SÉRIES WORKING PAPER BNDES/ANPEC PROGRAMA DE FOMENTO À PESQUISA EM DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO - PDE IMPACTOS DA “GUERRA CAMBIAL” NO COMÉRCIO SETORIAL BRASILEIRO Maurício Vaz Lobo Bittencourt1 Working Paper no. 31 BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL Avenida República do Chile, 100 – Centro 20031-917 -Rio de Janeiro, RJ ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS CENTROS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA Rua Tiradentes, 17 – Ingá 24210-510 - Niterói, RJ Março/2012 Esse paper foi financiado com recursos do Fundo de Estruturação de Projetos (FEP) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Por meio desse fundo o BNDES financia, na modalidade não-reembolsável, a execução de pesquisas científicas, sempre consoante ao seu objetivo de fomento a projetos de pesquisa voltados para a ampliação do conhecimento científico sobre o processo de desenvolvimento econômico e social. Para maiores informações sobre essa modalidade de financiamento, acesse o site http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Apoio_Financeiro/Programas _e_Fundos/fep.html. O conteúdo do paper é de exclusiva responsabilidade do(s) autore(s), não refletindo necessariamente, a opinião do BNDES e/ou da ANPEC. 1 Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico (PPGDE/UFPR). O autor agradece o Doutorando Alex Sander do Carmo pelo auxílio no exaustivo tratamento dos dados e nas estimações. 1 IMPACTOS DA “GUERRA CAMBIAL” NO COMÉRCIO SETORIAL BRASILEIRO Maurício Vaz Lobo Bittencourt Série Working Paper BNDES/ANPEC No. 31 Março/2012 RESUMO Este estudo contribui para a literatura de comércio internacional e desenvolvimento econômico por investigar os impactos da “guerra cambial” sobre o comércio setorial brasileiro para o período de 1989 a 2010, com dados SITC a 2 dígitos obtidos junto ao COMTRADE. Através de um modelo gravitacional estimado por diversos métodos econométricos aplicados para um painel de dados para o Brasil e mais 17 países, e com o uso de duas medidas de volatilidade cambial, os resultados mostram que, apesar da literatura não ser consensual quanto aos efeitos da volatilidade cambial, as estimativas confirmam um efeito significativo e negativo, porém pequeno, da volatilidade cambial sobre o comércio setorial brasileiro. Adicionalmente, aumentos na renda dos países contribuem para o aumento no comércio, assim como aumentos na incerteza oriunda da volatilidade cambial entre outros países parceiros, “efeito terceiro país”, cujas estimativas foram significativas, positivas, mas pequenas. Conclui-se que o comércio setorial brasileiro não é tão sensível à falta de coordenação de políticas dos principais parceiros, que reflete uma “guerra cambial” com consequências de aumento na volatilidade cambial. Palavras-Chave: comércio setorial, modelo gravitacional, volatilidade cambial, “guerra cambial”, Brasil. ABSTRACT This paper contributes to the literature of international trade and economic development, because it investigates the effects of an “exchange rate war” on the Brazilian sectorial trade for the period of 1989 to 2010, using 2-digit SITC data from COMTRADE. A gravity model is estimated by many panel data econometric approaches for Brazil and 17 more countries, using two exchange rate volatility measures, and the results show that, although the literature is not consensual about the exchange rate volatility impacts on trade, the estimates confirmed a small, but negative and significant effect on the Brazilian sectorial trade. In addition to the findings showing that increases in the countries’ income increase trade, results show that increases in the exchange rate volatility among other trade partner countries, the third country effect, also increase trade but in a small amount. Conclusions show that the Brazilian sectorial trade is not so susceptible to the lack of political coordination among the main trade partners, which is reflected in an “exchange rate war” that causes increases in the exchange rate volatility. Keywords: sectorial trade, gravity model, exchange rate volatility, “exchange rate war”, Brazil. Maurício Vaz Lobo Bittencourt Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico (PPGDE) Universidade Federal do Paraá (UFPR) Endereço: Av. Lothário Meissner 632 Curitiba – PR 80210-170 Fone: 41-3360-4456 E-mail: [email protected] 2 IMPACTOS DA “GUERRA CAMBIAL” NO COMÉRCIO SETORIAL BRASILEIRO 1. Introdução Muitas alterações nas politicas internas dos países vêm contribuindo para remodelar o sistema monetário internacional seja com a política cambial chinesa, seja com os diversos problemas enfrentados recentemente na União Europeia, nos Estados Unidos, ou até entre os países do Mercosul. A verdade é que tais acontecimentos, aliados à recente crise financeira internacional, vêm revigorando o debate sobre os prós e contras dos diferentes sistemas de taxa de câmbio que podem ou devem ser adotados pelos países, seja de forma coordenada ou não. Alguns dos problemas com esta discussão diz respeito à relevância, ou não, da independência da política monetária para não ser influenciada pelas flutuações dos ciclos dos negócios. Outro problema é o efeito da volatilidade cambial sobre o mercado financeiro. E um último problema neste debate se refere à habilidade dos diferentes regimes cambiais em controlar a inflação. Muitos defensores de regimes cambiais fixos argumentam que os riscos associados com a variabilidade da taxa de câmbio desencorajam exportadores de venderem seus produtos no exterior. O problema é que muitos países tomam decisões sobre suas políticas internas baseadas nas suas necessidades de equilíbrio macroeconômico, as quais podem ter sérias consequências internas e para os outros países. Por isso, a questão da magnitude do efeito da volatilidade cambial sobre o comércio é uma questão empírica que merece ser investigada. Este estudo investiga como a falta de coordenação de políticas macroeconômicas entre os principais países parceiros comerciais do Brasil pode afetar o comércio existente entre os mesmos, além de se detectar os principais determinantes do comércio entre estes países e o Brasil. A ênfase nos programas de estabilização econômica em detrimento de políticas de incentivo ao comércio pode levar a conflitos em relação às principais tarifas adotadas pelos países, o que pode incentivar a saída de capital para países 3 com menores níveis de tarifas, mas com menores vantagens comparativas. Como consequência do que passamos a chamar agora de “guerra cambial”, ou seja, grandes alterações na taxa de câmbio real podem afetar acintosamente retornos de investimentos, resultando em mudanças na localização de novas plantas de produção e/ou realocação da produção das já existentes. Acredita-se que os diferentes planos econômicos de estabilização adotados ao longo do tempo, e implementados pelo Brasil e seus principais parceiros comerciais são responsáveis por grande parte da volatilidade da taxa de câmbio real de médio e longo prazo (ER) existente no comércio entre países. O rationale por trás do que foi exposto está no fato de que grandes alterações na taxa de câmbio real, ocasionadas por planos econômicos de estabilização inerentes a cada país, podem aumentar o grau de incerteza