AS ORGANIZAÇÕES E A BUSCA POR LEGITIMIDADE NO CONTEXTO
TERRITORIAL
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Apresentação Oral-Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e
Cadeias Agroindustriais
JANAÍNA BALK BRANDÃO; RAQUEL BREITENBACH; CÁSSIO ALEXANDRE
BERTOLDO.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, SANTA MARIA - RS - BRASIL.
As organizações e a busca por legitimidade no contexto territorial
Grupo de Pesquisa: Estrutura, Evolução e Dinâmica dos sistemas Agroalimentares e
Cadeias Agroindustriais.
Resumo
O presente artigo procura estabelecer algumas conexões teóricas que auxiliem na
compreensão de uma dinâmica emergente que tem se estabelecido entre agricultores,
supermercados e consumidores. As diferentes perspectivas são apresentadas de forma
crítica, e vão desde a consideração da importância da teoria dos stkaholders, até o
entendimento da busca de legitimidade como elemento norteador de muitas ações nas
organizações, para além da racionalidade puramente econômica. A concepção da
relevância do ambiente externo nas relações e intercâmbios inerentes as organizações e a
interdependência existente, também são fatores apresentados neste estudo. Ao final, além
de procuramos identificar os pilares que sustentam a teoria institucional, enfatizando a
perspectiva cognitiva, apontamos alguns pressupostos da teoria dos custos de transação que
são de interesse nas relações de governança que se estabelecem nas integrações.
Palavras chave: organizações, teoria institucional, legitimidade.
Abstract
This article searches to establish some theoretical connections that help in the
understanding of an emerging dynamics that has been established between farmers,
supermarkets and consumers. The different perspectives are presented in a critical manner,
and ranging from the consideration of the importance of the theory of stkaholders, to
understanding the search for legitimacy as a guide for many action in organizations,
beyond the rationality purely economical. The design of the relevance of the external
environment in relations and exchanges involved in organizations and the inherent interdependence are also factors presented in this study. In the end, besides search to identify
the pillars that support the institutional theory, emphasizing the cognitive perspective, we
point out some assumptions of the theory of transaction costs that are of interest in the
relations of governance that are laid in the integrations.
Keywords: organizations, institutional theory, legitimacy.
1
Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
1. Introdução
O objetivo deste texto é analisar os diferentes enfoques que cercam a discussão
referente à busca de muitas organizações por legitimidade frente ao público de interesse. O
resgate crítico aqui proposto refere-se a um acompanhamento de uma linha imaginária que
inicia-se na teoria dos stakeholders, passa pela consideração da importância do ambiente
externo no contexto organizacional , estendendo-se pela teoria institucional e também pela
teoria denominada neo-institucional. Como forma de ampliar o debate, será abrangida a
Teoria dos Custos de Transações sob a perspectiva das integrações como maneira de
reduzir custos de transações.
O presente estudo surge como forma de contribuir para o aprofundamento da
temática relativa aos sistemas de ‘parceria/integração’ entre supermercados e agricultores
familiares, produtores de hortigranjeiros. A intenção de analisar a legitimidade que muitas
organizações contemporâneas buscam através destas parcerias parece uma fonte empírica
profícua na qual podemos procurar uma base teórica capaz de auxiliar no seu
entendimento. Deste modo, propomos uma reflexão teórica que perpassa as mudanças
decorrentes de um pilar mais normativo para um pilar cognitivo, através da aceitação da
importância da cultura como forma de sobrevivência e/ou sucesso das organizações.
Neste contexto, o enfoque deste exame alusivo às relações que são estabelecidas
entre a tríade: agricultor – organização – sociedade civil, procura em primeiro plano
ampliar o entendimento relativo à busca de muitas organizações em satisfazer as categorias
de interesse, principalmente sob uma perspectiva ética. A compreensão sobre como o
ambiente afeta essas ligações e inclusive determina os contornos das diferentes conexões
possíveis também é de particular interesse. Por fim, salienta-se o caráter inicial deste
estudo, já que consiste num primeiro esforço no sentido de estender a compreensão a cerca
das complexas relações de governança que podem ser estabelecidas no seio dos sistemas
de integração.
2. O complicado cenário dos interesses e a busca por satisfazê-los
A teoria dos stkaholders1 tem sido impulsionada através das considerações éticas,
considerando-as como essenciais na formação do pilar normativo desta teoria2. O
pressuposto é de que em uma organização cada indivíduo tem seus próprios interesses. De
acordo com Mercier (1999 apud Pesqueux e Damak-Ayadi 2005), os interessados são
aqueles agentes para os quais a empresa foca suas preocupações e seu desenvolvimento.
1
A expressão stakeholders não possui uma tradução exata. Neste trabalho consideraremos como a teoria das
‘partes interessadas’. Para Donaldson e Preston (1995 apud Pesqueux e Damak-Ayadi 2005), os interessados
são definidos pelo seu legítimo interesse em uma organização. Podem ser pessoas ou grupos com interesses
legítimos, ou qualquer grupo interessado, que algum valor intrínseco para a organização.
2
Contudo, Jone e Wicks (1999 apud Pesqueux e Damak-Ayadi 2005) ressaltam que existem duas escolas
fundadoras da teoria dos stkaholders: a teoria das partes interessadas empírica (baseada em perspectivas
descritiva e instrumental), e a teoria normativa (baseada na ética). Uma tipologia apresentada por Pesqueux e
Damak-Ayadi (2005) engloba: a teoria descritiva, que diz como o mundo realmente é; a teoria normativa, que
prescreve como deve ser; e a teoria instrumental, que indica a melhor forma. Estas tipologias são criticadas
pelos autores por serem derivadas do positivismo. Para um aprofundamento consultar Pesqueux e DamakAyadi (2005).
2
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Para Carroll (1989 apud Pesqueux e Damak-Ayadi 2005) este ‘interesse’ pode ser
caracterizado como primário ou secundário. As partes interessadas em caráter primário
estão relacionadas a aqueles atores que travam uma relação direta e contratualmente
determinada, tal como o nome indica, com a organização. Os atores com interesses
secundários, seriam aqueles que estão situados nas fronteiras de uma organização e que
podem ser afetados por suas ações, sem necessariamente ter qualquer ligação contratual
com ela (este grupo ainda pode ser descrito como de interesse "difuso"). Pelle Culpin
(1998 apud Pesqueux e Damak-Ayadi 2005) oferece uma distinção entre: os intervenientes
institucionais (os que estariam envolvidos nas leis, regulamentos, inter-entidades
organizacionais, organizações profissionais que podem ser específicas de um determinado
setor); os agentes econômicos (atores que operam na sociedade em questão); e os
interessados ‘eticamente’, procedentes de grupos de pressão política (um grupo cuja
figuração pode ser ainda mais difícil de definir).
A questão relativa a teoria dos stkaholders é de particular interesse já que aponta
para a importância de destacarmos a governança corporativa como sendo um ‘produto’ das
relações que existem entre uma organização e seus parceiros. Ou seja, enfatiza todos e
quaisquer relacionamentos que possam existir sob o cenário dos interesses. Desta forma
Pesqueux e Damak-Ayadi (2005) afirmam que existem categorias de interesses, entre as
quais destacamos os acionistas, os interessados internos (empregados, investidores, etc.),
os parceiros operacionais (clientes, fornecedores, credores, etc.) e por último, a
comunidade social, na qual estão englobadas as autoridades estatais, organizações
representativas, organizações não governamentais e a sociedade civil.
