PRODUÇÃO HORIZONTAL E NARRATIVAS VERTICAIS1: novos padrões para as narrativas jornalísticas HORIZONTAL PRODUCTION AND VERTICAL STORYTELLING: new patterns for the journalistc narratives Suzana Barbosa2 Naara Normande3 Yuri Almeida4 Resumo: O artigo objetiva discutir as narrativas multimídias como uma potencialidade da metáfora da estética base de dados, capaz de romper com a metáfora do impresso - broadsheet metaphor. Como aporte teórico, são apresentados conceitos relacionados à convergência jornalística, ao continuum multimídia, às narrativas digitais e às bases de dados. Nosso procedimento metodológico é estruturado na aplicação de fichas de análise que visam identificar o perfil, o design, a multimidialidade e a interatividade das narrativas jornalísticas em redes digitais que despontaram como casos paradigmáticos, produzidas pelos grupos The New York Times, The Guardian e Folha de S. Paulo. Como conclusão, identificamos padrões para essas narrativas a partir de elementos relevantes e diferenciadores, tais como a densidade informativa, a verticalização, a integração dos recursos multimídias, a utilização consistente de menus de navegação e os botões de compartilhamento para as redes sociais. Palavras-Chave: Narrativas multimídias. Convergência jornalística. Bases de dados Abstract: The article seeks to discuss multimedia storytelling as a potential for the metaphor of database aesthetic, which is able to break the metaphor of print broadsheet metaphor. As a theoretical contribution, we introduce concepts related to journalistic convergence, continuum multimedia, multimedia narratives and databases. The methodological procedure is the application of analysis records, seeking to identify the profile, design, interactivity and multimediality of journalistic narratives in digital networks which emerged as paradigmatic cases, produced by The New York Times, The Guardian and Folha de S . Paulo. As a conclusion, we identified patterns for these narratives ranging from relevant to differentiating elements, such as information density, vertical dimension, integration of multimedia elements, navigation menus and share icons for social networks.. Keywords: Multimedia storytelling. Journalistic convergence. Databases. 1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Estudos de Jornalismo do XXIII Encontro Anual da Compós, na Universidade Federal do Pará, Belém, de 27 a 30 de maio de 2014. 2 Federal da Bahia (UFBA). Investigadora-coordenadora do Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-line (GJOL). Convergente (Labjor). E-mail: [email protected] 3 Mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Facom/UFBA. Integrante do GJOL e do Labjor. Email: [email protected] 4 Jornalista e Mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Facom/UFBA. Integrante do GJOL e do Labjor. E-mail: [email protected] 1 1 – O processo de convergência jornalística e o continuum multimídia Em um ecossistema midiático estruturado na lógica multiplataforma, de continuum multimídia de cariz dinâmico (BARBOSA, 2013), a criação de novos padrões/formatos de narrativas integra os resultados da convergência jornalística, tendo em vista que a web atua como um catalisador de potencializações, possível, sobretudo, graças à integração de mídias na narração de uma história. As narrativas, estruturadas de maneira justaposta, talvez sejam meras continuações dos suportes anteriores. De maneira integrada, contudo, destacam cada detalhe a partir de seus elementos mais representativos. A busca por uma atuação de maneira convergente resultou em uma série de formulações (DAILEY et al., 2005; GORDON, 2003; LAWSON-BORDERS, 2003), porém, a complexidade do fenômeno exigiu uma ampliação para além do âmbito tecnológico, deslocando, assim, a atenção para o aspecto cultural como o grande diferenciador do processo (JENKINS, 2008). A proclamada convergência jornalística, que integra ferramentas, espaços, métodos de trabalho e linguagens, influencia diretamente nas dimensões tecnológica, empresarial, profissional e editorial dos meios de comunicação (SALAVERRIA et al., 2010). Esse processo implica em mudanças no ambiente físico das organizações jornalísticas, fundamentais para promover as transformações no fluxo da produção, edição, distribuição e circulação do conteúdo jornalístico. Inspirado no modelo adotado (FIG 1) pelo jornal alemão Die Welt, Filloux (2013) propõe que as empresas jornalísticas precisam evoluir para plataformas de notícias multimídia. Nesta estrutura, a redação teria uma arquitetura mais dinâmica buscando atender a diversidade e os imperativos, principalmente temporais, das narrativas. No centro, estariam os editores-chefes do plantão, dos dispositivos móveis, de inovação e da parte técnica. No entorno, os editores das versões para a web, para tablets, mobile, das editorias - opinião, nacional, economia, vídeo, design, entre outros. Um pouco mais afastada estaria a equipe que pro z õ “ ”, como especiais e produtos para o fim de semana. 