entre agentes econômicos domésticos e estrangeiros (parceiros comerciais). Não seria possível proteção (hedge) contra esta incerteza, pois o preço deste risco de longo prazo não existe. A maior parte desta incerteza pode ser atribuída às grandes variações na taxa de câmbio real, a qual neste projeto está sendo chamada de “guerra cambial”. A presente pesquisa apresenta algumas características, e importantes contribuições, que a distinguem de outros estudos, tais como: (i) o nível de desagregação e o tamanho da amostra dos dados a serem utilizados, os quais são maiores que os usados em outros estudos (serão utilizados dados comerciais de dois e três dígitos SITC2, em contraste ao uso de apenas um dígito SITC como a maior parte dos estudos deste tipo); (ii) a análise dos impactos da volatilidade da taxa de câmbio real de médio e longo prazos, em contraste à volatilidade de curto prazo normalmente adotada; (iii) efeitos a nível setorial da volatilidade cambial no comércio brasileiro (a literatura tem mostrado que a ênfase tem sido nos fluxos de comércio agregados ou apenas no setor agrícola de países desenvolvidos); e, finalmente, (iv) o uso de modelo de efeitos fixos (aleatórios), e modelos de painel dinâmicos, para captar o padrão de comércio brasileiro. 2 SITC é a sigla de Classificação Padrão para Comércio Internacional (Standard International Trade Classification). 4 2. Especificação do problema A falta de coordenação macroeconômica entre os países parece ser uma das muitas causas de divergência e flutuações de precos e taxa cambial, afetando o comércio e a alocação de investimentos. No caso do Mercosul, por exemplo, Argentina e Brasil têm anunciado constantes mudanças na taxa de câmbio nominal3 desde 1991, afetando diretamente os retornos de investimentos e induzindo mudanças na localização de novas plantas de produção e à realocação das já existentes. De acordo com Baer et al. (2001), a falta de harmonia nas políticas macroeconômicas afeta o comércio internacional através de dois canais: risco nas transações internacionais, e na economia política. O primeiro é caracterizado pelo aumento no risco associado com transações internacionais, afetando as decisões de comércio e resultando em uma alocação de recursos diferente da que seria definida pelas vantagens comparativas. Um aumento na volatilidade da ER leva exportadores e importadores aversos ao risco a reduzirem sua oferta e demanda de bens comercializáveis porque eles se deparam com um risco adicional em relação aos lucros externos. O segundo canal, também influenciado pela não coordenação de políticas, seria a da existência potencial de lobbying para proteger mercados domésticos quando existe um aumento na razão de penetração de bens importados (Trefler, 1993). Uma consequência direta do parágrafo anterior está evidente no caso do Mercosul, cujos membros eliminaram progressivamente a maior parte de suas barreiras comerciais entre 1991 e 1995. Estes países estabeleceram uma estrutura de tarifa externa comum (CET) em 1995, numa faixa de zero a 20 %, aplicada para quase 85 % do comércio total entre os países do bloco. No entanto, as tarifas não foram totalmente eliminadas, e foi permitido a cada país identificar produtos sensíveis à competição, os quais poderiam ser protegidos 3 Argentina continuou com seu regime de taxa de cambio fixo, sendo que o Brasil mudou seu regime fixo para um regime mais livre, com taxas variaveis dentro de uma banda móvel definida pelo banco central. 5 até 1999 para a Argentina e Brasil, e até 2001 para Paraguai e Uruguai4. Cada país também podia ter seu próprio nível de tarifa nestes produtos sensíveis5. Assim, é interessante verificar os determinantes do comércio do Brasil com seus principais parceiros, além de verificar as conseqüências da instabilidade da taxa de câmbio nos diferentes setores. Existem muitos estudos que avaliam a influência da volatilidade da taxa de câmbio na economia de um país. Muitos deles sugerem que a volatilidade da taxa de câmbio reduz comércio (Hooper and Kohlhagen, 1978; Thursby and Thursby, 1987; Cushman, 1988; Frankel and Wei, 1993; Eichengreen and Irwin, 1995; Rose, 2000). Mas, segundo Sauer and Bohara (2001), a maneira com que fatores tais como aversão ao risco, oportunidades de hedging, a moeda usada nos contratos, a presença de outros tipos de risco, afetam na direção e magnitude entre a incerteza da taxa de câmbio e o comércio é uma questão empírica a ser investigada. 3 – Objetivos do artigo Este artigo objetiva investigar os principais determinantes do comércio brasileiro com seus principais parceiros, considerando a possibilidade de que a falta de políticas macroeconômicas estáveis, e uma consequente “guerra cambial” entre os principais parceiros comerciais do Brasil, possam prejudicar o comércio entre estes países. A ênfase está nos diferentes efeitos da volatilidade da taxa de câmbio real de médio e longo prazo em diferentes setores. Um modelo gravitacional é especificado e estimado para avaliar os impactos da volatilidade da taxa de câmbio real de médio e longo prazo no comércio entre o Brasil e seus principais parceiros, além da determinação do padrão de fluxo do comércio brasileiro, procurando quantificar os impactos que mudanças em distância e renda teriam nos fluxos de comércio brasileiro. 4 De acordo com Averbug (1998), em Baer et al. (2001), a lista brasileira era composta por 29 produtos, 212 produtos na lista argentina, 432 na lista paraguaia, e 963 na lista uruguaia. 5 As tarifas deveriam convergir para 14 % ate janeiro de 2001 para bens de capital, para Argentina e Brasil, e até janeiro de 2006 para Paraguai e Uruguai. Para outros produtos estas tarifas deveriam convergir para 16 % até 2006. No entanto, em meados de julho de 2001, a Argentina reduziu suas tarifas de importação de bens e equipamentos de informática, causando divergências diplomáticas com o Brasil. (Baer et al., 2001). 6 O principal foco deste estudo é o de estimar o padrão de fluxo de comércio do Brasil, e determinar como o fluxo de comércio responde a mudanças na taxa de câmbio e em outros determinantes de comércio tais como distância entre países, PIB, e volatilidade da taxa de câmbio de um terceiro país (efeito “third country”). Algumas questões serão abordadas, tais como: O que aconteceria aos fluxos de comércio se as taxas de câmbio se tornassem mais voláteis, ou seja, se a ”guerra cambial” se tornar mais acirrada? Esta maior volatilidade traria efeitos positivos ou negativos ao comércio brasileiro? Quais seriam as mudanças nos fluxos de comércio como resultado de um aumento no PIB brasileiro? 