Neste sentido, considerando as categorias de interesse citadas pelos autores, a
integração agricultores-supermercados poderia ser analisada sob pelo menos dois ângulos.
Em primeiro plano, a organização possui um relacionamento com parceiros intermediários
– os agricultores (que não deixam de ser fornecedores). Entretanto também possui por
outro lado, um enfoque que busca uma ‘aproximação’ com a comunidade social – os
clientes, já que provavelmente espere ‘reconhecimento e valorização’, através das relações
estabelecidas no âmbito local com os agricultores.
Contudo, como ressalvam Pesqueux e Damak-Ayadi (2005) a teoria dos
stkaholders não é um mero exercício classificação. Ela compreende uma escola de
pensamento, que representa na verdade, um plano para reorganizar a teoria das
organizações, integrando a perspectiva ética.
Pesqueux e Damak-Ayadi (2005) sugerem que antes de seguir quaisquer
investigações sobre as matérias reguladas pela teoria stakeholders é necessário ter em
mente os seus postulados. O primeiro seria que uma organização irá manter relações com
vários
grupos
que
afetam
ou
são
afetadas
pelas
suas
decisões.
O segundo refere-se à dependência da natureza de tais relações, devido à forma pela qual
os processos são envolvidos e os resultados alcançados poderão afetar gravemente a
sociedade e as partes interessadas. A terceira proposição é que existem alguns interesses
que possuem um valor intrínseco, mas não há um interesse deva ser capaz de dominar
todos os outros. Por fim, salientam que em última instância, esta teoria está interessada em
decisões gerenciais.
Ainda com relação aos ‘graus de interesses’, Pesqueux e Damak-Ayadi (2005)
ressaltam que ao analisarmos a questão relativa a responsabilidade social sob a ótica dos
stakeholders temos que ter em mente duas variantes. A primeira diz respeito to à natureza
3
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empírica de responsabilidade. A teoria seria baseada na idéia de que em uma organização
seus interesses são os primeiros a serem levados em conta, e que os seus esforços
subseqüentes são então ‘divididos’ entre os seus diversos intervenientes, de uma forma que
reflita os seus respectivos níveis de importância. Aqui informação é vista como um
elemento crucial para permitir que a organização possa gerir os seus relacionamentos, para
no mínimo para evitar a oposição e onde é possível, adquirir convergência. A segunda
refere-se à organização, seus interesses nos relacionamentos, concebidos aqui como uma
relação social que implica na gênese de uma organização, através responsabilidade de suas
partes interessadas. Esta pode ser considerada uma abordagem normativa de
responsabilidade.
Para Donaldson e Preston (1995) temos no centro de uma organização situações de
cooperação e competição, sendo que cada uma possui o seu próprio valor intrínseco. Neste
contexto, a teoria dos stkaholders pode ser utilizada como forma de descrever os
comportamentos, tanto sob o aspecto dos atos gerenciais como, também, o significado
atribuído a cada uma das partes interessadas. Uma reflexão a ser feita refere-se a
compreensão da fase em que a organização se encontra, respeitando assim sua respectiva
dinâmica, e a partir disso, a compreensão de que o significado atribuído também pode
variar de acordo com o clico de vida da mesma. Contudo, os autores ressalvam que essa
abordagem permite uma descrição exploratória de proposições, mas não que seja feita
qualquer ligação entre as partes interessadas e a gestão dos negócios tradicionais3 (como
aumento nos lucros, expansão, etc.).
Os autores Donaldson e Preston (1995) salientam ainda a possibilidade de
considerarmos as bases normativas da teoria4. Na suas opiniões, esta perspectiva seria
distinta do funcionalismo empírico que pode ser encontrado na teoria. Em vez de
compilação de dados e utilização de métodos quantitativos ad hoc para testar hipóteses, o
foco aqui seria normativo sobre os resultados, inferindo, portanto, sobre as obrigações
morais encontradas sob as posições dos stkaholders. O que as diferentes abordagens deste
tipo têm em comum é o fato de que tratam os interessados não só como um fim e também
como tendo interesses que possuem um valor intrínseco.
A narrativa também pode caracterizar uma interpretação normativa, oferecendo
perspectivas relativas às representações da organização com relação ao comportamento
moral. Neste sentido, a tônica seria colocada sobre as obrigações éticas que uma
organização enfrenta, e sobre como ela pode satisfazê-las sem negar o seu interesse em
3
Já para Jones (1995 apud Donaldson e Preston 1995) a idéia principal é que se consideramos todos os
outros fatores, incluindo as formas práticas de gestão dos stakeholders, teremos desempenho melhor em
rentabilidade, estabilidade, crescimento, etc. Admitindo desta maneira que ‘certos’ resultados poderiam ser
obtidos se "certos" comportamentos que são aprovados fosse utilizados. Vários estudos recentes têm referido
o instrumental teórico implicitamente convencional, utilizando metodologias estatísticas incidindo sobre: a
relação entre a pressão que os interessados possam fazer valer e a maneira em que a estratégia é formulada
(Weaver,
1999);
e
a relação entre o desempenho financeiro e social (Cochran um Wood, 1984; Cornell e Shapiro, 1987).
Contudo, (Donaldson e Preston 1995) salientam que devido à natureza diversa dos resultados obtidos, no
entanto, nenhuma relação clara em direção a uma ou a outra pode ser afirmada.
4
Uma tipologia apresentada por Pesqueux e Damak-Ayadi (2005) engloba: a teoria descritiva, que diz como
o mundo realmente é; a teoria normativa, que prescreve como deve ser; e a teoria instrumental, que indica a
melhor forma. Estas tipologias são criticadas pelos autores por serem derivadas do positivismo. Para um
aprofundamento consultar Pesqueux e Damak-Ayadi (2005).
4
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alcançar o sucesso econômico. Um outro objetivo da interpretação normativa seria explicar
como as metas perseguidas pelos próprios atores (da parte dos intervenientes e pela
organização) podem se reforçar mutuamente5.
Contudo, entende-se que a congruência destes interesses estará atrelada ao
ambiente onde está inserida a organização e os stakholders. Para Pfeffer e Salancik (1978)
o conceito de ambiente é importante basicamente como forma de avaliação da eficácia
organizacional. Porém, afirmam que o conceito de meio ambiente, pode ser considerado é
ilusório. Em um sentido, o ambiente incluiria todos os eventos no mundo que tenha
qualquer efeito sobre as atividades ou os resultados da organização e a sua leitura seria um
importante dispositivo de segurança para a sobrevivência organizacional. Contudo, se as
ações fossem determinadas por cada evento ou mudança, as organizações seriam
constantemente confrontadas, o que poderia ser um desastre em potencial o que, suscitaria
a necessidade de monitorizar continuamente as mudanças, enquanto, por outro lado, existe
a possibilidade de que elas próprias modifiquem o próprio ambiente. Para Pfeffer e
Salancik (1978) o fato de que os impactos ambientais são sentidos apenas levemente prevê
a organização com algum bom senso, já que desta forma possuiria a capacidade para atuar
em horizontes temporais mais longos em comparação ao tempo que levaria para atuar e
adaptar-se num ambiente em mudança.