2 FIGURA 1 – Arquitetura da redação do Die Welt FONTE – Filloux (2013, Online). Contudo, Filloux (2013) pontua que a estrutura física da redação é apenas uma parte da equação desta mudança necessária. Para ele, é importante mudar o fluxo de trabalho nas redações, evoluindo para uma plataforma de notícias, onde as notícias constituam produtos de alto valor independente do device. Assim, o fluxo ideial de notícias deve ser dividido em vários formatos para atender aos diferentes dispositivos em distintos momentos do dia. “B g wh w k h 'first' in digital, publishers must figure out the right w” (FILLOUX, 2013, online). O modelo proposto por Filloux (2013) materializa, de certa forma, o esquema Convergence Continuum proposto por Dailey et al. (2005) por meio do qual uma organização jornalística precisaria enfrentar quatro diferentes estágios: Promoção cruzada; Clonagem ou Transposição de conteúdos; Coopetition, ou seja, um híbrido de competição e cooperação; e Compartilhamento de informações – para, então, obter o nível pleno de convergência. Cada etapa possui características específicas que podem ser sobrepostas às outras conforme o aumento da cooperação e interação entre os distintos estágios. O nível convergente é aquele em que os meios de comunicação parceiros possuem uma atribuição compartilhada, pois trabalham juntos na apuração e na publicação das informações, entretanto, identificam os pontos fortes de cada meio para contar a história da maneira mais eficaz. 3 FIGURA 2 – Modelo Convergence Continuum FONTE – Dailey et al. (2005). Barbosa (2013) frisa que na atual conjuntura do jornalismo nas redes digitais, a lógica estrutural está associada aos processos de integração e remediação, no lugar da oposição ou concorrência entre os meios e/ou produtos jornalísticos. “ cenário atual é de atuação conjunta, integrada, entre os meios, conformando processos e produtos, marcado pela horizontalidade nos fluxos de produção, edição, e distribuição dos conteúdos, o que resulta num continuum multimídia z â ” ( . 33). O continuum multimídia, de acordo com Barbosa (2013), traduz melhor o processo de gê í , “ g g multiplataforma/cross media” ( . 37), compondo, dessa forma, aquilo que a autora propõe como a quinta geração do jornalismo em redes digitais, cujos elementos constitutivos são a medialidade (Grusin, 2010), o Paradigma Jornalismo em Base de Dados (Barbosa, 2007), a horizontalidade como uma especificidade do fluxo de informações, o continuum multimídia e as mídias móveis. São os novos agentes que reconfiguram a produção, a publicação, a distribuição, a circulação, a recirculação, o consumo e a recepção de conteúdos jornalísticos em multiplataformas. As mídias móveis são também propulsoras de um novo ciclo de inovação, no qual surgem os produtos aplicativos (apps) jornalísticos para tablet e smartphones (BARBOSA, 2013, p. 42). 2 - Narrativas jornalísticas a partir das bases de dados Na web, as narrativas vão além da estruturação clássica e passam a agregar novos atributos. Nora Paul e Christina Fiebich (2005) elencaram cinco aspectos principais: 1) Mídia – compõe os elementos utilizados para produzir o pacote informativo, relacionados à criação do roteiro e suporte da narrativa; 2) Ação – refere-se ao movimento realizado dentro do próprio conteúdo e também ao movimento do usuário na obtenção das informações; 3) 4 Relacionamento – diz respeito à forma como o conteúdo pode ser acessado, seja pela personalização ou interatividade; 4) Contexto – potencializado no ambiente digital pelo uso dos links que fornecem informações adicionais; e 5) Comunicação – relacionado à habilidade de se conectar com outras pessoas. As autoras acrescentam que a grande mudança de paradigma das narrativas digitais deve-se à participação do usuário. Portanto, o sucesso de uma história depende dos interesses da audiência e do tipo de narrativa que