4. Revisão de Literatura 4.1. “Guerra cambial” e o seu impacto no comércio A literatura que trata dos efeitos da volatilidade cambial sobre o comércio é vasta e diversa, com inúmeros trabalhos feitos com enfoques teóricos e empíricos. Com o passar do tempo, estes efeitos foram captados pela literatura através de duas abordagens. Uma delas consistia na estimação de apenas uma equação de demanda por exportação, geralmente com as exportações reais como variável dependente, e a volatilidade cambial, preços relativos e uma medida de atividade econômica como variáveis explicativas. A outra abordagem, que é a mais usual, é a estimação de uma equação gravitacional na qual o fluxo de comércio bilateral entre dois países é explicado positivamente pelo produto dos PIBs e negativamente pela distância entre eles. A maior parte dos estudos empíricos do impacto da volatilidade cambial sobre o comércio tem sido aplicado para os países desenvolvidos. Além disso, apesar do grande número de estudos sobre o assunto, seja de caráter teórico ou empírico, não existe consenso a respeito do sinal e magnitude do efeito da volatilidade cambial sobre o comércio. Acredita-se que esta “incerteza” empírica seja resultado de três problemas comuns à estimação econométrica: (i) o desconhecimento da correta forma funcional entre as variáveis econômicas; (ii) no mínimo, uma variável não identificada sempre fica de fora da estimação econométrica; (iii) assume-se incorretamente que estas variáveis 7 não identificadas não sejam correlacionadas com as variáveis especificadas no modelo. Na literatura teórica, existem duas escolas do pensamento que explicam o efeito da volatilidade cambial sobre o comércio internacional. A escola tradicional define que uma maior volatilidade aumenta o risco, que reduz o fluxo de comércio. Já a escola do risco-portfólio mostra que a maior volatilidade apresenta maiores oportunidades para lucros, aumentando o fluxo comercial. De acordo com a escola tradicional, os primeiros estudos sobre o assunto eram focados no comportamento das firmas e presumiam que uma maior volatilidade do câmbio aumentaria a incerteza dos lucros com os contratos em moeda estrangeira, reduzindo o comércio a níveis mais baixos do que seriam caso a incerteza pudesse ser removida (Farrell et al, 1983). Esta incerteza de lucros, ou risco, levariam agentes aversos ou neutros ao risco a redirecionarem suas atividades daqueles mercados externos de maior risco para o mercado doméstico de menor risco (De Grauwe, 1996). Côté (1994) indica que a escola tradicional tem examinado não somente a presença de risco, mas também seu grau, que por sua vez depende de fatores como a dependência de insumos importados na produção, oportunidade de hedge contra o risco, e a moeda utilizada nos contratos. Dentre os estudos teóricos desta escola temos Clark (1973), Baron (1976), e Hooper e Kohlhagen (1978). Clark (1973) deu, em diversos aspectos, os fundamentos teóricos para a escola tradicional, examinando o comércio bilateral e o comportamento das firmas aversas a risco. Várias restrições eram impostas, incluindo firmas que só produziam bens para exportação, limitadas possibilidades para hedging, contratos em moeda estrangeira, ausência de insumos importados e competição perfeita. Conforme o autor, aumentos na variância da incerteza da taxa de câmbio aumentavam a incerteza dos lucros das firmas expressos em moeda doméstica. Assim, firmas aversas a risco reduziriam, então, a oferta de bens até o nível em que a receita marginal excedesse o custo marginal no montante que compensaria o risco adicional. Baron (1976) também estuda o comércio bilateral, mas sua ênfase se dá em como a escolha da moeda utilizada nos contratos afeta as decisões de 8 produção e preços das firmas quando as taxas de câmbio são voláteis e o mercado é não competitivo. Baron mostra que as firmas exportadoras se deparam com grandes riscos de preço quando a moeda estrangeira é utilizada nos contratos, e se depara com grande risco de quantidade demandada quando a moeda doméstica é a escolhida. Assim, quando a incerteza da taxa de câmbio aumenta, firmas maximizadoras de lucro e risco aversas aumentam preços quando a moeda estrangeira é utilizada nos contratos. Talvez a maior contribuição do estudo de Hooper e Kohlhagen (1978) esteja em permitir que a volatilidade da taxa nominal de câmbio só tenha impacto sobre o montante de risco que não tenha sido protegido pelo mercado futuro. A escola risco-portfólio não chega a ser uma escola unificada de pensamento, mas compreende um conjunto de múltiplas teorias, variando em complexidade, mas que consideram a escola tradicional não realista. Os representantes desta escola examinam o risco cambial à luz da moderna teoria da diversificação de portfólio. Como resume Farrell et al (1983), agentes econômicos maximizam lucro através da diversificação dos níveis de risco em seus portfólios de investimento. Ou seja, de acordo com esta escola, grandes volatilidades cambiais resultariam em grande risco que, ao invés de desencorajar os agentes neutros a risco a comercializarem, proporcionam oportunidade de diversificar seu portfólio de risco e aumentarem a probabilidade de lucros. Côté (1994) relaciona esta abordagem ao mercado de derivativos, onde o comércio é visto como uma opção que se torna mais valorizada à medida que a volatilidade cambial aumenta. Dois importantes trabalhos desta escola se destacam: os estudos de Dellas e Zilberfarb (1993) e Broll e Eckwert (1999). Dellas e Zilberfarb (1993) define um modelo teórico com uma pequena economia aberta com um agente doméstico importando, exportando e consumindo dois bens em dois períodos no tempo, onde o mercado de ações é incompleto e o agente toma decisões de comércio com conhecimento incompleto do risco de preço. O trabalho considera os efeitos da incerteza tanto na ausência de mercados futuros, como com oportunidades de hedging 9 completas e incompletas. Os autores acham que os efeitos da volatilidade sobre o comércio são ambíguos, pois dependem do parâmetro de aversão ao risco. Com possibilidades de hedging completas e sem custo, indivíduos podem se proteger do risco cambial, sendo que o aumento na volatilidade cambial não reduz os níveis de comércio. De acordo com o modelo teórico de Broll e Eckwert (1999), tem-se que quanto maior for a volatilidade cambial, maiores são os potenciais ganhos do comércio. Assim como Dellas e Zilberfarb, os resultados do modelo mostram que o aumento no valor das exportações da firma depende da convexidade da relação entre lucros e a taxa de câmbio, e do grau de aversão ao risco da firma. Existem várias controvérsias quanto aos resultados encontrados nestes estudos, incluindo análise agregada ou setorial, taxa de câmbio nominal ou real, ou até com relação às medidas de volatilidade utilizadas. A grande maioria dos estudos é feita através do uso de dados agregados. São poucos os estudos que utilizam como objeto os diversos setores de uma economia, sendo que os poucos que o fazem tratam principalmente do impacto da volatilidade cambial sobre um determinado setor apenas, dentre os quais o setor agrícola é o que mais se destaca pela quantidade de trabalhos empíricos. De acordo com Cho et al. (2002), são poucos os estudos que avaliam os impactos da variablidade da taxa de câmbio no comércio agropecuário. Algumas das tentativas iniciais na investigação de tais efeitos são Schuh (1974), Batten and Belongia (1986), Haley and Krissoff (1987), e Bessler and Babula (1987). Alguns estudos analisam os impactos da volatilidade da taxa de câmbio de curto prazo6 no comércio agropecuário. Pick (1990) não encontrou evidências de que o risco da taxa de câmbio afeta o comércio dos Estados Unidos com países desenvolvidos, mas encontrou um efeito negativo no fluxo de comércio com países em desenvolvimento. Klein (1990), por sua vez, encontrou impactos negativos da volatilidade da taxa de câmbio de curto prazo no comércio