Desta forma, consideram que uma das mais importantes influências sobre uma
resposta da organização ao seu ambiente seria a própria organização. Ou seja, os autores
ponderam que a influência que o ambiente externo pode exercer sobre a organização é
dependente também da maneira como a mesma se ‘comporta’ frente ao contexto em que
está inserida. Os ambientes organizacionais para Pfeffer e Salancik (1978) não são uma
realidade dada, já que são criados através de um processo de interpretação. As
organizações normalmente possuem sistemas de informação para a recolha, triagem,
seleção, e armazenagem da informação (ainda que muitas vezes não estabelecidos
formalmente). Desta maneira, a organização poderia eleger como determinantes alguns dos
seus aspectos ambientais, em detrimento de outros6.
Não obstante, concordamos com Pfeffer e Salancik (1978) quando afirmam que os
condicionantes não são irreversíveis e predestinados. A maioria das ações organizacionais
coage sobre o resultado antes de tomada de decisão ou a resolução de conflitos entre
diferentes
grupos
de
interesses
concorrentes.
O contexto social de uma organização seria, em si, o resultado das ações dos atores sociais.
Uma vez que muitas dificuldades decorrem das ações dos outros, uma função importante
da gestão seria influenciar esses ‘outros’ como um meio de determinar o nosso próprio
ambiente. Organizações freqüentemente operam em seus ambientes para torná-los mais
estáveis ou mais magnânimos. Para o autor, uma função da gestão seria então a de orientar
5
Investigadores que tem aderido a essa escola de pensamento tentam descobrir as 'melhores' alternativas que
permitam orientar a atividade organizacional eticamente em direções mais construtivas. Tais estudos
entretêm relações estreitas com a busca de paradigmas interpretativos encontrados sob da teoria
organizacional (realidades sociais e em nível simbólico).
6
A percepção da organização sobre o ambiente também é afetada segundo Pfeffer e Salancik (1978) pelos
indivíduos que possuem as informações para ocuparem determinados cargos na organização. Neste sentido, o
tipo de informação que se tem sobre o ambiente também poderá variar de acordo com as suas próprias
conexões com o ambiente.
5
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e controlar este processo de manipular o ambiente, na tentativa das organizações em
influenciar seu contexto social7.
Nesta conjuntura, a possibilidade de gestão-coordenação para Pfeffer e Salancik
(1978) significaria aumentar o controle das atividades de uns sobre a dos outros. Contudo,
isso resultaria também em um acréscimo da interdependência do comportamento dos
atores sociais.
Com relação a interdependência, os autores afirmam que praticamente todos os
resultados organizacionais são baseados em causas ou agentes interdependentes. Neste
sentido, asseguram que existem várias maneiras de categorizar interdependência. Uma das
formas seria realizar a distinção entre tipos de interdependência pelo resultado se os
participantes estão em concorrência ou então, em uma relação simbiótica. Em relação de
concorrência, o resultado alcançado por uma organização só pode satisfatório se o
resultado alcançado pela outra for menor. Com relação à interdependência simbiótica, o
resultado pode ser satisfatório para ambas as partes, ou seja, é possível que duas
organizações (ou mais) sejam beneficiadas de forma concomitante.
Para Pfeffer e Salancik (1978) a questão da interdependência demonstra uma série
de pontos importantes para análise de comportamento organizacional. Em primeiro lugar,
destacam que a interdependência varia de acordo com a disponibilidade de recursos
relativos às demandas por eles. Assim, quando houvesse uma grande quantidade de
recursos em relação à demanda, a interdependência entre os atores que precisam do mesmo
recurso é reduzida. Em segundo lugar, levaria os indivíduos a praticar em um mesmo
ambiente, conexões através de um fluxo de transações. Contudo, a interdependência
poderia criar problemas de insegurança ou de imprevisibilidade para a organização, e isto
normalmente é perturbante para as organizações, pois deriva da falta de coordenação das
atividades entre as unidades sociais.
Deste modo, diante das incertezas muitas organizações acabam reestruturando as
suas relações de intercâmbio. Pfeffer e Salancik (1978) salientam que a solução para uma
organização em meio às incertezas seria, por exemplo, encontrar um novo fornecedor, mas
que esta atitude poderia criar novas incertezas para outras organizações. Mais importante
ainda, o exemplo ilustra como organizações, para resolver os seus problemas de incerteza
quanto a resultados, são susceptivelmente levadas a aumentar a sua interdependência em
relação a outros fatores. Ou seja, a solução para os problemas típicos da interdependência e
da crescente incerteza envolveria a coordenação.
Em suma, a interdependência seria uma conseqüência da natureza das organizações
de sistemas abertos. E o fato de que as organizações devem transacionar com elementos do
ambiente, a fim de obter os recursos necessários para a sobrevivência, acaba levando a um
aumento da interdependência.
7
Para Pfeffer e Salancik (1978) uma imagem do gerenciador que temos desenvolvido é o de um advogado,
um ativo manipulador de constrangimento e da sociedade em que a organização está inserida. Outra imagem
é a de um transformador das diversas demandas sobre a organização. Na primeira, o gerente pretende
promulgar ou criar um ambiente mais favorável para a organização. Na segunda, ações organizacionais são
ajustadas se necessárias para cumprir as restrições impostas pelo contexto social. Na realidade, ambos os
conjuntos de atividades gerenciais podem ser realizados simultaneamente. O autor ressalta que as imagens do
papel de gestão implicam em uma sensibilidade para o contexto social no qual a organização está inserida
bem como na compreensão da relação entre a organização e seu ambiente. Ou seja, exigem a adoção de uma
percepção externa para orientar a compreensão do funcionamento organizacional.
6
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Considerando que o cotidiano organizacional exige intercâmbios e transações com
outros grupos ou organizações, este intercâmbio pode envolver recursos físicos ou
monetários, informações ou legitimidade social. Isto se deve essencialmente ao fato de que
as organizações não são auto-suficientes, e o ambiente externo ser o elemento que pode
oferecer apoio. Para proporcionar o que as organizações necessitam os grupos ou
organizações externas podem exigir determinadas ações em troca. Esta análise é
importante porque é justamente esta dependência do ambiente, que faz com que o
constrangimento externo e controle de comportamento organizacional seja necessário e
quase inevitável.
Esta reflexão alerta para o fato de que as organizações não poderiam sobreviver se
não fossem sensíveis às demandas de seus ambientes. Mas, como ressaltam Pfeffer e
Salancik (1978) a questão então passa a ser interessante na medida em que as organizações
podem e devem responder a várias exigências ambientais (não necessariamente todas).
Neste âmbito, compreende-se a relevância do controle social exercido nas organizações, e
o argumento de que a organização é uma coalizão de apoio o que implicaria num fator
importante para determinar o comportamento da organização, ou seja, a dependência que
existe entre os diversos participantes de uma coligação.