melhor se adapte àquele público. Bertocchi (2006) analisou as principais transformações da narrativa jornalística no ciberespaço. Conforme a pesquisadora, a grande diferença nesse ambiente é a alteração da retórica, baseada na tríplice exigência, ou seja, nas possibilidades do hipertexto, da multimidialidade e da interatividade. A autora acrescenta que o conjunto de regras e padrões das narrativas ciberjornalísticas deve seguir três princípios: Conexão - relacionado à hipertextualidade -, Unidade (ou coesão) – relacionado à multimidialidade, e Liberdade aparente – relacionado à interatividade. Para a autora, a retórica ciberjornalística aplicada às narrativas digitais tem se desenvolvido de maneira mais conservadora, apesar da tentativa de equilibrar as estratégias da narrativa clássica com as possibilidades do meio digital. Assim como Ribas (2005), ela considera a reportagem multimídia e a infografia interativa como exemplos plenos de narrativas no ciberespaço. Em sua tese doutoral, Daniela Bertocchi (2013) vai trabalhar a noção de sistema narrativo como um modelo no atual contexto da quinta geração do jornalismo nas redes digitais, também empregando o Paradigma Jornalismo em Base de Dados (JDBD) “a narrativa digital jornalística é sistema, processo, fluxo. Colocamos a narrativa neste estudo como um ato contínuo com capacidade de ir se modelando em diferentes substâncias e formatos e no ecrã de distintos dispositivos a partir do g ”. ( . 39) Sobre a existência dos infográficos nas narrativas jornalísticas na web, Mielniczuk (2008) considera que os movimentos e as animações permitem a fluidez a partir das bases de dados. Pesquisadora de infográficos jornalísticos, Tattiana Teixeira (2009) os conceitua como elementos icônicos e tipográficos, tais como mapas, fotografias, ilustrações, gráficos, partindo sempre da relação indissociável da imagem + texto. Na internet, a autora argumenta que os infográficos podem incluir recursos multimídias, como vídeos e áudios, além de permitir que o usuário utilize informações disponibilizadas em bases de dados para produzir a infografia a partir de seus próprios interesses. Cairo (2008) destaca ainda que o aumento dos recursos 5 interativos e, sobretudo das bases de dados na composição da infografia, resulta em um produto específico para cada usuário. Precisamos ressaltar que toda a discussão sobre a produção de narrativas na web tem como estrutura as bases de dados, das simples às mais complexas. Manovich (2001) as considera como o centro do processo criativo na era do computador, possibilitando, assim, a visualização do conteúdo por diferentes interfaces e em distintas plataformas. Segundo o teórico, o usuário de uma história está, na verdade, atravessando uma base de dados a partir dos links nela indicados. Dessa forma, conceitua uma hipernarrativa como a soma dos múltiplos caminhos através de uma base de dados. Na mesma linha de raciocínio, Machado (2007) defende a atualização do conceito de narrativa no contexto desses conjuntos estruturados por dados. O autor afirma que na narrativa moderna, ouvinte, leitor e telespectador acompanham a narração sem interferir no fluxo da narrativa. No ambiente do ciberespaço, ao contrário, a narrativa depende da intervenção do usuário, que ao navegar em uma publicação jornalística, realiza uma ação que altera todo o desenvolvimento. Barbosa e Farbiarz (2009) defendem a estética base de dados como uma nova metáfora para a representação da informação jornalística. Em consonância com os autores, entendemos que a estética base de dados é a metáfora para compreender a visualização/apresentação das narrativas verticais. No contexto atual, marcado pelo uso exponencial de bases de dados (BDs) para estruturar, organizar, armazenar e apresentar os conteúdos noticiosos, uma nova metáfora para a representação da informação jornalística vem ganhando espaço: a metáfora da estética base de dados. Isto é, um modo particular para a apresentação das informações jornalísticas já desvinculado da metáfora do impresso – broadsheet metaphor – e que procede diretamente do emprego das BDs para a estruturação dos conteúdos no jornalismo digital ou ciberjornalsimo (BARBOSA, FARBIAZ, 2009, p. 1). A é é g “V z ” Jornalismo Digital em Base de Dados (BARBOSA, 2007, 2013; BARBOSA, FARBIARZ, 2009; BARBOSA, TORRES, 2012). Para a autora, tal categoria refere-se aos diversos modos de representação de informações jornalísticas, tendo