apresentar as seguintes características 5: “a) utilizar o trabalho direto seu e de sua família, podendo ter, em caráter complementar, até 2 (dois) empregados permanentes e recorrer à ajuda eventual de terceiros, quando a natureza sazonal da atividade agrícola o exigir; b) ter, no mínimo, 80% da renda familiar originados da exploração agropecuária, pesqueira e/ou extrativa; c) residir na propriedade ou em aglomerado rural ou urbano próximo; d) não deter, a qualquer título, área superior a 4 (quatro) módulos fiscais, quantificados na legislação em vigor. No caso de associações, é necessário que sejam legalmente constituídas e estejam em funcionamento há, pelo menos, 6 meses. São consideradas organizações de agricultores familiares as associações e cooperativas, com, pelo menos, 60% do seu quadro social ativo constituído por agricultores familiares” (p. 13) Em síntese, a dinâmica da agricultura familiar brasileira depende do nível tecnológico adotado, das possibilidades de integração ao mercado e/ou à indústria e do grau de utilização da mão-de-obra familiar, comparados às alternativas de emprego existentes fora do estabelecimento rural, além da qualidade dos serviços prestados pelas instituições de assessoramento como INCRA e unidades de ATER6 Quanto ao crédito agrícola, este é operacionalizado na região Norte por meio de dois agentes financeiros: o Banco da Amazônia (BASA) e o Banco do Brasil. 5 Texto entre aspas retirado do Regulamento Operativo do Fortalecimento da Agricultura Familiar. 6 Assistência Técnica e Extensão Rural. PRONAF: Programa Nacional de 19 Apesar de operarem atualmente com os mesmos programas PRONAF e PROGER– RURAL7 , as fontes de recursos utilizadas por ambos são diferenciadas. O Banco da Amazônia é o único gerenciador dos recursos do Fundo Constitucional do Norte FNO8. O Banco do Brasil opera com recursos do FAT9, mais recursos próprios oriundos de aplicações da poupança no crédito rural. A metodologia utilizada para a aplicação dos créditos diferencia-se entre os dois órgãos. O Banco do Brasil atua em parcerias com as entidades de ATER (públicas e privadas), não condiciona as liberações de parcelas à emissão de laudos técnicos que comprovem a correta aplicação dos recursos. No Banco da Amazônia a forma de contratação é diferente. A agência tem autonomia para decidir se a assistência técnica deve ser facultada ou não (de acordo com Manual do credenciado rural/BASA), mas em Rio Branco na maioria dos casos essa exigência passa a ser obrigatória, sendo a liberação de parcelas condicionada à emissão de laudos de acompanhamento realizados pelas entidades de ATER. O argumento da gerência da agência do Banco da Amazônia/Rio Branco é que mesmo os agricultores que trabalham há muitos anos no campo não têm conhecimentos das novas tecnologias e atuam de forma rudimentar sendo necessária assistência técnica para garantir boa produtividade e posterior quitação do financiamento. 7 PROGER é um programa do Governo Federal que tem por finalidade a promoção de ações que gerem emprego e renda e entre as suas várias ações, disponibiliza linhas especiais de crédito com recursos do FAT(Fundo de Amparo ao Trabalhador) para investimento, de longo prazo, com ou sem capital de giro associado ao investimento, destinadas a micro e pequenas empresas, profissionais liberais, informais, autônomos, aos recém-formados e às cooperativas e associações de produção (exceto as de crédito). As linhas de crédito são disponibilizadas através de bancos oficiais, como Banco do Brasil, CAIXA Federal e Banco do Nordeste, denominados agentes financeiros, que analisam e assumem o risco de crédito. 8 Os Fundos Constitucionais foram criados pela Constituição Federal de 1988, que estabeleceu em seu artigo 159, inciso I, alínea “c”, a obrigação de a União destinar 3% da arrecadação do IR (Imposto sobre a Renda) e IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para serem aplicados em programas de financiamento aos setores produtivos das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, através de suas instituições financeiras de caráter regional. Assim, para a Região Norte foi criado o Fundo Constitucional de Financiamento do Norte - FNO, tendo como objetivo contribuir para a promoção do desenvolvimento econômico e social da Região, através de programas de financiamento aos setores produtivos privados. 9 FAT é um fundo especial, de natureza contábil-financeira, vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, destinado ao custeio do Programa do Seguro-Desemprego, do Abono Salarial e ao financiamento de Programas de Desenvolvimento Econômico. A principal fonte de recursos do FAT é composta pelas contribuições para o Programa de Integração Social - PIS, criado por meio da Lei Complementar n° 07, de 07 de setembro de 1970. 20 O papel do agente financeiro é determinante nas ações das entidades de ATER. As diferentes metodologias utilizadas para nortear a aplicação dos créditos mostram seus efeitos na distribuição dos recursos. Aparentemente, o Banco do Brasil parece realizar uma distribuição mais equilibrada dos recursos entre as produções locais, talvez devido a sua estratégia de promover o desenvolvimento local através de projetos de desenvolvimento regionais, os DRS, enquanto que o Banco da Amazônia, devido orientar suas ações pelo Plano de Desenvolvimento da Amazônia – PDA encontra dificuldades em promover o desenvolvimento regional adequado às particularidades da região. Segundo o plano de aplicação dos recursos10, a dotação para o PRONAF, constitui-se em 20% da dotação anual do FNO, sendo 10% para o PRONAF A e 10% para as demais modalidades do programa. O PRONAF é um Programa de apoio ao desenvolvimento rural, a partir do fortalecimento da agricultura familiar como segmento gerador de postos de trabalho e renda. Executado de forma descentralizada, o programa tem como protagonistas os agricultores familiares e suas organizações. Dados fornecidos pelo BASA em Rio Branco sobre o número de contratos comparados ao número de agricultores familiares do município e os valores de crédito utilizados em anos anteriores demonstram que existe um percentual significativo de unidades familiares que não têm feito uso desses recursos. Assim, tal fato leva à indagação sobre as dificuldades encontradas e/ou de desinteresse por parte dos produtores rurais quanto ao crédito do PRONAF. Nesse cenário, procurou-se identificar os motivos que conduzem ao baixo acesso dos produtores familiares do município de Rio Branco, prioritariamente os de projetos de assentamentos, ao crédito do programa. 10 Plano Estadual de Aplicação dos Recursos – Banco da Amazônia – Acre 2007 21 1. 1 - Estrutura e organização da dissertação A dissertação está subdividida em cinco capítulos, sendo que o primeiro trata desta introdução; o segundo trata da produção familiar e crédito rural – em busca de fundamentos explicativos; o terceiro faz referências ao esboço da organização da produção rural no Estado via projetos de assentamentos e a presença das instituições públicas de assessoramento ao PRONAF que servirá para ilustrar o grau de organização do lócus com maiores possibilidades de incremento da produção rural e contrato de crédito rural; o quarto traça uma caracterização do Projeto de Assentamento Moreno Maia que objetiva apresentar as características do local que serviu de laboratório para esta pesquisa, e, no quinto, trata das considerações finais. 1.2 – Problematização Em mente o novo modelo de desenvolvimento fundamentado no princípio da sustentabilidade, o poder público, através do PRONAF, atribui à agricultura um papel central na promoção do desenvolvimento econômico nacional e na melhoria das condições de vida da população: contribuir para a redução das desigualdades espaciais e sociais; gerar renda de forma desconcentrada; criar ocupações produtivas nos setores situados antes, dentro e depois da porteira; reduzir a migração campocidade; gerar divisas; contribuir para uma maior competitividade da economia nacional (BASA, 1990). Por outro lado, Aquino & Teixeira (2005) enfatizam que a agricultura familiar no Brasil sempre foi um setor historicamente marginalizado. Tal situação é fruto tanto da herança colonial do país, como do processo de “modernização desigual” da agricultura brasileira, implementado com mais força a partir da segunda metade dos anos 1960. Nesse processo social, continua o autor, resultou o estabelecimento de um modelo de desenvolvimento agrícola extremamente discriminatório e excludente. Na verdade, foram os grandes e médios produtores ligados ao setor exportador e aos complexos agroindustriais, localizados fundamentalmente nas regiões Sul e Sudeste do país, os verdadeiros beneficiários dos estímulos governamentais para o meio rural. 22 Ainda segundo Aquino & Teixeira (2005), as políticas públicas da década de 90 voltadas para essa atividade criou em 1996 o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). De acordo com o discurso governamental,"essa política pública seria o principal instrumento utilizado para construir um novo modelo de desenvolvimento rural no Brasil. Sua missão fundamental seria combater as desigualdades (regionais, setoriais e pessoais) que marcaram as estratégias tradicionais voltadas para estimular a mudança da base técnica da agricultura brasileira. No entanto, o cenário atual mostra que grande parte dos produtores rurais não fazem uso desse crédito (PRONAF). Assim, a formulação de políticas especiais de crédito para os agricultores assentados justifica-se tanto pela inadequação das condições praticadas pelo mercado financeiro quanto pela situação em que estes agricultores se deparam ao terem acesso à terra. Na maioria dos casos, são agricultores pobres, com baixíssima ou nenhuma capacidade própria de investir em melhorias de seu lote ou do assentamento como um todo. O que podem fazer raramente vai além do uso da mão-de-obra familiar para tratar minimamente a terra conquistada. Para dificultar a situação, os assentamentos geralmente ocupam áreas que apresentam condições estruturais precárias, que demandam investimentos imediatos para se tornarem minimamente cultiváveis. Para que, além de cultiváveis, se tornem unidades produtivas sustentáveis, quase sempre necessitam de investimentos maiores e contínuos. Dadas estas peculiaridades e demandas, a aceitação das condições de contrato do crédito convencional é impraticável para estes agricultores. Estas evidências abrem espaços para a colocação de uma questão que não pode mais ser evitada: se a maioria dos agricultores familiares do Brasil necessita de recursos financeiros para colocar em prática estratégias produtivas que garantam o futuro de suas propriedades e, ao mesmo tempo, existem verbas oficiais consagradas a esse fim, por que boa parte desse dinheiro não chega às mãos desses produtores, principalmente nos territórios rurais situados nas áreas mais pobres do país como é o caso do assentamento Moreno Maia, localizado no município de Rio Branco, Estado do Acre? 23 Diante desse cenário, com a pretensão de contribuir para o debate envolvendo agricultura familiar, crédito rural e política de desenvolvimento regional, a presente dissertação objetiva analisar e discutir os principais resultados e impasses verificados na implementação da política de crédito rural do PRONAF no assentamento Moreno Maia nos últimos anos, enfocando, em suas linhas gerais, os fatores operacionais e institucionais que restringem ou dificultam o acesso dos agricultores familiares aos recursos financeiros do Programa. 1.3 – Justificativas e relevância O regulamento operativo do PRONAF sobre a agricultura familiar objetiva atuar sobre demanda específica – produtores rurais. Sua legitimidade, inconteste, vem do fato de que ela tem como objetivo recortar o universo dos agricultores que serão beneficiados por esta política. Enquanto tal, ela é o resultado de uma negociação entre as forças sociais envolvidas, os movimentos sociais distintos e os representantes dos poderes públicos. Essa definição pode se alterar, numa ou noutra direção, em função da correlação de forças sociais presentes na negociação. Num outro plano, os estudiodos, sob a perspectivas do mundo rural, têm um grande interesse em compreender a agricultura familiar no Brasil, independentemente do recorte ocasional do PRONAF (GANZER e MOURÃO, 1999). Para identificação de um conceito (exercício teórico) de agricultura familiar, é preciso compreender a realidade brasileira, em seus diversos e distintos contextos sociais. Sob esta perspectiva, considera-se agricultor familiar aquele, cuja família é proprietária dos meios de produção, organiza sua atividade econômica e, ao mesmo tempo, trabalha na unidade produtiva. As formas como estes três elementos – terra, trabalho e família - se combinam socialmente e estão na origem da grande diversidade de expressões da agricultura familiar nas situações concretas e que são objeto constante de nossas pesquisas. É nesse contexto que se torna imprescindível entender como ocorrem as relações de cunho operacional entre o agricultor familiar (proponente) que objetiva financiamento e as instituições de assessoramento ao programa PRONAF (concedentes). Entender como ocorrem as formas de comunicação e conhecimento 24 mútuo entre as partes envolvidas no processo e realização de financiamentos pela linha FNO – PRONAF, no caso particular deste trabalho. Dessa forma, torna-se relevante entender como é que o pequeno produtor rural enxerga e concebe a política do PRONAF e as instituições envolvidas, por outro lado, discutir de que forma essas instituições tratam o produtor com relação às informações e orientações sobre crédito e sua execução. 1.4 – Objetivos da pesquisa 1.4.1. Objetivo Geral Identificar as razões que explicam o baixo acesso dos agricultores assentados no Projeto Moreno Maia aos recursos da política de crédito rural – PRONAF, em especial o Grupo “A”, considerando que o programa traz implícita a idéia de inclusão social pelo fomento ao fortalecimento da organização produtiva da unidade familiar. 1.4.2. Objetivos específicos: a. Identificar quais atores envolvidos e a estrutura existente no município para apoio e operacionalidade ao programa de crédito PRONAF; b. Analisar os problemas e os limitantes da política de crédito rural PRONAF no processo de desenvolvimento local; e c. Contribuir com informações para orientar ações que possa dinamizar a agricultura familiar no município. 1.5 - Hipótese Este trabalho parte da hipótese de que o sistema de apoio à agricultura familiar (PRONAF) na área estudada possui severas limitações de operacionalização junto à demanda existente, impedindo a generalização do uso do Programa como instrumento de promoção econômica do pequeno produtor rural local. 25 1.6 – Metodologia Para extrair um conjunto significativo de informações sobre o tema estudado e ao mesmo tempo preservar uma relativa flexibilidade em relação à parte empírica do trabalho optou-se por uma pesquisa do tipo qualitativa. A amostra para a pesquisa extraiu-se junto aos produtores do Projeto de Assentamento Moreno Maia através de entrevistas (abertas) individuais. Concernente à metodologia, Bryman (1989) indica que uma pesquisa qualitativa tem como características: ser descritiva e ter a participação ativa do pesquisador; acesso a fontes diretas dos dados e na análise dos dados predomina o pensamento indutivo. A caracterização do recorte espacial escolhido para a pesquisa – Projeto de Assentamento Moreno Maia -, no que se refere aos critérios sócio-econômicos e culturais, constitui importante ferramenta no auxílio à compreensão da forma de contratação de crédito da agricultura familiar do local. Para esse fim, foi realizada uma caracterização do assentamento. Ainda segundo Bryman (1989), um estudo de caso que aborda um conjunto significativo de questões qualitativas pode também ser considerado uma pesquisa qualitativa. Para Yin (1997), conciliar estudo de caso com estudo qualitativo possibilita enriquecer um trabalho, na medida em que as possibilidades para generalizações dos resultados alcançados aumentam. O presente trabalho pode ser considerado uma pesquisa qualitativa aplicada a um estudo de caso: “Identificar as razões que explicam o baixo acesso dos agricultores aos recursos da política de crédito rural – PRONAF”. A pesquisa envolveu a obtenção de informações de campo e dados secundários. Segundo a classificação de Bryman (1989), os dados secundários são aqueles obtidos por meio de estudos que foram previamente desenvolvidos e estão de acordo com os parâmetros conceituais considerados no trabalho em questão. As principais fontes de dados secundários utilizados foram: o conjunto de trabalhos sobre agricultura familiar, realizado pelo convênio FAO11/INCRA, que tiveram como base de dados os registros dos Censos Agropecuários coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE; as informações sobre crédito rural obtidas em Bancos oficiais; as publicações sobre a agricultura familiar realizadas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e pela Secretaria da Agricultura Familiar (SAF). 11 Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura 26 Completaram as fontes de dados secundários, os dados publicados nos trabalhos acadêmicos, livros, dissertações e teses, correlatos ao tema desenvolvido, bem como as publicações institucionais dos programas de crédito rural, destinadas à divulgação das linhas de crédito rural disponíveis. Apesar das particularidades de cada região do país, a agricultura familiar está presente em todos os municípios e envolvida, principalmente, com as atividades voltadas para atender os mercados locais. As limitações deste trabalho quanto ao universo dos agricultores familiares e seus inúmeros sistemas de produção nortearam a escolha do grupo de agricultores que fizeram parte das amostras pesquisadas. Neste caso o projeto de Assentamento Moreno Maia foi escolhido como caso especial de estudo.. A natureza deste trabalho é essencialmente analítica, de forma que não foi estabelecido nenhum modelo empírico de teste e análise dos dados apresentados. 1.7 – Instrumentos de pesquisa A pesquisa de campo possibilitou o levantamento de dados para embasar este trabalho e foi desenvolvida a partir de entrevistas com agricultores; entrevistas também com o coordenador de crédito local da SEATER; gerente de operações de crédito do BASA; agentes do INCRA; representantes de associações de produtores rurais do projeto de assentamento Moreno Maia, além de pesquisas secundárias. Foram entrevistados 86 produtores rurais do PA Moreno Maia e os questionamentos foram elaborados objetivando identificar a relação de parceria e utilização do Programa PRONAF “A” pelos entrevistados, das quais destacamos: Reside neste endereço deste quando? Como chegou ao Assentamento? O que você sempre produziu? A sua produção é custeada com recursos próprios ou de outras fontes? Se de outras fontes quais? Já fez uso do PRONAF? Quais as dificuldades de acesso ao PRONAF? Como funciona a assistência técnica, você já recebeu visita de técnicos? . Ainda como instrumental, foi elaborado um esboço da organização da produção rural no Estado, via projetos de assentamentos e a presença das instituições públicas de assessoramento ao PRONAF, objetivando maior visibilidade e entendimento dos encaminhamentos para a produção rural que se insere no objeto desta pesquisa. 27 II – Produção familiar e crédito rural – em busca de fundamentos explicativos. Trata este capítulo da construção de um referencial analítico para fundamentar a análise interpretativa do objeto de estudo proposto. Esta busca parte da recuperação das teses centrais dos textos “clássicos” sobre a natureza da produção familiar e seu papel no contexto da organização da produção global, e termina com as novas abordagens sobre esta temática, que se produz sob novas roupagens, num processo em que o real, enquanto concreto, se permite mudar para se reafirmar enquanto tal, para então continuar sendo o que é, que muda pelo fato de ser. Como advertência inicial, entretanto, alertamos o leitor para o fato de que aqui não se trata de apresentar discussão exaustiva, do ponto de vista teórico sobre a produção familiar, mas tão somente elaborar um cenário de interpretação para abordar a temática em situação específica que requer, todavia, uma reflexão plausível para compreender um objeto de estudo que se manifesta em detalhes muitos particulares e específicos. Trata-se, em última instância, de abordar as formas de penetração do capitalismo no meio rural e da política de crédito para a produção familiar e seus impactos sobre o setor agrícola, fazendo-se referências a autores conhecidos por suas contribuições teóricas, que serviram de base para a interpretação dessa temática e que ainda hoje são utilizadas como fundamentos para a operacionalidade destes conhecimentos no setor, de modo geral, e em particular, no caso brasileiro para, em seguida, abordar o objeto escolhido numa situação específica, de um Estado cuja agricultura não está predominantemente dominada pelo regime capitalista de produção. Pelo contrário, um Estado onde relações não-capitalista de produção se reproduzem em muitas comunidades produtoras simples de mercadoria, cuja inserção no mercado se dá pela realização do excedente. Recuperando-se as análises de Kautsky (1972) e Lênin (1985). Estes autores estudaram a forma de penetração do capitalismo no campo e suas conseqüências para o campesinato europeu. Em seguida, uma resenha das principais contribuições de Chayanov (1974) para a compreensão da temática proposta. Na seqüência serão revistas 28 algumas contribuições posteriores que se fizeram sobre o mundo agrário, tendo como matriz teórica esse referencial “clássico”, que se voltou para estudos de realidades específicas e tão distantes, no tempo e no espaço, das realidades do “mundo clássico” de que aqueles autores se ocuparam. Finalmente, o capítulo encerra-se com uma discussão sobre a questão do crédito rural para o desenvolvimento da produção agropecuária no Brasil e, em especial, para a produção familiar, recorrendo-se às contribuições de Aguiar (1985), Delgado (1985), Abramovay e Veiga (1999), Prado Junior (1996) e outros, com ênfase sobre a intervenção do governo na concessão de recursos financeiros via programas de financiamento da produção agropecuária. 2.1 Alguns clássicos – a influência do capitalismo na agricultura Kautsky (1972) em “A Questão Agrária” descreve a influência do capitalismo sobre a agricultura, abordando as transformações que estavam ocorrendo no campo no final do século XIX. O autor relata as conseqüências diretas e mais evidentes dos desequilíbrios da produção capitalista, as oscilações e inseguranças que os camponeses enfrentavam ao se inserirem nos moldes do sistema capitalista. Esse processo determina um novo rítmo na vida do camponês e afirma que “quanto mais esse processo avança, mais se dissolve a indústria doméstica [...] e mais aumenta a necessidade de dinheiro para o camponês”, ou seja, a necessidade cada vez maior do camponês apropriar capital para realizar suas atividades. Kautsky (1972, p.26) Nesse sentido, Kautsky mostra-se plenamente consciente do fato de que no campo as formas de produção capitalista avançam de modo contínuo, sem interrupção, e tem bem claro o problema das repercussões que a concorrência transoceânica tivera nos mercados agrícolas europeus. Prevendo a inserção do capitalismo na agricultura como fato inexorável e sua produção sendo regida pela dinâmica industrial governada pelo grande negócio, Kautsky afirma que: “A grande exploração agrícola é a que melhor satisfaz as necessidades da grande indústria agrícola. Essa, muitas vezes, quando não tem uma grande exploração deste gênero à sua disposição, cria-a” Kautsky (1972, p.124). 29 Assim, se cria uma integração indústria-agricultura, na qual o camponês acaba sendo envolvido de forma subordinada pelo sistema capitalista, e deixa de ser camponês para tornar-se um agricultor voltado para a produção do mercado, ficando dependente de atributos que antes não os tinha e deixa de ser o ator principal da produção, pois a tecnificação o suprime em grande parte. Após essas mudanças, o camponês para Kautsky: [...] deixa, portanto de ser o senhor da sua exploração agrícola: esta torna-se um anexo da exploração industrial pelas necessidades da qual se deve regular. O camponês torna-se um operário parcial da fábrica [...] ele cai ainda sob a dependência técnica da exploração industrial [...] lhe fornece forragens e adubos. Paralelamente a esta dependência técnica produz-se ainda uma dependência puramente econômica do camponês em relação a cooperativa (KAUTSKY, 1972, p.128-129). De outra forma, Kautsky não deixou de lado as formas pré-capitalistas e não-capitalistas da agricultura, e questionou qual a função destas no interior de uma sociedade capitalista. O que fazer com esses camponeses que não estariam integrados totalmente no sistema? E qual função deles dentro do sistema? Nesse sentido, ele faz um contraponto entre a pequena e a grande exploração e afirma que “quanto mais o capitalismo se desenvolve na agricultura, mais aumenta a diferença qualitativa entre a técnica da grande e da pequena exploração” Kautsky (1972, p.129). Na essência de sua idéia principal, Kautsky (1972) sinaliza para a evolução do modo capitalista na agricultura e vê que a grande exploração tem melhores condições para satisfazer as necessidades da indústria contrariamente da produção. Mas, não significa o fim da pequena propriedade, pelo contrário, a grande exploração necessita de um número de pequenas propriedades para a exploração industrial, que forneçam matéria-prima para a indústria de transformação e, ainda, como reserva de mão-de-obra para os períodos que a grande exploração precisar de assalariados. Observa-se, portanto, que o autor prevê a criação e recriação da produção como processos imanentes da evolução do modo capitalista de produção. 