Além de enfatizar as influências do ambiente nas organizações e as diferentes
maneiras como cada organização pode de modo particular se adequar e ser influenciada
pelo mesmo, Pfeffer e Salancik (1978) questionam a perspectiva da organização interna e
seu funcionamento, concomitantemente com a crença na ação administrativa onipotente do
indivíduo. Neste sentido, apontam que os indivíduos aparentemente têm um desejo de
controle sobre seus ambientes sociais. Existiria dessa forma, uma tendência para atribuir
grande efeito para as ações individuais, principalmente aquelas que exercem algum tipo de
liderança designada, motivada notadamente pelo sentimento pessoal de eficácia e controle.
Assim, essa ‘personificação’ da causalidade social reforçaria o sentimento de
previsibilidade e controle, tornando-os observadores identificáveis, alvos concretos de ação
e emoção.
Circunstâncias extremas à parte, os autores afirmam ainda que existem muitas
possibilidades de ações gerenciais, mesmo tendo em conta que são as condicionantes
externas que afetam a maioria das organizações. Desta forma, embora os autores
assegurem a existência de fatores determinantes, ponderam a possibilidade de uma margem
para ação gerencial.
Ainda que Pfeffer e Salancik (1978) considerem as pressões do ambiente como
determinantes na definição das ações das organizações, os autores subestimam os fatores
culturais presentes no contexto ambiental na qual está inserida a organização. Pfeffer e
Salancik (1978) possuem uma análise ainda muito focada nos aspectos técnicos da tomada
de decisão, em detrimento dos aspectos mais subjetivos, ligados a fatores intrínsecos,
menos tangíveis. Embora o ambiente referido pelos mesmos esteja basicamente ligado aos
recursos (portanto, um tanto limitado), esta concepção corroborou em certa medida para
modificar inclusive o conceito de organização, focando-a como uma coalizão de interesses
(onde cada indivíduo pode ter interesses distintos8). A organização passa a ser vista como
8
Com relação a questão comportamental versus indivíduo, o texto traz consigo traços semelhantes a teoria
comportamental de Simon. O comportamento é visto como capaz de gerar uniformidade nas condutas perante
as situações. Os indivíduos assumem uma conduta utilitária perante os fins. Contudo, questiona-se esta visão
porque pode ser delicada sob o aspecto de perda da individualidade.
7
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uma entidade de trocas, movida por motivações e objetivos distintos, onde através da troca
de recursos ‘todos’ poderiam atingir o que almejam. Neste sentido, uma das principais
funções da administração seria manter esta coalizão dentro da organização e, sobretudo
lidar com os condicionantes externos.
Em suma, a ‘sobrevivência’ primo objetivo de uma organização, estaria ligada a
habilidade para adquirir e manter os recursos necessários, através de uma coalizão de
interesses. Para tanto, seria necessário o contato com o ambiente, que determinaria as
restrições, comportamentos e resultados. Contudo, isso provocaria dependência. Relativo a
esta ‘dependência externa’ ponderamos dois aspectos: a dependência entre as organizações
(focada essencialmente nos recursos); e a dependência da conduta da organização em
relação aos padrões culturais da comunidade (focada na legitimidade de suas ações).
Neste sentido, entende-se que a busca por legitimidade frente à comunidade na qual
esta inserida uma organização ou então, relativa à população de interesse, é um tema que
perpassa por questões mais objetivas, como por exemplo, recursos materiais, tecnologia e
capital. Todavia, passa essencialmente pela compreensão do ambiente externo na qual a
organização está inserida, sob a perspectiva de um contexto cultural. Compreende-se desta
forma, que o ambiente organizacional, independente da esfera relacionada, está envolto
num contexto cultural.
Em Carvalho et al (1999) observa-se que deveríamos acrescentar à visão de
ambiente formada em sua totalidade por fluxos e intercâmbios técnicos, um sistema de
crenças e de normas institucionalizadas. Para os autores, estas duas concepções formariam
uma fonte independente de formas organizacionais racionais. Em tempo, a proposta da
teoria institucional, na qual o ambiente institucional representa uma evolução do ambiente
puramente ‘técnico’, amplia a perspectiva até o domínio dos aspectos simbólicos9.
Dentro dos estudos organizacionais a relevância da teoria institucional10 é
indiscutível. Nas fundações desta teoria encontramos contribuições de Selzinick (1957
apud Carvalho et al 1999, p. 1) que já considerava as pressões do ambiente social nas ações
estruturais que irão afetar diretamente as organizações. Selzinick salienta inclusive que os
valores podem substituir os fatores técnicos na determinação das tarefas organizativas11. O
fundamento técnico e da eficiência são pressupostos das escolhas racionais, e como
contraponto a esta racionalidade, Simon (1987 apud Carvalho 1999, p.1) afirma que muitas
decisões são tomadas com base em diretrizes inconscientes, e mais, propõe que os
indivíduos possuem na verdade uma racionalidade apenas limitada, considerando que têm
9
A contribuição mais relevante na inclusão dos elementos simbólicos na determinação dos ambientes
organizacionais pode ser encontrada em Scott (1992 apud Carvalho et al, 1999, p. 7). Para os autores é
justamente neste momento que o ambiente, enquanto variável analítica evoluiu de um enfoque generalista
para um enfoque simbólico.
10
Neste estudo o objetivo não é realizar um resgate histórico da teoria institucional, apenas gostaríamos de
salientar sua importância para a efetivação do contexto cultural como relevante na analise organizacional.
Para um aprofundamento da evolução da teoria institucional e seus diferentes enfoques sugere-se Carvalho et
al (1999) e Scott (1995).
11
Esta nova visão, que considera aspectos mais complexos a cerca das decisões humanas é um contraponto
da concepção racionalista. Na visão racionalista, a tomada de decisão está ligada à razão fundamentalmente.
Para Carvalho et al (1999, p.8) os ambientes técnicos e institucionais sustentam diferentes racionalidades:
num ambiente técnico o racional é o que permite às organizações serem eficientes; num ambiente
institucional, a ação racional é representada nos procedimentos capazes de proporcionar legitimidade no
presente e no futuro organizacional.
8
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uma capacidade limitada de processamento em suas mentes. Portanto, para Carvalho et al
(1999) a perspectiva institucional deixa para trás a concepção de um ambiente formado
somente por recursos humanos, materiais e econômicos para destacar a presença de
elementos culturais – valores símbolos, mitos, sistema de crenças e programas
profissionais. Como decorrência deste processo, avança a perspectiva que considera a
concorrência para alcançar legitimidade institucional e aceitação do ambiente, em
detrimento da concorrência por recursos e clientes. Ou seja,
A cultura é elevada uma posição determinante na formação da realidade
organizacional sob esta perspectiva que atribui a difusão de procedimentos
quotidianos às influencias interorganizacionais e à conformidade e persistência
dos valores culturais, mais do que à função que, inicialmente, lhes havia sido
designada. (CARVALHO et at, 1999, p.5).