as bases de dados como estrutura fundamental, seja por meio de metadados, data mining, tagging, squarified, entre outros. Das mais de 20 funcionalidades desempenhadas pelas bases de dados na estrutura e organização 6 da produção do conteúdo, identificadas por Barbosa (2007; 2013) e Barbosa e Torres (2012), cabe sinalizar as que estão associadas com a elaboração de narrativas, a saber: Integrar distintas plataformas; Gerenciar o fluxo de informação e o conhecimento nas redações; Garantir a flexibilidade combinatória e o relacionamento entre os conteúdos; Agilizar a produção de conteúdos, em particular os de tipo multimídia; Transmitir e gerar informação para dispositivos móveis, como computadores de mão, iPods, celulares e, mais recentemente smartphones e tablets. Bertocchi (2013) destaca que no formato de narrativas guiadas por dados e metadados, a visualização de dados é o resultado mais comum, pois “revela-se como o aproveitamento do agenciamento entre as camadas de dados e metadados no âmbito do sistema narrativo, o qual ”. (p.180). O sistema narrativo proposto privilegia a apresentação vi por Bertocchi (2013) é dividido em três atos (FIG 3): FIGURA 3 – O Sistema Narrativo no Jornalismo Digital FONTE – Bertocchi (2013). 1- Antenarrando os dados: “intrinsicamente relacionada ao publicador escolhido pela empresa ” ( . 82) “antenarrar dados insere-se num "cultura de software" e dialoga diretamente com o jornalismo de dados” (p. 114); 7 2- Antenarrando os metadados: “implica em atribuir significado aos dados selecionados em uma respectiva base de dados, ou seja, o ato de organizar dados e categorizá-los com o objetivo de recuperar e reaproveitar informaçõe ” ( . 115). S g , a antenarração de metadados incide, ao mesmo tempo, na organização interna dos dados que ulteriormente irão compor a narrativa renderizada como na organização externa do formato narrativo que o usuário acessa via ecrã digital e tem um duplo papel: no frontend e no backend jornalístico. 3- Os formatos no ecrã, etapa em que se pode observar “a narrativa ganhando mais gá corporeidade e tangibilidade n ” (p.159). Para a autora, “o design da interface digital é o lugar onde o formato se substancializa e ganha vida aos olhos daqueles que o acessam, o visualizam e com ele interagem, construindo a partir desse contato uma exp ê í ” (p.202). 3 – Novos padrões de narrativas? A publicação de “Snow Fall: The avalanche at Tunnel Creek”5, produzida pelo The New York Times, em dezembro de 2012, colocou em pauta na academia e no mercado jornalístico o debate sobre o futuro do jornalismo digital, a viabilidade financeira para a produção de narrativas semelhantes e até a importância do jornalismo profissional no desenvolvimento de novos formatos narrativos. Mais importante do que o reconhecimento com a premiação do Pulitzer ao repórter John Branch, Snow Fall tornou-se um verbete entre os pesquisadores e jornalistas e figurou com sinônimo de inovação de narrativa jornalística. h (2010) q , , é“ é , tecnologias, procesos, lenguajes, formatos, equipos, dispositivos y aplicaciones, valores o modelos de negocios destinados a dinamizar y potenciar la producción y consumo de las í ” ( .67). h (2010) q jornalística busca maximizar a produção e atender os leitores com notícias de qualidade, além de ser acessíveis por todos os meios. Apesar de reconhecer o êxito no aspecto estético, Cairo6 (2013) questiona a eficiência narrativa de Snow Fall. Na avaliação do pesquisador, os recursos multimídia encantam mais do que explicam o fato, que deve ser o objetivo final de uma narrativa. 5 6 Disponível em: http://migre.me/hUm1e. Acesso em: 03/02/2014 Disponível em: http://migre.me/hUlOI. Acesso em: 02/02/2014 8 Na mesma linha, Khoi Vinh7 (2013), ex-diretor de design do NYTimes.com, mostra-se cético com a possibilidade de narrativas como o Snow Fall resultarem em inovação no jornalismo, uma vez que, na opinião dele essas narrativas são criadas mais para serem admiradas do que lidas. Em uma avaliação mais detalhada, Jeremy Rue8, da Escola de Jornalismo de Berkeley na Universidade da Califórnia, avaliou que além da integração das mídias, vários componentes técnicos e de design contribuíram para a receptividade de Snow Fall: - Há vídeos silenciosos que são reproduzidos automaticamente, alguns deles proporcionando um cenário gráfico, outros como gráficos informativos; - Existe um mecanismo de rolagem (jquery.inview) que irá desencadear