época e remete a formações discursivas que, por sua vez, se ligam a formações ideológicas, onde
o discurso é considerado como:
[...] um modo de existência social da linguagem, considerado como materialidade que exerce um papel fundamental na individualidade, ao mesmo tempo
em que denota o caráter sócio-histórico dos seres humanos. Constitui e é
constituído por estes. (PAULI, 2000, p.76)
A forma, a materialização do discurso, ocorre no sujeito, embora não seja de
origem dele próprio. Isso ocorre porque o sujeito retoma os sentidos que já
existem, e o discurso, não começa no momento do enunciado do sujeito, mas
no que o indivíduo já conhece, já participa e já relaciona, pois é fruto do contexto social já existente. Nesse aspecto, afirma Pêcheux (1988):
O processo discursivo não é, portanto, originado no indivíduo, embora nele se
materialize. O sujeito retoma sentidos pré-existentes, presentes no “interdiscurso” ou “memória do dizer”, o que indica que um discurso não tem início no
momento em que o sujeito produz seus enunciados. (PÊCHEUX, 1988).
Considerando a noção do sujeito nas suas condições de produção, que são culturais, históricas e ideológicas, e voltando aos aspectos próprios da realização de uma pesquisa é importante a
análise do sujeito enquanto integrantes do contexto social. Os pesquisados são atores sociais que
possuem um saber que é social e que é adquirido no meio em que vive, com seus pares, no seu
cotidiano, e o seu saber é a interface entre o individual e o social. Em uma pesquisa, nas narrativas,
os sujeitos da pesquisa estarão relatando suas experiências que também são sociais. Experiências
alheias como definido em ensaio de Benjamin (1994) que define o narrador, como aquele que conta
sobre sua experiência, mas também o que aprendeu na convivência com o outro. A maneira de utilização das narrativas em uma pesquisa, ou seja, a interpretação das narrativas é tarefa do pesquisador que, primeiro, torna-se leitor. A partir das leituras das narrativas, é que começa o processo de
pesquisa. A narrativa em si não dá explicações e difere da informação. Essa definição encontra-se
em Benjamin (1994) que confere importância momentânea à informação e, ao compará-la com a
narrativa, confere a ela a interpretação que perdura e difere de leitor para leitor. Quando recebemos
uma notícia, ela chega até nós explicada como um dado e, só tem valor no momento da novidade.
A narrativa permanece, por que pode ser interpretada de várias formas. Assim é importante dar voz
aos pesquisados, dando-lhes tempo para descrição de suas narrativas e, posteriormente, analisar
as mesmas, devolver o material escrito, se for preciso, para esclarecimento de questões e analisar
as narrativas escritas com o sujeito nas suas condições de produção.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BENJAMIN, Walter. O narrador: considerações sobre a obra de Nicolai Leskov. In: BENJAMIN,
Walter. Obras escolhidas: Magia e técnica, arte e política. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.p.
127 – 221.
CAZARIN, Ercília Ana. A representação do sujeito no discurso político de L. I. Lula da Silva. Cadernos de Estudos Lingüísticos: Campinas, n.37, jul./dez.1999, p.05-10.
CHIZZOTTI, Antônio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
Biblioteca da educação. Série I, Escola; V. 16.
MORIN, Edgar. A ciência com consciência. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. 350p.
ORLANDI, Eni Puccinelli. A análise de discurso e seus entremeios: notas a sua história no Brasil.
Cadernos de Estudos Lingüísticos, Campinas , n.42 , p.21-40, jan/jun 2002.
Download

época e remete a formações discursivas que, por sua vez