A perspectiva institucional induz desta forma, a uma ênfase nos elementos
culturais, do mesmo modo que valoriza os aspectos sociais da sociedade. Pelo exposto,
observa-se que Carvalho et al (1999) concorda com Pfeffer e Salancik (1978) que um
determinado contexto pode ser formador das práticas organizacionais. Contudo, Carvalho
et al (1999) foca nos aspectos relacionados aos valores e mitos, ou seja, nos aspectos
culturais, enquanto Pfeffer e Salancik (1978) têm sua análise mais concentrada nos
elementos técnicos.
Retomando o aspecto central deste trabalho, que refere-se à busca das organizações
por legitimidade, identificamos em Reed (1992 apud Carvalho et al 1999) que as premissas
básicas que garantem a legitimidade tanto no contexto exterior, como na dinâmica interna
da organização são: a impessoalidade que lhes possibilita indicar os meios adequados para
atingir as demandas técnicas de forma racional e o fato de estar mais além do arbítrio dos
indivíduos, já que estão altamente institucionalizados. Assim, o principal para Carvalho et
al (1999) na teoria institucional é que não é o mercado nem o centralismo do estado que
permitem a manutenção das organizações na sociedade, e sim os ‘mitos
institucionalizados’ que criam e sustentam as diversas formas organizacionais.
Ou seja, observamos que as organizações procuram seguir certos ‘padrões’ já
convencionados e aceitos pela sociedade. Pois, desta forma, será mais presumível
encontrar legitimidade para a sua conduta, garantindo em certa medida sua manutenção.
Neste contexto, a busca por legitimidade através do cumprimento de padrões pode
ocasionar de homogeneidade de procedimentos e comportamentos organizacionais. Muitos
autores vêm fazendo referência a este fenômeno, atribuindo ao mesmo à denominação de
isomorfismo12. O surgimento deste isomorfismo nas ações é devido essencialmente a uma
pressão ambiental numa dimensão (inclusive por parte do Estado) que demandaria uma
atitude análoga das organizações frente aos condicionantes externos. Pode-se dizer que
estrutura-se um ‘conjunto de regras’ que podem ser formais ou informais, montando um
cenário no qual os papéis estão institucionalizados, determinando em grande medida o
comportamento individual.
12
O processo de isomorfismo pode ser desenvolvido através de mecanismos coercitivos e miméticos ou
normativos. Para maiores informações consultar DiMaggio e Powel (1983) e Haunschild (1983),
respectivamente.
9
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Com relação à homogeneidade nos perfis e condutas organizacionais encontramos
em DiMaggio e Powel (1991) a busca por uma abordagem diferenciada com relação ao
‘mundo das organizações’. O olhar destes autores procura identificar porque há tanta
homogeneidade de formas e práticas organizacionais, confrontando o que boa parte da
teoria organizacional postula13, ao ressaltar a existência de um diversificado e diferenciado
universo de ações no contexto das organizações, baseado nas diferentes estruturas e
comportamentos.
Para facilitar o estudo da homogeneidade das organizações, DiMaggio e Powel
(1991) utilizam o termo campo organizacional, referindo-se aquelas organizações que, no
conjunto, constituem uma área reconhecida de vida institucional, ou seja, que se
relacionam aos principais fornecedores, produtos e recursos dos consumidores, agências
reguladoras, e outras organizações que produzem serviços ou produtos similares. Neste
sentido, o pressuposto dos autores é de que, depois que as organizações díspares na mesma
linha de negócios são estruturadas em um campo real (que seria a competição, ou o Estado,
por exemplo), emergem forças poderosas que os levam a se tornarem mais semelhantes
umas às outras. Desta forma, no longo prazo, os atores organizacionais tomam as decisões
racionais em torno de um ambiente que limita a sua capacidade de alterar novamente sua
estrutura ou forma de atuar nos anos posteriores.
Corroborando com Carvalho et al (1999) DiMaggio e Powel (1991) asseveraram
que o conceito que melhor capta o processo de homogeneização é o isomorfismo. Para
Hawley’s (1969 apud DiMaggio e Powel 1991) isomorfismo é um processo restritivo que
se assemelha a outras unidades que enfrentam o mesmo conjunto de condições ambientais.
Contudo, DiMaggio e Powel (1991) afirmam que há muito a ser aproveitado na
similaridade, bem como na variação entre as organizações. Porém, ao realizar uma crítica,
ressalvam que existem esforços para ampliação da noção de diversidade entre
organizações, e que os atuais defensores podem ter que trabalhar apenas em um vácuo
organizacional. Os autores sustentam desta maneira, que uma teoria do isomorfismo
institucional ajuda a explicar as observações sobre a homogeneização das organizações,
assim como pode auxiliar na perspectiva sobre a luta política para o poder nas
organizações.
Para Carvalho et al (1999) a concepção institucionalista do processo isomórfico
anteriormente mencionado deveria ser completada pela idéia weberiana de legitimidade.
Os autores asseveram que na maioria das teorias organizacionais, a estrutura formal
racionalizada das organizações é o instrumento mais efetivo para atingir a coordenação e o
controle nas complexas redes de transações e relações que se criam no mundo do trabalho,
deixando num segundo plano o conceito weberiano de legitimidade das estruturas formais
racionalizadas14. Para Carvalho et al (1999):
13
Para Dimaggio e Powel (1991) grande parte da moderna teoria organizacional postula a diversificação
como forma de explicar a variação entre as organizações em termos de estrutura e de comportamento, citando
autores representantes desta corrente de pensamento como Woodward (1965); Child e Kieser (1981); e
Hannan e Freman (1977).
14
Ao utilizarem os termos estruturas formais racionalizadas (desde a perspectiva institucional) os autores
fazem referência aos seguintes elementos, como por exemplo: o sistema educativo; as leis; o status das
profissões; etc. Estes elementos podem em muitas circunstâncias funcionar como mitos institucionalizados.
10
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A legitimidade aparece, na literatura, fortemente relacionada com o grau de
apoio cultural que obtém a organização. Não obstante, diferentes aproximações
à perspectiva institucional podem significar igualmente conceitos variados de
legitimidade. Assim, para versão reguladora, a legitimidade organizacional
surge pelo estabelecimento e a adoção dos requisitos legais enquanto a versão
normativa dá prioridade à base moral para obter legitimidade (SCOTT 1995, a:
47 apud Carvalho et al,1999, p.12).
Ou seja, os controles normativos são ‘exercidos’ mais facilmente do que o controle
regulador, já que contam tanto com recompensas , quanto com características intrínsecas e
extrínsecas. Já sob o ângulo mais cognitivo Scott (1995 apud Carvalho et al 1999) afirma
que o controle é exercido de forma mais sutil e profunda. Portanto, a interpretação
cognitiva das organizações salienta que o processo de obtenção de legitimidade deriva da
adoção de um marco de referência ou definição comum de uma determinada situação.
Deste modo, é relevante salientar que a teoria institucional está embasada essencialmente
em três pilares: o normativo (onde são definidos os papéis); o regulador (legalmente
estabelecido, que conta com boa participação do Estado); e o Pilar cognitivo
(legitimamente constituído);
Conforme constata Olivo (2000) a legitimidade era vista por Weber como uma
representação da estabilidade que racionaliza e mantém em equilíbrio as disputas de poder.