30 O autor também comenta sobre o processo de diferenciação social, e, apesar de admitir a superioridade da grande empresa, deixa clara a possibilidade de sobrevivência da pequena empresa familiar, sobretudo se esta for capaz de se associar e cooperar entre si. Para isso, Kautsky sugeriu que os camponeses se organizassem, em ligas, para superarem essas dificuldades, ou seja, uma organização coletiva do campo, e previa somente uma organização socialista da produção, no qual poderá um dia resolver seus problemas. Através da socialização entre os camponeses, em uma organização social forte para enfrentar o capitalismo agrário, o processo de superação do estado de subordinação e dependência da produção poderia ser atingido. As pesquisas de Vladimir Ilich Lênin, refletidas em sua obra “O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia”, publicada em 1985, relatam que o processo de penetração do capitalismo na agricultura é um processo determinado pelas relações de produção em direção ao capitalismo, e faz ainda uma análise das conseqüências mais importantes da inserção desse sistema na agricultura moderna. Por extensão, no capítulo II de sua obra, intitulado “A Desintegração do Campesinato” Lênin trata da situação do camponês frente ao processo capitalista, constatando que o camponês na economia mercantil fica inteiramente subordinado ao mercado, dele dependendo tanto para seu consumo próprio como também para sua atividade agrícola. As transformações decorrentes do processo de inserção capitalista no campo fazem com que ocorram mudanças na estrutura de classes sociais rurais, culminando em certas ocasiões na destruição de formas sociais preexistentes. Nesse sentido Lênin afirma que: O campesinato antigo não se “diferencia” apenas: ele deixa de existir, se destrói, é inteiramente substituído por novos tipos de população rural, que contribuem a base de uma sociedade dominada pela economia mercantil e pela produção capitalista (LÊNIN, 1985, p.114). Assim, este autor mostra que a inserção do capitalismo na agricultura provocou um antagonismo nas classes sociais rurais. Havendo uma oposição de classes, de um lado a burguesia rural e, de outro, operários agrícolas. Então “os agricultores se 31 metamorfoseiam cada vez mais depressa em produtores submetidos às leis gerais da produção mercantil” Lênin (1985, p. 202). Desse modo, o autor se baseia na desintegração do campesinato, que cria um mercado interno para o capitalismo ocasionando simultaneamente a diferenciação social no campo. No lastro da mesma temática Chayanov (1974) explica a racionalidade e as particularidades da produção campesina. Para o autor, independentemente do sistema econômico em vigor, a economia camponesa se orienta pela organização interna do trabalho de seus componentes em moldes não-capitalistas, dada a ausência de assalariamento. Enfatiza que a razão que a orienta não é o cálculo do lucro, mas a motivação para o trabalho, em situações que às vezes requerem a fadiga. Observando esse comportamento no interior das unidades familiares russas o autor argumentou o fato de que à cada queda nos preços dos produtos sucedia-se o aumento da produção, o que demonstra uma racionalidade não-capitalista, do contrário, a razão capitalista seria, imediatamente, a de reduzir a produção quando os preços caíssem. Desse modo, Chayanov (1974) analisa as relações entre a terra, o capital e a família, a circulação do capital na unidade econômica campesina da Rússia (18901905). A família ganha seu sustento com o trabalho na terra, ainda que seus trabalhadores possam desenvolver-se em outros setores que não o agrário, como o artesanato e comercial. É a unidade doméstica de exploração camponesa na qual não exista a força de trabalho assalariada e, por isso mesmo, difere da unidade de exploração capitalista. Assim, ao estudar a unidade econômica campesina Chayanov quer de fato averiguar a força de trabalho camponesa como atividade econômica da família no campo e não a produção deste campo. No contexto assim idealizado, a teoria de Chayanov fundamenta-se no entendimento de que a família trabalha para preencher as necessidades fundamentais dos seus membros e, em um segundo plano, para acumular capital. Nesse caso, o autor classifica a unidade econômica camponesa como não-capitalista, em função da ausência do trabalho assalariado. Desse modo, a dinâmica em que a relação consumo-produção na unidade familiar seria aumentada deve considerar o número de trabalhadores da família e a expansão dos cultivos está pautada no número de consumidores e sua necessidade de consumo. 32 Para o autor, a força de trabalho da família é o elemento mais importante no reconhecimento da unidade camponesa como organização autônoma no campo. É a família que define o máximo e o mínimo da atividade econômica da unidade, o tamanho da família, ou seja, número de consumidores, e tem relação direta com a atividade econômica da unidade de produção. Chayanov (1974) reconhece que o campesinato não está inserido no modo de produção capitalista, afirmando que o mesmo é um modo de produção fora dos pressupostos capitalistas, pois suas características são: a força do trabalho familiar e a pequena propriedade como local das atividades, onde a própria família produz seu meio de produção e, às vezes, devido a diversos fatores, membros da família se vêem obrigados a empregarem sua força de trabalho em atividades rurais não-agrícolas. Assim, a atividade econômica camponesa não se assemelha a de um investidor rural que faz inversões do seu capital recebendo uma diferença entre a entrada bruta e os gastos gerais de produção, gerando lucro. Mas sim, apenas uma simples remuneração que permite ao mesmo determinar o tempo e a intensidade do trabalho. Argumenta ainda que o aumento da produtividade do trabalho camponês se deve à pressão exercida pelas necessidades do consumo familiar. Nesse sentido, a lógica da organização da unidade econômica camponesa está baseada na racionalização entre quantidade e qualidade de terra, força de trabalho e capital. Na ocorrência de distorções nessas relações, esta deverá ser compensada pela ocupação da força de trabalho em atividades não-agrícolas complementares ou pela intensificação do trabalho (CHAYANOV, 1974). 2.2 - Outros autores: produção familiar e o papel do crédito rural Apesar de reconhecidamente possuírem poucos recursos produtivos, os pequenos agricultores familiares são responsáveis por elevado percentual de valor da produção agropecuária brasileira. Dispondo de apenas 30,5% da área e 25% do crédito concedido ao conjunto das atividades agropecuárias, os estabelecimentos familiares são responsáveis por 37,9% da produção nacional (GUANZIROLI, et al, 2001: 69). 33 Paradoxalmente a esta constatação, a produção familiar no Brasil é penalizada com a carência de recursos financeiros, assistência técnica, extensão rural e demais serviços públicos. Esses serviços surgem como alternativas de apoio técnico aos agricultores assentados, para a condução e desenvolvimento de seus projetos produtivos (DIAS, 2004). O crédito rural, embora subordinado a uma legislação própria, obedece, em verdade, a um esquema bancário conservando, em parte, essências de operações bancárias de perfil conservador. Como tal, o acesso depende das chamadas garantias reais para que o Agente Financeiro, em caso de inadimplência, tenha onde se ressarcir na eventualidade de algum insucesso ou prejuízo no negócio. Desse modo, no processamento das operações se reveste de importância o exame da documentação legal apresentada, tais como escrituras, contratos de arrendamento, de parceria, alvarás e etc. (AGUIAR, 1985). Nesse sentido, Delgado (1985) entende que, mesmo diante dos critérios na legislação operacional das instituições financeiras para contratar créditos, o papel dos bancos passa a ser crucial como estrutura acessória ao fortalecimento do setor agrícola, uma vez que detém virtualmente o monopólio de uma mercadoria bastante especial; a moeda - mercadoria dinheiro e como mercadoria universal, por ela deve passar necessariamente as demandas crescentes de crédito de curto e longo prazo. Para o autor, o contexto econômico em que se situa uma economia rural em desenvolvimento ou desenvolvida torna-a ainda mais dependente de crédito do que de outras atividades ou setores de produção com processos contínuos12. O papel da política de crédito bancário com respeito a taxas de juros, sistema de amortização e outras políticas definidas dentro do sistema de fornecimento de crédito, passa a ter importância fundamental para a definição do nível e da composição da produção. A expansão da produtividade será obtida mais facilmente com auxílio do crédito rural, resultando em maior quantidade de produtos obtidos ou colhidos em menor área de terra possível. É a intensidade da produção imposta pela “modernização” do processo produtivo na agricultura. 12 O autor (Delgado 1985), diz que a agricultura não possui processo contínuo de produção, porque há intervalo de tempo entre uma e outra colheita, o que não ocorre em outras atividades... 34 Para isso, continua o autor, os bancos sozinhos ou em conexão com o Estado, definem ex-ante um conjunto de parâmetros financeiros que devem funcionar no ano safra como balizador da produção rural. Esse conjunto de mecanismos financeiros de indução consubstancia-se nos preços mínimos de produtos agrícolas; nos “valores básicos de custeio” 13, por produtos, por região e níveis tecnológicos; nas taxas de juros cobrados para esse crédito de custeio e na sua discriminação segundo insumos utilizados; e por fim, nas condições de seguro de crédito concedidos contra intempéries. A administração pública passou a atuar no sentido de desenvolver uma política de apoio aos produtores rurais, concedendo-lhes créditos, procurando melhorar a infra-estrutura produtiva, além de criar órgãos de pesquisa e assistência rural. Conforme Martine e Garcia (1987, p. 22): O principal instrumento que viabilizou o novo modelo agrícola, calcado na tecnificação e utilização maciça de insumos industriais, no aumento das exportações de produtos agrícolas e que, conseqüentemente ocasionou a transformação da sociedade rural nos últimos anos, foi o crédito rural. Os financiamentos, entretanto, precisam estar conjugados em projetos técnicos de modo a integrar a fase de aquisição com a fase de produção, para que o próprio empreendimento se pague sem o que não vemos possibilidade de se atingir os objetivos colimados que é dotar de terras os “sem terras”. (AGUIR, 1985). A política de crédito rural subsidiado14 permitiu reunir os interesses das classes dominantes em torno da estratégia de modernização conservadora da agropecuária, possibilitando ao Estado restabelecer o seu poder regulador macroeconômico mediante uma política financeira expansionista (SILVA, 1996). Considerando o caráter seletivo da modernização da agricultura brasileira o processo provoca intensa diferenciação entre as regiões e exclusão de grupos sociais. É um fenômeno que não contribui para encurtar a distância existente entre o grande e o pequeno produtor no país, mas pelo contrário, contribui para aumentá-la. A exclusão dos produtores menos favorecidos se dá principalmente porque com a modernização, a agricultura se torna cara, pois à medida que se industrializa vai substituindo os insumos 13 Montante de capital de giro concedido para facilitar a produção por hectare, variável por região, nível de tecnologia e categoria do produtor rural (Delgado, 1985) 14 Taxa de juro nominal não corrigida pela inflação. Outras definições ver Paulo Sandroni. In: Novíssimo Dicionário de Economia, 1999: 35 que eram produzidos na própria propriedade por outros produzidos por setores nãoagrícolas. Conforme (SILVA, 1981), a agricultura brasileira passa a se dividir em “agricultura do rico” e “agricultura do pobre”. Sobre a questão, Prado Júnior (1979, p. 20) afirma: A parcela da humanidade que vive em função da agropecuária brasileira, nada tem de homogênea, e muito pelo contrário, se encontra profundamente diferenciada e classificada em setores largamente apartados, que são de um lado, uma pequena minoria de grandes proprietários que não atingem 10% da população rural (incluindo famílias, empregados), e do outro lado, a grande maioria dessa população que vive em péssimas condições. Assim, o autor observa que o rápido processo de modernização da agricultura se desenvolve do lado de culturas onde permanecem as práticas tradicionais15. Além da prioridade dada a determinadas culturas no processo de modernização, o crédito também foi diferenciado e favoreceu os grandes produtores, o que levou à expulsão dos pequenos produtores do campo e ao fechamento, por certo tempo, da fronteira agrícola. Ainda no contexto histórico do crédito rural formal no Brasil, verifica-se, de acordo com Mendonça de Barros (1979, apud SPOLADOR, 2001), que os primeiros investimentos neste setor datam da década de 30. Entretanto, no período entre 1940 e 1960, inexistiu uma política agrícola interna ao setor, ou seja, neste período, com o objetivo de promover o aumento da renda e do emprego pouca importância foi dada aos investimentos em longo prazo, assim como, os investimentos em infra-estrutura como transportes, comunicações, armazenagens e portos. Verifica-se, ainda, que as principais políticas do período conduziam a transferência de recursos dos setores agrícolas para os setores não agrícolas (MEYER et.al., 1975 p.153), o que correspondia à lógica do desenvolvimento econômico 15 O termo "agricultura tradicional" designa sistemas agrícolas que são caracterizados pela prevalência de técnicas utilizadas por gerações contínuas de agricultores e transmitidas através de tradição oral. Uma das características dos sistemas itinerantes, além de um período de uso e outro maior de pousio A característica principal da agricultura tradicional na Amazônia são os sistemas agroflorestais possuem o potencial de minimizar a degradação do solo, diversificar os produtos que geram renda aos produtores e diminuir a pressão sobre as áreas florestais, além de proporcionar a conservação dos recursos naturais, proporcionando práticas agroecológicas melhores adaptadas à agricultura local 36 brasileiro da época, de correr em direção à urbanização e industrialização (SPOLADOR, 2001). A partir de meados da década de 60, com a edição e instituição da lei 4829/65 a política de crédito agrícola adquire novos caminhos. Os objetivos desta lei eram estimular os investimentos na agricultura, além de fortalecer a situação financeira bem como a adoção de tecnologias modernas no setor rural. Notadamente a partir de 1967, com relação ao crédito agrícola, começaram a levantar as primeiras discussões sobre a importância e o papel desse instrumento de política no desempenho da agricultura brasileira. Paiva (1974) disse que o crédito rural havia contribuído positivamente no conhecimento de técnicas modernas na agricultura. Na mesma direção Pinto (1979) caracterizava-o como o “carro-chefe da política agrícola, pairando muito acima de todos os demais instrumentos”, para os quais freqüentemente servia de balizamento. Criticando essa visão otimista constata-se na literatura a publicação de trabalhos mostrando as distorções provocadas pelos subsídios das taxas de juros no crédito rural, com reflexos na evasão de recursos para fins não agrícolas e emprego diverso de fatores produtivos. (SILVA, 1973) e (MEYER et al, 1977). Na linha de abordagem sobre a questão distributiva frente à estrutura fundiária alguns estudos, como o de Rego e Wright (1981), constataram no período 1960-80 elevado grau de concentração do crédito rural em grandes estabelecimentos, em culturas que utilizavam técnicas intensivas em capital, nas regiões mais desenvolvidas do País e em culturas mais tecnificadas e de maior peso na balança comercial. Lemos e Khan (1984) também detectaram nas décadas de 60 e 70 a presença de elevada concentração, tanto na distribuição do crédito rural como na distribuição fundiária. Para os autores, as principais razões para a concentração do crédito foram a preferência dos bancos na alocação dos recursos disponíveis aos proprietários que oferecessem menores riscos e com menores custos administrativos e de que nas propriedades maiores a tecnologia era intensiva em capital, apoiada pelo crédito subsidiado, enquanto nas pequenas, usavam-se mais intensamente os fatores terra e mão-de-obra. Na questão espacial quanto ao perfil distributivo do crédito rural no Brasil, Araújo (1983) mostrou que a distribuição de crédito seguia a produção comercial 37 do país, concentrada nas Regiões Sul e Sudeste, deslocando-se para o Centro-Oeste, o que representava um perfil distributivo de custo elevado, já que o crédito era subsidiado favorecendo os agricultores com maiores módulos fiscais. Sayad (1982) lembra que o Programa Nacional de Crédito Rural foi duramente criticado nos princípios dos anos 80. Os principais elementos da crítica eram de que seus efeitos mostravam-se pouco significativos sobre o crescimento da produção agrícola bem como sobre as tecnologias adotadas pelos agricultores, sendo que a elevação da produtividade já não compensava os subsídios gerados em função da elevação da inflação, ao passo que se mantinham as mesmas taxas de juros para os financiamentos. No ano de 1988, com o objetivo de criar novas fontes de financiamento principalmente de ordem não inflacionária, por intermédio da lei 7827/89, a Constituição Federal instituiu os Fundos Constitucionais de Financiamento sendo: Fundo Constitucional de Financiamento do Norte – FNO; do Nordeste – FNE e do Centro Oeste FCO, cujos recursos seriam originados a partir de 3% da arrecadação federal do IPI e do IR. Nos últimos anos, diversos programas de crédito também foram implementados no Brasil. Entre eles destacam-se o Programa de Crédito Especial para Reforma Agrária – PROCERA, criado em 1986, com o objetivo de viabilizar os assentamentos de reforma agrária, tinha como principal fonte de recursos o FINSOCIAL. A partir de 1993 o PROCERA passou a receber recursos dos Fundos Constitucionais. Neste período também foi criado o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF destinado ao apoio financeiro das atividades agropecuárias e não-agropecuárias exploradas mediante emprego direto da força de trabalho do produtor rural e de sua família. 2.3 A Política de Criação e objetivos do Crédito FNO Cerqueira & Rocha (2002) lembram que a política agrícola implementada ao longo da história brasileira, e mais especificamente a de crédito rural, tem um papel importante para a definição dos modelos agrícolas adotados pela 38 sociedade rural, centrados principalmente na tecnificação e no aumento da exportação de produtos agrícolas. Esta política, até bem pouco tempo, era em sua grande maioria destinada aos grandes e médios agricultores em detrimento dos pequenos e, conseqüentemente, da agricultura familiar, que se encontra evolutivamente à margem deste processo em sua maior parte. O crédito rural, como uma das principais ferramentas desta política e seguindo sua orientação, promove, além da distribuição social desigual, também uma distribuição espacial altamente concentrada nas regiões Sudeste e Sul do Brasil caracterizando elevadas disparidades sociais entre regiões brasileiras. Nesse sentido, Cerqueira & Rocha (2002) mostram que uma análise da agricultura familiar revela a própria desigualdade existente na economia brasileira, com fortes contrastes regionais. O Nordeste é a região que apresenta o maior percentual de agricultores familiares, sendo responsável por 49,7% de todos os estabelecimentos familiares brasileiros. Entretanto, ocupa apenas 31,6% da área total dos familiares, é responsável por 16,7% do Valor Bruto da Produção dos agricultores familiares e absorve 14,3% do financiamento rural destinado a esta categoria. Em contrapartida, a Região Sul, apesar de deter 21,9% dos estabelecimentos rurais familiares e ocupar 18% da área total, é responsável por 47,3% do Valor Bruto da Produção da agricultura familiar brasileira. O crédito rural também está mais concentrado nessa região, que recebe 55% dos recursos utilizados pela produção familiar. O transcurso de consolidação das linhas de crédito (FNO, FNE e FCO) adquire amplitudes bem diferenciadas quando analisadas em seus diversos contextos. No âmbito da lei 7827/89 que regulamentou os fundos constitucionais de financiamento do Norte (FNO), Nordeste (FNE) e Centro Oeste (FCO), em seu artigo 2º, apresenta o seguinte preceito normativo: “Art. 2° Os Fundos Constitucionais de Financiamento do Norte, Nordeste e CentroOeste têm por objetivo contribuir para o desenvolvimento econômico e social das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, através das instituições financeiras federais de caráter regional, mediante a execução de programas de financiamento aos setores produtivos, em desenvolvimento”. consonância com os respectivos planos regionais de 39 Neste sentido, Ganzer e Mourão (1999) reconhecem que a criação deste fundo foi uma decisão acertada pelos constituintes de 1988, criando mecanismos para a alavancagem do desenvolvimento das regiões economicamente mais fragilizadas do país. Por outro lado, Teixeira (2004), discutindo sobre as mudanças políticas possíveis para o país, e referindo-se ao Banco da Amazônia - BASA e o FNO revelam que os argumentos sobre as desigualdades sociais existentes entre as regiões sustentadas pelos políticos regionais foram, sem sombra de dúvida, fundamentais para justificar as necessidades de criação dos fundos, mesmo assim as contribuições dessa política não conseguem corrigir, pelo contrário, tem contribuído para aumentar as desigualdades entre os grandes e pequenos produtores do país. O acesso ao crédito do FNO pelos agricultores, de acordo com Ganzer e Mourão (1999), não ocorre livremente tal como indica a lei 7827/89. Para que isto acontecesse, foram necessárias inúmeras manifestações organizadas, começando em 1991, lideradas pela Central Única dos Trabalhadores - CUT, contando com o apoio de diversas entidades, que realizam o I Grito do Campo16. Na pauta de reivindicações estava a luta pelo fim da violência no campo e também a apresentação de uma proposta para alteração das normas de aplicação do FNO. 2.4 O PRONAF – contextos e possibilidades As profundas transformações ocorridas na agricultura brasileira são reflexos do modelo de desenvolvimento rural adotado pelo Brasil nos últimos 35 anos, caracterizado como “modernização conservadora” (GRAZIANO DA SILVA, 1999), cuja trajetória expõe uma dupla face, paradoxal e contraditória. De um lado, a modernização conservadora consignou notáveis avanços na agropecuária nacional, com a introdução de progresso técnico e diversificação da produção, de outro, consagrou o caráter excludente destas mudanças, tanto do ponto de vista econômico quanto social. Esse movimento resultou no aprofundamento das desigualdades regionais, na concentração da renda, na heterogeneidade estrutural que aponta cada vez mais a agricultura capitalista da produção familiar. 16 Mobilização de produtores rurais que reclamam "a falta de perspectivas em longo prazo para o campo". 