agropecuário dos Estados Unidos. Cho et al. (2002) estimou um 6 Para Perée and Steinherr (1989), a volatilidade da taxa de câmbio de curto prazo é obtida quando se considera a incerteza na taxa de câmbio para um período inferior a um ano. 10 modelo gravitacional para muitos países desenvolvidos para investigar os efeitos da volatilidade da ER no comércio agropecuário. Seus resultados sugerem que a incerteza na taxa de câmbio real tem ocasionado impactos negativos no comércio agropecuário para o período 1974 a 1995. A competitividade de um país é reduzida com uma supervalorização de sua moeda, e o inverso é verdadeiro quando a moeda é desvalorizada. Conforme Tweeten (1989), a valorização do dólar americano durante os anos 1980 teve impactos negativos nas exportações agrícolas norte-americanas. Cho (2001) argumenta que, devido à redução na competitividade, alguns setores podem perder mercados domésticos e externos, resultando em diminuição nos níveis de emprego e produção. Este resultado contribui para o lobbying por proteção por aqueles grupos que perdem com a valorização da taxa cambial. Se uma medida protecionista é adotada pelo governo após atender aos apelos destes setores, a mesma não é fácil de ser removida quando uma depreciação cambial ocorre. Países que experimentaram grandes variações na taxa de câmbio por longos períodos de tempo são mais propensos a ter reduções no crescimento do comércio (De Grauwe, 1988). Pick and Vollrath (1994) acreditam que movimentos cambiais em países em desenvolvimento têm afetado negativamente a competitividade do setor agropecuário. De acordo com Farrell et al (1983), apesar de não existir um consenso a respeito da taxa de câmbio a ser utilizada no impacto da sua volatilidade sobre o comércio, se a nominal ou a real deve ser empregada, eles apontam que sérias consequências podem ser verificadas quando do uso da taxa de câmbio nominal, pois variações nas taxas nominais podem ser superadas por variações nos níveis de preços a nível nacional. Côté (1994) também defende o uso de taxas reais alegando que se o nível de preços falha em se mover em conjunto com a taxa de câmbio, então o risco dos agentes pode aumentar a medida que a volatilidade da taxa de câmbio nominal cai. Deste modo, a maior parte dos estudos de médio e longo prazo utiliza a volatilidade da taxa de câmbio real para captar os efeitos sobre o comércio7. 7 No entanto, existe uma grande controvérsia ao uso da taxa de câmbio real por conta de como a inflação utilizada é mensurada, além do fato de muitos países não utilizarem as mesmas 11 4.2. Modelos gravitacionais Utiliza-se um modelo gravitacional (Tinbergen, 1962) para determinar empiricamente o padrão de comércio bilateral entre Brasil e seus principais parceiros comerciais. Um modelo gravitacional considera não só fluxos de comércio, mas também efeitos de fronteira (tais como custos de transporte, barreiras comerciais, localização, contiguidade, etc), população, renda nacional, e taxa de câmbio. Estes modelos têm sido explorados para avaliar uma variedade de problemas relacionados aos fluxos de comércio bilateral. Um modelo gravitacional, ou equação gravitacional, é a solução em forma de equação reduzida de um sistema de equilíbrio geral de comércio internacional em bens finais, o qual assume que o comércio entre dois países é dependente do seu tamanho, estágio de desenvolvimento, grau de abertura de mercado, e proximidade. O comércio, assim, é diretamente proporcional ao tamanho do país, e inversamente correlacionado com a distância entre os países. Analogamente, o fluxo de comércio entre dois países é uma função da renda, distância, e outras variáveis (população, contiguidade, língua, custos de transporte, tarifas, etc). O sucesso dos modelos gravitacionais não pode ser considerado como evidência das teorias do comércio com competição imperfeita e economias de escala como sugerido por Helpman (1987). Deardorff (1998) e Evenett and Keller (2002)8 concluem que como a especialização é a “força da gravidade”, responsável pelo sucesso empírico dos modelos gravitacionais, não é necessário identificar um modelo teórico de comércio para derivar a equação gravitacional. Quando cada bem é produzido em um país (especialização completa) e as preferências são idênticas e homotéticas, a elasticidade de comércio com respeito a renda de cada país é igual à unidade. Isto é válido cestas de bens no cômputo da inflação, e ainda mudam a composição destas cestas de bens, trazendo maiores dificuldades em se utilizar a taxa de câmbio real (McKenzie et al, 1997; Thursby e Thursby, 1987). 8 Este estudo examina as teorias do modelo HOS e a de retornos crescentes à escala para explicar o sucesso empírico da equação gravitacional. Como ambas as teorias podem resultar na equação gravitacional, eles estimaram versões puras e híbridas de ambas as teorias para dados cross-section para 58 países. Os resultados sugerem que as previsões de um modelo com especialização imperfeita, a qual é baseada nas diferenças na dotação de fatores, suportam empiricamente os dados utilizados. 12 não importando a base teórica para explicar a especialização, seja ela de retornos crescentes a escala em produtos diferenciados, diferenças tecnológicas no comércio Ricardiano, grandes dotações de fatores como no comércio do modelo Heckscher-Ohlin-Samuelson (HOS), ou custos de transporte em qualquer tipo de comércio baseado na dotação de recursos. 5. Dados e Problemas Os dados básicos a serem utilizados consistem de comércio bilateral entre Brasil e outros 17 países das Américas do Sul, Norte, União Européia e Ásia, conforme Quadro 1, para o período de 1989 a 2010, obtidos a partir do COMTRADE/UNCTAD9. Este é um banco de dados em painel que consiste de valores nominais de exportações de um país para outro, para diferentes setores (agricultura, indústria química, pecuária, mineração e óleo, manufaturados), ao nível de dois dígitos SITC. A amostra agregada contem 16.830 observações para um período de 20 anos e 17 países. Quadro 1 – Principais parceiros comerciais do Brasil a serem considerados na amostra Argentina Colômbia Grã-Bretanha México Alemanha Coréia do Sul Índia Paraguai Chile Estados Unidos Itália Peru China França Japão Uruguai Venezuela Como este estudo visa investigar os efeitos da “guerra cambial”, ou seja, da variabilidade da taxa de câmbio no comércio brasileiro a nível setorial, os dados serão convertidos na moeda do país exportador através do deflacionamento da taxa de câmbio nominal10, pelo índice de preços ao consumidor (CPI) do país exportador. Os valores nominais e reais do PIB (deflacionados pelo CPI), bem como os dados sobre população foram extraídos das Estatísticas Financeiras Internacionais (IFS) do FMI. Para a variável 9 Conferência das Nações Unidas em Comércio e Desenvolvimento (United Nations Conference on Trade and Development). 10 Será utilizada a informação de taxa de câmbio do final do período, da publicação Estatísticas Financeiras Internacionais (IFS) do Fundo Monetário Internacional (IMF). 