ações conforme o usuário utiliza. Por exemplo, ele irá reproduzir um vídeo, animação gráfica ou alterar algumas propriedades CSS como desaparecendo no fundo. - Um efeito "cortina" que revela ou cobre imagens e vídeos a partir da rolagem realizada pelo usuário. Esses elementos, considerados inovadores até o momento, refletiram no espalhamento do conteúdo pela rede, conceito proposto por Henry Jenkins, Joshua Green e Tom Ford no livro Spreadable Media: creating value and meaning in a networked culture (2013). Os autores buscaram compreender o porquê e como as pessoas estão assumindo uma função cada vez mais ativa na definição do fluxo de mídia para seus próprios interesses nessa cultura em rede. Segundo eles, o termo relaciona-se ao fluxo de ideias, aos materiais dispersos, experiências h “ ê diversificadas, participação , aberta, õ motivação õ “ e facilidade dos ”, “ ” ”, bem como um embaralhamento entre esses cargos. Uma frase resume a : “S g h , á ” ( ENKINS et al. 2013, p. 1). Singer (2013), por sua vez argumenta que em ambientes digitais, os usuários tornaram-se secondary gatekeepers do conteúdo publicado nos sites jornalísticos. Neste processo, os usuários atuam na recirculação das notícias, a partir das percepções individuais do valor e da qualidade dos produtos jornalísticos. “The result is a two-step gatekeeping process, in which initial editorial decisions to make an item part of the news product are 7 8 Disponível em: http://migre.me/hUlPI. Acesso em: 02/02/2014 Disponível em: http://migre.me/hUm5U. Acesso em: 03/02/2014 9 followed by user decisions to upgrade or downgrade the visibility of that item for a secondary ” (Idibem, p. 2). Ainda de acordo com Singer (2013), a internet reconfigurou a relação dos usuários com os sites jornalísticos. Agora, os leitores podem compartilhar suas impressões e julgamentos do conteúdo publicado para as suas respectivas redes, agindo como distribuidores secundários das notícias que considerarem importantes. Com o secondary gatekeeping, as notícias ignoradas ou subvalorizadas pelos editores na capa do jornal, por exemplo, podem ganhar relevância e visibilidade a partir do compartilhamento dos leitores, assim a própria noção do gatekeeping é relativizada, pois a visibilidade do conteúdo depende mais da audiência do que colocar determinada informação no topo da página. This shift can be understood as occurring along a continuum of journalistic control over content decisions. At one end of the continuum is the traditional process, in which journalists make and enact decisions about virtually all editorial content that h h ‘ ’ h .A h h w environment in which users make all the decisions; social bookmarking sites such as Digg, which typically display lists of clickable headlines based on user recommendations, are examples of aggregated user-generated visibility (SINGER, 2013, p. 13) Informações publicadas pelo editor executivo do New York Times, Jill Abramson, ratifica a importância do secondary gatekeepers (SINGER, 2013). De acordo com Abramson, o projeto foi compartilhado por mais de dez mil usuários no Twitter, recebeu quase três milhões de visitas e os usuários gastaram, em média, doze minutos. Grande parte do fluxo de acesso foi proveniente das redes sociais e muitas visitas ocorreram antes do destaque do projeto na página principal do nytimes.com. Em paralelo a criação de produtos jornalísticos nesses padrões, destacadamente como narrativas verticais, tem surgido ferramentas que facilitam tais experiências como Shorthand9 e o Scroll Kit10. O Shorthand criado pelo Leep Labs está em fase beta e busca empresas parceiras para o desenvolvimento da aplicação. Entretanto, no site institucional, o Shorthand apresenta duas narrativas criadas com a ferramenta pela ESPN (Football - best of 201311) e pelo The Guardian (England vs Australia12). Já o Scroll Kit é uma start-up que trabalha no 9 Disponível em: http://migre.me/hUlU1. Acesso em: 02/02/2014 Disponível em: www.scrollkit.com. Acesso em: 02/02/2014 11 Disponível em: http://migre.me/hUlW7. Acesso em: 02/02/2014 12 Disponível em: http://migre.me/hUlY2. Acesso em: 02/02/2014 10 10 processo de simplificação do processo "kit de rolagem", característica principal das narrativas verticais. No site da start-up é possível visualizar os projetos criados com a ferramenta. O espalhamento e a repercussão de Snow Fall foram tão intensos que o ano de 2013 se configurou como um ano