40 Esse cenário de transformações acentuadas foram reforçadas no plano interno, pela nova ordem do capitalismo internacional, conhecida pelo nome de globalização, que se distingue pelo aumento da concorrência capitalista e pela política de Estado mínimo proposto pelo neoliberalismo em vigor, que reduz o poder do Estado e incentiva políticas compensatórias para os pobres (GRAZIANO DA SILVA, 1999). É nesse contexto que nasce o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF, objetivo principal das reflexões deste trabalho. À guisa de primeiras sugestões entende-se, em princípio, que muito além dos avanços econômicos, o Programa abriu veredas no âmbito da organização social e política das comunidades beneficiadas. Destacam-se como principais avanços: (a) o emprego do planejamento estratégico às comunidades de pequenos produtores rurais; (b) adoção de alguma infraestrutura econômica e social nas áreas beneficiadas; e (c) o fortalecimento do processo de organização social e política dos beneficiários como instrumento de união e coesão na busca de objetivos coletivos. Diante do quadro de onde emerge o Programa, para fazer a gestão do PRONAF, governo e bancos precisam analisar um grande conjunto de informações. Na esfera federal, as informações mais importantes são as que comprovem que o candidato ao financiamento se enquadra nos critérios legais de acesso ao programa (ABRAMOVAY e VEIGA, 1999). No ambiente dos bancos as principais informações são as que possibilitam uma avaliação do risco na contratação de crédito. Observando o regulamento operativo do PRONAF, visualiza-se que alguns requisitos precisam ser preenchidos por parte dos demandantes para terem acesso ao programa. A Declaração de Aptidão do PRONAF (DAP) é um desses documentos que tem a finalidade de comprovar o exercício da atividade na agricultura familiar. A declaração é prestada por agentes credenciados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário; Os projetos técnicos são utilizados pelo governo para controle da aplicação do financiamento nas atividades permitidas pelo programa. Para os bancos, este é um dos meios para avaliar a capacidade de pagamento dos financiamentos. Por isso, os projetos técnicos deveriam – em tese - demonstrar a capacidade produtiva, representada por 41 terra, mão-de-obra familiar, acompanhamento técnico e taxa interna de retorno17 compatível com os limites de endividamento e as condições financeiras estabelecidas para a operação pretendida no programa de investimento. No caso de financiamentos para agricultores de renda baixa, é solicitada apenas uma proposta simplificada de crédito. Desse modo, foi ressaltado por Abramovay e Veiga (1999) que a DAP e o projeto técnico são os dois mecanismos pelos quais se estabelece a relação entre beneficiários do PRONAF e governo. Uma relação que é sempre intermediada por outras organizações que podem atuar no assessoramento ao pleito do crédito como sindicatos, movimentos sociais, cooperativas, órgãos de assistência técnica e conselhos municipais de desenvolvimento rural. Com relação aos empréstimos do PRONAF, estes se subordinam ao “Manual do Crédito Rural”, legislação federal voltada à regulamentação do tema, para o conjunto da agricultura. A razão disso é que o funding deste crédito vem de recursos estatais, parte dos quais fortemente subsidiados, inclusive no que se refere à agricultura patronal. A inadequação deste instrumento às necessidades da agricultura familiar é flagrante. O controle operativo do programa é fortemente trabalhado por Bancos onde o Manual de Crédito Rural define que a exigência de cadastro de clientes e a realização de fiscalização de operações, no âmbito do crédito rural, ficam a critério de instituições financeiras. Os cadastros contam com informações sobre renda, produção, composição familiar e ativos produtivos. Não é difícil perceber o quanto estas exigências encarecem as operações bancárias e tendem a afastar as organizações financeiras dos agricultores de menor porte (ABRAMOVAY e VEIGA, 1999). Ainda com relação às exigências bancárias, consultas às centrais de informações de crédito são realizadas objetivando identificar a existência de restrições Os agentes financeiros são proibidos de conceder financiamento a quem tiver qualquer restrição cadastral. 17 Conceito da matemática financeira, mas conhecida com TIR que tem como função avaliar a que percentual foi gerado um fluxo de caixa a um determinado investimento. (Sanvicente, 1981) 42 Segundo Abramovay e Veiga (1999), para os agricultores do Grupo A do PRONAF (linha de crédito de investimento de até R$ 15 mil que é destinado a agricultores assentados e para os beneficiários do crédito fundiário), o governo assume 100% do risco das operações, paga um spread de 2% ao ano sobre o saldo devedor e mais 2% a.a sobre o valor efetivamente recebido pelos bancos (a título de performance). É importante destacar que estes financiamentos têm prazo de 10 anos, incluindo até 4 anos de carência, a taxa de juros é de 1,15% a.a, com direito a um bônus adicional de adimplência de 40% do valor de cada parcela paga em dia. Mesmo nestas condições, caso o governo não assumisse integralmente o risco, dificilmente uma instituição financeira atuaria com este seguimento social. Para algumas organizações sociais representativas dos agricultores assentados, bem como para muitos dos próprios assentados, o tempo de espera à beira da estrada (acampamentos) já representa o pagamento pela terra a ser recebida via reforma agrária, bem como o crédito de instalação, moradia e o financiamento do PRONAF A. Com isso, muitos agricultores assentados, mesmo que com condições de efetivar o pagamento de seus financiamentos, não o fazem por opção política ou ideológica, dificultando uma avaliação mais precisa do problema da inadimplência nesta categoria social e do próprio desempenho dos assentamentos no Brasil. Continuando, Abramovay e Veiga (1999) informam que outro problema enfrentado pelos agricultores familiares diz respeito à forma de enquadramento de suas velhas dívidas e novas operações realizadas pelos bancos (taxa de risco). Conforme determinação do Conselho Monetário Nacional (Resolução 2.682), se uma dívida estava enquadrada com risco H (mais de 180 dias de atraso), o banco precisa fazer 100% de provisão sobre o valor total financiado ao cliente em atraso (valor total do empréstimo, incluindo prestações não vencidas, bem como outras operações de crédito não vinculadas diretamente a esta operação). Caso as dívidas sejam renegociadas ou prorrogadas, a classificação de risco permanece inalterada, mantendo assim a necessidade de provisão semelhante à situação anterior à renegociação. Se for realizada uma nova operação de crédito com o cliente que renegociou sua dívida, independentemente da fonte de recursos da operação original, a classificação da nova operação, bem como a sua provisão, deverá ser a mesma da operação renegociada “em 43 ser”18. Desta forma, um novo financiamento pode exigir até 100% de provisão (garantias pré-existentes) no ato da realização de empréstimo, o que o inviabiliza na prática, pois nenhum banco vai efetivar uma nova operação onde a provisão inicial é igual ao valor do financiamento. 18 Esse termo, significa para os Bancos “operação em curso”. Financiamento em fase de amortização, não quitado.B 44 III - Esboço da organização da produção rural no Estado, via projetos de assentamentos e a presença das instituições públicas de assessoramento ao PRONAF. Este capítulo apresenta a configuração atual da atuação das políticas públicas no Estado do Acre no sentido da organização administrativa e produtiva que se processa, via assentamentos rurais e outras denominações do gênero, com a argumentação política de atenuar e controlar conflitos sociais no campo, questão fundiária da região, organização da produção e crédito rural. Desse modo, apresenta-se os assentamentos criados para tais fins e as instituições envolvidas no processo administrativo e operacional do programa de crédito do PRONAF. No tocante, Silva (1982) tecendo informações sobre a questão fundiária da região realça a presença de um nível particular de complexidade resultante de fatores históricos relacionados à incorporação ao Brasil de território anteriormente pertencente à Bolívia e, especialmente, ao fato de terem sido reconhecidos os títulos expedidos por diferentes administrações nacionais e internacionais como o governo do Estado do Amazonas, as Repúblicas da Bolívia e do Peru e o ex-Estado Independente do Acre. A falta de regularização jurídica das propriedades só foi evidenciada quando o governo federal estimulou a reorganização do espaço econômico em decorrência da tentativa de implantar políticas orientadas para a “modernização” e “integração” da Amazônia ao território nacional. A criação de mecanismos de atração de capitais do Centro-Sul do país e a implantação de atividades capitalistas na agricultura tiveram como conseqüência o fato de a terra assumir efetivamente o caráter de mercadoria de interesse do capital. Nesse sentido, Silva (1982), acrescenta: [...] Mas é indispensável deixar claro que por trás das preocupações com questões como a ocupação efetiva e a segurança nacional defendidas pelo governo, provavelmente havia um interesse maior de dotar a região das condições requeridas pelo grande capital, a fim de integrar a região ao processo de acumulação de capital à escala nacional e, através desta, à escala mundial. (SILVA, 1982, p. 38-39) 45 Anos subseqüentes, no período de 1976 a 1985, Conforme relata ACRE (2006), na tentativa de atenuar a complexidade fundiária caracterizada, o governo federal, através do INCRA, deu início a um processo massivo de discriminação das terras no Estado do Acre, cujo objetivo era identificar as terras públicas das particulares, no intento de estancar a ação nociva de especuladores e grileiros. Nesse período o INCRA discriminou aproximadamente dois terços das terras acreanas; contudo, a falta de ordenamento fundiário perdurou em todo o Estado, inclusive nas áreas discriminadas. Com o objetivo de executar e promover a regularização, ordenação e reordenação fundiária rural e mediação de conflitos pela posse da terra, em 2001 o Estado criou o Instituto de Terras do Acre - Iteracre, com a finalidade de apoiar o governo do Estado na criação de novas áreas de interesse público tais como Unidades de Conservação, Projetos de Assentamentos e Terras Indígenas, assim como na regularização das demais denominações fundiárias. De forma que hoje existem 135 organizações fundiárias no Estado, porém num contexto de políticas descontínuas e desarticuladas apenas criaram, e ainda criam expectativas entre os produtores rurais e alguns segmentos da sociedade, de alavancagem da economia rural local. Com a criação do PRONAF em 1996, conforme se pode verificar no quadro 12, teve início um novo dispositivo de incentivos, através de políticas públicas para este segmento. O programa poderia, essencialmente dentro dessas organizações, criar todas as condições para o produtor rural assentado, inclusive crédito, se os órgão de assessoramento ao PRONAF operasse com critérios voltados ao atendimento do produtor rural, cuja população soma atualmente mais de trinta mil famílias distribuídas pelos municípios do Estado. 46 3.1 – Condições do Crédito Rural do PRONAF A título de organização o PRONAF estabelece enquadramento em grupos e para cada enquadramento condições e valores de créditos diferenciados objetivando atender ao produtor rural de acordo com as suas necessidades e condições de produção. Veja-se no anexo 01, o quadro demonstrativo das condições operacionais do PRONAF. Para a aplicação dos recursos, queremos dar destaque ao PRONAF onde são destinados anualmente 20% do total dos recursos do FNO, sendo 10% para o PRONAF A, e 10% para as demais linhas do Programa. Veja-se quadro abaixo: Quadro 01 - Participação % do PRONAF, sobre os recursos do FNO PORTE (%) PROGRAMA % Mini/Micro Pequeno FNO-PRONAF A FNO-PRONAF (demais segmentos) TOTAL Total 100,0 100,0 10,0 100,0 100,0 - 100,0 100,0 80,0 33,4 Microcrédito Sustentável Grande 10,0 FNO – FNO- Amazônia Médio 16,0 26,1 24,5 100,0 100,0 Fonte: BASA – Plano Estadual de Aplicação dos Recursos do FNO 2007. As pequenas propriedades que estão inseridas na denominada agricultura familiar, no município de Rio Branco, a exemplo de todos os municípios do Estado, estão concentradas em assentamentos e outras formas de organizações produtivas localizadas na área rural. 47 A ocorrência de contratos do PRONAF “A” nos municípios do Estado deveria predominantemente acontecer nas áreas organizadas conforme quadros 02 a 22, que apresentam a área dos Projetos de Assentamentos e capacidade de famílias em todos os municípios do Estado. Quadro 02 – Projetos de assentamentos de Acrelândia. Nome do Projeto e município de localização Área (Há) ACRELÂNDIA PAD PEDRO PEIXOTO PAE PORTO DIAS PA SÃO JOÃO DO BALANCEIO PA STO. ANTÔNIO DO PEIXOTO PA CUMARU PA ORION PA PORTO LUIZ II PDS PORTO LUIZ I PA CALIFORNIA 296.243,8 24.348,9 17.797,4 15.142,6 5.970,3 16.329,0 2.036,0 4.153,0 5.825,93 Capacidade de Famílias 4.687 98 244 212 81 321 190 400 100 Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Acre, 2007. Quadro 03 – Projeto de assentamento de Assis Brasil. Nome do Projeto e município de localização Área (Há) Capacidade de Famílias ASSIS BRASIL PA PARAGUASSU 3.406,9 Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Acre, 2007. 98 Quadro 04 – Projetos de assentamento de Brasiléia. Nome do Projeto e município de localização Área (Há) BRASILÉIA PAD QUIXADA 76.741,3 PAE SANTA QUITÉRIA 43.858,9 PA TRÊS MENINAS 1.520,0 PA PÃO DE AÇUCAR 6.279,4 PA PRINCEZA 1.315,0 PA PÓLO AGROFLORESTAL BRASILÉIA 520,6 PA FORTALEZA 1.000,0 Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Acre, 2007. Capacidade de Famílias 1.032 300 59 123 22 75 40 48 Quadro 05 – Projetos de assentamentos de Bujarí. Nome do Projeto e município de localização Área (Há) BUJARI PA ESPINHARA 1.700,0 PAE CANARY 8.053,0 PAE LIMOEIRO 11.150,0 PA ESPINHARA II 5.985,6 PE POLO AGROF. DOM MOACIR 329,7 PA LUZ DA VIDA 380,0 Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Acre, 2007. Capacidade de Famílias 31 27 27 167 53 23 Quadro 06 – Projetos de assentamentos de Capixaba. Nome do Projeto e município de localização Área (Há) CAPIXABA PAE REMANSO 43.228,1 PA SÃO GABRIEL 10.228,1 PA ALCOBRAS 7.690,8 PA ZAQUEU MACHADO 3.768,7 Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Acre, 2007. Capacidade de Famílias 189 162 443 236 Quadro 07 – Projetos de assentamentos de Cruzeiro do Sul. Nome do Projeto e município de localização Área (Há) CRUZEIRO DO SUL PAD SANTA LUZIA 57.219,6 PA TRACUÁ 5.029,5 PA NARCISO ASSUNÇÃO 4.306,2 PA PEDRO FIRMINO 6.405,4 PE PÓLO AGROF. CRUZEIRO DO SUL 261,4 PDS JAMIL JEREISSATI 42.65,5 PDS FRANCISCO PIMENTEL 55.150,0 PAF RECANTO 15.170,0 RESEX RIOZINHO DA LIBERDADE 325.602,0 PA URUBURETAMA 1.287,2 Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Acre, 2007. Capacidade de Famílias 822 100 102 80 41 520 171 70 350 30 49 Quadro 08 – Projetos de assentamentos de Epitaciolândia. Nome do Projeto e município de localização Área (Há) Capacidade de Famílias EPITACIOLÂNDIA PAE CHICO MENDES 24.098,6 PAE PORTO RICO 7.858,4 PE EQUADOR 7.757,7 PE PÓLO AGROF. EPITACIOLÂNDIA 129,9 Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Acre, 2007. 87 73 36 16 Quadro 09 – Projetos de assentamentos de Feijó. Nome do Projeto e município de localização Área (Há) FEIJÓ PA AMENA 1.900,0 PA ENVIRA 5.762,2 PE PÓLO AGROFLORESTAL FEIJÓ 99,8 PA BERLIM RECREIO 25.070,5 Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Acre, 2007. Capacidade de Famílias 19 239 19 519 Quadro 10 – Projetos de assentamentos de Mâncio Lima. Nome do Projeto e município de localização Área (Há) MÂNCIO LIMA PA RIO AZUL 2.993,0 PA SÃO DOMINGOS 1.665,6 PDS SÃO SALVADOR 27.830,0 PE PÓLO AGROF. MÂNCIO LIMA 331,4 Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Acre, 2007. Capacidade de Famílias 54 149 250 35 Quadro 11 – Projetos de assentamentos de Manoel Urbano. Nome do Projeto e município de localização Área (Há) MANOEL URBANO PAR ALELUIA 18.300,0 PA NAZARÉ 8.006,7 PA LIBERDADE 27.393,0 PA CASTELO 668,1 Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Acre, 2007. Capacidade de Famílias 274 157 405 33 50 Quadro 12 – Projetos de assentamentos de Marechal Thaumaturgo Nome do Projeto e município de localização Área (Há) MARECHAL THAUMATURGO PA AMÔNIA 26.000,0 RESEX EXTRATIVISTA ALTO JURUÁ 506.186,0 Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Acre, 2007. Capacidade de Famílias 224 1.500 Quadro 13 – Projetos de assentamentos de Plácido de Castro Nome do Projeto e município de localização Área (Há) PLÁCIDO DE CASTRO PA TRIUNFO 12.349,1 PE PÓLO AGROF. PLÁCIDO DE CASTRO 156,7 Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Acre, 2007. Capacidade de Famílias 307 39 Quadro 14 – Projetos de assentamentos de Porto Acre. Nome do Projeto e município de localização Área (Há) PORTO ACRE PAD HUMAITÁ 61.179,0 PA CAQUETÁ 29.727,2 PA PORTO ACRE 2.093,1 PA TOCANTINS 24.386,0 PA PORTO ALONSO 9.126,4 PE POLO LEITEIRO DE PORTO ACRE 207,5 PDS NOVA ESPERAÇA 3.140,0 PAE BARREIRO 9.760,4 Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Acre, 2007. Capacidade de Famílias 951 623 42 489 166 19 60 20 Quadro 15 – Projetos de assentamentos de Porto Walter. Nome do Projeto e município de localização Área (Há) PORTO WALTER PA VITÓRIA 1.193,1 PAE CRUZEIRO DO VALE 76.900,0 PA MINAS 2.900,0 Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Acre, 2007. Capacidade de Famílias 31 220 85 51 Quadro 16 – Projetos de assentamentos de Rio Branco. Nome do Projeto e município de localização Área (Há) RIO BRANCO PA FIGUEIRA 25.567,3 PA VISTA ALEGRE 947,1 PA CARÃO 11.161,3 PA BENFICA 6.827,0 PA COLIBRI 1.356,0 PA BAIXA VERDE 4.807,8 PA BOA ÁGUA 4.122,8 PA MORENO MAIA 20.684,8 PCA CASULO GERALDO FLEMING 299,9 PE POLO AGROF. WILSON PINHEIRO 382,9 PCA CASULO GERALDO MESQUITA 213,2 PA ITAMARATY 8.736,1 Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Acre, 2007. Capacidade de Famílias 354 35 263 496 48 167 151 500 60 58 54 120 Quadro 17 – Projetos de assentamentos de Rodrigues Alves. Nome do Projeto e município de localização Área (Há) RODRIGUES ALVES PA SÃO PEDRO 25.151,2 PA PAVÃO 5.276,4 PA NOVA CINTRA 1.43,7 PA IUCATAN 873,3 PA PARANA DOS MOURAS 22.500,0 PA TREZE DE MAIO 3.221,0 PA PORFÍRIO PONCIANO 990,0 PE POLO AGROF. RODRIGUES ALVES 247,3 PA ARCO-ÍRIS 1.684,0 PAF HAVAÍ 34.000,0 PA JOÃO ADEMIR 534,8 PA ALBERTO SANTIAGO 2.160,0 Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Acre, 2007. Capacidade de Famílias 340 63 59 41 479 150 50 40 73 150 32 50 52 Quadro 18 – Projetos de assentamentos de Santa Rosa do Purus. Nome do Projeto e município de localização Área (Há) Capacidade de Famílias SANTA ROSA DO PURUS PA SANTA ROSA 37.460,0 FLORESTA NACIONAL DE SANTA ROSA 230.257,3 DO PURUS Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Acre, 2007. 82 35 Quadro 19 – Projetos de assentamentos de Sena Madureira. Nome do Projeto e município de localização Área (Há) SENA MADUREIRA PAR MÁRIO LOBÃO 29.914,0 PAD BOA ESPERANÇA 275.646,0 PAE RIOZINHO 30.381,6 PA FAVO DE MEL 9.796,3 PA ORIENTE 5.650,0 PE POLO AGROF. ELIAS MOREIRA 332,2 PA JOAQUIM DE MATOS 5.239,6 RESERVA EXTRATIVISTA 750.794,7 CAZUMBÁ/IRACEMA PAF PROVIDÊNCIA CAPITAL 32.000,0 PA UIRAPURU 1.500,0 PAF VALÊNCIA 20.183,0 PA JOÃO BATISTA 3.158,0 FLORESTA ESTADUAL DO ANTIMARY 47.064,6 PDS EDILZA CARNEIRO 3.352,0 PDS WILSON LOPES 15.826,0 PDS GERALDO FERNANDES 1.929,0 FLORESTA ESTADUAL DO MACAUÃ 173.475,0 FLORESTA NACIONAL DO SÃO 21.600,0 FRANCISCO PDS LÍDIA CRAVEIRO 804,0 Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Acre, 2007. Capacidade de Famílias 440 1.050 77 180 108 45 166 320 150 43 100 100 250 105 300 63 35 25 26 53 Quadro 20 – Projetos de assentamentos de Senador Guiomard. Nome do Projeto e município de localização Área (Há) SENADOR GUIOMARD PA LIMEIRA 1.783,6 PA PETROLINA 3.190,6 PDS BONAL 10.447,8 PDS PIRÃ-DE-RÃ 1.129,3 Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Acre, 2007. Capacidade de Famílias 180 85 288 150 Quadro 21 – Projetos de assentamentos de Tarauacá. Nome do Projeto e município de localização Área (Há) TARAUACÁ PA NOVO DESTINO 27.749,5 PA TARAUACÁ 13.093,2 PA TAQUARI 56.950,8 RESERVA EXTRATIVISTA ALTO 151.199,6 TARAUACÁ FLORESTA ESTADUAL DO MOGNO 143.897,0 FLORESTA ESTADUAL DO RIO 216.062,0 GREGÓRIO FLORESTA ESTADAL DO RIO 106.896,0 LIBERDADE PE POLO AGROF. TARAUACÁ 143,1 PDS SETE LAGOAS 750,0 Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Acre, 2007. Capacidade de Famílias 360 294 142 300 210 200 220 30 40 Quadro 22 – Projetos de assentamentos de Xapuri. Nome do Projeto e município de localização XAPURI PA TUPÁ PE POLO AGROF. XAPURI I PE POLO AGROF. XAPURI II RESERVA EXTRATIVISTA CHICO MENDES PDS POLO RECANTO DO EQUADOR PDS FLORESTA Fonte: Ministério Desenvolvimento Agrário Área (Há) Capacidade de Famílias 6.134,5 342,5 226.6 970.570,0 100 28 35 1794 2.000,0 6.909,0 67 125 54 Na região, constatou-se que o cooperativismo e o associativismo não estão sendo inseridos de forma eficaz no espaço agrário local, por razões que não cabe discutir neste trabalho, mas sabendo-se que esses tipos de organizações são identificados como potencializadores de produção e produtividade, sua inserção nas políticas de desenvolvimento agrário deveria ser priorizada. No local de estudo, o assentamento Moreno Maia, verificou-se que as condições em que os sindicatos e associações operam são ineficientes para os objetivos do produtor rural associado. A agricultura familiar é a base para o fortalecimento e desenvolvimento local e regional, então o papel do Estado é múltiplo na agricultura. Conforme Brose (2000), o desenvolvimento local, baseado na agricultura familiar, depende fundamentalmente da intervenção estatal regulando as assimetrias do mercado através de políticas públicas. Se deixada à própria sorte frente às forças do mercado, a agricultura familiar se transforma em alvo fácil de monopólios e intermediários que se apropriam do valor agregado da produção camponesa. Na produção familiar há uma grande variedade de situações quanto à força do trabalho dos membros da família. Podendo haver exploração de terceiros no sistema de produção, que se dá em diferentes épocas conforme as necessidades de cada unidade familiar. A família é o principal suporte para manutenção da agricultura familiar. Segundo Brandenburg (1999, p.293) [...] “a estrutura familiar oferece condições para o desenvolvimento de um sistema de produção mais diversificado e uma gestão de recursos naturais que, ao mesmo tempo, aumenta a biodiversidade e a preservação dos sistemas agrários”. A agricultura familiar é a principal força motriz para o desenvolvimento comercial e, conseqüentemente, econômico das pequenas e médias cidades do Brasil. Estabelecendo um plano de desenvolvimento municipal levando em conta a agricultura familiar sustentável, agroecológica e equipes multidisciplinares são ao mesmo tempo uma necessidade e condição para o fortalecimento da economia municipal e o abastecimento local sustentável. A partir disso, as políticas de produção tem como desafio principal, e de acordo com Maluf (2001, p. 161): “Combinar a ampliação da disponibilidade interna de alimentos em simultâneo ao barateamento desses bens 55 relativamente à renda familiar, com a garantia de renda aos pequenos e médios agricultores e a geração de divisas via exportações”. A Geografia enquanto ciência que trabalha com espaço tem um papel fundamental nas questões rurais. Por meio desta ciência, é possível analisar o espaço rural e propor alternativas mais sustentáveis e menos degradantes ao meio-ambiente. Mesmo diante de condições totalmente favoráveis e de saber técnico reconhecido, o programa PRONAF “A” no Estado, não tem alcançado sua meta, conforme se verifica nos quadros 23 e 24, que mostra as metas desejáveis e a porcentagem de consecução. Mostra também esses índices em outros Estados da federação, onde os resultados são bem mais satisfatórios, com exceção dos estados do Amapá, Amazonas e Rondônia. Assim, indicando que a operacionalização do PRONAF neste Estado apresenta maiores dificuldades comparativamente aos demais estados da região amazônica conforme ilustrados nos quadros 25 a 32. Quadro 23 – Aplicação do PRONAF no Estado do Acre 2004 ESTADO DO ACRE APLICAÇÃO DO FNO NO ESTADO DO ACRE PROGRAMA SEGMENTO Milhões 2003 2004 Consecução Consecução % % Meta Efetivado Meta Efetivado Grupo A Reforma Agrária 7,9 3,3 41,6 Grupo C – Prodex Grupo A/C Grupo B FNOGrupo D PRONAF (Prorural) 11,8 4,5 38,1 Grupo E Agregar Floresta Pesca e Aqüicultura Fonte: BASA - Relatório (2005) das Atividades Desenvolvidas e dos Resultados Obtidos. 