13 distância será definida a distância do “grande círculo” entre os centros econômicos11, conforme Soloaga and Winters (2001). As taxas de câmbio real12 serão calculadas como: (1) CPI s ,t RERis ,t = NERis ,t CPI i ,t Onde RERis,t e NERis,t são as taxas de câmbio real e nominal, respectivamente, para o país i com respeito à moeda do país s no período t. A expressão (1) mostra como a taxa de câmbio real é calculada para o país i usando o dólar americano de 1995 como a moeda do país s (Estados Unidos). CPIs,t reflete o índice de preços do consumidor nos Estados Unidos no momento t. CPIi,t representa o índice de preços ao consumidor no país i no momento t. Assim, a taxa de câmbio bilateral real (Xij,t) para cada país pode ser obtida pelas razões entre cada taxa de câmbio real dos 17 países e a taxa de câmbio real brasileira (j). A incerteza13 de longo prazo da taxa de câmbio é essencial para este estudo. Esta incerteza pode ser obtida através de dois procedimentos usados como proxies da incerteza de longo prazo da taxa de câmbio, o desvio padrão móvel (MSD) e a medida de volatilidade de Perée e Steinherr (P&S) 14. O MSD das diferenças do logaritmo natural da ER bilateral real é uma modificação da medida usualmente utilizada em muitos estudos de dados cross-section ou de séries temporais, tais como Kenen e Rodrik (1986), De Grauwe e Bellefroid (1986), e Dell’Ariccia (1999). O MSD é usado aqui porque esta medida varia com o tempo, de modo a ser compatível com a característica temporal dos dados em painel disponível, como em Cho et al. (2002). 11 O método do grande círculo é definido pela média ponderada das latitudes e longitudes dos principais centros econômicos. 12 A principal razão pela qual a taxa de câmbio real será utilizada neste estudo é porque existe a expectativa de que as taxas de câmbio real e nominal estejam altamente correlacionadas, sendo que a volatilidade da ER real deve ser maior. De Grauwe and Bellefroid (1986) sugerem que quando uma moeda sofre desvalorização de determinada proporção, a mudança na taxa de câmbio real é inferior à depreciação inicial, pois a inflação tende a superar a depreciação nominal inicial. Estas diferenças entre ER real e ER nominal podem ser importantes quando as variabilidades de médio e longo prazo são investigadas, que é o caso do presente estudo, conforme discutido na seção anterior. 13 Para uma discussão detalhada sobre medidas de volatilidade da taxa de câmbio, ver Lanyi and Suss (1982), Brodsky (1984), e Kenen and Rodrik (1986). 14 Pelo fato das medidas de volatilidade serem usadas como proxies da incerteza da taxa de câmbio real, volatilidade e incerteza são expressões usadas para descrever o mesmo fenômeno neste estudo. 14 O MSD das diferenças do logaritmo natural da ER bilateral real (Sijt) é dado por: ∑(x k (2) S ij ,t = u ij ,t = ij ,t −l − xij ,t ) 2 l =1 k −1 Onde Xij,t é a taxa de câmbio bilateral real, xij,t = ln(Xij,t) – ln (Xij,t-1), e k = 2, 4, 6, e 8 anos15. xij ,t é a média de xij,t para os últimos k anos. A segunda medida de volatilidade da ER real é baseada em Perée and Steinherr (1989), os quais assumem que a incerteza dos agentes econômicos é definida pelas experiências passadas a respeito dos valores máximo e mínimo da taxa de câmbio, as quais são ajustadas pela experiência do ano anterior relativa a uma taxa de câmbio de “equilíbrio”. Deste modo, grandes alterações cambiais ocorridas no passado acabam gerando a volatilidade esperada. Estes autores propõem a seguinte medida da incerteza da taxa de câmbio: (3) Vij .t = u ij ,t = max X ijt ,t − k − min X ijt ,t − k min X ijt ,t − k X ij ,t − X ijk,t + 1 + X ijk,t Onde k é a duração do período; min Xtij,t é o mínimo valor absoluto da taxa de câmbio real nos últimos k períodos; max Xtij,t é o máximo valor absoluto da taxa de câmbio real nos últimos k períodos; Xkij,t é a média dos valores absolutos da taxa de câmbio real para os últimos k períodos. Este valor é uma proxy da taxa de câmbio real de equilíbrio de longo prazo16. Cada período k nesta análise é representado por cada ano. A justificativa está na ênfase dada aos efeitos de médio a longo prazo da incerteza da taxa de câmbio real. As Figuras 1 e 2 mostram as duas medidas da volatilidade da taxa de câmbio real calculadas para alguns países selecionados que apresentaram as maiores volatilidades com relação à moeda brasileira. Segundo a medida MSD, a volatilidade da ER real entre o peso argentino e o real brasileiro tem, relativamente, alto grau de volatilidade, o mesmo acontecendo entre Peru e Brasil que, aliás, apresentou a maior volatilidade bilateral da amostra. No 15 O período de tempo é arbitrariamente escolhido para investigar a robustez dos resultados. De acordo com Mark (1995), não é possível se obter uma medida da taxa de câmbio de longo prazo. Por esta razão, este estudo adota a média aritmética da taxa de câmbio real para todo o período disponível da amostra de modo a se obter uma aproximação de tal medida de equilíbrio. 16 15 entanto, estas volatilidades sofreram forte redução após 1997 devido à depreciação da moeda brasileira. Nota-se que as volatilidades de Paraguai e Uruguai se apresentam bem mais estáveis para todo o período. A relativa estabilidade da volatilidade da ER para o período 1992 a 1997 é devida, principalmente, à política cambial adotada pelo Brasil, utilizando esta política como âncora para controle da inflação interna (Figura 1). Figura 1 – Volatilidade da taxa de câmbio para alguns parceiros comerciais do Brasil em relação ao Real, medida pelo desvio padrão móvel (MSD), com 8 anos de defasagem (Sij8) 0,72 0,62 0,52 0,42 0,32 0,22 Argentina/Brasil México/Brasil Paraguai/Brasil Peru/Brasil 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 0,02 1989 0,12 Uruguai/Brasil Coréia/Brasil Fonte: USDA. Cálculos do autor. A medida P&S da volatilidade da ER (Figura 2) é caracterizada por um comportamento decrescente no período 1990 a 1999, provavelmente devido à “experiência acumulada”, característica desta medida de volatilidade, a qual leva em conta valores da taxa de câmbio vigentes no passado17. Após a grande desvalorização cambial brasileira em 1999, a volatilidade da ER cresceu bastante, principalmente para a volatilidade peso mexicano/real e peso argentino/real, esta última foi a relação que se tornou a mais volátil entre os 17 As taxas de inflação estiveram bastante altas nestes países no início dos anos 90, também afetando o comportamento das taxas de câmbio real neste período. A relação entre taxas de inflação e taxas de câmbio pode ser ilustrada através do modelo monetário da taxa de câmbio (Mark, 2001). 