Para o autor, os meios de dominação legítima (racional, tradicional e carismática) 15 devem
ser entendidos como mecanismos do exercício político. Neste sentido, poderíamos supor
que no entendimento de Olivo (2000) as questões que permeiam a responsabilidade e ética
seriam, ao final, ditadas por condutas que permeiam tanto a atividade estatal quanto a
política, tanto a ação social quanto o controle do poder.
Ao analisarmos as contribuições de Olivo(2000) percebemos que para Weber a
legitimidade é uma questão que está intrinsecamente ligada ao poder. Olivo (2000) em uma
análise da interpretação de Weber sobre a legitimidade, afirma que após ser realizada a
delimitação do conceito de dominação, ou seja, a probabilidade de se alcançar obediência
para determinadas ordens dentro de um grupo determinado, cabe a visualização do
problema da legitimidade, como meio de estabilização e racionalização da disputa do
poder, e também como forma de ser perseguido por qualquer tipo de dominação. Uma
primeira constatação dá-se no sentido de que, ao identificar a dominação enquanto à
sujeição de determinado grupo à urna ordem específica, Weber atenta para a necessidade
15
O tipo mais puro deste modelo de dominação racional é identificado por Weber como sendo àquele
composto por um quadro administrativo burocrático, cujo exercício do poder dá-se de maneira impessoal e
segundo previsões normativas. Já a dominação tradicional, por sua vez, exerce-se pela crença no caráter
impositivo de uma ordem temporalmente estabilizada. A tradição surge corno fonte do poder, impondo
vínculos aos conteúdos das ordens emitidas, e gerando urna obediência segundo padrões de respostas à
estímulos habitualmente condicionados. O tipo mais puro de dominação tradicional dá-se com o
aparelhamento administrativo do tipo patriarcal, cuja composição estabelece-se com vínculos diretos entre os
servidores e o patrão, ou senhor. A dominação carismática, por usa vez, repousa sobre a aceitação, por
afeição, à pessoa de um líder, ao poder de espírito e de discurso que singularizam e elevam determinada
pessoa frente a um grupo específico. Contudo, para Olivo (2000) Weber sempre teve grandes receios quanto
a utilização da dominação de tipo carismático, por cuidar muito no âmbito de sua legitimidade com a afeição
e o carisma, furtando-se do filtro da razão quanto a composição dos meios e a possibilidade dos fins
propostos.
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de um mínimo de vontade de obedecer, ou seja, de uma aceitação ao menos quanto à
estrutura, ou ao sistema em que se desenvolve o palco das ações sociais.
Contudo, ressalva-se que será exatamente a diferença quanto à forma de
legitimação postulada (ou alcançada) que demonstrará os diferentes motivos que levam
aquele mínimo de vontade de obediência. Neste sentido, entende-se o porquê da
necessidade de visualizar legitimação como um fator inerente a uma ordem estável, e que
deve ser ‘seguida’ conforme toda sorte de tipos de dominação que se distinguiriam
segundo as pretensões de legitimidade que possuam. Quando se identifica a possibilidade
de vários motivos que levem à ‘obediência’ (ou aceitação), através do seguimento de
padrões identificados em sua tipologia da ação social, poderemos ter em mente a
montagem de um cenário com casos concretos. Desta forma, visualizamos o possível
caráter instrumental e técnico da utilização destes tipos idealmente concebidos, suscitando
a possibilidade de estudos futuros.
3. A teoria institucional e suas perspectivas
Retomando a reflexão sobre a teoria institucional e também a com relação a
concepção neo-institucional destacamos ainda Scott (1995). Este autor apresenta
essencialmente um esforço para classificar o institucionalismo sob campos disciplinares.
Neste sentido, destacamos: a teoria institucional econômica considerada por ele como
pioneira; a teoria institucional na ciência política; e por fim, a área mais sociológica da
referida teoria.
Dentro do viés econômico da teoria institucional observa-se a dicotomia existente
entre a ‘velha’ economia institucional’ e a ‘nova’ economia institucional. Para Scott (1995)
a velha economia busca afastar-se de uma relação simplista com relação ao homem
econômico, procurando ser mais realista frente aos modelos de comportamento humano,
tendo seus primórdios em Schmoller (1900-1904), O debate antagônico convergiu para um
acordo apenas com os acadêmicos de uma geração mais tarde, sobretudo através de três
economistas institucionais, bastante influentes: Thorstein Veblen, John Commons, e
Westley Mitchell.16 Contudo, Scott(1995) assevera que independentemente de estarem ou
não corretas as afirmações destes autores, os primeiros economistas institucionais não
prevaleceram, continuando sob a égide da teoria neoclássica da economia, inclusive até a
contemporaneidade. Somente com o advento da nova economia institucional, na década de
1970, alguns economistas conseguiram efetivamente levar a diante a agenda
institucionalista, entre os quais destacamos J. Schumpeter, John Kenneth Galbraith, e de
Gunnar Myrdal (cf. Swedberg, 1991 apud Scott 1995).
Avaliando como a mais grave lacuna deixada pelos precursores da teoria
institucional a tendência para os trabalhos em tornar-se alvo de um empirismo ingênuo,
16
Numa tentativa de sintetizar o exposto por Scott (1995), salientamos que Veblen focou seus trabalhos na
crítica aos pressupostos econômicos do comportamento afirmando que o comportamento é governado por
hábitos convencionados, Commons por sua vez, desafiou a convencional ênfase na escolha individual,
ressaltando que as regras para o comportamento são instituições sociais. Já Mitchell dedicou grande parte de
suas energias para estudar as alterações econômicas, como forma de auxiliar na compreensão da natureza do
ciclo empresarial. Para Scott (1995) como todos os institucionalistas, Mitchell estava relutante em acolher um
pressuposto de equilíbrio econômico, mas foi pioneiro na recolha de dados empíricos sobre o funcionamento
da economia, insistindo em que os princípios econômicos devem ser baseados em fatos, opondo-se ao
abstrato, das teorias dedutivas. As críticas existentes às contribuições dos autores citados podem ser
verificadas em Scott (1995).
12
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Scott (1995) afirma que o padrinho da nova economia institucional, Ronald Coase (1983),
baseou-se neste elemento como forma de negar o provimento da velha economia
institucional, considerando a mesma como: "Sem uma teoria que nada tinham de repercutir
exceto uma massa de material descritivo à espera de uma teoria..." (Coase 1983, p.230
apud Scott, 1995).
Carvalho et al (1999) em uma análise sobre a ruptura do ‘velho institucionalismo’ e
a expansão do ‘neo-institucionalismo’ pondera que o importante é considerarmos que:
Tanto o ‘velho’ como o novo institucionalismo reagiram contra os modelos de
organização baseados em concepções racionalistas e destacaram as relações
entre a organização e seu ambiente, ao mesmo tempo em que valorizaram o
papel da cultura na formação das organizações. (CARALHO et at, 1999, p.5).