extremamente relevante na publicação de conteúdo jornalístico multimídia. Apenas o NYT publicou treze histórias que foram reunidas em um post13 retrospectivo sobre histórias multimídias, visualização de dados, infográficos e destaques interativos do ano que passou. No caso das narrativas multimídias, a empresa reforça que houve variedade temática, mas considera que o elemento central foi a forma de se contar histórias, integrando textos, vídeos, fotografias e infográficos. Para nossa análise, desenvolvemos uma ficha, a partir de outras previamente existentes (BARBOSA et al., 2012; BARBOSA, MIELNICZUK, 2011; MASIP et al., 2011; PALOMO et al., 2012), que teve o objetivo de identificar o perfil, o design, a multimidialidade e a interatividade de cada narrativa. Como corpus, elencamos “S “NSA : Wh w : Th A he T k”, do NYT, y ”14, do The Guardian, “A B h h ”15, da Folha de S. Paulo, consideradas por nós como exemplos extremamente B relevantes e que materializam a metáfora da estética base de dados, caracterizada sobretudo x gê á q “ g – seja nos conteúdos, seja nas opções de visualização para os mesmos ou nas opções de interação e, assim, realizarem uma experiência de navegação mais envolvente em sites jorn í ” (Barbosa e Farbiarz, 2009, p. 2). 3.1 - Snow Fall: The Avalanche at Tunnel Creek – The New York Times Proposta pela editoria de esportes do NYT “S w ” uma trágica avalanche ocorrida com esquiadores no vale Tunnel Creek, em Washington (EUA). Inicialmente, podemos verificar uma grande diferenciação das narrativas até então publicadas na web: a dimensão das páginas a partir do design verticalizado, mais comum nos produtos autóctones, com aproximadamente 604 pixels16 de altura. O design é limpo e suave, com o fundo 13 Disponível em: http://migre.me/hlaUv. Acesso em: 04/02/2014 Disponível em: http://migre.me/hUmyH. Acesso em: 05/02/2014 15 Disponível em: http://migre.me/hUmBg. Acesso em: 05/02/2014 16 Dado obtido a partir da ferramenta MeasureIt. 14 11 inteiramente branco remetendo à neve, contrastado apenas pela publicidade de cor preta. Possui menu de navegação, consistente em todas as páginas, posicionado na parte superior e de maneira horizontal, com seis diferentes partes (Tunnel Creek; Em direção ao topo da montanha; O início da descida; Mancha branca; Descoberta; A história se espalha), e outras duas com a visualização do mapa das montanhas e com a identificação de todo o grupo que se aventurou na região, composto por dezesseis esquiadores. A g “S w ”, x ág , é intuitivamente realizada pela barra de rolagem (scroll) em cada parte. Além do destaque para o g , “S w ” g , g , recursos multimídias. Identificamos a presença de fotografias, galerias de imagens, áudios, vídeos, mapas estáticos, slideshows e, principalmente, infografias interativas. Essas últimas, inseridas em seis distintos momentos da narrativa, foram os elementos diferenciadores na apresentação do conteúdo jornalístico que situaram os detalhes da região de esqui, a tempestade que resultou no grande acúmulo de neve, a formação da avalanche, o trajeto realizado por cada esquiador, a expansão da neve nas montanhas e a localização aproximada daqueles que não sobreviveram à tragédia. A linguagem audiovisual conta parte da história e é apresentada de maneira integrada, compondo uma unidade narrativa. Todos os dez vídeos rodam em um aplicativo próprio incorporado à narrativa e foram explorados no que diz respeito à emoção dos depoimentos, não só narrados pela equipe de jornalistas, mas também aqueles produzidos logo após o acidente quando os sobreviventes procuravam os colegas entre os escombros encobertos pela neve. Da mesma forma, os cinco áudios disponibilizados foram bem expressivos, pois registraram as ligações dos esquiadores em diferentes horários para o número de emergência nos EUA, o 911. N q à “S w ”, é á õ compartilhamento para as redes sociais Facebook e Twitter e do envio por e-mail, destacou o diálogo com a equipe idealizadora do projeto a partir de replies no espaço destinado aos comentários. Para a produção dessa narrativa houve envolvimento de dezessete profissionais, sendo onze desses direcionados apenas para os elementos gráficos e de design. 