16 países do Mercosul após a implementação do Plano Real, em meados de 1994. No entanto, mais uma vez a maior volatilidade encontrada ocorreu de 1989 a 1997 entre Peru e Brasil, a qual não foi representada na Figura 2 pela sua grande magnitude. Figura 2 – Volatilidade da taxa de câmbio para alguns parceiros comerciais do Brasil em relação ao Real, medida conforme Perée e Steinherr (P&S), com 8 anos de defasagem (Vij8) Argentina/Brasil Colômbia/Brasil Japão/Brasil Paraguai/Brasil México/Brasil 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 1989 5,5 5 4,5 Chile/Brasil China/Brasil Fonte: USDA. Cálculos do autor. Um problema adicional à nossa análise é o efeito da volatilidade da ER real de um terceiro país no comércio bilateral em análise. O efeito “third country”, como é chamado na literatura internacional, foi investigado por Wei (1996), Dell’Ariccia (1999), e Cho et al. (2002), usando uma medida que leva em conta a volatilidade da ER real para todos os outros países, exceto os dois países envolvidos no comércio em análise. No entanto, o procedimento a ser adotado neste estudo é um pouco diferente dos estudos anteriores, os quais utilizaram as participações dos países no comércio total como ponderações para obter a medida de volatilidade do efeito “third country”. O presente artigo propõe uma diferenciação nas ponderações por setores da economia, ou seja, leva em conta as participações no comércio específicas a cada setor como 17 ponderações para todas as combinações de comércio bilateral entre os 18 países considerados, incluindo Brasil, para cada ano da amostra. Além disso, estudos anteriores consideraram as participações dos países no comércio total baseadas em um único ano, sob a justificativa de que tais participações são relativamente constantes ao longo do tempo. O procedimento sugerido aqui é o de se utilizar como ponderações as participações no comércio por setores para cada ano disponível pelos dados, pois algumas mudanças podem ter ocorrido de um ano para outro na amostra, caracterizando diferentes respostas dos fluxos de comércio a nível setorial à movimentos cambiais. A medida de volatilidade da ER real de um terceiro país, volatilidade “third country”, (u3ij,t) é dada por: (4) u 3ijg ,t = ∑ uij ,t wij ,t + ∑ u ji ,t w ji ,t g i≠ j g j ≠i Onde uij,t (uji,t) é a medida de volatilidade da ER real, seja ela a medida de desvio padrão móvel (Sij,t) ou a medida de Perée e Steinherr (Vij,t), definidas pelas equações (2) e (3) para o período de 1989 a 2010; g = 1, … , 5, onde 1 é para o setor pecuário; 2 para o setor agrícola; 3 para o setor de produtos químicos; 4 para o setor de manufaturados; e 5 para o setor de mineração e óleo; wij,tg e wji,tg são as participações no comércio específico a cada setor dos outros países. Espera-se que o sinal do coeficiente para o efeito “third country” no comércio seja positivo, como o obtido por Wei (1996). No entanto, para Dell’Ariccia (1999) esta correlação foi negativa e não significativa, e para Cho et al. (2002) este coeficiente foi positivo e negativo para diferentes setores. Na Figura 3 a seguir temos apenas uma ilustração da volatilidade de terceiro país entre Argentina e Brasil utilizando a medida MSD com defasagem de 8 anos para cada um dos setores analisados. Nota-se que a volatilidade é extremamente instável para todo o período de 1989 a 2010. Enquanto os setores agrícola e pecuário parecem apresentar a menor volatilidade, os setores químico, mineração e de manufaturados mostram a maior volatilidade dentre os setores da amostra. Além da utilização do modelo econométrico de painel de efeito fixo (aleatório), que já vem sendo empregado em diversos estudos, uma das novidades deste artigo é o uso de modelos dinâmicos (estimadores Arellano18 Bond e Arellano-Bover) para estimar os modelos gravitacionais de comércio propostos. Figura 3 – Volatilidade setorial da taxa de câmbio real de um terceiro país (“third country”) entre Argentina e Brasil, medida pelo desvio padrão móvel (MSD), com 8 anos de defasagem (u3gij8) 1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 Agrícola Mineração Pecuário Químico 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 0 1989 0,1 Manufaturados Fonte: USDA. Cálculos do autor. 6 - Especificação do modelo gravitacional O modelo teórico O modelo teórico da equação gravitacional a ser estimada neste artigo é baseado em Deardorff (1998), sendo que os pressupostos básicos são os mesmos usados em Anderson (1979), Feenstra (2002), e Anderson e Van Wincoop (2003). Considerando que todos os bens são diferenciados por local de origem, cada país se especializa na produção de um único bem. Em competição perfeita, a oferta de cada bem é fixa, e o preço recebido pelos exportadores do país i é dado por pi, já descontados os custos de comércio, ou preço “free on board” (f.o.b.). Existe custo de transporte dos fatores entre os países i e j que se comporta como um “iceberg”, tij, onde a quantidade (tij – 1) “derrete” no caminho. (Samuelson, 1952). Compradores do país j pagam pij 19 incluindo o custo de transporte. Assim, pij = tijpi. Assumindo que as preferências sejam idênticas e homotéticas, a função utilidade CES para o país j é definido por: (5) U = ∑ β i cij(σ −1) / σ i σ /(σ −1) j onde β é um parâmetro positivo, σ > 0 é a elasticidade de substituição entre produtos de qualquer par de países, e cij é o consumo de qualquer produto enviado do país i para o país j. Os consumidores do país j maximizam (5) sujeito às suas rendas Yj = pjxj ao produzir xj. Deste modo, a demanda por cada produto cij é dada por: (6) t ij pi 1 cij = Y j βi l p t ij pi j 1−σ Onde pjl é um índice geral de preços do tipo CES do país j, definido como: p lj = ∑ β i t ij1−σ pi1−σ i 1 /(1−σ ) (7) O valor f.o.b. das exportações do país i para o país j é representado por: (8) Tijfob t ij pi 1 = Y j βi l p t ij j 1−σ Considerando que θi é a proporção de comércio mundial do país i, a estrutura de equilíbrio geral do modelo define um mercado em equilíbrio, resultando em: Y px 1 (9) θ i = iw = i w i = w Y Y Y t ij pi β p x ∑j i j j p l j 20 1−σ t ij pi = β i ∑θ j l p j j 1−σ Resolvendo (9) para β, temos18: (10) βi = Yi Yw 1 t p ∑j θ j ijp l i j 1−σ Combinando (10) com (8), temos: (11) Tijfob t 1−σ ijl YiY j 1 p j = w 1−σ Y t ij t ih ∑θ h p l h h Deardorff (1998) simplifica (11) selecionando unidades de bens tal que pi = 1. Assim, pjl se torna o índice CES dos fatores de transporte para o país j na condição de importador. Definindo a distância media dos fornecedores como: δ = ∑ β i t ij1−σ i 1 /(1−σ ) (12) s j Para consumidores do país j o que importa é o fator de transporte relativo à distância relativa dos fornecedores, dado por: (13) ρ ij = t ij δ js Usando (13) e (11) tem-se a equação gravitacional: (14) Tij fob 1−σ YiY j 1 ρ ij = w Y t ij ∑θ h ρ ih 1−σ h A equação (14) tem uma interpretação mais direta se comparada à equação (11), pois o fluxo de comércio entre os países i e j é determinado não somente pela distância relativa entre os dois países, mas também pela distância relativa de todos os importadores do país j. É interessante que este resultado também considera uma situação na qual a distância relativa é a mesma para todos os importadores, resultando em um modelo gravitacional 18 Os modelos teóricos de Feenstra (2002), e Anderson e Van Wincoop (2003) utilizam a mesma ideia de Deardorff (1998) quando eles acham a solução para o preço βpi, ao invés de achar β. 21 sem “fricção” (sem custo de transporte). A distância entre i e j reduz o comércio. Comércio é influenciado pela distância relativa entre dois países comparativamente à média relativa da distância de todos os outros importadores de i. Este resultado é muito similar aos encontrados por Anderson (1979) e Bergstrand (1989). O modelo econométrico A equação gravitacional a ser estimada é especificada econometricamente como: (15) ln Tijg,t = α ig + γ 1g ln(YitY jt ) + γ 2g ( Popit Pop jt ) + γ 3g (uij ,t ) + γ 4g ln( Dij ) + γ 5g (u 3g ij ,t ) + ε ijg,t onde Tij,tg é o comércio bilateral entre países i e j em cada setor g; YitYjt é o produto dos PIB’s dos dois países no período t, e seu coeficiente é esperado ser positivo. PopitPopjt é o produto