56 Quadro 24 – Aplicação do PRONAF no Estado do Acre 2005 e 2006 ESTADO DO ACRE APLICAÇÃO DO FNO NO ESTADO DO ACRE PROGRAMA SEGMENTO Milhões 2005 2006 Consecução Consecução % % Meta Efetivado Meta Efetivado Grupo A Reforma Agrária 9,4 5,8 61,5 13,6 5,9 43,3 Grupo C Prodex Grupo A/C Grupo B FNOGrupo D PRONAF (Prorural) 9,4 14,1 150 13,5 5,6 41,2 Grupo E Agregar Floresta Pesca e Aqüicultura Fonte: BASA - Relatório (2006) das Atividades Desenvolvidas e dos Resultados Obtidos. Quadro 25 – Aplicação do PRONAF no Estado do Amapá 2004 ESTADO DO AMAPA APLICAÇÃO DO FNO NO ESTADO DO AMAPA PROGRAMA SEGMENTO Milhões 2003 2004 Consecução Consecução % % Meta Efetivado Meta Efetivado Grupo A Reforma Agrária 7,9 1,4 17,3 Grupo C Prodex Grupo A/C Grupo B FNOGrupo D 10,2 1,3 12,7 PRONAF (Prorural) Grupo E Agregar Floresta Pesca e Aqüicultura Fonte: BASA - Relatório (2005) das Atividades Desenvolvidas e dos Resultados Obtidos 57 Quadro 26 – Aplicação do PRONAF no Estado do Amapá 2005 e 2006 ESTADO DO AMAPA APLICAÇÃO DO FNO NO ESTADO DO AMAPA PROGRAMA SEGMENTO Milhões 2005 Meta Efetivado 2006 Consecução Consecução % Meta Efetivado % Grupo A Reforma Agrária 9,4 1,04 11,1 13,3 1,86 13,7 Grupo C – Prodex Grupo A/C Grupo B FNOGrupo D PRONAF (Prorural) 14,1 2,6 18,4 20,3 1,25 6,1 Grupo E Agregar Floresta Pesca e Aqüicultura Fonte: BASA - Relatório (2006) das Atividades Desenvolvidas e dos Resultados Obtidos. Quadro 27 – Aplicação do PRONAF no Estado do Pará em 2004 ESTADO DO PARÁ APLICAÇÃO DO FNO NO ESTADO DO PARÁ PROGRAMA SEGMENTO Milhões 2003 2004 Consecução Consecução Meta Efetivado % Meta Efetivado % Grupo A Reforma Agrária 19,6 48,5 Grupo C – Prodex Grupo A/C Grupo B FNOGrupo D PRONAF (Prorural) 39,3 96,6 Grupo E Agregar Floresta Pesca e Aqüicultura Fonte: BASA - Relatório (2005) das Atividades Desenvolvidas e dos Resultados 247,5 245,7 58 Quadro 28 – Aplicação do PRONAF no Estado do Pará em 2005 e 2006 ESTADO DO PARÁ APLICAÇÃO DO FNO NO ESTADO DO PARÁ PROGRAMA SEGMENTO Milhões 2005 2006 Consecução Consecução Meta Efetivado % Meta Efetivado % Grupo A Reforma Agrária 23,5 26,1 111 33,9 52,9 153,9 Grupo C – Prodex Grupo A/C Grupo B FNOGrupo D 46,9 51,6 110 67,9 105,6 155,6 PRONAF (Prorural) Grupo E Agregar Floresta Pesca e Aqüicultura Fonte: BASA - Relatório (2007) das Atividades Desenvolvidas e dos Resultados Obtidos Quadro 29 – Aplicação do PRONAF no Estado do Amazonas em 2004 ESTADO DO AMAZONAS APLICAÇÃO DO FNO NO ESTADO DO AMAZONAS PROGRAMA SEGMENTO Milhões 2003 2004 Consecução Consecução % % Meta Efetivado Meta Efetivado Grupo A Reforma Agrária 11,8 2,1 17,7 Grupo C – Prodex Grupo A/C Grupo B FNOGrupo D 9,4 16,5 175,6 PRONAF (Prorural) Grupo E Agregar Floresta Pesca e Aqüicultura Fonte: BASA - Relatório (2005) das Atividades Desenvolvidas e dos Resultados Obtidos 59 Quadro 30 – Aplicação do PRONAF no Estado do Amazonas 2005 e 2006 ESTADO DO AMAZONAS APLICAÇÃO DO FNO NO ESTADO DO AMAZONAS Milhões PROGRAMA SEGMENTO 2005 2006 Consecução Consecução % % Meta Efetivado Meta Efetivado Grupo A Reforma Agrária 14,1 2,1 14,5 20,3 2,2 10,9 Grupo C – Prodex Grupo A/C Grupo B FNOGrupo D PRONAF (Prorural) 9,1 21,2 232,4 13,3 16,7 125,7 Grupo E Agregar Floresta Pesca e Aqüicultura Fonte: BASA - Relatório (2007) das Atividades Desenvolvidas e dos Resultados Obtidos. Quadro 31 – Aplicação do PRONAF no Estado de Rondônia em 2003 ESTADO DE RONDÔNIA APLICAÇÃO DO FNO NO ESTADO DE RONDÔNIA PROGRAMA SEGMENTO Milhões 2003 2004 Consecução Consecução Meta Efetivado % Meta Efetivado % Grupo A Reforma Agrária 11,8 12,5 106,1 Grupo C – Prodex Grupo A/C Grupo B FNOGrupo D PRONAF (Prorural) 23,6 88,3 374,2 Grupo E Agregar Floresta Pesca e Aqüicultura Fonte: BASA - Relatório (2005) das Atividades Desenvolvidas e dos Resultados Obtidos. 60 Quadro 32 – Aplicação do PRONAF no Estado de Rondônia em 2005 e 2006. ESTADO DE RONDÔNIA APLICAÇÃO DO FNO NO ESTADO DE RONDÔNIA PROGRAMA SEGMENTO Milhões 2005 2006 Consecução Consecução % % Meta Efetivado Meta Efetivado Grupo A Reforma Agrária 14,1 4,4 31 20,4 3,7 18,2 Grupo C – Prodex Grupo A/C Grupo B FNOGrupo D PRONAF (Prorural) 28,1 33,6 119,9 40,7 15,1 37 Grupo E Agregar Floresta Pesca e Aqüicultura Fonte: BASA - Relatório (2007) das Atividades Desenvolvidas e dos Resultados Obtidos 3.2 Crédito Rural - do ponto de vista da SEATER como instituição de ATES Na SEATER, a entrevista se desenvolveu com o senhor Altamir de Sousa Costa, gerente de crédito da Instituição, que passou a discorrer sobre a relação existente entre linhas de créditos e o produtor rural, especificamente produtores de assentamentos rurais. Na linha de raciocínio a que foi indagado, ou seja, sobre a aplicação dos recursos PRONAF, este foi enfático em afirmar que o PRONAF foi precedido por outras linhas de financiamentos, como o PRODEX19, PRORURAL20 e PROCERA21, financiados pelo BASA e crédito instalação atendidos pelo INCRA, que se dividem em modalidades, tais como: crédito instalação; crédito de apoio inicial; crédito aquisição de materiais de construção (antigo crédito habitação), crédito de fomento e crédito recuperação de material de construção, que foram maciçamente demandados por produtores rurais. O PRORURAL, por exemplo, destinava a quantia de R$ 18.000,00 19 20 21 Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Extrativismo Programa de Apoio a Pequena Produção Familiar Rural Organizada Programa Especial de Crédito para a Reforma Agrária 61 (dezoito mil reais) para os produtores rurais sem qualquer enquadramento, os demais variavam de faixas de financiamentos entre R$ 2.400,00 a R$ 5.000,00. Quando em 2001, a linha PRONAF começou a ser oferecido aos produtores rurais do Estado, os produtores, por sua vez, haviam esgotados a sua capacidade de endividamento porque a sua operação ainda encontra-se em fase de amortização desses financiamentos contraídos. Assim, poderemos apontar, disse Altamir, como um dos principais entraves de acesso ao crédito PRONAF por parte dos produtores. Para Altamir, um segundo fator limitante de acesso ao PRONAF é a questão dos assentamentos habilitados, ou seja, assentamentos que possuam o PDSA22, pois no Estado existem somente 32 capazes de oferecer critérios de atendimento ao produtor pela linha do PRONAF, sendo que desses 32, existem 4 que não estão em condições de receber créditos por não possuírem condições regulares de trafegabilidade das estradas e outras estruturas deficientes. Nesse sentido Altamir disse: “Não podemos ser irresponsáveis de habilitar produtores rurais, através da DAP23, a receber créditos sem que o mesmo possuam as mínimas condições de locomoção e trafegabilidade até ao mercado consumidor, assim aguardamos a regularização de tráfego para os procedimentos de crédito” Outro fator limitante de acesso ao crédito PRONAF, segundo Altamir, é o esgotamento da demanda, ou seja, o quantitativo de produtores habilitados ao PRONAF no Estado do Acre se reduz à medida que o tempo passa, porém a demanda de produtores que estão assentados mas não habilitados é muito grande. Desse modo, o que falta ao produtor rural é uma política pública concisa que o atenda desde a sessão de uso da terra e ou propriedade até o crédito e assistência técnica que o oriente em todo o processo laboral até a comercialização. Altamir reconhece que a SEATER possui algumas limitações de cunho operacional por não possuir a quantidade de recursos humanos dentro do desejável, 22 23 Projeto de Desenvolvimento Sustentável de Assentamentos. Declaração de Aptidão do PRONAF 62 como também limitações orçamentárias e de equipamentos, mas a instituição tem procurado trabalhar e dar assistência técnica aos produtores rurais atendendo ao ordenamento formulado de INCRA. 3.3 Crédito Rural - do ponto de vista do Banco da Amazônia como agente financeiro Em entrevista realizada com o senhor Adimar Ferreira da Cruz, gerente de operações do Bando da Amazônia, agência Metropolitana, em nesta cidade, com o objetivo de colher informações sobre a versão daquela instituição sobre as aplicações da linha de Financiamento PRONAF em Rio Branco Acre, este passou a discorrer sobre alguns fatos como veremos a seguir. Adimar iniciou sua fala fazendo uma abordagem sobre os objetivos e missão do BASA e enfocando a importância dessa instituição para a região. Disse que para o aproveitamento das oportunidades de desenvolvimento sustentável na Região Amazônica, cujos benefícios sejam internalizados em prol das populações locais, faz-se necessária a adoção de novo padrão de financiamento, adequado às reais necessidades dos setores produtivos regionais, haja vista que o modelo atualmente vigente denota uma situação de exaustão dos mecanismos convencionais de concessão de crédito, resultando, em muitos casos, na concentração dos recursos em poucas atividades produtivas e/ou levando à inadimplência dos beneficiários. Diante desse cenário, o Banco da Amazônia está redefinindo sua política de financiamento, incorporando os componentes de sustentabilidade econômica, ambiental e social em todo o espectro de sua atuação. O objetivo dessa nova política é promover a solidificação de arranjos produtivos locais inovadores, inseridos em projetos alinhados aos pressupostos do desenvolvimento sustentável e articulados aos fluxos de mercados nacionais e internacionais. Trata-se de implantar um modelo de financiamento que tenha foco nos negócios e o atendimento integral das necessidades do cliente, construindo um relacionamento bancário estreito e uma parceria fortalecida para o aproveitamento do meio ambiente como oportunidade para viabilização de negócios sustentáveis. 63 No que concerne à gestão desse novo modelo, a estratégia adotada pelo Banco da Amazônia é a concertação tripartite do ambiente no qual estão inseridas as atividades produtivas de cada Estado. Ou seja, governo, iniciativa privada e sociedade civil organizada devem caminhar na mesma direção e articuladamente, de maneira a potencializar os resultados a serem alcançados e construir um processo de desenvolvimento sinérgico e duradouro, mas o banco não pode perder a sua segurança quando a créditos que operacionaliza. Disse Adimar: “A liberação do crédito é condicionada ainda às regras de segurança bancária, que impõem limites às aplicações consideradas de risco de cada estabelecimento. No caso de crédito para investimento, a exigência de garantias acaba dificultando os empréstimos para os pequenos produtores”. A política de financiamento do Banco da Amazônia compreende critérios de categorização de clientes segundo os conceitos orientadores de indução, salvaguarda e exclusão. A indução norteará a conduta do Banco frente às atividades econômicas sustentáveis que se deseja tornar a tônica na região, visando à transição para um modelo de desenvolvimento que desestimule práticas produtivas obsoletas e predatórias. Os empreendimentos categorizados sob essa ótica hão de receber tratamento preferencial e diferenciado, haja vista suas contribuições ao processo de desenvolvimento regional e seu efeito demonstrativo incentivador para outros projetos. As salvaguardas serão instrumentos mobilizados pelo Banco para promover o redirecionamento de práticas produtivas de atividades tradicionais, induzindo à incorporação de tecnologias sustentáveis, cuja evolução deverá ser periodicamente acompanhada. Ao atuar em atividades estratégicas, espera-se expandir a influência de adoção de práticas sustentáveis para um grande leque de atividades. O Banco, mediante a exclusão na concessão de financiamentos, não apoiará atividades econômicas baseadas em práticas que contradizem os princípios e valores da organização, bem como aquelas que sejam objeto de restrições na legislação vigente. Especificamente sobre o PRONAF Adimar disse que são recursos da ordem de 20% do montante anual destinado ao FNO, sendo que 10% para a linha do PRONAF A, e 10% para as demais linhas. 64 Referindo-se ao cumprimento de metas por parte do BASA em relação ao PRONAF, Adimar informou que estas são dependentes e vinculadas à atuação das instituições envolvidas, instituições de ATES, INCRA e do próprio produtor rural que precisa atender a requisitos do programa. Havendo um bom desempenho do INCRA na questão de regularização de terras e atenção especial por parte de assistência técnica aos produtores rurais a demanda por crédito aumenta. 3. 4 Crédito rural - do ponto de vista do INCRA Segundo Cristian Duarte do Nascimento, Orientador de Projetos de Assentamentos do INCRA do Grupo Técnico de ATES - GATES, para o sucesso do PRONAF deve-se considerar como principal instrumento a reforma agrária24. Nesse cenário entra o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) que é uma autarquia federal criada pelo Decreto nº 1.110, de 9 de julho de 1970 com a missão prioritária de realizar a reforma agrária, manter o cadastro nacional de imóveis rurais e administrar as terras públicas da União. Está implantado em todo o território nacional por meio de 30 Superintendências Regionais. Nos últimos anos, o INCRA incorporou entre suas prioridades a implantação de um modelo de assentamento com a concepção de desenvolvimento territorial. O objetivo é implantar modelos compatíveis com as potencialidades e biomas de cada região do País e fomentar a integração espacial dos projetos. Outra tarefa importante no trabalho da autarquia é o equacionamento do passivo ambiental existente, a recuperação da infra-estrutura e o desenvolvimento sustentável dos mais de cinco mil assentamentos existentes no País. Tudo estabelecido pelo Estatuto da Terra. Na prática, a reforma agrária proporciona: a desconcentração e democratização da estrutura fundiária; a produção de alimentos básicos; a geração de ocupação e renda; o combate à fome e à miséria; a diversificação do comércio e dos serviços no meio rural; a interiorização dos serviços públicos básicos; a redução da migração campo-cidade; a democratização das estruturas de poder; e a promoção da Cidadania e da Justiça Social. 24 Reforma agrária é o conjunto de medidas que visem promover a melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, afim de atender aos princípios de justiça social, do desenvolvimento rural sustentável e ao aumento de produção. 65 Na opinião de Cristian, o tema reforma agrária é rigorosamente atual, urgente e necessário. É uma questão de justiça social prevista na Constituição Federal e uma ação estruturante de combate à fome e à miséria. A política governamental tem no campo um espaço estratégico de geração de emprego e renda, de produção de alimentos saudáveis para nosso povo e para resolver definitivamente com a questão da fome, que atinge milhões e envergonha o país. Falamos aqui de possibilidades e desafios. O país precisa crescer gerar trabalho e renda para seu povo, e o campo é um instrumento fundamental para isso – e é assim que a instituição INCRA deve se posicionar. Porém o modelo de assentamento praticado ao longo da década de 90 mostrou-se ineficiente e provocou um passivo fundiário considerável, principalmente no que se refere a infraestrutura dos assentamentos. Assim, na opinião de Cristian, a questão da infra-estrutura administrativa e operacional é um dos principais requisitos que problematizam a viabilização de crédito para o produtor rural, essencialmente o PRONAF que é uma linha de financiamento que requer o preenchimento de vários requisitos, principalmente as condições de infra-estrutura do módulo fiscal de cada assentado, além da ação conjugada das instituições envolvidas. Disse Cristian que no Estado do Acre existem hoje 135 assentamentos rurais e outros tipos de organização fundiária, todos com grande capacidade de aporte de unidades familiares, mas desses assentamentos são apenas 32 são os que estão habilitados a oferecer condições para aporte de crédito do PRONAF, por não possuírem, ainda, o Plano de Desenvolvimento Sustentável. Outro agravante é a falta de recursos e de recursos humanos o suficiente para a prática de recuperação dos assentamentos. Se os assentamentos e outras organizações fundiárias já criadas no Estado estivessem habilitados através do Plano de Desenvolvimento Sustentável, isso criaria uma enorme demanda de crédito por parte dos produtores rurais, porque os habilitaria a créditos oriundos de políticas públicas. Na opinião de Criatian, seria ato de irresponsabilidade a liberação de recursos para assentamentos sem que antes fosse elaborado um planejamento sobre a 66 melhor forma de aplicação do dinheiro, pois, os assentados são os principais beneficiários e não os demais parceiros. Desta forma, evita-se o endividamento dos assentados e a má utilização do dinheiro público. Esse planejamento, disse Cristian, é fruto de discussões com a comunidade. E prossegue: “Ao final são apontadas às potencialidades do assentamento, onde a capacidade produtiva é apenas uma ramificação dessa meticulosa observação. Vale ressaltar que todo o processo, que envolve desde a desapropriação de terras até a liberação de recursos para o desenvolvimento dos assentamentos são baseado em cuidadosos estudos técnicos acompanhados de perto pelos movimentos sociais que defendem os interesses dos trabalhadores.” Porém, os recursos financeiros destinados à unidade do INCRA em Rio Branco não conseguem contemplar as atividades traçadas como metas a serem atingidas. Assim, a maioria dos serviços a serem desenvolvidos deixa de ser executado. Um dos principais exemplos é a falta de regularização dos assentamentos do Estado, principalmente o Plano de Desenvolvimento Sustentável, requisito indispensável para a habilitação dos assentados ao crédito rural. Cristian Duarte também enfatizou a questão de alguns convênios que o INCRA firmou com a SEATER objetivando a prática da Extensão Rural, outro fator de suma importância para o produtor rural manter-se informado e receber as orientações quanto às suas atividades no campo e informações sobre crédito. Os serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural - ATES, por exemplo, é quem instrui o plano de negócio junto à instituição bancária para o produtor rural que busca financiamento. Com relação a convênios efetuados para serviços de ATER, o INCRA tem encontrado algumas dificuldades na execução dos serviços porque os serviços prestados têm recebidos algumas reclamações por parte dos produtores rurais, e estes, ficam prejudicados por ficarem impossibilitados de alguns benefícios, inclusive crédito. Disse a Diretoria de Desenvolvimento de Projetos de Assentamentos e Divisão de Desenvolvimento, da Superintendência Regional do INCRA que suas funções básicas são: 67 a) Firmar parcerias, coordenar, planejar, monitorar, avaliar e supervisionar as atividades de ATER, visando pleno atendimento das famílias assentadas e o respeito as normas e demais instrumentos legais firmados entre o INCRA e os parceiros; b) Efetuar levantamento das demandas de ATER para o planejamento das ações, com vistas ao acompanhamento eficiente e eficaz das fases de implantação, desenvolvimento e recuperação dos Projetos de Assentamento da Reforma Agrária, podendo valer-se de parcerias com outros organismos afins; c) com base no levantamento previsto na alínea anterior, definir os recursos a serem alocados para a assessoria técnica, relativos aos projetos de assentamento novos, em desenvolvimento e a serem recuperados; d) celebrar instrumentos de parceria com entidades atuantes na reforma agrária, dentro do que encerra o princípio da reciprocidade de interesses, para execução das atividades de ATES e elaboração e implementação dos Planos de Desenvolvimento dos Assentamentos - PDA e dos Planos de Recuperação dos Assentamentos – PRA, bem como celebrar contratos; e) analisar e aprovar os Projetos Básicos e Planos de Trabalho e os demais instrumentos a serem celebrados, concernentes à execução das atividades de ATES e dos planos; f) orientar a entidade representativa dos assentados para acompanhar, controlar e avaliar a eficácia das atividades de ATER, incluindo os PEA, PDA e PRA; g) avaliar, juntamente com os beneficiários, as atividades de ATER, o processo de desenvolvimento das ações e qualidade da assessoria executada, mediante o uso de indicadores e visitas periódicas; h) fiscalizar as atividades de ATER executadas, através dos instrumentos firmados, e elaborar parecer técnico quanto ao cumprimento do objeto e quanto à regularidade da aplicação dos recursos; 68 i) articular-se com as Câmaras Técnicas, com os Conselhos Estaduais e Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável, tendo em vista à integração destes colegiados com o processo de execução e avaliação das atividades de ATER; j) construir estratégias de divulgação e internalização das atividades de ATER, junto aos assentados beneficiários, com vistas ao entendimento e participação desses atores para o perfeito funcionamento do Programa, discutindo com os Fóruns Nacional e Regionais, visando o aperfeiçoamento da ação; k) promover a igualdade de oportunidades entre trabalhadoras e trabalhadores rurais assentadas (os) da reforma agrária; l) construir e implementar um Programa Nacional de Capacitação, voltado para os trabalhadores e trabalhadoras rurais assentados (as), técnicos e técnicas das atividades de ATER e do INCRA. m) orientar os beneficiários quanto a opção pelas atividades de ATES ou ATER; 3.5 Crédito rural - do ponto de vista dos presidentes de associações do Moreno Maia Em entrevista com a Senhora Cleucilene da Silva Lima, presidente de uma das sete associações de produtores rurais existentes no projeto de assentamento Moreno Maia, onde o direcionamento dos questionamentos foram pautados nas razões que explicam o baixo acesso dos produtores rurais ao programa de financiamento do PRONAF, esta foi enfática em dizer que vivenciando diariamente com as ações dos produtores rurais conhece as suas dificuldades e limitações que enfrentam no dia a dia de trabalho nas suas localidades. Em sua opinião as principais dificuldades que os produtores rurais do município de Rio Branco enfrentam, prioritariamente dos produtores rurais do assentamento Moreno Maia são: falta de assistência técnica para um desempenho eficaz 69 de suas atividades; dificuldades de acesso a crédito que decorre do excesso de burocracia por parte das instituições bancárias; ausência de uma política de atendimento ao produtor por parte do INCRA e SEATER O Banco da Amazônia, como agente financiador, não aparece no campo para auxiliar no acompanhamento da execução de projetos, deixando o produtor ao sabor de suas conveniências, e isso normalmente tende a uma aplicação de recursos de forma inadequada, conseqüentemente falta de produtividade. Esses fatores são alguns dos motivos para uma baixa aplicação dos recursos do PRONAF em Rio Branco, pois sem regularidade dos assentados e a não expedição das Declarações de Aptidão do PRONAF – DAP não existe financiamento. Assim, a ação do INCRA e da assistência técnica - no caso a SEATER – é o ponto de partida para a não habilitação do produtor junto ao PRONAF. Por outro lado, disse a presidente, os produtores rurais do município ainda não se articulam com eficiência, faltam-lhes a cultura do associativismo e a busca de informações de seu interesse. Por vezes a sua vinculação a alguma associação ocorre somente listando o seu nome na relação da associação e nada mais. Os efeitos disso são perversos. Por exemplo, dos produtores rurais do assentamento Moreno Maia, apenas 60%, em média, possuem contrato de financiamento pela linha PRONAF “A”. Assim, as novas formas de articulação e intermediação de interesses instituídas no campo, via políticas governamentais, têm como principal característica a intermediação de interesses da produção. Nesse sentido, as associações, assim como os sindicatos, os partidos políticos e os movimentos sociais, se constituem como atores da sociedade civil que operam primariamente como recursos de ressonância pública: viabilizam a tematização de situações, interesses e exigência emergentes em nível das relações cotidianas, visando sua transposição do ‘mundo da vida’ para o plano público e constituem um contraponto fundamental dos interesses particularistas levados ao sistema político. 3.6 Crédito rural - do ponto de vista dos produtores do Moreno Maia Nas entrevistas com produtores rurais do projeto de assentamento Moreno Maia, os principais problemas que apontaram com relação a dificuldades de 70 acesso ao crédito rural foram (a) com relação ao BASA: lentidão do ritmo de liberação dos créditos aprovados, por outro, daqueles que não são aprovados, às vezes, por falta de uma simples informação o encaminhamento da liberação fica parado. Quanto ao INCRA, afirmaram que este possui grande responsabilidade com os assentados, pois todo o processo de criação, organização, acompanhamento de assentamentos e captação de crédito é de responsabilidade da instituição, porém na prática o processo é desarticulado com as outras instituições e ineficaz por apresentar uma política de atendimento descontínua. Quanto aos serviços de Assistência Técnica, que é prestado por uma única instituição, a SEATER, os produtores alegaram que é muito ausente, pois não existe efetivamente uma continuidade no atendimento e, por ser raro, o produtor fica prejudicado. Lourival Fernandes da Conceição, produtor assentado no Moreno Maia, colônia Monte Alegre, disse: “O INCRA dá a impressão de que pode fazer muito pelo produtor rural, porém não conseguimos ver isso na prática. O que vemos é as coisas serem feitas pela metade, o resto fica pra depois... A SEATER, para a assistência técnica parece que a programação deles é para atender eles não o produtor, pois não agendam nada com a gente e quando aparecem estamos na lida”. Elenilza Souza Damasceno, produtora que reside no Moreno Maia, na colônia Santa Fé, emite sua opinião sobre o crédito do PRONAF, dizendo:” “na verdade não sei de qual é a instituição de quem dependemos para conversar para sermos ouvidos de verdade, como também, sentimos falta de ouvir alguma coisa que nos oriente de como fazer para melhorar a nossa produção no campo”. 