12 FIGURA 4 – Snow Fall: um caso paradigmático FONTE – nytimes.com. 3.2 - NSA Files Decoded: What de Revelations Means for You – The Guardian Em novembro de 2013, q “S “NSA Guardian – Wh h w ”, The y ” partir dos dados disponibilizados por Edward Snowden sobre a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos. A temática da narrativa abrange a segurança, a espionagem, o grande volume de dados e, consequentemente, a atuação política do governo norte-americano. Para a publicação foram entrevistadas fontes estratégicas, como congressistas e senadores norte-americanos, ex-funcionários da agência, especialistas em tecnologia, advogados, diretores jurídicos e jornalistas. Além, claro, dos próprios dados armazenados por Snowden, que são a atração de todo esse debate. O The Guardian selecionou quatorze arquivos e os disponibilizou ao final da narrativa. Aliada a qualidade do conteúdo jornalístico, a produção visual elaborada pelo grupo britânico foi fundamental para a compreensão da complexidade desse fenômeno. Sobre o design, também é uma narrativa vertical, com cerca de 650 pixels17 de altura. Possui um menu de navegação na parte superior e horizontal da página e foi dividida em seis partes (The NSA ; A 17 h y ; A g ; A y ?; Wh ‟ Dado obtido a partir da ferramenta MeasureIt. 13 w h g Wh ‟ w?). A g pelas partes ou pela barra de rolagem (scroll) que disponibiliza todos os níveis em uma única página. Não foi identificado nenhum tipo de publicidade. A “S w ”, .T fundo possui a cor branca e isso proporcionou a integração com os recursos multimídias. No caso dos vídeos, por exemplo, esses também possuíam um fundo branco, com destaque apenas para a imagem do entrevistado. Esse foi um diferencial da linguagem audiovisual de “NSA ”, onde não há a limitação do enquadramento do vídeo devido à fusão dos dois planos de branco. FIGURA 5 – Em NSA Files Decoded auto-play deu maior fluidez a narrativa FONTE – The Guardian. “ - y”, q integração plena com fluidez bastante agradável para a navegação no conteúdo. Ao todo foram trinta e dois vídeos e todos com curta duração, com as fontes aparecendo em momentos diferentes da narração. É pertinente comentar que não há uma grande diversidade de recursos empregados. Além dos vídeos, existem dez infografias interativas sobre a rede política, os níveis de separação que permitem a investigação pela NSA, o rastro digital gerado a partir de Facebook, Twitter, e-mails, buscas no Google, os cabeamentos ópticos entre os países de todo o mundo, entre outros. 14 A interatividade é resumida pelos botões de compartilhamento para as redes sociais Facebook e Twitter o que gerou um compartilhamento de 45.825 e 11.1 K tweets, respectivamente. Um detalhe é que esse espalhamento também pode ser realizado de maneira fragmentada, pois cada parágrafo do texto possui um ícone com direcionamento para o microblog ou então para a cópia do URL da página. No caso dos vídeos, por exemplo, é gerada uma frase do depoimento daquele entrevistado com a identificação a partir da conta do mesmo no Twitter e ainda com o auxílio de hashtags. Por fim, identificamos que treze profissionais se dedicaram para a elaboração do texto, vídeos, produção e pós-produção. 3.3 - A Batalha de Belo Monte – Folha de S. Paulo “A Batalha de Belo No último mês de 2013, a Folha de S. Paulo ”, é “T ”q á ê g g 2014. O material é bem denso e abrange a temática econômica, ambiental e social a partir da construção da usina de Belo Monte, no Pará, que será a terceira maior hidrelétrica do mundo. Ag z “A B h B ” w publicação da versão em outro idioma, nesse caso o inglês indicado por um ícone com a bandeira dos Estados Unidos da América, ampliando, assim, o espalhamento da mesma pela rede para além dos países que possuem o português como idioma oficial. 15 FIGURA 6 – Reportagem da Folha de São Paulo foi uma das pioneiras no Brasil a apostar na verticalização FONTE – Folha de São Paulo. Com uma redação bem ponderada nos moldes do texto jornalístico, buscando o equilíbrio das declarações e opiniões apresentadas, a narrativa conta com uma série de depoimentos de operários; engenheiros; diretores da empresa responsável pela obra (Norte Engenharia); professores da Universidade de São Paulo e Universidade Federal do Rio de Janeiro; gestores ambientais; relatórios de órgãos públicos e ONGs; defensores públicos; prefeitura e responsáveis pelo trânsito, policiamento, produtores e feirantes de Altamira; moradores; líderes indígenas e comunidades ribeirinhas, entre outras. Desse modo não há um personagem principal, mas sim o encadeamento de diversas fontes relacionadas à situação. A navegação é guiada a partir de um menu localizado em duas posições diferentes. Um