Com relação à teoria institucional na ciência política, Scott (1995) observa que a
maior parte dos trabalhos desenvolvidos tiveram um caráter mais normativo, em
detrimento de proposições testáveis. O foco estava relacionado às estruturas formais e
sistemas jurídicos, e também, na relevância dada aos sistemas políticos, resultando em
descrições de regras, direitos e procedimentos. Por último, gostaríamos de destacar que a
abordagem foi considerada conservadora no sentido em que ela enfatizava um caráter
político permanente e imutável das instituições. A crítica bahaviorista exposta por Scott
(1995) alerta para o fato da análise ter sido centrada mais nos atributos formais e não tanto
nas instâncias informais e distribuições de poder, atitudes e comportamento políticos.
Contudo, o atual institucionalismo demonstra que não recorre tanto à um regresso da
configuração história, procurando restabelecer a importância dos sistemas de regras e
quadros normativos utilizados para orientar e até mesmo constranger comportamentos.
As primeiras fontes com ênfase nos processos cognitivos, alicerce da sociologia na
teoria institucional, podem ser encontradas nas obras de autores clássicos da sociologia,
como Durkhein e Max Weber. A partir das contribuições destes autores, a teoria
institucional passou considerar os sistemas simbólicos e as regras culturais como
determinantes na mudança de base na ordem social, definindo as estruturas sociais que
governam comportamentos. Observa-se também uma preocupação com relação ao
entendimento das formas pelas quais as princípios culturais interferem nos sistema
jurídico, nas de constituições e nos sistemas de regras. Scott (1995) ressalta ainda que
Talcott Parsons construiu a teoria voluntarista da ação17, objetivando sintetizar os
argumentos de Marx, Weber e Durkhein, na tentativa de conciliar uma abordagem
subjetiva e objetiva para ação social regida por quadros normativos. Ou seja, afirma que
um sistema de ação pode ser denominado com ‘institucionalizado’ na medida em que os
atores orientam suas ações de acordo com um conjunto comum de normas e valores
normativos. Contudo, percebe-se que além prender-se excessivamente aos padrões
culturais, negligencia as dimensões cognitivas ao contrário das considerações de DiMaggio
e Powell (1991). Inclusive para DiMaggio e Powell (1991), o enfoque sobre as dimensões
cognitivas das instituições seria a principal característica do neo-institucionalismo.
Contudo, é indispensável salientar que ao considerarmos os três elementos
(regulativo, normativo, e cognitivo) é necessário ponderarmos que a maior parte dos
teóricos tem ressaltado um em detrimento de outro. Entretanto, os três pilares sãos
17
Ver Parsons (1937, 1951) e Alexander (1983).
13
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identificados como suporte da teoria institucional, assim como a compreensão e
entendimento do contexto, ou seja, o ambiente onde estão inseridas as organizações.
Já para Jepperson (1991) a concepção de instituições baseada no ambiente externo,
na qual a conduta humana pode reproduzir-se de forma automática, o comportamento
individual seria condicionado essencialmente pelo ambiente. Podemos notar a evidência na
idéia de reprodução de um modelo social, confrontando a noção de instituição com ação
social. Para Jepperson (1991) a instituição passaria depender cada vez menos da ação. Esta
problemática traz consigo nova perspectiva, que passa ser trabalhada no neoinstitucionalismo.
Entretanto, o neo-institucionalismo também suscita o debate em torno da
possibilidade de construção social da realidade, onde as organizações além da eficiência
produtiva18 buscam também legitimidade. A mudança de paradigma passa pelo
entendimento de que muitas vezes a conduta é condicionada por escolhas nem sempre pela
opção mais racional, e sim por opções que sejam satisfatórias. Neste sentido, a ação
transcende os aspectos técnicos, sendo abarcados valores simbólicos e critérios de valor.
Mesmo considerando as contribuições que a teoria institucional aportou aos estudos
organizacionais, Jepperson (1991) levanta algumas questões críticas, como por exemplo, o
fato da mesma ser essencialmente determinista (considerando que o cenário de ação é
limitado); a excessiva ênfase dada ao isomorfismo institucional; e presença ainda marcante
do racionalismo, focando as escolhas do comportamento humano na eficiência.
4. A Teoria dos Custos de Transação e os limites cognitivos: um debate profícuo
No contexto das organizações é relevante salientar as competições por elas
estabelecidas. Barney e Hesterley (2004) ressaltam que existem algumas formas de análise
organizacional que consideram as questões relativas a competição, incluindo a teoria
institucional. Para Barney e Hesterley (2004) a teoria institucional (discutida em Di
Maggio e Powell, 1983), reflete a importância da legitimação para a sobrevivência de uma
organização. Portanto, a probabilidade de sobrevivência de uma organização é fonte de
interesse tanto da economia das organizações como de outras vertentes.
O campo disciplinar da economia nas organizações é ponderado em Barney e
Hesterley (2004), mas os autores afirmam que existem várias vertentes teóricas que se
esforçam em definir da melhor maneira possível a economia das organizações19. Neste
contexto, os aspectos em comum, da economia das organizações com outras formas de
pensar a análise organizacional, ressaltados por Barney e Hesterley (2004) são o contínuo
interesse no estudo das organizações e o fato da maioria dos economistas de organizações
terem um interesse inabalável na relação entre competição e organizações.
Para os autores, embora o mercado seja considerado (pelas teorias clássica e
neoclássica) o meio mais eficiente para coordenar e efetuar as transações econômicas a um
18
Contudo, observamos que esta teoria possui ainda traços de abordagens teóricas voltadas para a eficiência
produtiva.
19
Os autores afirmam que alguns apostam na crença em análises de equilíbrio, suas hipóteses de gestores
maximizadores de lucro e o uso de modelos e pressupostos abstratos. Contudo, existe uma gama de
estudiosos que não consideram que todos os gestores adotem, de maneira recorrente, objetivos de lucro
máximo em seus processos decisórios, bem como são partidários do não-equilíbrio na análise organizacional.
Para maiores informações consultar: Nelson e Winter (1982); Jacobosn (1992); Arrow (1985); March e
Simon (1958); Williamson (1975); Jensen e Meckling (1976); Tirole (1989); Kogut (1988).
14
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custo muito baixo e sem planejamento do governo, em muitas circunstâncias isto não
reflete a realidade. Neste caso, como demonstrou Coase (1937 apud Barney e Hesterley
2004, p.133) as organizações existem porque, às vezes, “o custo de gerenciar transações é
maior do que o custo de gerenciar transações econômicas dentro dos limites de uma
organização”. Contudo, a explicação de Coast precisou sofrer um aporte no sentido de criar
um modelo mais completo do custo de usar o mercado para gerenciar transações
econômicas. Neste sentido, surge a Teoria dos Custos de Transações (TCT).
Williamson (1957 apud Barney e Hesterley 2004) afirma que os mercados e
hierarquias são instrumentos alternativos para completar um conjunto de transações e os
instrumentos que completam o conjunto de transações, mercados e hierarquias são também
chamados de mecanismos de governança. A TCT possui dois pressupostos fundamentais
relacionados aos atores econômicos engajados em transações. O primeiro seria a
racionalidade limitada e o segundo, o oportunismo.