3.7 – Cenário atual da operacionalidade do PRONAF no Moreno Maia e a atuação das instituições de assessoramento. Os agricultores, mesmo que freqüentemente responsabilizados por não conseguirem crédito do PRONAF, pouco têm a fazer diante dos limites institucionais, 71 da descontinuidade e da dissociação entre tal aplicação e o apoio necessário à execução dos projetos técnicos. Nesse sentido, Bittencourt et al. (1998) e Lopes (2001), demonstram que é comum o acesso ao crédito associado a determinados pacotes técnicos supostamente modernizadores dos processos produtivos, o que aumenta a dependência dos agricultores em relação aos serviços de assistência técnica, quase sempre ausentes, descontínuos e descompromissados com os interesses e os problemas dos agricultores (Masselli, 1998). Ao estudar a questão do PRONAF “A”, que trata especificamente de crédito para assentados da reforma agrária, procurou-se contribuir para o aprimoramento desta política. Neste caso, com o estudo no Moreno Maia, contatou-se um emaranhado desarticulado de instituições com regras e requisitos impostos ao produtor rural que busca crédito. A complexidade é visível inicialmente quando o INCRA não consegue habilitar os assentamentos, quer seja da regularização destes, ou na prestação de assistência técnica e outros requisitos como comunicação de informações constantes. Nesse sentido, afirmam Buainain & Souza Filho (1999) que na trajetória do crédito para assentados da reforma agrária faltou compromisso para os demais fatores, além dos de natureza estritamente econômica, que condicionavam o desempenho do Programa. Os agricultores enfrentam vários problemas em relação à liberação dos recursos, “fato que na agricultura compromete significativamente os resultados, pois os recursos não chegam ao momento do ciclo agrícola em que são mais necessários”. Os descompassos entre os tempos burocrático-administrativo e agrícola, resultando em prejuízos ao desenvolvimento dos projetos produtivos e seus reflexos negativos servem para afugentar aqueles produtores que ainda não fizeram uso do crédito, mas que precisam. Os principais atores envolvidos, além dos agricultores assentados e suas organizações, são: o INCRA, os agentes financeiros, os prestadores de assistência técnica e extensão rural. 72 Com relação ao papel desempenhado pelo INCRA na gestão dos processos de contratação dos créditos, a instituição tem demonstrado a sua incapacidade administrativa de atender à demanda de assentados existentes no Estado do Acre, tanto é que das 135 organizações entre projetos de assentamentos, reservas extrativistas e outras estruturas fundiárias, apenas 32 possuem habilitação para receber crédito, os demais aguardam ansiosamente a regularização de acesso, infra-estrutura, Programa de Desenvolvimento Sustentável - PDSA e outros requisitos para fazer face ao crédito. Os estudos de Silva et al. (1995) apontam a timidez de suas ações, caracterizadas pela baixa capacidade operacional. Na mesma linha, denuncia a inexistência, no INCRA, de um controle sobre os recursos destinados ao crédito para assentados da reforma agrária. Para estes autores, não existe controle sobre a disponibilidade de recursos e uma base de dados sobre a aplicação dos créditos. O INCRA não possui um sistema de controle específico, não podendo acompanhar e avaliar devidamente a eficiência do Programa, a começar pela quantidade reduzida de recursos humanos. Por conta desta falha na gestão, os problemas convergem para o reduzido número de contratos desse crédito em relação à demanda existente. Este caso também nos remete aos problemas identificados com os prestadores de serviços de assistência técnica e extensão rural que, na institucionalidade do PRONAF A, deveriam oferecer apoio ao desenvolvimento dos projetos técnicos financiados. As insuficiências técnicas se revelaram em relação à falta de adequação dos projetos à realidade dos assentamentos e às demandas dos agricultores. Deste modo, os projetos se tornavam mera formalidade burocrática no processo de contratação dos créditos. Neste caso a debilidade da assistência técnica é sem dúvida um dos problemas mais importantes para explicar os resultados do PRONAF A no Moreno Maia. Os principais obstáculos colocados para os agricultores familiares quanto ao crédito rural estão associados, sem dúvida nenhuma, às malfadadas garantias exigidas pelos agentes financeiros. Foi constatado também, através de pesquisas, que em muitos casos, os bancos exigem garantias reais como a hipoteca do imóvel, avalista, reciprocidade e outras determinações que excluem posseiros, assentados e outros produtores com menos capacidade financeira para participar do programa. 73 Por causa desta situação, muitos agricultores que conseguem elaborar as propostas de financiamento junto aos órgãos de assistência técnica, deixam de obter as “rendas institucionais”. Isto ocorre porque os bancos oficiais, responsáveis pela concessão dos empréstimos, submetem os pedidos aos mesmos critérios de análise aplicados a todos os clientes. Desse modo, a liberação do crédito é condicionada a todas às regras de segurança bancária convencionais, que impõem limites às aplicações consideradas de risco. No caso do crédito de investimento do PRONAF A, o excesso de exigências acaba dificultando os empréstimos, principalmente, para os produtores familiares mais pobres. Os entraves dos bancos não podem ser menosprezados. Em Rio Branco, nos últimos sete anos, parte dos agricultores familiares, em torno de 7%, que elaboraram projetos de crédito no escritório local da extensão rural, no caso a SEATER, não conseguiu ter acesso aos recursos creditícios do PRONAF. Segundo informações colhidas diretamente na agência do Banco da Amazônia junto à gerência de operações, os principais fatores explicativos desse quadro, foram a falta viabilidade e pequenos problemas documentais e cadastrais dos proponentes. Apesar de o banco exaltar seu papel social para o desenvolvimento regional, através do apoio aos pequenos empreendimentos, não é difícil perceber as limitações na atuação da instituição. A principal mola propulsora que move suas ações é o lucro financeiro. Para assegurar esse objetivo, o banco estabelece de antemão um “público ideal” a ser privilegiado com seus serviços. Nesse sentido, apenas os agentes econômicos capazes de oferecer garantias reais é que são eleitos como seus clientes preferenciais. Essas informações sugerem que os “obstáculos” colocados pela assistência técnica e pela burocracia bancária, podem impossibilitar muitos produtores de obter financiamentos através das “facilidades econômicas” criadas pelo PRONAF. Dentre os agricultores familiares no Moreno Maia, em plena condição de tomar crédito do programa, muitos não conseguem elaborar seus projetos por falta de apoio técnico. Dos projetos elaborados nos últimos anos, existe percentual significativo rejeitado pelos agentes financeiros e, dos projetos protocolados nos bancos, 80%, em média, são contratados. Dessa maneira, percebe-se que os resultados alcançados pela política creditícia do PRONAF, não podem ser depositados totalmente na conta das 74 instituições federais responsáveis por sua elaboração. Na maioria dos casos, é a atuação das organizações e instituições que dão vida ao programa na esfera municipal, através das vicinais, que determinará sua capacidade de criar (ou não) condições propícias para o fortalecimento da agricultura familiar. No assentamento Moreno Maia constata-se que a situação não é diferente. 75 IV - Caracterização do Projeto de Assentamento Moreno Maia 4.1 - Assentamentos Rurais no Estado do Acre A questão de acesso a terra no Brasil tem se constituído em um tema recorrente ao longo da história. Tendo na concentração fundiária um dos sustentáculos do modelo de desenvolvimento econômico implantado no país, onde o acesso do pequeno produtor rural a terra esteve condicionado, na maioria das vezes, ao papel de abertura de fronteiras, integrando seu trabalho ao solo e viabilizando uma renda fundiária maior. A concentração da propriedade da terra está profundamente enraizada na formação histórica do país (FURTADO, 1989). Tais raízes remontam à natureza da colônia e das leis coloniais, as quais introduziram graves distorções na distribuição das terras e, a partir da segunda metade do século XIX, no funcionamento do mercado fundiário. Ressalta também que a valorização da terra tem resultado, muitas vezes, na expulsão do homem do campo, seja via confronto, seja via mecanismos de mercado. Frente a um mercado restrito, nesse contexto, a terra passa a ser tomada como reserva de valor, estimulando-se a especulação imobiliária. Nesse sentido (OLIVEIRA, 1988, p. 15), destacou “Conflitos sociais no campo, no Brasil, não são uma exclusividade de nossos tempos. São isto sim, uma das marcas do desenvolvimento e do processo de ocupação do campo no país”. Trazendo a questão para o Estado do Acre, a manifestação dos interesses do capital associada às políticas de governo da década de 70 se voltou para a atividade pecuária, ao passo que se omitia de tratar de questões relevantes como a regularização fundiária e acesso à terra ao homem do campo. Nesse sentido (SILVA, 1982, p.53) assegurou: “Na questão da disputa pela terra, os seringueiros/posseiros enfrentaram as condições mais adversa dada a orientação política do governo local na primeira metade da década de 70, que se posicionou favorável ao desenvolvimento da pecuária no Acre, abrindo as portas ao grande capital. A atitude um tanto omissa daquele governo com relação aos problemas que 76 envolviam a disputa pela terra, pode ter facilitado as práticas criminosas de alguns compradores, contribuindo para a expulsão acelerada de seringueiros/posseiros do meio rural, mediante a utilização de métodos que eram, quase sem exceção, a violência e coação moral e física...” Aditivando outras compreensões do desenvolvimento desse processo em nível local, Paula & Silva, em trabalho recente, afirmaram: “... em face dos conflitos suscitados no contexto da fronteira agropecuária, os movimentos de resistência dos seringueiros foram parcialmente vitoriosos. No embate geral, sob a direção dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, sujeitos sociais organizados forçaram o Estado a desapropriar áreas de propriedades privadas e com isso permitir um avanço do domínio do campesinato sobre a terra do capital.” (PAULA & SILVA, 2006) Costa Sobrinho (1992), entendendo a dinâmica do capital e as metamorfoses do trabalho no Acre, acrescenta: “Nos anos de 1969 e 1970, o Acre sofreu profundas transformações na sua base econômica tradicional. Os seringais nativos passaram por rápido processo de desativação. Muitos deles foram negociados para empresários do sul do país que, atraídos pela política de incentivos fiscais do governo para empreendimentos na Amazônia, deslocaram-se para a região, no caso do Acre, com o objetivo de explorar os recursos madeireiros e implantar a pecuária extensiva de corte”. (COSTA SOBRINHO, 1992, p. 51) Assim, a dimensão eminentemente política da luta pela terra, evidenciada, especialmente, em ações coletivas envolvendo segmentos diversos dos trabalhadores rurais, tem como substrato todo um conjunto de relações sociais e econômicas, cuja influência se revela não apenas nas formas de organização, mas, também, no próprio conteúdo das reivindicações e na natureza do projeto de reforma agrária defendido. Assim, é possível constatar que a questão agrária persiste ao longo dos anos, como problema social carente de soluções adequadas, embora redefinidas pelo processo de modernização (ALENTEJANO, 1996). da economia nacional, nas últimas décadas. 77 Apresentados como política de viabilização da reforma agrária, os projetos de assentamentos iniciam no Acre, adotados como estratégia de ação pública para viabilizar políticas direcionadas ao setor produtivo rural, que desconhecendo a realidade regional e saberes tradicionais da sociedade local, impunham atividades preferenciais ao sabor das políticas oficiais. Contudo, nos últimos 15 anos das lutas dos trabalhadores extrativistas, buscando manter sua identidade, aliada aos movimentos de preservação ambiental, em âmbito internacional, diversifica-se a concepção de assentamento, contemplando a realidade extrativista. Assim, Paula & Silva (2006) explicam: “... É exatamente nesse contexto de lutas e disputas socioterritoriais - lideradas inicialmente pelos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais (STRs) e, posteriormente, por eles e o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) - que o Estado passa atuar na regularização fundiária”. A estratégia inicial focalizava-se na amenização dos conflitos, levando a situação para o âmbito das políticas de assentamentos do INCRA. “Na verdade, a política de assentamento posta em prática, voltava-se para a consumação do uso agropastoril e agrícola da terra, negando assim o uso agroextrativista pré-existente. As ações do INCRA se concentraram, por um lado, na criação de projetos de assentamentos, quase sempre, nas áreas de conflitos bastante acirrados. Por outro, na busca de mecanismos legais para legalizar a propriedade latifundiária.” Ao mesmo tempo, o processo de crescimento urbano (COSTA SOBRINHO, 1992), desencadeado pela expulsão da população rural, sem a contrapartida de um incremento significativo dos setores secundários e terciário, capazes de absorver a oferta excedente de mão-de-obra, se colocou como estímulo ao governo do Estado para que o mesmo promovesse unidades de estruturas rurais, enquanto espaço potencial de absorção dessa população. Assim, configura-se hoje no Estado uma diversificação de tipos de assentamento, conforme se detalha a seguir: De acordo com pesquisa empreendida no INCRA e na SEATER, o Estado do Acre tem hoje 135 assentamentos rurais e outras organizações fundiárias, assim distribuídos: 69 Projetos de Assentamento (PA), 05 Projetos de Assentamento Dirigido (PAD), 02 Projetos de Assentamento Rápido (PAR), 10 Projetos de Assentamentos Agro-Estrativista (PAE), 14 Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDS), 04 Projetos de Assentamento Florestal (PAF), 14 Projetos Estadual Pólo 78 Agroflorestal (PE) e 06 Reservas Extrativistas (RESEX), além de 03 Projetos Casulo (PCA)25, cuja caracterização detalhada é exposta a seguir. Projetos de Assentamento Dirigido (PAD) vigoraram no período entre 1977 e 1983, como parte da política de “ocupação da Amazônia”. Tinham como prioridade o assentamento de colonos originários de outras regiões do país, através de migração induzida pelo governo federal, contando, no período, com o alinhamento do governo do Estado à proposta. A execução do projeto supunha a participação de diferentes órgãos do governo estadual e federal, como Secretaria Estadual de Educação, Secretária Estadual de Saúde, SUCAM (na época, responsável pelo controle de endemias), EMATER, DERACRE, etc. Os Projetos de Assentamento (PA) inserem-se em um outro momento político e, ao invés de promoverem a colonização, como os anteriores, buscavam equacionar os problemas gerados pela linha política de reorganização do espaço, dominante no período da ditadura militar. Voltam-se, assim, para a agricultura tradicional, procurando viabilizar o acesso à terra aos produtores rurais, bem como àqueles que, expulsos do espaço rural, não encontraram inserção no mercado de trabalho urbano. Os Projetos de Assentamento Rápido (PAR) se constituem em ações de regularização fundiária, no caso de produtores que ocupavam terras da União. Não podem, a rigor, ser considerados projetos, dado que não há uma gestão propriamente dita, nem estão sujeitos a políticas que buscam direcionar o processo produtivo. Os projetos de Assentamento Agro-Extrativista (PAE) constituem-se em uma modalidade que inova a política de assentamento rural. Decorrente da luta dos produtores extrativistas no sentido de garantir sua identidade, respondem, de forma mais 25 O Projeto Casulo é uma modalidade de assentamento firmada entre o Incra e a Prefeitura de Rio Branco em 1997. A parceria é feita para exploração agropecuária, para gerar emprego e renda e aumentar a oferta de alimentos no mercado regional. O projeto prevê a liberação de créditos para alimentação, fomento, apoio, material de construção e habitação, de forma a viabilizar a consolidação e sustentabilidade dos assentados. 79 efetiva, às peculiaridades regionais, tanto em termos de utilização dos recursos naturais, quanto em relação à cultura dos produtores locais, embora tenham incorporado outras práticas que os tornam reféns das velhas armadilhas do processo de planejamento que articula, muitas vezes, interesses alheios aos da comunidade beneficiária, como pode ser facilmente observado pela dependência das RESEX em relação à doação de recursos financeiros, sejam públicos ou das organizações não-governamentais. Os meios de comunicação da localidade (Rio Branco) fazem relatos de que em meados de 1985 acontece em Brasília o Primeiro Encontro dos Seringueiros da Amazônia. Na ocasião é fundado o Conselho Nacional dos Seringueiros e lançada a proposta de criação das Reservas Extrativistas. No ZEE26, fase II observou-se que os Projetos de Assentamentos Florestais foram criados em 2003 para compor a nova política de reordenamento do espaço econômico do Estado, onde busca-se combinar exploração com viabilidade econômica à preservação ambiental. Como nas formas anteriores, o acesso à terra é dado através da Concessão de Uso (ver PAULA & SILVA, 2006) . A utilização do espaço volta-se para o desenvolvimento florestal de uso múltiplo em base familiar comunitária. Nesse contexto, é aconselhável discutir-se a propriedade da terra quando pensa-se no pequeno produtor rural. Os Projetos Estaduais Pólos Agroflorestais, por sua vez, calçados em ideais de políticas públicas buscam garantir condições de trabalho e reprodução à população que, expulsa do campo, não conseguiu se inserir no mercado de trabalho formal urbano. Fala-se aqui de política de governo que sutilmente afirma que é possível o retorno do homem ao campo. A gestão dos referidos projetos é de responsabilidade do governo estadual, embora tenham sido reconhecidos pelo INCRA, em 2001. Trata-se de assentamento em pequenas parcelas, localizadas no entorno dos espaços urbanos. Os Projetos Casulo, da mesma forma que os anteriores, voltam-se para o equacionamento da integração da população ao processo produtivo, ao mesmo tempo em que buscam criar um espaço de abastecimento das áreas urbanas. Constituem-se em 26 Zoneamento Ecológico e Econômico do Estado do Acre 80 uma parceria do INCRA com as Prefeituras Municipais, cabendo a estas a gestão dos projetos. 4.2. O Projeto de Assentamento Moreno Maia O Projeto de Assentamento Moreno Maia está localizado no município de Rio Branco, com acesso pela estrada AC-90 (Transacreana), Rodovia AC-40 na altura do km 20 mais 10 km de ramal, Ramal Riozinho, km 22, Igarapé Caipora e pelo Rio Acre. Criado pela Portaria 39 de 30 de outubro de 1997, o projeto ocupa uma área de 20.828 ha. Com capacidade instalada para 497 famílias, com área média por família de 36,82 ha.Veja-se a localização da área de estudo na imagem 01. Imagem 01: Localização da área de estudo Fonte: Seater 2005 – PDSA Moreno Maia O assentamento possui sete entidades representativas dos assentados. São elas: Associação de Produtores Rurais Paraíso e Remansinho, presidente: José Chagas de Brito; Associação de Produtores Rurais Boa União Três Palhetas, presidente: 81 Cleucilene da Silva Lima; Associação de Produtores e Produtoras Rurais Esperança, presidente: Claudino dos Santos Lima; Associação de Produtores Rurais Comunidade Unida, presidente: Ilma da Silva Almeida; Associação de Produtores Rurais Nossa Senhora de Fátima, presidente: Francisco Carlos Withs de Lima; Associação de Produtores Rurais Unidos do Paraíso, Presidente: Francisco de Assis Nascimento; Associação de Produtores e Produtoras Rurais Bom Jesus, presidente: Rui Cavalcante do Carmo. A posição geográfica do assentamento, segundo o seu próprio PDSA, é descrita das seguintes coordenadas. Inicia no P-01 de coordenadas geográficas longitude 67051’09’’ W e latitude 10017’14’’ S, situado à margem esquerda do rio Acre, divisa com o seringal Itu; deste ponto, segue-se confrontando o referido seringal, com rumo 67056’ NW e distância de 9.900 até o P-02, situado na margem direita do igarapé Caipora; deste, segue-se o curso do citado igarapé, confrontando com os seringais Independência e Riozinho com distância de 43.000m, até o P-03; deste, segue-se novamente confrontando com o seringal Riozinho, com os seguintes rumos e distâncias: 57040’ SE e 2.095m, até o P-04; 90000’ NE e 3.500m até o P-05; 37020’ NE e 905m, até o P-06, situado à margem esquerda do rio Acre; deste ponto, segue-se subindo o rio por sua margem esquerda, com distância de 45.000m até o P-01 inicial do perímetro. As figuras de 1a até a figura 15, objetiva mostrar as características gerais do Moreno Maia. 82 Rio Branco Figura 01 - Área da Regional do Baixo Acre afetada. Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005 Figura 02 - Arco do desmatamento na Amazônia. Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005 Grande parte da Regional do Baixo Acre encontra-se, também, localizada no raio de exploração madeireira. 83 Figura 3 - Raio de exploração madeireira Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005 Esta Regional está dentro dos limites da bacia do Acre com aproximadamente 2.300km2 e é banhada pelo Rio Acre, Riozinho do Rola, Rio Iquiri, Riozinho do Andirá e Rio Antimari e uma rede de igarapés e nascentes que são permanentes, proporcionando um regime hídrico regular, condições que, a priori, favorecem o desenvolvimento agrícola em situação vantajosa, especialmente se for levado em consideração que a área já foi objeto de preocupação da política pública de ordenamento territorial que definiu, em linhas gerais, a separação entre áreas de uso produtivo e de preservação. 84 Figura 4 - Rio Antimari Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005. As áreas de preservação do local são: a Floresta Nacional do Antimari, com uma área de 66.168ha e a Reserva Extrativista Chico Mendes, parcialmente localizada nos municípios de Rio Branco e Capixaba, com uma área de aproximadamente 253.245ha. Ambas são unidades de uso direto. A infra-estrutura é bem servida com rede de estradas, ramais, energia elétrica, transporte e comunicação. No caso dos meios de transporte, prevalece o sistema rodoviário, cuja malha é formada por rodovias federais e estaduais, com pavimentação asfáltica, encontrando-se em bom estado de conservação, sendo composta pelas BR 364 e BR 317 (rodovias federais) e AC 10, AC 90 e AC 40 (rodovias estaduais). A BR 317 foi a primeira rodovia construída no Estado do Acre, inaugurada em setembro de 1968. Recentemente teve sua pavimentação asfáltica concluída no trecho Rio Branco - Assis Brasil, na fronteira com o Peru e Bolívia, possibilitando novas perspectivas para um maior intercâmbio comercial com aqueles países e os mercados andinos e asiáticos. Nascido em Boca do Acre, Estado do Amazonas, atravessa todo o território acreano no lado sudeste, terminando em Assis Brasil. Além de sua importância do ponto de vista da integração regional para o desenvolvimento 85 local, a rodovia tem importância geopolítica fundamental relacionada à integração interoceânica e transcontinental. No município de Rio Branco existe, ainda, um sistema de estradas rurais estruturado perpendicularmente a essas rodovias. Os ramais do INCRA totalizam cerca de 140 km implantados e 240 km em leito natural, dando acesso ao Projeto de Colonização Pedro Peixoto, Projetos de Assentamento Figueira, Vista Alegre, Carão, Benfica, Colibri, Baixa Verde, Boa Água, Moreno Maia, Casulo, Hélio Pimenta, entre outros. Segundo o PDSA do Moreno Maia, há linhas regulares de ônibus interestaduais, ligando a capital a outras regiões do País e, intermunicipais, ligando os diversos municípios desta regional. Para o transporte de cargas, há diversas empresas operando no setor. Esse sistema rodoviário dá suporte às atividades agropecuárias e extrativistas, localizadas próximas aos eixos rodoviários. Comenta também que, embora o sistema rodoviário tenha assumido grande importância na região, o transporte aéreo ainda garante o deslocamento de um grande volume de cargas e passageiros, através de empresas de âmbito nacional e Regional como também de companhias de táxis aéreos. O transporte aéreo teve rápido e substancial desenvolvimento com companhias de pequenas aeronaves atuando na região. Opera hoje no município de Rio Branco um aeroporto internacional com uma infra-estrutura que apresenta condições satisfatórias de pouso e decolagem, servido por duas grandes empresas (TAM e GOL) e uma regional de médio porte (RICO). O transporte fluvial no Moreno Maia, apresenta logística ainda bastante utilizada, embora seja deficiente quanto à infra-estrutura portuária e de navegação, limitando a integração intermodal e o aproveitamento eficiente desta rede. A principal via navegável é o Rio Acre, que dá acesso aos municípios de Xapuri, Epitaciolândia, Brasiléia e Assis Brasil. Ele constitui uma importante via de escoamento para os produtores ribeirinhos, sendo o transporte de passageiros e cargas realizados em embarcações de diferentes calados e capacidades, porque embora os rios sejam, em sua maioria, perenes e apresentem boas condições de navegação durante a maior parte do ano, na estiagem, alguns trechos só permitem a navegação de pequenos barcos, ficando 86 o tráfego das grandes embarcações restrito ao período das cheias, normalmente de outubro a março. Figura 5 - (rio Antimarí) Pequeno barco utilizado no escoamento da produção e transporte dos produtores. Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005 Os serviços de comunicação estão praticamente concentrados no município de Rio Branco. Há serviços de radio, televisão, telefonia celular e provedores de internet. Constam ainda instalações dos correios e telégrafos. Esses serviços são essenciais para facilitar a comunicação e, conseqüentemente, dinamização da economia local. O abastecimento de energia elétrica é realizado pelas usinas termoelétricas da ELETRONORTE, distribuída e comercializada pela ELETROACRE. O município de Rio Branco, em 2001, tinha uma capacidade instalada de 139.210 KW, capacidade disponível de 95.570 KW e demanda máxima de 67.048 KW. O programa de eletrificação rural “Luz no Campo”, até junho de 2002, havia beneficiado 1.497 famílias, num total de 534,968 km de rede, em todo o Estado. O Programa de Energia nas Comunidades Rurais e Florestais – PRODEEM, no ano de 2001, atendeu a 48 comunidades com sistema de energia solar nos postos de saúde e escolas rurais. Os índices de famílias beneficiadas na Regional do Baixo Acre como programa de energia LUZ PARA TODOS/ANO DE 2004, são: 87 Quadro 33 - Rede de energia em km/famílias beneficiadas. Município Km de rede Famílias/beneficiadas Rio Branco 260 1.700 Senador Guiomard 90 450 Porto Acre 80 300 Bujari 45 250 Acrelândia 85 560 Plácido de Castro 100 650 Capixaba 75 650 Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005 Os serviços bancários são realizados por bancos oficiais, (Banco do Brasil, Banco da Amazônia, Caixa econômica Federal) e por bancos particulares. Nos municípios com menor infra-estrutura, os serviços são realizados pelas agências dos Correios. Os serviços de Assistência Técnica prestados aos produtores rurais dessa Regional são realizados pela Secretaria de Assistência Técnica e Extensão Agroflorestal – SEATER, instituição governamental, que disponibiliza um total de 81 técnicos de nível médio (técnicos em agropecuária e florestal e outras formações) e superior (engenheiro florestal, agrônomo, médico veterinário, geógrafo, tecnólogo em heveicultura, pedagogia e outras formações). Tais serviços possuem alto grau de relevância quanto às possibilidades de acesso PRONAF pelo produtor por ser esse agente, quase sempre, o elo de ligação técnica e operacional entre o produtor rural e instituições financeiras. Segundo relatório PDSA Moreno Maia, as unidades de relevo do Projeto de Assentamento Moreno Maia foram estratificadas baseando-se nas informações de fisiografia obtidas no levantamento pedológico e nos pontos georreferenciados coletados em campo, que foram cruzados com as imagens topográficas. O Projeto de Assentamento Moreno Maia está inserido na depressão do Rio Acre-Javari, que se caracteriza por uma ativa e generalizada dissecação e pelo seu posicionamento intermediário logo acima da Planície Amazônica e abaixo dos relevos 88 mais conservados da área. A feição geomorfológica colinosa é talhada da Formação Solimões, onde se desenvolveu uma Floresta Aberta com Palmeiras, Bambus e Cipós. Apresenta relevo de topo pouco convexo, com diferentes ordens de grandeza e de aprofundamento de drenagem separados por vales em “V” e, eventualmente, por vales de fundo plano. São formas de planícies e terraços fluviais, com áreas aplainadas resultantes de acumulação fluvial, periódica ou permanentemente alagada comportando meandros abandonados, ligada com ou sem ruptura de declive a patamar elevado. As áreas que sofrem influência do regime de cheias do Rio Acre são localizadas imediatamente após as terras que margeiam o referido rio, dividindo os lotes em duas porções, terra firme e a que se distribui ao longo da margem do rio, sendo a última destinada às culturas de ciclo longo. 89 Figura 06: Aspecto de relevo suave ondulado a ondulado Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005 Ficou demonstrado no PDSA Moreno Maia que a rede de drenagem do Projeto é composta pelo Rio Acre, pelos Igarapés Caipora e Água Vermelha, sendo que este último tem sua nascente dentro da área do Assentamento, além de vários igarapés de pequeno porte e córregos temporários. Uma característica importante é que muitas nascentes estão localizadas na área do Projeto de Assentamento em função das suas condições geomorfológicas, o que tem implicação direta na disponibilidade de água, principalmente com a intensificação das atividades agropecuárias. Porém com a intensificação da ação humana no local, cabe aqui uma advertência no sentido de que os igarapés, suas áreas e nascentes, devem ser preservados sob pena do gradativo assoreamento e o conseqüente desaparecimento desses recursos, acarretando graves problemas ambientes, econômicos e sociais. 90 Figura 07: Aspecto do Rio Acre, fonte de alimentação e via de transporte do P. A. Moreno Maia. Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005 Os Igarapés Caipora e Água Vermelha são trafegáveis no período chuvoso, entre os meses de dezembro a março. Os mesmos têm baixa potencialidade de pesca, exceto no fenômeno da piracema27 que ocorre normalmente uma vez por ano. O Rio Acre oferece condições de navegabilidade o ano inteiro, observando-se que nos meses de maio a setembro, o transporte só é possível com pequenas embarcações do tipo canoas, apresentando baixa capacidade para o escoamento de produção via fluvial. No Assentamento existem dois lagos naturais, que servem como fonte de alimentação alternativa, através da atividade da pesca de subsistência. Há uma predominância de pequenos córregos temporários no Assentamento, associados com o caráter de baixa permeabilidade dos solos da área, podendo-se definir como zonas para pequenas pescarias28. Constatou-se durante as pesquisas que a ação antrópica é evidente no P. A. Moreno Maia, indicando necessidade de maior ênfase com a proteção dos mananciais e nascentes. A água utilizada para o consumo doméstico diário e dos 27 Cardume de peixes; época em que se manifesta a arribação do peixe fluxial, em grandes cardumes; rumor que fazem os peixes subindo para a nascente, na ocasião da desova. (ver Dicionário brasileiro Globo) 28 Prática de pesca, às vezes, para o complemento das refeições 91 animais é proveniente de vertentes, poços e igarapés. Contudo, foi verificado durante as pesquisas, que em alguns lotes não existe água, obrigando seus proprietários a utilizarem água dos vizinhos mais próximos ou de vertentes localizadas em locais distantes. Porém, este fato não está condicionado a uma limitação dos recursos hídricos, já que a topografia do terreno favorece a construção de açudes em algumas áreas do assentamento, porém a necessidade de investimento financeiro apresenta-se como grande limitador para o procedimento. O Projeto possui capacidade para abrigar 497 famílias, encontrando-se assentadas 476, numa área de 20.828 ha e 41,65 ha de área média por família. A composição média familiar é de cinco membros o que corresponde a aproximadamente 2.300 pessoas residindo nesse espaço territorial. Pode-se afirmar que a população do assentamento responde por 2,33% do total da população rural do município de Rio Branco (98.817) habitantes (Acre em números, 2006) Constatado in loco que a maioria das famílias já residia no local quando da desapropriação, especialmente as moradoras das margens do rio Acre e do Igarapé Caipora, as demais são oriundas da área urbana de Rio Branco e de outros municípios do Estado. Outra evidência importante é a inversão na distribuição populacional por faixa etária. A quantidade relativa vai reduzindo na medida em que a idade vai aumentando, é possível se perceber uma presença pouco significativa de idosos, pessoas acima de 60 anos. Isso se deve ao processo recente de ocupação e a presença de jovens casais à procura de moradia e trabalho. Nas residências localizadas no centro do Assentamento foi possível perceber que as famílias são recém-formadas e com presença de muitos filhos nas faixas etárias que apresentam maior destaque (0-10 e de 11-20 anos). Foi observado também que a distribuição da população, por sexo e idade, realça que a participação das mulheres só ultrapassa a participação masculina nas faixas de 0 a 10 anos e de 21 a 30 anos, sendo significativamente menor na faixa de 11 a 20 anos. Algumas hipóteses podem ser aventadas para explicar essa participação: devido a ser um projeto recente, a presença de jovens casais é dominante, o que explicaria a 92 presença maior de mulheres entre 21 e 30 anos, dado que se constatou que, via de regra, o marido é mais velho; há um deslocamento das adolescentes para a área urbana, em busca de trabalho e/ou estudo, enquanto os rapazes são retidos no campo devido à sua importância como mão-de-obra familiar. Isso estaria apontando para uma baixa retenção da mão-de-obra feminina na área rural, ao mesmo tempo em que seria um indicador da precariedade dos serviços de educação nesse espaço. 4.3 - Infra-estrutura Física e Social A malha viária interna do assentamento é composta de 26 ramais, perfazendo um total de 135 km de extensão. Porém, nem todos os ramais estão abertos e com obras d’arte como pontes e bueiros, dificultando o acesso e transporte de produtos e cargas. Assim, as condições de escoamento da produção e o transporte de pessoal, em muitos lugares do assentamento, deixam a desejar por apresentarem precariedades ou situações mínimas de uso. Figura 08 - Condições dos Ramais internos em épocas chuvosas do Moreno Maia Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005 93 Figura 09: Condições de algumas pontes dos ramais internos do P. A. Moreno Maia Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005 Vale ressaltar que parte dos ramais, que ainda não foram trabalhados pelo INCRA, já recebeu algum tipo de beneficiamento e algumas pontes foram construídas, principalmente, para atender a demandas de compradores de madeira na área do Assentamento. Essa “liberalidade” pode induzir à idéia de que estamos assistindo a presença da força do capital imperando sobre o interesse coletivo dos assentados. Estrutura que foi concebida objetivando essencialmente o fomento da produção familiar. Figura 10 - Ponte sobre Riozinho do Rola – Ramal do Riozinho Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005 94 Durante as pesquisas verificou-se que o assentamento é servido por 11 escolas do ensino Fundamental, que funcionam em estruturas de madeira, de arquitetura simples, geralmente com duas salas de aula, sala de professores e cantina, são elas: Abrahim Isper Junior, Bom Jardim, Capatará, Ena Oliveira de Paula, Floresta, Manuel Tiago Lindoso, Nova Esperança, Padre André Ficarelli, Raimundo Borges da Costa, São Sebastião I e Três Palhetas. Figura 11 - Escola de Ensino Fundamental São Sebastião Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005 Foi construída uma nova escola com estrutura e instalações modernas, onde está funcionando ensino fundamental e médio, localizada no Ramal Remansinho, Gleba 02, Lote 03, próximo à margem do Rio Acre. De acordo com a pesquisa de campo, cerca de 90% das casas visitadas são construídas com madeira beneficiada, com cobertura de telha de amianto, ficando apenas 10% das moradias abaixo do padrão estabelecido pelo INCRA. Isso se dá devido a que nem todas as famílias receberam o crédito habitação, que, de alguma forma, impõe um modelo mais ou menos padronizado de construção. Nestes 10% restantes, pode-se observar casas feitas de madeira rústica, madeira roliça, com cobertura de palha e piso de barro batido. Com relação às condições de saneamento, a grande maioria não possui privada higiênica conforme recomenda a Organização Mundial da Saúde, 95 ensejando este quadro um cenário de vulnerabilidade da qualidade de vida e bem-estar da população. A água utilizada pelas famílias é proveniente de vertentes29 ou cacimba30. Os ribeirinhos servem-se da água do rio. O tratamento da água é feito somente pela filtragem e em alguns casos utilizam o cloro. Algumas famílias ainda consomem água coada e depositada em vasos de plástico. Figura 12 e 13: Tipos de residências existentes no P. A. Moreno Maia Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005 Pela proximidade de Rio Branco, mas ao contrário do que se poderia esperar, o assentamento é dotado de uma infra-estrutura que deixa muito a desejar em termos de produção, distribuição, consumo e organização societária da comunidade, tais como: ramais precários, nível de organização deficiente, nítida ausência das instituições públicas existentes, que deveriam atuar sobre essas estruturas. Por outro lado, observase a presença impregnada de políticas partidárias, que atuando nos moldes do proselitismo, conseguem confundir e iludir o trabalhador. Em contraste, emergem em larga escala as adversidades – condições mínimas para gerar produção no campo associadas à personificação de políticos expressas em panfletos, ensejando parcerias de trabalho e produção social. 29 30 Diz-se das águas que nascem pelas encostas. Veja-se Dicionário de Aurélio (vertente) Escavação no solo, para coleção de águas. Veja-se Dicionário de Aurélio (vertente) 96 Quanto à organização agrária da comunidade, foi observado que alguns lotes são compartilhados por vários membros da família, tendo como forma de trabalho a parceria, onde a produção é distribuída de acordo com o valor do trabalho empregado e do produto gerado. O tamanho dos lotes é variado, entre 4 ha e pouco mais de 90 ha, o que aponta para formas de uso bem específicas. Em caso de lotes abaixo de 4 ha a predominância é da agricultura, especialmente a lavoura branca, porém com grandes problemas de produção e produtividade em decorrência da baixa fertilidade do solo pelo uso contínuo e de não receber as correções de fertilizantes, seja de procedência da indústria química, seja dos processos naturais de decomposição orgânica. Nas áreas onde foi verificada a reconcentração de terras existe uma grande tendência para a pecuária de corte. Isso aponta para um modelo de desenvolvimento bastante diferenciado em termos de utilização da terra e do trabalho no Assentamento. Mantida essa característica nos sistemas de produção, pode-se considerar que o processo de ocupação da terra tende a uma reconcentração. Os assentados, sem perspectivas de consolidar uma estrutura produtiva que responda as suas necessidades de reprodução, se desfazem dos lotes por um valor irrisório, atraindo investidores de produção pecuária. Kautsky (1972) comenta que a grande propriedade agrícola é superior tecnicamente em relação à pequena propriedade e tem como causa a penetração do capitalismo no campo e como conseqüência, a “industrialização da agricultura”. Nesse sentido, a grande propriedade é a melhor “unidade” para desenvolver as atividades capitalistas, logo, a pequena propriedade tende a diminuir ou desaparecer. No caso estudado, dada a forma de organização econômica e social dos assentados, que resulta em baixa capacidade de produção dos seus meios de subsistência, a tendência da estrutura fundiária é caminhar para a reconcentração da propriedade da terra, reinventando o monopólio privado deste meio de produção. Não se trata, a nosso ver, da penetração do capitalismo no campo reproduzindo as forças produtivas e as relações sociais de produção que lhes são peculiares, mas sim de um processo de domínio capitalista em que o mercado de terras sanciona as leis da economia mercantil, onde atua uma fração do capital – o capital agrário – que muitas vezes se organiza à base de relações não-capitalistas de produção, gerando contradições e conflitos sociais no campo. 97 Mapa 01 - Mapa de infra-estrutura do P. A. Moreno Maia. Fonte: Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005 98 Paralelamente, constataram-se in loco as dificuldades de realização da produção no mercado, decorrentes, principalmente, das péssimas condições dos ramais, induzindo os assentados a buscar na pecuária a segurança de uma fonte de renda e, portanto, de subsistência. As condições físicas do assentamento, em alguns lotes, condicionam o sistema de produção, visto que as áreas de várzea possuem aptidão diferenciada para espécies também diferenciadas, mas consta-se a ausência de planejamento orientado para o aproveitamento adequado das aptidões agrícolas da terra. Embora o Estado do Acre já conte com o ZEE como instrumento de comando e controle, este ainda não se converteu em planejamento de uso ordenado da terra nem em política de fomento à organização agrária dos produtores. A produção do Assentamento é diversificada, com predominância de culturas alimentares, que servem para o consumo familiar, com destinação do excedente para o mercado, em períodos estratégicos, nos picos de verão e de inverno. O processo produtivo nessa área é feito da forma tradicional, através da broca, derrubada, queimada, encoivaramento, plantio, tratos culturais e colheita. Nesse sentido disse o produtor Flávio Santos de Oliveira, lote 138: “eu nunca trabalhei diferente, sempre produzi sem outros equipamentos, mesmo porque qualquer outro gasto me tira das condições de trabalho”. O depoimento é esclarecedor quanto ao conservadorismo do “modo de produção” da comunidade, ainda fortemente apegada às formas tradicionais de organização econômica e social da unidade familiar, conservadorismo mantido, muitas vezes, pela ausência de novas opções, seja em função de condicionantes internos da comunidade, seja pela ausência de mecanismos indutores de mudanças que promovam, de fato, a inclusão social politicamente correta da comunidade num “novo mundo rural”, onde o resgate da dignidade humana se dê pelo “trabalho decente”. Entre as culturas agrícolas destacam-se arroz, feijão, milho e mandioca, que constituem a base da alimentação familiar. Outras culturas com forte ligação com o mercado são, principalmente, a banana e o abacaxi. 99 Quadro 34 - Principais Produtos Agrícolas Produtos Produção (T) Área (há) Produtividade Feijão 59,64 99,40 0,6 t/ha Arroz 119,20 99,40 1,2t/ha 159,0 / 238,5 198,80 0,8/1,2t/ha 238,5 198,80 2ton/ha Mandioca 6.759,2 397,60 17ton/ha Banana 382,70 49,70 7,7t/ha Abacaxi 347,2 12,04 28ton/ha Arroz x Milho Milho Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005 A combinação dos fatores de produção se mostra ineficiente. A mão-deobra familiar é limitada pela pouca idade dos membros da família, portanto reduzida; o baixo nível tecnológico influencia diretamente na competitividade dos produtos e a pouca capitalização não permite realizar investimentos que propiciem aumento na produção e na produtividade. E não raro, de forma itinerante, acontece a substituição das culturas anuais pelas pastagens. A rotina do trabalho obedece à forma de plantio de lavouras anuais, seguida de pastagens, isso quando o solo se encontra esgotado para o cultivo de culturas temporárias. A mão-de-obra é principalmente familiar, encontrando-se também o sistema de troca de dias e mutirão, manifestações inquestionáveis de tradições culturais que podem fortalecer processos de organização social e política da comunidade, como mecanismos de coesão para o estabelecimento de estratégias de superação coletiva do estado de subordinação e dependência a que está sujeita. Com baixa tradição agrícola em atividades voltadas para o mercado e descapitalizados, os produtores não empregam técnicas mais modernas de produção como, por exemplo, correção do solo, adubagem, irrigação, tratos culturais adequados, e defesa fitossanitária, etc. Assim, com o precoce esgotamento da terra, tendem a abandonar a agricultura e optar pelo plantio de pasto na área já esgotada em fertilidade ou a deixam em pousio aguardando a recomposição natural da paisagem florística. A pecuária é tida como uma atividade rentável se comparada essencialmente com a produção agrícola de subsistência praticada na área de estudo. 100 Neste caso, a demanda por essa atividade é bem significativa entre as famílias dos entrevistados, cuja exploração é facilitada pela ocorrência de um “investimento” prévio decorrente da preparação e uso da área ocupada pela atividade anterior. A corrida pelo crédito para tal finalidade é uma constante, especialmente o PRONAF, que atende satisfatoriamente, pelo menos em tese, as condições dos parceleiros. O gerente de Operações de Crédito do BASA do município de Rio Branco corrobora com esta constatação, afirmando que: “Os financiamento pela linha FNO no município de Rio Branco possui maior volumes de contratações e de volume de recursos são aqueles voltados para a pecuária, o extrativismo vegetal de castanha, borracha e produtos não-madeireiros é praticamente inexistente. No caso da madeira, a preferência é pela extração de espécies como o cedro e a cerejeira.” No contexto, o significado da pecuária implica em levar o objetivo do PRONAF a descaminho de finalidade afastando a possibilidade da diversificação da produção agrícola e seu escaciamento no mercado, só para exemplificar. No P.A, o escoamento do excedente da produção se dá por via terrestre e fluvial, sendo o custo do transporte um dos principais elementos do preço de mercado da produção comercializada. Os principais elementos da estrutura de preços do excedente são os transportes da sacaria que custa R$ 7,00 o volume. O frete de um veículo é pago ao valor de R$ 240,00. A passagem individual do produtor ou de qualquer pessoa que se desloca para a cidade custa R$ 10, 00, o que por sua vez encarece sobremaneira o preço dos produtos, uma vez que é da venda dos produtores que retiram o dinheiro para cobrir os custos de viagem Cabe destacar que os períodos chuvosos e de seca determinam o tipo de transporte adotado pelos assentados. Nos períodos secos as estradas e ramais, mesmo precários, têm relativa trafegabilidade de veículo tipo pick-up e, quando há um melhoramento nos ramais, trafega ônibus. Já, na época de chuva, o rio Acre e o Igarapé Caipora são as vias de escoamento da produção mais concorridas. 101 Figura 14: Cultura da mandioca Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005 Em termos de produtividade, o destaque é para a mandioca, que apresenta rendimento médio igual ao da Regional (17ton/ha) e abaixo do Estado (18ton/ha). No caso das lavouras permanentes o destaque foi para a produção do café e da banana, visto que estas culturas se encontram na pauta de produtos financiados pelo PRONAF. Em algumas propriedades já aparece a introdução de diversas culturas, constituindo-se num ambiente favorável para a implantação de sistemas agroflorestais ou do estabelecimento da pecuária bovina, uma vez que a pecuária de pequenos animais já faz parte da organização econômica da produção familiar da área estudada. Quadro 35 - Rebanho bovino e tamanho do pasto Produto Unidade Pasto (ha) Produtividade Gado bovino 2.386 6.560 0,32 unid/há Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005 Na produção pecuária destaca-se a bovinocultura mista, ou seja, a criação de gado de corte e para a produção de leite, praticada de forma extensiva, o que se pode constatar no quadro acima, com menos de um animal por hectare. A produção de leite é para consumo familiar e o gado de corte assume uma função extraordinária entre os produtores, como a atividade mais rentável e a de menos riscos no retorno do “capital” investido, tornando-se garantia mais ou menos segura de renda monetária, 102 especialmente nessa economia de baixíssima monetização. Em casos de extrema necessidade, o gado bovino é vendido com certa facilidade, particularmente quando acontecem problemas de saúde na família. Nesse sentido disse o produtor Sebastião da Silva Cardoso, colônia Ouro Preto, assentado do Moreno Maia: “quando eu cultivo mandioca e vou vender o preço é muito baixo e os custo dos transportes alto, e o dinheiro da venda quase não dá pra nada. Isso quando consigo vender ao preço médio de R$ 18,00 reais o saco com 40 quilos. O gado é bem diferente, além de ser gostoso vê-lo crescer, na hora da precisão o retorno é bem melhor.” Em relação ao extrativismo, o destaque é para a atividade madeireira e, de forma tímida, para a coleta da Castanha-do-brasil. No primeiro caso, as espécies que predominam são o Cumaru Cetim (Apuleia molaria), Itaúba (Mezilaurus itauba), Cedro (Cedrela odorata L) e a Castanheira (Bertholethia excelsa kunth), esta última, por imperativa legal, é de extração proibida. Em geral, o m3 (metro cúbico) serrado é vendido a R$ 150,00 e uma árvore em pé é vendida aos madeireiros ao valor de R$ 50,00. Segundo os entrevistados, a vantagem de fazer negócios com esse tipo de mercadoria é que traz em seu bojo, alguns benefícios complementares, como por exemplo, a abertura e melhoria dos ramais que dão acesso ao local das derrubadas. Já a castanha é explorada por assentados com tradição em coleta. Em geral, conseguem tirar até 20 latas31 por safra, o que lhes proporciona uma receita de R$ 140,00, ao preço de R$ 7,00 a lata. A extração do açaí ainda é pouco expressiva, sendo o comércio feito no município de Rio Branco. A pesca artesanal ocorre no igarapé Caipora, no rio Acre e nos dois lagos existentes na área. Esse tipo de atividade, assim como a caça, ocorre com pouca freqüência, pois o produto serve para o consumo das famílias. Segundo relatos, os rios são pouco piscosos e a as espécies existentes não são demandados pelo mercado local. Segundo relatos de moradores assentados, nas áreas de florestas mais densas aparecem, isoladamente, algumas estradas de seringa, contudo, desativadas. As 31 Na região, principalmente na zona rural é muito comum usar-se a medida “lata”, que corresponde a medida de 18 quilos cada. 103 explicações são as mais variadas possíveis, destacando-se o pouco número de árvores, a baixa produtividade e o preço pouco atrativo, mesmo considerando o subsídio oferecido pelo governo estadual32. Outro fator importante é o fato de que nas áreas mais afastadas do eixo dos ramais e estradas, encontram-se assentados de origem urbana e muitas vezes de outros Estados, portanto, sem tradição com a extração da seringa. 