na margem direita e vertical, consistente em todas as páginas, e que corresponde a ¼ da dimensão horizontal da página inicial. O outro fica disponível no fim da experiência de cada parte, de maneira bem mais discreta. A narrativa é dividida em cinco partes (Obra, Ambiente, Sociedade, Povos Indígenas e História) e conta ainda com outras quatro seções, compostas pelo making of, por um espaço Opinião, o game Folhacóptero e um Mapa da Bacia do Xingu. Em cada nível, a navegação é realizada pela barra de rolagem e não há links nos textos. Verificamos também que não há qualquer tipo de publicidade. Em relação aos recursos multimídias empregados foram identificados vinte e quatro í , g “ - y” dos em players incorporados à narrativa; cinquenta e cinco fotografias; dezoito infográficos; um game; um mapa interativo e uma linha do tempo interativa. É preciso advertir que a maioria desses recursos se encontrava de maneira a compor uma unidade comunicativa e não estavam dispostos em seções específicas, com exceção do mapa interativo e do game Folhacóptero. No que diz respeito à interatividade, não há contribuição do público e nem espaço para comentários, mas apenas botões de compartilhamento para o Facebook, Twitter e Google+. A “A B h B ”é , ê de texto, um fotográfico e outro de vídeo que passaram três semanas na cidade de Altamira. Segundo informações da própria empresa, o material começou a ser produzido em março do 16 mesmo ano, quando o grupo iniciou uma pesquisa para elaboração de infográficos, e contou com uma produção total de dezenove profissionais. Considerações finais A inovação trazida, , “S w ” e, posteriormente, pelas narrativas que se seguiram resulta do emprego das bases de dados e de suas funcionalidades no jornalismo em redes digitais, com destaque para a otimização do fluxo de informação e flexibilização para outros devices. Desse modo, essas narrativas multimídia se enquadram no processo de inovação jornalística descrita por Machado (2010), tendo em vista a mudança, sobretudo, na utilização de técnicas e linguagens na composição do produto e na dinâmica do processo produtivo, com a integração da equipe de diversos setores da redação e, por fim, na potencialização do consumo das publicações jornalísticas. Por outro lado, tais narrativas representam uma ruptura com o padrão da broadsheet metaphor e aproximam-se da metáfora da estética base de dados, uma vez que atendem as necessidades dos usuários em sua busca por originalidade e novas experiências de navegação nas narrativas jornalísticas. O resultado obtido com a investigação coaduna com o que Bertocchi (2013) trabalha de modo aprofundado em sua tese, na qual traz a noção de sistema narrativo para caracterizar a narrativa na quinta geração do jornalismo em redes digitais (BARBOSA, 2013) no qual o agenciamento entre as camadas de dados e metadados potencializa a apresentação visual relevante e de impacto das narrativas jornalísticas. A interatividade é fundamental para o êxito das narrativas multimídia, pois o leitor além de assumir o controle do fluxo narrativo, escolhendo o início, meio e fim da sua navegação, demanda um produto capaz de atrair e manter sua atenção ao longo da leitura, também atua de modo ativo no compartilhamento e espalhamento do conteúdo jornalístico, tendo em vista que as narrativas abordam temáticas atemporais que, em um primeiro momento, poderiam atrair um grupo mais restrito de usuários. Com a intervenção desses usuários que são distribuidores secundários das informações, as narrativas ganham mais relevância e visibilidade. Snow Fall é considerada por nós como um caso paradigmático na produção multimídia para a web, indicando, inclusive, a existência de uma grande potencialização das narrativas digitais, ainda pouco exploradas pela plataforma. Indicamos a existência de padrões, ou seja, 17 de elementos que modelam a estruturação e apresentação dos conteúdos nessas narrativas a partir das bases de dados. Em nossa análise, identificamos que, no momento atual, a densidade informativa, a verticalização, a integração dos recursos multimídias, a utilização consistente de menus de navegação e os botões de compartilhamento para as redes sociais podem sugerir novos padrões para as narrativas multimídias, visto aqui como uma estratégia comunicacional mais apropriada à produção jornalística em redes digitais. Referências ALMEIDA, Yuri. 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