entre as populações dos dois países no período t, o qual pode-se assumir que reduz comércio à medida que a população nos dois países cresce. Desde que a demanda por produção doméstica apresente crescimento, haverá uma redução natural da quantidade disponível para comércio. Espera-se que o sinal do coeficiente desta variável seja negativo. A variável uij,t é a medida de volatilidade da ER real, seja medida por MSD (Sij,t) ou por P&S (Vij,t), definida anteriormente pelas equações (2) e (3); conforme discutido anteriormente, seu sinal é indefinido. Dij é a distância entre países i e j, a qual representa uma proxy para os custos de transporte e deve afetar negativamente o comércio bilateral19. A variável u3gij,t é a volatilidade da ER real de um terceiro país (efeito “third country”) para todos os 19 Linnemann (1966) aponta que o efeito da distância no comércio vem de três fontes:1)custos de transporte; 2)tempo (perecibilidade, adaptação às condições de mercado, irregularidades na oferta, custos de juros); e 3) distância “psíquica”, a qual inclui familiaridades com as leis, instituições, e cultura. A idéia de Linnemann sobre o significado mais abrangente da variável distância é apontada também por Frankel et al. (1998), o qual notou que os custos de envio físico de mercadorias podem não ser os custos mais importantes que compõem os custos associados com a distância. Custos de transporte devem ser vistos como custos de transação, os quais incluem não só o custo de transporte físico de bens, mas também os custos de comunicação e o fato de que os países tendem a ter um melhor conhecimento das instituições e vizinhos mais próximos. 22 países senão os países i e j analisados; o sinal do coeficiente desta variável é ambíguo, conforme Wei (1996) e Cho et al. (2002). A equação gravitacional (15) será estimada sob duas especificações distintas da medida de volatilidade da ER real (uij,t) a ser usada: a medida MSD (Sij,t) e a medida P&S (Vij,t). De acordo com Egger (2002), a escolha do modelo econométrico é de grande relevância para a determinação dos fluxos de comércio bilateral. Neste estudo, o procedimento de estimação a ser adotado será o da econometria de dados em painel. As vantagens deste procedimento estão na obtenção de estimativas mais confiáveis, na redução de problemas de multicolinearidade, maior número de graus de liberdade, além de permitir a inclusão da volatilidade da ER real no modelo, o que não seria possível em uma análise crosssection20. 7 – Resultados e discussão Na Tabela 1, a seguir, temos a estatísticas descritivas das principais variáveis utilizadas nas estimações econométricas dos modelos estático e dinâmico. Notar que os fluxos comerciais para todos os cinco setores estão em log natural, o que reduziu o tamanho da amostra para estes setores, devido à alguns fluxos de comércio bilateral serem nulos para todo o período de 1989 a 2010. Para testar a confiabilidade dos modelos em relação aos problemas que poderiam apresentar, foram feitos os seguintes testes: o teste de Hausman para o modelo estático e os testes Arellano-Bond e Sargan para o modelo dinâmico. 20 Cho (2001) inclui como variáveis a taxa de câmbio real e a volatilidade em suas abordagens de cross-section e painel, respectivamente. No entanto, a inclusão da taxa de câmbio real na estimação cross-section não faz sentido, pois esta não traria nenhuma informação se a moeda sob análise está desvalorizada ou valorizada. 23 Tabela 1: Estatísticas descritivas para as principais variáveis do modelo Variável Ln Comércio Setor Agrícola Ln Comércio Setor Mineração Ln Comércio Setor Químico Ln Comércio Setor Pecuário Ln Comércio Setor Manufaturados Ln PIB Ln População Sij8 Sij6 Sij4 Sij2 Vij8 Vij6 Vij4 Vij2 Número de Observações 3281 Média 18,418 Desviopadrão 2,416 Valor Mínimo 7,383 Valor Máximo 23,962 3278 18,715 2,968 4,963 25,104 3291 18,552 2,507 8,294 24,135 3106 16,476 3,028 4,357 22,382 3290 20,060 2,730 6,688 26,386 3366 3366 3366 3366 3366 3366 3366 3366 3366 3366 12,804 8,207 0,179 0,163 0,144 0,110 13,834 5,233 2,304 1,345 2,329 2,050 0,167 0,169 0,174 0,174 90,340 27,402 7,178 1,223 5,182 2,534 0,000 0,000 0,000 0,000 1,002 1,001 1,001 1,000 18,806 14,284 1,287 1,488 1,825 2,436 1916,037 573,413 184,770 31,514 FONTE: Elaboração própria a partir de dados do COMTRADE e do FMI. Painel estático Para o painel estático, são utilizados os modelos com efeitos fixos e com efeitos aleatórios. Os resultados do teste de Hausman indicam que o modelo com efeitos fixos são os mais adequados. Na Tabela 2 temos os resultados das estimativas através do método de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), onde algumas informações foram perdidas devido aos fluxos nulos de comércio. Adicionalmente, temos as estimações pelo método Poisson Pseudo Maximum Likelihood (PPML) com efeitos fixos, introduzido por Silva e Tenreyro (2006). Na Tabela 2, a medida de volatilidade utilizada é o desvio padrão móvel (MSD) com 8 defasagens. Os resultados mostram que o produto das rendas dos parceiros comerciais (lnPIBiPIBj) afeta positivamente o fluxo de comércio entre os países, para todos os setores analisados, além destes coeficientes serem estatisticamente significativos. Com algumas exceções, os resultados por MQO e por PPML se mostraram bastante similares em termos de sinais para todas as variáveis 24 explicativas, com exceção para o produto das populações dos parceiros comerciais (lnPOPiPOPj), a qual não foi significativa para alguns setores, mas apresentou sinal positivo para as estimações em que foi significativa. Os resultados mostram que a volatilidade cambial é prejudicial para todos os setores, com a única exceção do setor pecuário através da estimação por PPML. O setor de mineração parece sofrer mais com a volatilidade cambial, comparativamente a outros setores. O outro tipo de volatilidade, o “efeito terceiro país”, também se mostra importante na explicação dos fluxos comerciais. Este coeficiente foi positivo e significativo para todas as estimações em todos os setores, o que já era previsto baseado em Cushman (1986), Côté (1994), e em Cho et al (2002). Assim, em situações em que as taxas cambiais de outros países, além dos parceiros comerciais considerados, tornam-se mais voláteis, as exportações de todos os setores tendem a aumentar, sendo que o aumento parece ser maior nos setores pecuário e agrícola. Na tabela A.1 do Apêndice, temos as mesmas estimações utilizando P&S como medida de volatilidade. Os resultados são semelhantes quanto ao papel desempenhado pelo produto das rendas e das populações dos parceiros para todos os setores. No entanto, o impacto das volatilidades sobre o comércio foi bastante diferente do que o obtido na Tabela 2. Os resultados da Tabela A.1 chegam a mostrar que a volatilidade cambial, seja qual for ela, diretamente entre os parceiros comerciais ou via efeito terceiro país, não afetam significativamente o fluxo comercial, independente do setor analisado. Painel dinâmico Já para o painel dinâmico são utilizados dois modelos: o primeiro é o modelo clássico desenvolvido por Arellano e Bond (1991); no segundo modelo, denominado Arellano-Bover/Blundell-Bond, acrescenta-se os aperfeiçoamentos feitos por Arellano e Bover (1995) e Blundell e Bond (1998). As estimações foram feitas