4. 4 - Agroindustrialização da produção No quadro 36, é possível observar que o beneficiamento dos produtos é incipiente. O processamento, quando existe, é bastante rudimentar, feito nas propriedades, principalmente no caso do arroz, da cana-de-açúcar e da mandioca. A produção de carvão vegetal é um processo de transformação extremamente simples e, por isso mesmo, é considerado como agroindústria, pelo fato de haver uma transformação de material em um bem distinto, caracterizado pela agregação de valor ao produto, sendo uma atividade que garante um retorno satisfatório, em termos de renda, ao produtor familiar rural. Quadro 36 - Produtos beneficiados Agroindústria coletiva Arroz (beneficiadora) Quantidade 4 Agroindústria individual Vassoura de cipó 1 Derivados de cana (açúcar, rapadura, mel, batida) 5 Farinha de mandioca 21 Produção de carvão vegetal 06 Fonte: Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005 32 Lei . Estadual nº 1.277, de 13-01-99, que concede subsídio de até R$ 0,40/Kg de borracha aos seringueiros produtores de borracha natural bruta no Acre. 104 Figura 15: Carvão vegetal, com aproveitamento de restos de queimadas Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005 A agroindústria coletiva de beneficiamento de arroz é gerenciada pelas quatro associações que possuem em suas estruturas beneficiadoras de arroz que servem à comunidade. Das agroindústrias individuais o destaque é para a produção de farinha de mandioca comercializada no mercado de Rio Branco. O saco de farinha de 50 kg é vendido ao preço de R$ 50,00 a R$ 60,00. Os produtos derivados da cana-de-açúcar como mel, batida, rapadura e açúcar preto (mascavo) são comercializados no próprio assentamento, para os vizinhos, já que a produção é em pequena escala. A utilização de cipós (produtos não-madeireiros) foi verificada em apenas uma propriedade, onde a família produz em média cinco vassouras por semana e comercializa no mercado de Rio Branco ao preço de R$5,00 cada. Beneficiam ainda vinhos de açaí (euterpe oleracea), patoá (Oenocarpus bataua) e abacaba (Attalea pataua) para o consumo da família. Em relação às atividades produtivas não-agrícolas, como artesanato, olaria e outros, não foi identificado nenhum trabalho expressivo que altere a composição da renda familiar e a ocupação de mão-de-obra. Em alguns casos isolados, 105 aparecem atividades como corte e costura e cabeleireiro, que não promovem variação na renda. Quando se trata da realidade rural, a componente renda monetária não é o único e talvez nem o mais expressivo indicador das condições de vida33. Contudo, considerando-se a dependência dos produtores em relação ao mercado para a aquisição de diversos itens fundamentais para sua sobrevivência, ela pode se constituir num fator determinante da permanência ou não do produtor no espaço rural. Com exceção da renda proveniente da farinha de mandioca, as demais atividades de agroindústria (derivados de cana-de-açúcar, vassoura de cipó, subprodutos de mandioca como a goma, tucupi e bolo) são insignificantes se comparadas com outras rendas advindas da pecuária e culturas alimentares anuais juntas. Como fonte de renda complementar, aparecem os trabalhos esporádicos, destacando-se o de operador de motos-serra e diaristas, além da renda gerada com a produção extrativista, especialmente a coleta de castanha, o açaí e a madeira. Com essa renda, segundo os assentados, é possível satisfazer parte das necessidades básicas, especialmente na alimentação e vestuário. As demais necessidades, como saúde e lazer, ficam descobertas, vale dizer, a renda produzida pela produção familiar não é suficiente para financiar estas necessidades elementares. Todos os entrevistados acima de 65 anos recebem benefícios previdenciários, que correspondem a um salário mínimo. Não se identificou aposentadoria do soldado da borracha, mesmo sendo área de antigo seringal. Outro benefício previdenciário identificado foi o de invalidez por deficiência física, pago a duas crianças da comunidade. Nesse contexto particular, foi possível observar que entre as atividades econômicas dos assentados mais recentes (até dois anos nos lotes), responsáveis pela formação da renda da família, predomina a extração de madeira. Isso aponta para um impacto negativo em termos de utilização racional dos recursos florestais, seja pela 33 O produtor pode ter boas condições de produção e isso é fator importante para a sua subsistência, independentemente de realizar ou não a sua produção. Neste caso a sua estrutura produtiva lhe oferece (para a sua família) a oferta de alimentos para o sustento da família e a possibilidade de escambo com uma certa freqüência. 106 exploração predatória e, não menos importante, pela ausência de agregação de valor ao produto. Por se tratar de unidades de produção familiar, o destaque é para a categoria de membro da família não remunerado onde, em média, trabalham quatro pessoas, entre pai, mãe, filhos e agregados. Soma-se a isso o fato de mais de 50 % da população encontrarem-se fora da idade ativa, mesmo sabendo-se que na área rural as crianças começam a trabalhar a partir dos seis anos de idade (idade escolar), ajudando a mãe nas atividades domésticas e criações de pequenos animais e ao pai, na formação e trato culturais dos roçados. A mão-de-obra é distribuída nas atividades produtivas da seguinte forma: Quadro 37 - Calendário Agrícola do Estado do Acre. Culturas Meses do ano Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Feijão Arroz Arroz x Milho Mandioca Banana Café Abacaxi Melancia Preparo da área Plantio Tratos culturais Colheita Comercialização Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005 Pelo calendário de atividades produtivas é possível perceber que o produtor familiar encontra-se ocupado todos os meses do ano. Suas ocupações com as atividades agrícolas se subdividem em preparo da área, plantio, tratos culturais, colheita, beneficiamento e comercialização. Na lavoura anual, cultiva-se o arroz, o feijão, milho e mandioca. Em muitas propriedades utiliza-se o sistema de consórcios de arroz e milho como forma de otimizar o tempo de trabalho empregado. O preparo da área para o feijão e o abacaxi acontece no mesmo período, março e abril. No mês seguinte, se inicia o preparo da área para a melancia, cujo plantio 107 ocorre nas praias do rio Acre e nos arredores do Igarapé Caipora. O preparo da área para o cultivo de arroz e milho ocorre num intervalo de 4 meses, coincidindo com o das culturas de mandioca, banana e café. Nos meses de outubro e novembro se realizam os plantios de arroz, milho, mandioca, banana, café e abacaxi. Já nos meses de fevereiro e março acontecem as colheitas de arroz e milho. Quadro 38 - Calendário extrativista do Estado do Acre. Recursos Meses do ano Naturais Jan Fev Ma Ab Ma Jun Jul Ag Set Out No De extraídos r r i o v z Açaí (Vale do Acre) Seringueira Castanha do Brasil Pesca artesanal Carvão vegetal Coleta Comercialização Consumo Produção Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005. A coleta de castanha-do-pará acontece nos meses de novembro, dezembro e janeiro e a comercialização das amêndoas em casca ocorre nos meses de fevereiro, março e abril. Geralmente este produto é negociado com atravessadores, em forma de escambo. A mão-de-obra empregada com a extração do açaí acontece de forma alternada, entre extração e comercialização, que vão dos meses de março a julho, assim como a extração de madeira, que vai de maio a novembro. A pesca artesanal é somente para o consumo da família, que em alguns casos se confunde com lazer. Já os trabalhos empregados na produção e comercialização de carvão vegetal ocorrem o ano inteiro. 108 Quadro 39 - Calendário pecuário do Estado do Acre. Meses do ano Rebanho Jan Fev Ma Ab Ma Jun Jul Ag Set Out No De r r i o v z Bovino Suíno Aves Animais de serviço Vacinação e medicação Consumo Comercialização Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005. A produção pecuária, segundo os entrevistados, é a atividade produtiva que demanda pouca mão-de-obra e, conseqüentemente, pouco trabalho empregado. As vacinações e medicações acontecem duas vezes ao ano, nos meses de maio e novembro. As aves e os suínos são tratados pelas mulheres e demandam trabalho o ano inteiro. A comercialização dos produtos primários e processados, que excedem o consumo da família, é feita de duas formas: diretamente aos consumidores finais, como é o caso da venda de produtos processados (rapadura, farinha, vassoura) sendo que grande parte da produção é comercializada com vizinhos e nos mercados de Rio Branco e Senador Guiomard. A outra forma se dá pela venda aos atravessadores. Segundo os assentados, os atravessadores, em alguns casos, é um mal necessário, uma vez que as dificuldades de escoamento e comercialização da produção impedem a relação direta com o mercado. A grande presença dos atravessadores no Projeto se dá devido aos seguintes fatores: a) infra-estrutura precária. No Projeto, os ramais principais e vicinais só são trafegáveis no período seco. Em alguns casos, nem mesmo nesse 109 período, pois muitos dos trechos encontram-se em forma de picada34 ou “picadão”. A estrutura de armazenagem é incipiente. Para assegurar a entressafra faz-se o uso de paióis nas propriedades. Esses, em grande maioria, funcionam apenas para garantir o consumo da família durante o ano. No caso dos transportes, este é prejudicado pela falta de organização da produção de forma coletiva, uma vez que a ausência de escala aumenta os custos do deslocamento para o mercado; b) Associações de Produtores pouco atuantes. Existe no Projeto Moreno Maia, sete associações de produtores que atuam no sentido de melhorar as condições sociais e econômicas dos seus associados. Poucas são as ações no sentido de garantir a comercialização da produção, com seus aspectos de qualidade, regularidade, escala de produção e preços competitivos. Os serviços de assistência técnica no Projeto Moreno Maia são de responsabilidade do Estado, portanto, de caráter público e gratuito, ficando a cargo da Secretaria de Assistência Técnica e Extensão Agroflorestal – SEATER. Atuam na área três extensionistas, sendo dois de formação superior (agrônomos) e um de nível médio (magistério). O processo metodológico adotado pela equipe de assistência técnica para o atendimento das famílias se dá de duas formas: 1) através de visitas individuais, especialmente aos produtores tomadores de crédito; 2) de forma coletiva nas associações de produtores, conforme o quadro abaixo: 34 Abertura estreita e precária feita na floresta com terçado ou instrumento similar objetivando passagem temporária de pedestres. São utilizados para demarcação de terras via serviços topográficos, acesso para escoar produtos ou formas de encurtar caminhos ou estradas ou mesmo a substituição destes. 110 Quadro 40 - Assistência Técnica Individual Total de Número de Produtor Produtor Técnico Assistido % de Produtor Assistido Tipo de Assistência Técnica Elaboração de projeto de crédito (PRONAF). 476 03 108 23 Supervisão Creditícia. Orientações técnicas Capacitações. Fonte: Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005 Quadro 41 - Assistência Técnica Coletiva Associaçõ es existentes Associações Produtores Produtores Tipo de assistência assistidas Técnica associados assistidos (%) Apoio técnicoadministrativo e financeiro 07 07 277 58 Organização de associação Apoio às ações comunitárias Fonte: PDSA Moreno Maia, 2005. Pelo número de assentados existentes no Projeto, se evidencia que a quantidade de técnicos é insuficiente para atender ao universo das famílias. No atendimento individual, os três técnicos atenderam apenas 108 dos assentados, sendo que cada técnico prestou assistência técnica e supervisão creditícia a 36 produtores. Para o atendimento ao universo dos produtores, seria necessário que cada técnico atendesse a 158 produtores, um número bem superior ao recomendado pela FAO, que é de 100 produtores por técnico. Já na assistência técnica de forma coletiva há um aumento absoluto em termos de atendimento, passando para 277 os produtores atendidos, nas sete associações existentes. 111 Cabe destacar que o modelo metodológico adotado pela SEATER prevê que o atendimento aos produtores seja realizado de forma integral por dois técnicos, geralmente um da área agronômico-econômica e outro da área social. A opção pela dupla de profissionais está intimamente ligada à compreensão de todo o universo rural, nos seus aspectos econômico, social, cultural, político e religioso. Em alguns casos, os problemas de produção não estão ligados diretamente aos aspectos econômicos e sim às formas de relações sociais que são estabelecidas entre membros da família e membros da comunidade, que influenciam em todo o contexto das relações de produção. Por outro lado, os serviços de assistência técnica apresentam-se deficitários, em decorrência do pouco número de técnicos para responder às necessidades de todos os assentados. O restrito número de técnicos tem limitado a assistência ao atendimento articulado à obtenção de crédito, tendo dessa forma baixo potencial de alterar as condições de produção e produtividade. 4.5 – Crédito PRONAF “A” no período de 2001 /2007: constatação empírica e análise interpretativa Aqui o objetivo principal é identificar a progressão da efetivação de contratos dos produtores rurais no PRONAF “A” no Projeto Moreno Maia, possibilitando, dessa forma, fazer uma comparação entre o número de contratos em relação ao número de assentados. 112 Quadro 42 - Crédito Rural Investimento: Produtores Financiados Ano Numero de Produtores Valor (R$) Agente Financeiro Tipo de Crédito 2001 14 82.420,86 BASA PRONAF A 2002 82 524.806,84 BASA PRONAF A 2003 12 85.315,69 BASA PRONAF A 2004 7 78.850,65 BASA PRONAF A 2005 75 881.528,00 BASA PRONAF A 2006 94 1.101.899,00 BASA PRONAF A 2007 30 467918,00 BASA PRONAF A Total 314 3.222.739,04 Fonte: SEATER 2008 – Gerencia de Créditos. Observa-se claramente que entre 2001 e 2007, ou seja, no lapso de tempo correspondente a sete anos, o universo de 497 produtores rurais, 63% recebeu crédito do PRONAF “A” (quadro 42). Noutra estatística, fornecida pelo INCRA, o crédito concedido pela instituição aos assentados para iniciar a organização da propriedade atendeu a 78% dos daqueles produtores foi concedido para cada família um total de R$ 4.500,00 para custear a alimentação, a construção da casa e aquisição de insumos para o uso nos sistemas de produção (quadro 43). Estatísticas do INCRA também demonstram que outro crédito, o crédito habitação, foi utilizado pelos produtores. As casas foram construídas em madeira beneficiada e cobertas com telha de amianto. Os pagamentos, de início, foram feitos em espécie para cada família, atendendo 220 unidades de produção. Segundo o INCRA, essa forma de pagamento não foi eficiente, passando, posteriormente, a ser feito às associações que também não trouxe qualquer resultado de impacto positivo para o produtor nem para incremento da produção local. A ausência da fiscalização e acompanhamento na execução da política apresenta-se como fator principal para a má utilização dos recursos. 113 Quadro 43 - Crédito estruturação – INCRA: Famílias beneficiadas Número Tipo de Crédito Crédito concedido por Total de Produto Habitação Alimentação Insumos família crédito 3.000,00 500,00 1.000,00 4.500,00 1.746.000 res 388 de Produtores contemplado s (%) 78 Fonte: INCRA Rio Branco Verificou-se que a maioria das casas, cerca de 90%, é construída em madeira serrada e coberta com telha de amianto ou zinco. Possuem três ou quatro cômodos, sala, cozinha, e um ou dois quartos. Foi verificado que algumas casas já apresentam algum conforto, como por exemplo, o uso de energia elétrica ou por placa solar ou gerador, o que permite o uso de eletrodomésticos como geladeira e televisão. É comum encontrar num mesmo lote duas ou três casas. Geralmente é algum parente ou amigo e em outros casos filhos casado. Quanto à constatação empírica resultante desta pesquisa e das análises interpretativas subseqüentes, estas reafirmam-se que o crédito do PRONAF “A” no Estado do Acre não tem sido utilizado na sua generalização nos últimos anos, mesmo possuindo características importantes e favoráveis para os produtores rurais tais como: crédito subsidiado, juros baixos, prazo de carência compatível e amortização de longo prazo, bônus de adimplência para os produtores que pagarem as parcelas em dias, além de ser um programa criado exclusivamente para produtores rurais, neste caso, para agricultores rurais assentados da reforma agrária. A caracterização do crédito do PRONAF foi enfatizada objetivando fornecer informações sobre a sua operacionalização, exigências de requisitos e serem preenchidos tanto por parte das instituições envolvidas no processo, como também por parte dos proponentes ao programa. Associado à caracterização do PRONAF, encaminharam-se procedimentos no sentido de mostrar qual é a estrutura que o Estado possui para recepcionar esse crédito e o seu grau de organização e intervenção das políticas públicas direcionadas. A caracterização do assentamento Moreno Maia, em 114 particular, foi necessária para mostrar que existe relação direta entre o grau de organização do assentamento e o acesso ao crédito. Na caracterização do PRONAF ficou evidenciado que o programa é exigente no sentido de requerer atuação firme e contínua, existir complementaridade e simetria administrativa e operacional entre as instituições envolvidas no processo de sua execução, como INCRA, instituição financeira, instituição de Ater, associações e sindicatos de produtores rurais e do próprio produtor proponente do crédito. Adicionalmente ficou constatado que os problemas enfrentados atualmente pelos agricultores assentados no Moreno Maia, não se resumem, obviamente, apenas à questão do crédito, pois a deficiência política e administrativa do crédito no local, por si só, constitui o problema central da política lenta e descontínua adotada por agentes do governo envolvidos no trato operacional no Moreno Maia.. Houve a produção do espaço, porém um espaço deficiente aos fins propostos, o de dotar o produtor assentado de condições elementares para morar e produzir. Por não possuir vicinais internas e de acesso principal que atenda de modo generalizado e satisfatório às necessidades de transportes, visto que no período das secas o acesso é precário e na época chuvosa é quase impraticável. Também, ha precariedade em assistência técnica tanto qualitativa como quantitativamente. Com isso, uma das conseqüências negativas é que o produtor não tem acesso à Declaração de Aptidão ao PRONAF – DAP, conseqüentemente não tem acesso ao crédito. Observou-se, portanto, que o trato das políticas locais de crédito para os agricultores assentados são concebidas e implementadas de modo dissociado a outras políticas públicas e privadas que complementem e apóiem seus objetivos e os possíveis bons efeitos sociais e econômicos possibilitados pelo acesso à terra e aos financiamentos. Assim, as pesquisas demonstraram que os limites das políticas de crédito se revelam na ausência de ações e procedimentos efetivos dos agentes envolvidos, também de outras políticas, como integração entre os processos de transformação econômica e processos culturais, sociais e políticos, que passam a ser condição necessária para tornar efetivamente o crédito um instrumento de investimento no desenvolvimento. 115 Outro problema detectado durante as pesquisas foi a ausência de treinamentos e capacitações para os agricultores. Atualmente, a SEATER é a única instituição que presta assistência técnica aos produtores, o que torna difícil um atendimento eficaz, porque a SEATER tem suas limitações quantitativas de técnicos em relação à demanda existente. No ambiente institucional de operacionalização do crédito PRONAF, este fato conduz à falta de articulação das políticas de crédito com outras políticas que lhes sejam assessórias e complementares impedindo a obtenção de bons resultados. Na constatação de que, implementados de modo isolado, os programas oficiais de crédito rural dirigidos aos agricultores assentados demonstram, como apresenta-se no decorrer desta análise, mais limites do que possibilidades de realização de potenciais benefícios ao seu público-alvo. No âmbito da gestão governamental destes programas sobressaem, por exemplo, neste estudo, a fraca coordenação política entre as diversas instâncias que os operacionalizam e isso se traduz na construção da “torre de babel”. A falta de coordenação e apoio político se reflete no grau praticamente inexistente de integração destes programas com os objetivos e as iniciativas e atividades realizadas por diversos outros programas, governamentais ou não, cujas ações poderiam contribuir para um maior alcance e impacto dos programas de crédito, essencialmente o PRONAF. Ainda, no desenvolvimento da pesquisa, constatou-se que o formato predominante do sistema bancário é pouco propício a que ele consiga estabelecer uma relação de parceria com produtores. Apesar da boa intenção da política do PRONAF, é inegável a insuficiência do sistema bancário para responder à demanda do público visado pelas políticas públicas: se for verdade que a circulação dos recursos governamentais por meio de organizações de caráter bancário funciona objetivamente como um escudo contra a inadimplência e outros controles, o fato é que os bancos só podem operar selecionando sua clientela com base nos critérios econômicos e contábeis que pautam suas operações, é nesse jogo criterioso que o pequeno produtor rural tende a ficar fora das condições estabelecidas para a obtenção do PRONAF. Cada gerente, via de regra, é responsável pela lucratividade de sua agência e “tende” a privilegiar os clientes capazes de oferecer garantias e contrapartidas. 