ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA PLATÃO Para Platão o homem é corpo e alma, sendo a alma o que realmente somos e o corpo como se fosse apenas algo material que nos segue. A antropologia filosófica de Platão sugere que o verdadeiro homem é um ser imortal, cujo nome próprio é a alma, que entra na comunhão dos deuses. O homem é uma união do corpo e da alma, sendo o corpo considerado apenas um veículo da alma. A alma é propriamente o homem, sendo o corpo uma sombra. Mas esta união é infeliz, pois o corpo serve como uma prisão para a alma, e ela só atingirá a verdade do que busca quando se desprender do corpo. Platão repete a expressão de Pitágoras que considerava o corpo como o túmulo da alma. Segundo o pensamento de Platão, a origem da alma está no Demiurgo, todas as almas humanas são feitas pelo próprio Demiurgo, o qual criou todas individualmente, as entregou para o seu destino seqüencial, aos “deuses criados”, à terra e aos planetas, para introduzirem a alma na existência, revesti-la de um corpo, nutrir o homem e deixá-lo crescer para depois recebê-lo de novo quando deixar esta vida. Para Platão a alma é uma substância invisível, imaterial, espiritual. Só quando é entregue ao instrumento do tempo é que ela se une ao corpo, e só então nascem as percepções. Em sua obra “A República”, Platão define três partes da alma: a alma racional ou espiritual que se manifesta no pensamento puro e na contemplação supra-sensível; a alma irascível à qual pertencem as nobres excitações como a cólera, a cobiça, a coragem e a esperança; e alma concupiscível, onde tem a sua sede os instintos da nutrição e do sexo, como o prazer e o desprazer. Todo o interesse de Platão pelo homem se concentra, portanto, na alma, e a sua antropologia é essencialmente uma psicologia. SÓCRATES Depois de algum tempo seguindo os ensinos dos naturalistas, Sócrates passou a sentir uma crescente insatisfação com o legado desses filósofos e passou a se concentrar na questão do que é o homem – ou seja, do grau de conhecimento que o homem pode ter sobre o próprio homem. Enquanto os filósofos pré-socráticos, chamados de naturalistas, procuravam responder à questões do tipo: “ O que é a natureza ou o fundamento último das coisas?”; Sócrates, por sua vez, procurava responder à questão: “ O que é a natureza ou a realidade última do homem?” A resposta a que Sócrates chegou é a de que o homem é a sua alma – psyché, por quanto é a sua alma que o distingue de qualquer outra coisa, dando-lhe, em virtude de sua história, uma operante ou a consciência e a responsabilidade intelectual e moral. Esta colocação de Sócrates posteriormente exerceu e ainda exerce uma influência profunda em toda a tradição européia até hoje. Ensinar o homem a cuidar de sua própria alma seria a principal tarefa a ser desempenhada por Sócrates e por todos os filósofos autênticos. Sócrates acreditava ter recebido essa tarefa por Deus, dizia que era a ordem de Deus. Procurava persuadir a jovens e velhos a cuidar não só do corpo, nem exclusivamente das riquezas ou de qualquer outra coisa mais fortemente do que da alma, antes de qualquer coisa. Segundo ele, é do aperfeiçoamento da alma que nascem as riquezas e tudo o que mais importa ao homem e ao Estado. Para Sócrates o homem usa o seu corpo como instrumento, o que significa que a essência humana utiliza o instrumento, que é o corpo, não sendo, pois, o próprio corpo. Assim, para a pergunta: “o que é o homem?”, não seria lógico responder que é o seu corpo, mas sim que é “aquilo que se serve do corpo”, que nada mais é do que a psyché ou a alma. Na visão de Sócrates, esta mesma alma seria imortal e fadada a reencarnar tantas vezes fosse necessárias até a alma se aperfeiçoar de tal forma que não precisasse mais voltar a este planeta. ARISTÓTELES Aristóteles diverge de Platão quando afirma que todo o ser vivo tem uma só alma e que o corpo humano não é obstáculo, mas instrumento da alma racional, que é a forma do corpo. Para Aristóteles o homem é uma unidade substancial de alma e de corpo, em que a primeira cumpre as funções de forma em relação a matéria, que é constituída pelo segundo. O que caracteriza a alma humana é a racionalidade, a inteligência, o pensamento, pelo que ela é espírito ou alma racional. Mas a alma humana desempenha também as funções da alma sensitiva e vegetativa (alma sensitiva é precisamente a sensibilidade e a locomoção, e alma vegetativa é a nutrição e a reprodução), sendo superior a estas. Assim, a alma humana, embora sendo uma e única, tem várias faculdades e funções, porquanto se manifesta efetivamente com atos diversos. Segundo a visão aristotélica, as faculdades fundamentais do espírito humano são duas: teorética e prática, cognoscitiva e operativa, contemplativa e ativa. Cada uma destas se divide em dois graus: sensitivo e intelectivo, considerando que o homem é um ser racional, quer dizer, não é um espírito puro, mas um espírito que anima um corpo animal.