A racionalidade limitada trata essencialmente da dificuldade de utilizarmos a
racionalidade de forma absoluta. Os limites cognitivos seriam responsáveis pela
necessidade de estabelecermos contratos complexos, que embora sejam um aporte de
segurança, não possuem a capacidade de eliminar totalmente a incerteza. Para Barney e
Hesterley (2004) os atores econômicos simplesmente não podem prever todos os
resultados possíveis numa relação de troca ou formular respostas contratuais ou outras
respostas diante das eventualidades. O oportunismo sob a concepção da TCT compreende
a possibilidade da busca do interesse próprio nas transações. Para Williamson (1985, p. 47
apud Barney e Hesterley 2004, p. 135) o oportunismo inclui mentir, roubar e trapacear,
mas “refere-se a uma revelação incompleta ou distorcida de informações, especificamente
voltada a esforços para enganar, alterar, disfarçar, ofuscar, ou, de outra maneira confundir”
os parceiros numa transação. Sem o oportunismo as transações poderiam ser feitas na base
da promessa, sem a necessidade de acordos formais.
De acordo com Barney e Hesterley (2004) se a minimização dos custos nas trocas
econômicas fosse o único objetivo dos atores econômicos, as estruturas de governança do
mercado seriam eleitas. Ou seja, a ‘governança de mercado’ é a maneira menos custosa de
efetuar as transações econômicas. Contudo, se o principal objetivo fosse reduzir os efeitos
negativos da racionalidade limitada e do oportunismo, a forma de governança seria a
hierárquica, onde existe a presença de uma terceira parte responsável por gerencia as
transações. Estes três fatores, minimização dos custos, racionalidade limitada e o
oportunismo são os principais fatores que afetam diretamente nas escolhas nas transações
econômicas.
Contudo, além do mercado e das formas hierárquicas como forma de organizar as
atividades econômicas, existem formas ‘intermediárias’ de estruturação das atividades
econômicas. Para Barney e Hesterley (2004) a TCT designou essas formas intermediárias
como híbridas, que incluem estruturas de governança que não são nem hierárquicas nem de
mercado. Entre estas formas destacamos as franquias, as joint ventures e mais
recentemente, as redes de organizações que matem relações contínuas.
Conforme Williamson (1991 apud Barney e Hesterley 2004) o aprofundamento dos
estudos sobre estes tipos intermediários de estruturas demonstrou que estas formas híbridas
têm mais incentivos e uma capacidade de adaptação maior que as formas hierárquicas, e
possibilitam maior controle do que os mercados. Ou seja, em um contexto que exija uma
15
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combinação de incentivos, adaptação e controle, as formas de governança híbridas são
mais apropriadas, conforme salienta Williamson (1991 apud Barney e Hesterley 2004).
Em suma, observa-se que na teoria dos custos de transações o objetivo principal é
reduzir o máximo possível o custo e desta forma, obter o maior lucro. Contudo, devido à
existência de alguns atributos nas transações, como por exemplo, a incerteza e o alto nível
de investimentos alocados em uma transação, ocasionados essencialmente pelo
oportunismo e a racionalidade limitada, o mercado deixa de ser a melhor maneira de
regulação, como prega a economia. Neste contexto, a escolha da melhor forma de
governança é vista como a forma de reduzir possíveis problemas criados pelos processos
transacionais. Ressalta-se, todavia, a deficiência desta teoria pelo fato de menosprezar os
conflitos dentro das organizações, assemelhando neste sentido, à teoria neoclássica20, em
que economizar seria mais importante que estabelecer estratégias.
Para TCT minimizar custo de transação é pensar em eficiência – mas as empresas
contemporâneas também buscam legitimidade. Este seria o principal ponto deficitário a
nosso ver, algo que a TCT não consegue explicar. Sob o ponto de vista da TCT, a parceria
supermercados - agricultores seria a forma mais eficiente, e que traria custos de transações
menores. Contudo, conforme exposto anteriormente, e de acordo com a realidade empírica
vivenciada, sabe-se que além da redução de custos, as organizações buscam através dos
processos de integração ‘algo a mais’. Este acréscimo pode ser reconhecimento pelo
trabalho realizado com os agricultores, a criação de uma identidade com a comunidade
local, o reforço de alguma marca, etc. Corroborando com as observações feitas
anteriormente, Barney e Hesterley (2004) apontam como principais críticas à TCT o
excessivo foco na minimização dos custos, a subestimação aos custos de transação nas
organizações e o fato de não ter em grande conta as relações sociais existentes nas
transações econômicas.
5. Considerações Finais
Como o observado na bibliografia pesquisada, sob o ponto de vista da teoria
institucional a legitimidade não é uma mercadoria a ser obtida ou trocada, e sim uma
condição que reflete ou um alinhamento cultural, ou o apoio normativo, ou ainda,
consonância com regras ou leis estabelecidas. Com relação à concepção normativa, a
legitimidade será avaliada sob um ângulo moral, que inclusive pode ser amparada por leis.
Na visão institucional reguladora, a legitimidade será examinada de acordo com as leis e
regulamentos referentes ao tema em estudo. Já sob a perspectiva cognitiva, a legitimidade
deve estar adequada em um quadro aceito/estabelecido pela sociedade.
Ao considerarmos que muitas organizações (no nosso estudo, os supermercados) ao
realizar as parcerias/integrações com os agricultores procuram enquadrar-se em certos
quadros legitimamente aceitos pela sociedade, percebemos dois aspectos interessantes. O
primeiro refere-se ao fato de que após algumas organizações pioneiras neste sentido terem
realizado este tipo de integração, em poucos anos isto tem se tornado uma prática muito
comum, tanto em grandes redes multinacionais quanto em supermercados de caráter
regional ou local, o que pode ser um indício do que foi denominado pelos autores como
isomorfismo, oriundo de decisões tomadas com base em diretrizes culturais. O segundo
20
Mesmo com algumas particularidades, a TCT pode ser considerada como alicerçada basicamente na teoria
neoclássica.
16
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elemento, diz respeito à importância do ambiente externo na configuração das ações
estratégicas que possibilitarão o alcance das metas desejadas. Ou seja, o ‘ambiente’ que a
nosso ver, compreende tanto a superestrutura, as organizações e os ‘ stakeholders’, será
determinante na escolha de uma alternativa de ação. Numa circunstância em que a
comunidade não considera importante o apoio e o fortalecimento da produção local, sob a
ótica da busca de legitimidade, em nada resultaria ações neste sentido. Já em um cenário
onde a sociedade valoriza estas ações, as organizações podem ter um retorno que
transcende o econômico, conseguindo estabelecer uma ligação com os stakeholders (neste
caso, os consumidores) que perpassa um ambiente de mercado puramente, alcançando o
nível do simbólico.
Por fim, além da necessidade de reconhecermos a interdependência e a
possibilidade de uma relação simbiótica que pode ser estabelecida entre as organizações e
os stakeholders, surge uma questão interessante que demonstra a necessidade de estudos
futuros. Esta demanda refere-se à possibilidade dos processos de integração entre
agricultores e supermercados ser uma tentativa de muitas organizações em aliar a busca
pela redução dos custos de transação e o alcance de legitimidade na sociedade.
6. Referências bibliográficas
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