116 Corroborando com a constatação acima, Guaziroli, (2006) diz que o setor bancário público foi considerado um dos principais responsáveis pela dificuldade de liberação de recursos, pois a rotina destas organizações está pouco adaptada às operações sem garantias patrimoniais e contrapartidas comprovadas por parte das famílias rurais de baixa renda. Como a capacidade de pagamento é o critério principal das agências bancárias, a evolução da liberação dos créditos via PRONAF mantém uma lógica estritamente econômica. Ficou evidenciado durante as pesquisas que na origem das atividades de empréstimo, essencialmente no caso do PRONAF, existe potencialmente uma assimetria de informação entre proponente e concedente, neste caso, entre o banco e o produtor rural, que leva necessariamente a instituição financeira a avaliar o risco de cada operação. O caráter assimétrico e a conseqüente imperfeição da informação obtida traduzem-se em barreiras ao financiamento. O que está em jogo é, de um lado, a incerteza sobre a viabilidade do projeto e de outro a incerteza a respeito da disposição a pagar. Esses fatores irradiam incertezas para os produtores que tendem a afasta-los de procedimentos que objetivam crédito, neste caso o crédito do PRONAF. Desse modo, para o bom desempenho e o fortalecimento da agricultura familiar em assentamentos, a solução pode estar na dependência da capacidade de articulação dos diversos atores sociais envolvidos e comprometidos com a agricultura familiar. Esses atores são: INCRA, instituições de Ater, movimentos sociais, ministérios, governos estaduais e municipais, agentes financeiros, ONGs e outros. Com tudo isso, a política de crédito rural do PRONAF poderá contribuir mais para a ampliação desses espaços de articulação, disseminando informações e descentralizando a tomada de decisões, promovendo um papel mais efetivo nos processos de financiamento da agricultura familiar. A falta de diversificação produtiva que, além de tornar os agricultores excessivamente dependentes do crédito rural, os expõe a desnecessários riscos e vulnerabilidades de clima, pragas e mercados. Para diversificar a produção agropecuária se requer muito mais de capacitação que de complexos mecanismos de intervenção estatal, cujas abundantes burocracias acabam consumindo os escassos recursos destinados à operação de tais mecanismos. Os agricultores do Moreno Maia costumam cultivar 117 espécies que coincidentemente são adquiridas em poucas quantidades pelos consumidores de menor potencial econômico (mandioca, milho, feijão, abóbora, arroz, batata doce, etc.). O governo do Estado tem conhecimento dessa realidade e em um encontro que reuniu os trabalhadores rurais dos vinte e dois municípios do Estado, além dos prefeitos e outros representantes de movimentos sociais, o governador Binho Marques anunciou a concretização do Pacto Agrário e destacou: Em linhas gerais, o pacto pretende estabelecer novos investimentos no capital comunitário do Acre, nas áreas da política agrária, infra-estrutura, assistência técnica, crédito, saúde, educação e fóruns deliberativos para incentivar os conselhos de desenvolvimento sócioeconômico e sócio-ambiental em escala municipal e estadual para deliberar sobre o setor. (Jornal O Página 20, de 25 de agosto de 2007) As principais dificuldades enfrentadas pela política de crédito para se expandir entre a produção na área pesquisada, além das resultantes da falta de boas práticas no trato operativo das normatizações próprias do PRONAF, a ausência das instituições de apoio. A escala de tempo do produtor não se equaciona com a das instituições financeiras, ou seja, quase sempre os recursos são liberados fora do cronograma do produtor. As informações levantadas durante a pesquisa de campo demonstraram que os níveis de organização e participação política dos produtores são frágeis (associações e sindicatos), bem como os resultados ou benefícios obtidos a partir da criação destas, resumem-se apenas em aquisição, raras vezes, do crédito agrícola. Outro fator importante observado é que em função da inexistência de uma consistência na organização, a diretoria, que muitas vezes é representada unicamente pela pessoa do presidente, acaba tomando para si a tarefa de “buscar coisas novas” para os associados. Nesse caso o processo de assessoramento ao crédito torna-se mais complexo ainda. Com a presença instável e desordenada por parte do poder público, o Moreno Maia caracteriza-se como uma área de assentamento em que a atividade é 118 tímida em termos de produção, muito embora ali exista uso de recursos públicos e “estratégias” de políticas públicas para fomentar a agricultura familiar e, ao que tudo indica, caminha para um processo de reconcentração fundiária, dado o avanço da pecuária ali constatado. Com isso, a lógica do discurso proferido insistentemente pela esfera das políticas públicas adotadas pelo Estado tende a ruir sem alcançar resultados positivos para o pequeno produtor rural. Nesta oportunidade é recomendável analisar em que situação se encontram os produtores assentados em assentamento que sequer possuem o seu Programa de Desenvolvimento Sustentável - PDS Infra-estrutura, condição essencial para o desenvolvimento sócioeconômico do assentamento Moreno Maia, foi bastante enfatizada como sendo ainda ineficientes para os propósitos do desenvolvimento local. Nesse espaço, o ramal que dá acesso às propriedades funciona em condições regulares somente nos seis meses de seca. No período chuvoso, quando a produção alcança seu pico, somente veículos apropriados conseguem romper a lama. Isso compromete não apenas o escoamento da produção, mas dificulta ou inviabiliza o acesso aos serviços básicos, como saúde e educação. Esses fatores influenciam negativamente em decisão futura em relação à contratação de crédito por parte dos produtores. Na institucionalidade do PRONAF, os extensionistas são responsáveis pela elaboração e acompanhamento de projetos técnicos. A qualidade técnica destes projetos e os processos de acompanhamento e assessoria aos agricultores do Moreno Maia colocam em questão o papel dos extensionistas na execução do Programa. Os projetos se tornaram, na maioria dos casos, peças técnicas para justificar a viabilidade econômica dos financiamentos aos bancos, pouco se relacionando com estratégias mais amplas de promoção do desenvolvimento rural nas localidades ou regiões onde são executados. O trabalho de assessoria e assistência técnica, por sua vez, padece de desestruturação, por parte do governo, da única entidade estadual de extensão rural e dos limites impostos à construção de parcerias com organizações não-governamentais e privadas de prestação de serviços de extensão rural. Os bancos, de um modo geral, fazem vistas grossas às condições e especificidades dos agricultores e não se interessam em obter informações mais precisas nem tampouco em construir relações mais próximas e cooperativas com os agricultores. 119 Por isso, elaboram um processo seletivo adverso, isto é, elevam o rigor das exigências e ao fazê-lo excluem de sua clientela parte importante dos agricultores e dos projetos técnicos que lhes são submetidos pelos extensionistas. Ficou evidente durante as pesquisas que a tentativa de acesso ao crédito significa, para os agricultores, ter disponibilidade de tempo, de energia e de recursos financeiros para se deslocarem até as agências bancárias, providenciarem os documentos exigidos. Como os bancos não vão aos agricultores, são eles próprios que têm que arrumar maneiras para chegar até aos bancos. Também é importante considerar que as viagens até às cidades são várias, tantas quantas forem necessárias para, além de apresentar a documentação ao banco, providenciar documentos exigidos. A falta de informações dos agricultores sobre a existência e as demandas do Programa, que muitos autores consideram excessivas, é um outro fator determinante das dificuldades de acesso ao crédito. As regras, normas, condições de enquadramento, limites de crédito etc. são parâmetros distantes da realidade dos agricultores do Moreno Maia que não têm algum mecanismo contábil para gerir sua produção. O desconhecimento das “regras do jogo” e a falta de apoio para compreendê-las, ou os afasta de imediato da possibilidade de contratação do crédito, fazendo-os desistir ante a enorme demanda burocrática, ou é por eles desconsiderada. Os bancos, por sua vez, também querem desconhecer a diversidade das lógicas próprias dos sistemas sociais e produtivos que caracterizam a exploração agrícola familiar local. O estabelecimento de relações mais próximas com os agricultores demandantes de crédito tende a ser visto como oneroso, sem potencial de retorno financeiro. Assim, a cooperação dá lugar a relações autoritárias nas quais os agricultores representam o elo mais fraco, cumprindo as demandas e exigências preestabelecidas pelos agentes financeiros. Fica clara a distância entre os bancos e as boas intenções da política pública de promoção do desenvolvimento rural, neste caso, a operacionalização do PRONAF. Disso conclui-se que a limitada capacidade operacional do INCRA e dos serviços estaduais de assistência técnica e extensão rural, associada a impossibilidade dos bancos em prestar apoio aos agricultores, explica em parte, o elevado percentual de produtores que não acessaram o PRONAF. Os atrasos nos processos de liberação dos 120 recursos do PRONAF representam outro problema na participação dos agentes financeiros na gestão do Programa. Geralmente, o tempo da burocracia bancária não entra em acordo com o tempo agrícola em que os recursos deveriam estar disponíveis aos agricultores. No cenário local, constata-se a crise institucional das agências estaduais de extensão rural. Como resultado, de forma generalizada, os projetos elaborados apresentam baixa qualidade e são, às vezes, devolvidos pelo banco aos extensionistas para serem revistos, acarretando demoras na contratação e, muitas vezes, a não contratação dos recursos. O processo de elaboração de projetos técnicos para o PRONAF A se transformou, em alguns casos, em verdadeiras “linhas de montagem”, ou “receita de bolo” na elaboração dos projetos. Quando do acompanhamento dos projetos, após a contratação e desembolso dos recursos pelos bancos, a falta de estrutura das empresas estaduais de extensão rural é fator mais referido como explicação à presença esporádica dos extensionistas junto aos agricultores e a descontinuidade dos serviços. Na prática, na maior parte do tempo, os agricultores permanecem desassistidos. Por fim, com a implantação do programa no município de Rio Branco, a análise erguida neste trabalho mostra que é imperativo, antes de qualquer ação, reorganizar e fortalecer as instituições como o INCRA, organizações que representam os trabalhadores rurais, aumentar a quantidade e a qualidade da assistência técnica disponível e, acima de tudo, estimular práticas coletivas e solidárias que favoreçam a remoção dos obstáculos colocados pela burocracia bancária no transcorrer do processo de liberação do crédito rural. Sem superar esses desafios, dificilmente o PRONAF poderá contribuir efetivamente para o desenvolvimento da agricultura familiar nos pequenos municípios da região Norte do Brasil. 121 V - Considerações Finais Na estrutura deste trabalho, em que o caráter discursivo predominou, pode-se verificar que os assuntos tratados possuem a condição de também serem conclusivos por fornecerem informações que foram buscadas nos objetivos propostos, o de identificar as razões que explicam o baixo acesso dos agricultores assentados no Projeto Moreno Maia aos recursos da política de crédito rural – PRONAF, em especial o Grupo “A”, e dentro do objetivo geral mostrar quais atores envolvidos e a estrutura existente no município para apoio e operacionalidade ao programa; analisar os problemas e os limitantes da política de crédito rural PRONAF no processo de desenvolvimento local. Mesmo assim, é oportuno destacá-los a título destas considerações finais, como também fornecer informações que proporcionem reflexões e exames sobre o atual quadro em que o crédito do PRONAF é operacionalizado no Estado. A hipótese levantada neste trabalho é confirmada indicando dificuldades por parte dos agentes envolvidos na operacionalização do programa, prioritariamente o INCRA, Entidades de Assistência técnica e instituição financeira. Neste caso em particular, o Banco da Amazônia. As dificuldades de acesso por parte dos produtores rurais ao programa remontam deste a sua implantação no Estado em 2001. Fatos confirmados pelo expressivo volume de recursos destinados ao PRONAF e o valor contratado conforme pode-se constatar no Quadro 23. Os fatos geradores da pouca utilização dos recursos do programa por parte dos produtores recaem, portanto sobre a ineficiência administrativa e operacional das instituições de assessoramento ao programa. Desse modo, o PRONAF no estado precisa que os agentes do processo de feitura do programa interfiram de maneira mais participativa nas relações e mecanismos sociais, possibilitando a construção e reconstrução do espaço rural, assim, permitindo a melhoria das relações entre as instituições representativas da agricultura familiar e o agente financeiro que realiza a intermediação do crédito agrícola junto aos agricultores familiares. 122 A intervenção do Estado junto ao setor agrícola tem por objetivo regular as distorções do mercado, através da garantia de preços e rendas para os agricultores, e estimular a produção doméstica, de modo que o abastecimento alimentar, especialmente urbano, não seja comprometido pela escassez de produtos e por preços internos muito elevados. Paradoxalmente, o mercado acreano é abastecido por muitos produtos agrícolas oriundos de outros Estados da federação como o milho, cebola, tomate, alho, pimenta do reino, apenas para citar alguns, em decorrência da inexpressiva produção interna. As pesquisas evidenciaram que os produtores rurais da região não sabem em que mãos estão entregues, demonstrando desconhecimentos sobre as políticas públicas voltadas ao setor agrícola e como elas funcionam. Essa constatação evidencia a falta de comunicação entre as instituições envolvidas no processo de dinamização do setor. Com relação ao futuro do nosso rural acreano, cabe destacar que este espaço precisa ser construído e assumir novos contornos na busca de sua integração às dinâmicas modernas e à sociedade. Deste modo, torna-se evidente a necessidade da agricultura familiar conectar-se ao seu tempo e espaço, onde o peso das políticas públicas assuma o papel articulador desse processo. Na operacionalização do programa ações desarticuladas são insuficientes e incapazes de gerar mudanças efetivas no público beneficiário, fazendo com que o programa não atinja os seus reais objetivos. Se viabilizado, o crédito, no entanto, é apenas um item no conjunto de carências existentes no meio rural acreano. Nesse sentido, não só as diferentes linhas de atuação do PRONAF devem estar articuladas, como também são necessárias medidas que viabilizem o desenvolvimento dos espaços rurais e que possam romper com a tradicional exclusão dessas comunidades. O quadro heterogêneo da agricultura acreana é refletido nos amplos espaços rurais, onde predomina uma precária agricultura de subsistência, excluída do processo de modernização. Considerando o grande contingente da população rural, a 123 agricultura familiar pode assumir uma posição estratégica na construção de alternativas para a geração de emprego e renda, contribuindo para o crescimento econômico e para a redução da pobreza rural e urbana. Enfim, o desenvolvimento regional. 124 VI - Referências Bibliográficas: ABRAMOVAY, R. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. São Paulo: Anpocs; Unicamp: Hucitec, 1992. 150p. ABRAMOVAY, Ricardo e VEIGA, José Eli (1999) – “Novas Instituições para o Desenvolvimento Rural: o Caso do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF)” – IPEA – Texto para Discussão n° 641 ACRE. Acre em números 2006. SEPLANS. Acre, 2006. ACRE, Governo do Estado do Acre. Programa Estadual de Zoneamento EcológicoEconômico do Estado do Acre Fase II: documento síntese. Rio Branco: SEMA, 2006, 356p. AGUIAR, G. M. Agricultores do Nordeste. Petrópolis, Vozes, 1985. ALENTEJANO, Paulo Roberto R. 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Pronaf Grupo A Complemen tar Agricultores(as) assentados(as) pelo Programa Nacional da Reforma Agrária – PNRA do INCRA, beneficiários(as) do Programa Nacional de Crédito Fundiário – Investimento. PNCF que contrataram até 01/08/2002 e/ou beneficiários do Programa de Recuperação de Assentamentos – PRA do INCRA. FINALIDADE CRÉDITO/TETO JUROS BÔNUS DE ADIMPLÊNCIA (2) PRAZO CARÊNCIA Até 5 anos De 45% se houver dependendo Estruturação dos lotes assistência técnica do projeto Até R$ 16,5 mil + R$ 0,5% a.a. ou 40% nos demais Até 10 anos. dos (as) 1,5 mil p/ ater. técnico ou até casos aplicados em assentados(as). 3 anos nos cada operação. demais casos. Recuperação das Unidades Familiares dos(as) agricultores(as) assentados(as). Até R$ 6 mil. 1% a.a. Não contempla. Até 10 anos. Até 3 anos. 130 Pronaf A/C Pronaf B Produtores(as) egressos(as) do Grupo A ou do PROCERA. Custeio (1)(3). De R$ 200,00 em De R$ 500,00 até R$ cada operação, Custeio de atividades 3,5 mil (até 3 1,5% a.a. restrito a apenas um agropecuárias. operações). bônus por ano agrícola. Investimento e custeio no caso Agricultores(as) da mamona familiares com renda para o bruta anual de até R$ 4 Programa mil. Nacional do Biodiesel. Investimento para atividades agropecuárias e nãoagropecuárias Até R$ 1,5 mil por operação. desenvolvidas no meio rural e custeio da mamona para o Programa Nacional do Biodiesel. De 25% aplicados em cada operação até o valor acumulado financiado de R$ 4 0,5% a.a. mil. Após o limite de R$ 4 mil, operações sem bônus de adimplência. Até 2 anos. Até 2 anos. Não se aplica. Não se aplica. Pronaf C Investimento e custeio Investimento: R$ para atividades Agricultores(as) 700,00 por agropecuárias, turismo Investimento: de R$ Investiment Investimento: familiares com renda produtor(a); (até 2 rural, artesanato e 1,5 mil até R$ 6 mil o: 2% a.a. até 8 anos. Investimento: Investimento(5) bruta anual acima de operações) Custeio: outras atividades no Custeio: de R$ Custeio: até 2 até 5 anos. e Custeio R$ 4 mil e até R$ 18 Custeio: R$ 200,00 3% a.a. anos. meio rural de acordo 500,00 até R$ 5 mil (1)(3)(4). mil. por produtor(a); com projetos (até 6 operações) específicos. Pronaf D Investimento e custeio para atividades Agricultores(as) agropecuárias, turismo Investimento: até R$ Investiment familiares com renda rural, artesanato e 18 mil o: 2% a.a. bruta anual acima de Investimento(5) outras atividades no Custeio: até R$ 10 Custeio: e Custeio R$ 18 mil e até R$ 50 mil 3% a.a. meio rural de acordo (1)(3)(4). mil. com projetos específicos. Não contempla. Investimento: até 8 anos. Investimento: Custeio: até 2 até 5 anos. anos. 131 Pronaf E Investimento e custeio para atividades Agricultores(as) agropecuárias, turismo Investimento: até R$ familiares com renda Investimento(5) rural, artesanato e 36 mil 5,5%a.a.. bruta anual acima de e Custeio (1). outras atividades no Custeio: até R$ 28 R$ 50 mil e até R$ 110 mil meio rural de acordo mil. com projetos específicos. Produtores (as) familiares, cooperativas Pronaf e associações que Investimento. Agroindústr desejam beneficiar ou ia industrializar a produção. Investimento para implantação de pequenas e médias agroindústrias ou ampliação, recuperação e modernização de unidades agroindustriais. Pronaf Custeio Agroindústr Produtores (as) ias familiares, cooperativas Familiares e e associações que desejam beneficiar ou Custeio. de industrializar a Comercializ produção. ação da Agricultura Familiar Custeio para Crédito Individual: beneficiamento, até R$ 5 mil industrialização e Crédito formas comercialização da associativas: até R$ 2 produção. milhões Pronaf Cota-Parte Agricultores(as) familiares Custeio, filiados(as) à Investimento e cooperativas de produção de produtores capital de giro. Até R$ 18 mil Integralização de cotas-partes, aplicação Crédito Individual: até R$ 5 mil em capital de giro, custeio ou 2% a.a. para os Grupos A/C, B, C e D. Não contempla. Investimento: até 8 anos. Custeio: até 2 anos. Não contempla. Até 8 anos. Até 16 anos no Até 5 anos. FNE, FNO, FCO. Não contempla. Até 12 meses. Não se aplica. 5,5% a.a. para o Grupo E. 4% a.a. 4% a.a. Não contempla. Até 5 anos. Até 6 anos para A ser investimento definido no fixo. projeto Até 3 anos nos 132 rurais. Pronaf Mulher Pronaf Jovem Pronaf Convivência com o SemiÁrido Mulheres agricultoras Investimento independente do estado (uma única civil. operação de crédito). investimento. demais casos. Grupos A, A/C e B: Grupos Investimento para até R$ 1,5 mil Grupos A,A/C e B: A,A/C e B: atividades Grupo C: até R$ 6 de 25% sobre cada agropecuárias, turismo 0,5% a.a. parcela. mil. Grupos C e rural, artesanato e Grupo C: R$ Grupo D: até R$ 18 outras atividades no D: 2% a.a. 700,00 por mil Grupo E: meio rural de interesse produtora. Grupo E: até R$ 36 da mulher agricultora. 5,5% a.a. mil Grupos A, A/C Grupos C, D e B: até 2 anos. e E: até 5 Grupos C, D e anos. E: até 8 anos. Jovens agricultores (as) familiares, entre 16 a Investimento 29 anos, que tenham no (uma única mínimo 100 horas de operação de cursos ou estágios. crédito). Investimento para atividades agropecuárias, turismo rural, artesanato e outras atividades no meio rural de interesse do(a) jovem agricultor(a) rural. Até R$ 6 mil 1% a.a. Não contempla. Até 5 anos dependendo do projeto Até 10 anos. técnico e até 3 anos nos demais casos. Agricultores (as) familiares enquadrados(as) nos Grupos: A, A/C, B, C Investimento. ou D. Investimento em infra-estrutura hídrica (50% do valor) e demais infraestruturas de produção agropecuária. Até R$ 6 mil 1% a.a. Não contempla. Até 10 anos. Até 3 anos. 133 Pronaf Floresta Agricultores(as) familiares dos Grupos: A, A/C, B, C ou D. Investimento. Recursos do FNE, FNO, FCO (6), Grupo B: até R$ 2 mil Grupo C: até R$ 8 mil Implantação de Grupo D: até R$ 12 projetos de sistemas mil agroflorestais, Recursos dos Fundos exploração extrativista para outras ecologicamente finalidades ou sustentável e plano de recursos das demais manejo e manejo fontes florestal. Grupo B: até R$ 1,5 mil 2% a.a. Não contempla. FNE, FNO, FCO: até 16 Até 8 anos. anos. Outras Fontes: até 12 anos. Grupo A, A/C e C: até R$ 5 mil Grupo D: até R$ 7mil Pronaf Agroecologi a Agricultores(as) familiares enquadrados(as) nos Grupos: C ou D ou E, que desenvolvam Investimento. sistemas de produção agroecológicos e/ou orgânicos. Grupo C: até R$ 6 Investimento para Grupos C e mil implantação dos D: 2% a.a. sistemas de produção Grupo D: até R$ 18 Grupo E: mil agroecológicos e/ou 5,5%a.a. orgânicos. Grupo E: até 36 mil Não contempla. Até 8 anos. Até 3 anos. 134 Pronaf ECO Sustentabili dade Ambiental Agricultores familiares enquadrados nos Grupos C, D ou E. Investimento. Investimento para implantação, utilização ou recuperação de tecnologias de energia Grupo C: até R$ 6mil Grupo D: até R$ renovável, 18mil biocombustíveis, Grupo E: até R$ armazenamento 36mil hídrico, pequenos aproveitamentos hidroenergéticos e silvicultura. Grupos C e D: 2% a.a. Grupo E: 5,5% a.a. Até 8 anos para projetos de silvicultura e Até 12 anos 3 anos ou até para projetos de Não contempla. silvicultura e 5 anos nos até 8 anos nos demais casos, demais casos. dependendo do projeto técnico. Quanto às garantias – consulte o Banco, pois há casos em que não são exigidas garantias, apenas garantia pessoal do produtor(a). 1. Nos casos dos custeios agrícolas é obrigatória a adesão ao PROAGRO MAIS, para o Grupo E, pode-se optar entre o Proagro e o Proagro Mais. 2. O (A) produtor(a) somente fará jus ao bônus se pagar as parcelas do financiamento em dia. 3. Os limites de crédito de custeio podem ser elevados em 30% quando destinados as lavouras de arroz, feijão, mandioca, milho e trigo. 4. Os limites podem ser ampliados em 50% para projetos de bovinocultura de corte ou de leite, bubalinocultura, carcinicultura, piscicultura, fruticultura, olericultura e ovinocaprinocultura, avicultura e suinocultura desenvolvidas fora do regime de parceria ou integração com agroindústrias; sistemas agroecológicos ou orgânicos de produção. 5. Os limites podem ser ampliados em 50% para projetos de bovinocultura de corte ou de leite, bubalinocultura, carcinicultura, piscicultura, fruticultura, olericultura e ovinocaprinocultura e em projetos de infra-estrutura hídrica, inclusive aquelas atividades relacionadas com projetos de irrigação e demais estruturas produtivas que visem dar segurança hídrica ao empreendimento; avicultura e suinocultura desenvolvidas fora do regime de parceria ou integração com agroindústrias; sistemas agroecológicos ou orgânicos de produção; atividades relacionadas com o turismo rural; aquisição de máquinas, tratores e implementos agrícolas, veículos utilitários, embarcações, equipamentos de irrigação, equipamentos de armazenagem e outros bens dessa natureza destinados especificamente à agropecuária, exceto veículos de passeio. 6. Exceto para os Grupos A e A/C 7. Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar – PGPAF: Garantia de preços para os agricultores(as) familiares que acessaram os créditos de custeio a partir da safra 2006/2007 para a produção de milho, mandioca, arroz, feijão, soja e leite. Fonte: WWW.mda.gov.br < acessado em 10 de outubro de 2007 > Livros Grátis ( http://www.livrosgratis.com.br ) Milhares de Livros para Download: Baixar livros de Administração Baixar livros de Agronomia Baixar livros de Arquitetura Baixar livros de Artes Baixar livros de Astronomia Baixar livros de Biologia Geral Baixar livros de Ciência da Computação Baixar livros de Ciência da Informação Baixar livros de Ciência Política Baixar livros de Ciências da Saúde Baixar livros de Comunicação Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE Baixar livros de Defesa civil Baixar livros de Direito Baixar livros de Direitos humanos Baixar livros de Economia Baixar livros de Economia Doméstica Baixar livros de Educação Baixar livros de Educação - Trânsito Baixar livros de Educação Física Baixar livros de Engenharia Aeroespacial Baixar livros de Farmácia Baixar livros de Filosofia Baixar livros de Física Baixar livros de Geociências Baixar livros de Geografia Baixar livros de História Baixar livros de Línguas Baixar livros de Literatura Baixar livros de Literatura de Cordel Baixar livros de Literatura Infantil Baixar livros de Matemática Baixar livros de Medicina Baixar livros de Medicina Veterinária Baixar livros de Meio Ambiente Baixar livros de Meteorologia Baixar Monografias e TCC Baixar livros Multidisciplinar Baixar livros de Música Baixar livros de Psicologia Baixar livros de Química Baixar livros de Saúde Coletiva Baixar livros de Serviço Social Baixar livros de Sociologia Baixar livros de Teologia Baixar livros de Trabalho Baixar livros de Turismo