considerando as duas medidas de volatilidade para a taxa de câmbio real, ou seja, MSD e P&S, conforme definidas na seção 5. Pelos resultados reportados na Tabela 3, verifica-se que o fluxo comercial defasado de um período afeta positiva e significativamente o fluxo comercial 25 contemporâneo em todos os setores analisados. No caso da variável produto das rendas dos países envolvidos no comércio bilateral, temos que o efeito foi positivo e significativo estatisticamente para todas as estimações, com maiores magnitudes para os setores de mineração e de manufaturados, ou seja, aumentos nas rendas dos países parecem propiciar maiores aumentos no fluxo comercial nos setores de mineração e de produtos manufaturados. Com exceção das estimações para os setores pecuário e químico, nos quais a população não foi significativa para explicar os fluxos comerciais, nos demais setores esta variável parece afetar negativamente os fluxos comerciais. Os resultados do modelo dinâmico para a volatilidade cambial confirmaram os resultados obtidos para o modelo estático, ou seja, a medida de volatilidade MSD mostrou-se significativa e negativamente relacionada com comércio, além da pouca significância e pouco impacto da medida P&S sugerida por Perée e Steinherr para a volatilidade cambial. Os resultados setoriais encontrados são consistentes com os observados por Los Rios (2009) que estuda o impacto da volatilidade sobre o custo do capital em países emergentes. O autor mostra em seu estudo que a escolha do regime cambial a ser adotado pelos países emergentes visa atrair capital estrangeiro que é essencial aos investimentos destes países. Assim, podem adotar regimes cambiais mais voláteis, mas que atraem capital estrangeiro aos seus mercados. 26 (#) Tabela 2: Estimativas do Painel Estático para a Equação Gravitacional Pecuária Agricultura Mineração Químico Manufaturados MQO (LSDV) PPML (EFEITOS FIXOS) MQO (LSDV) PPML (EFEITOS FIXOS) MQO (LSDV) PPML (EFEITOS FIXOS) MQO (LSDV) PPML (EFEITOS FIXOS) MQO (LSDV) PPML (EFEITOS FIXOS) lnPIBiPIBj 1,738*** (0,157) 0,922*** (0,094) 1,093*** (0,108) 1,026*** (0,079) 2,054*** (0,094) 1,166*** (0,065) 1,964*** (0,082) 1,090*** (0,039) 2,195*** (0,107) 1,511*** (0,054) lnPOPiPOPj 0,356 (0,664) 1,722*** (0,369) 1,351*** (0,375) 0,615** (0,246) -0,260 (0,393) 0,062 (0,379) 1,395*** (0,249) - 1,70 (0,175) 1,731*** (0,244) 0,600* (0,325) Volatilidade (MSD) -1,336*** (0,259) 0,025 (0,218) -2,054*** (0,252) -0,757*** (0,146) -1,713*** (0,228) -1,429*** (0,315) -0, 668*** (0,173) -0,585*** (0,132) -0,720*** (0,134) -0,701*** (0,207) Efeito terceiro país (MSD) 1,830*** (0,257) 0,810*** (0,139) 2,064*** (0,236) 0,605*** (0,142) 0,932*** (0,167) 0,332*** (0,121) 0,568*** (0,124) 0,228** (0,089) 0,764*** (0,087) 0,544*** (0,068) 3106 3366 3281 3366 3278 3366 3291 3366 3290 3366 n FONTE: Elaboração própria a partir de dados do COMTRADE. * significativo a 10%; ** significativo a 5%; *** significativo a 1%. (#) k = 8 anos para a defasagem usada nas volatilidades; todos os modelos foram estimados com variáveis dummies para controle de efeito do tempo e da heterogeneidade não- observada (efeito fixo). 27 Robustez dos resultados Na tentativa de obter resultados robustos da análise setorial do impacto da volatilidade cambial investigada, buscou-se neste estudo modificar as estimações incluindo diferentes medidas de volatilidades cambiais, assim como diferentes horizontes de tempo para estas medidas. Adicionalmente às estimações reportadas nas Tabelas 2 e 3, nas quais foram utilizadas medidas de volatilidade de “longo prazo”, considerando defasagens de 8 anos, foram estimadas equações gravitacionais considerando medidas de volatilidades com 6, 4 e 2 anos. Na Tabela 4, a seguir, tem-se uma compilação dos coeficientes obtidos para as duas medidas de volatilidade cambial aos diferentes níveis de defasagem e para os diferentes setores. Com exceção dos coeficientes não significativos, não reportados, o impacto da volatilidade cambial no comércio setorial se mostra negativamente correlacionado, ou seja, praticamente em todos os setores foram encontrados impactos negativos da volatilidade cambial sobre o comércio. Outros modelos econométricos foram estimados na busca de resultados mais robustos para as estimações do modelo gravitacional, equação 15, dentre as quais foram estimados os modelos Pooled, Efeitos Aleatórios, Efeitos Fixos (within transformation) e Efeitos Fixos (LSDV). Os resultados de todas as estimações confirmaram os principais resultados encontrados anteriormente. As únicas informações adicionais obtidas com estes procedimentos complementares dizem respeito ao papel desempenhado por algumas variáveis de controle utilizadas, tais como a distância entre os parceiros comerciais, e as variáveis binárias utilizadas para fronteira e para acordos preferenciais de comércio. 28 (#) Tabela 3: Estimativas do Painel Dinâmico para a Equação Gravitacional Pecuário Agricultura Mineração Químico Manufaturados ArellanoBover/ BlundellBond (1) ArellanoBover/ Blundell – Bond (2) ArellanoBover/ BlundellBond (1) ArellanoBover/ Blundell – Bond (2) ArellanoBover/ BlundellBond (1) ArellanoBover/ Blundell – Bond (2) ArellanoBover/ BlundellBond (1) ArellanoBover/ Blundell – Bond (2) ArellanoBover/ BlundellBond (1) ArellanoBover/ Blundell – Bond (2) Comércio – 1ª defasagem 0,316*** (0,053) 0,398*** (0,068) 0,314*** (0,043) 0,417*** (0,053) 0, 167 (0,111) 0,068 (0,162) 0,397*** (0,038) 0,462*** (0,037) 0,047*** (0,033) 0,623*** (0,155) Comércio – 2ª defasagem -0,045 (0,029) -0,027 (0,033) 0,054 (0,047) 0,096* (0,050) - - - - - - lnPIBiPIBj 0,488** (0,201) 0,390 (0,326) 0,847*** (0,112) 0,625*** (0,097) 1,543*** (0,206) 1,483*** (0,377) 0,671*** (0,107) 0,638*** (0,117) 0,862*** (0,127) 0,869*** (0,123) lnPOPiPOPj 0,679 (1,188) 0,135 (1,715) -1,557** (0,659) -1,451** (0,572) -4,037*** (1,061) -3,301* (1,856) -0,139 (0,614) -0,458 (0,496) -2,091*** (0,693) -3,038*** (0,894) Volatilidade -0,651** (0,303) -0,001 (0,001) -0,676*** (0,227) -0,001 (0,001) -1,067** (0,7556) -0,003*** (0,001) -0,430*** (0,136) -0,001 (0,001) -0,326*** (0,122) 0,000 (0,000) Efeito terceiro país 0,793*** (0,221) 0,001 (0,001) 0,818*** (0,197) 0,002** (0,001) 0,681* (0,372) 0,003*** (0,001) 0,351*** (0,076) 0,001 (0,001) 0,465*** (0,081) 0,001 (0,001) Constante 0,009 (7,353) 4,390 (10,040) 13,364*** (3,977) 12,980*** (3,357) 28,867*** (6,648) 25,524** (10,786) 3,663 (3,891) 5,607* (2,916) 16,637*** (4,376) 21,458*** (4,242) 3106 3106 3281 3281 3278 3278 3291 3291 3290 3290 A-B (Prob > chi2) Sargan (148,313) p (0,408) A-B (Prob > chi2) Sargan (148,243) p (0,409) A-B (Prob >chi2) A-B (Prob > chi2) Sargan (151,268) p (0,344) A-B (Prob > chi2) Sargan (152,710) p (0,743) A-B (Prob > chi2) Sargan (152,580) p (0,747) A-B (Prob > chi2) Sargan (152,707) p (0,401) A-B (Prob > chi2) Sargan (152,442) p (0,407) A-B (Prob > chi2) Sargan (152,233) p (0,411) A-B (Prob > chi2) n TESTES Sargan (151,601) p (0,337) FONTE: Elaboração própria a partir de dados do COMTRADE. * significativo a 10%; ** significativo a 5%; *** significativo a 1%. (#) k = 8 anos para a defasagem usada nas volatilidades. (1) Volatilidade da taxa real de câmbio medida por MSD; (2) Volatilidade da taxa real de câmbio medida por P&S. 29 Sargan (152,438) p (0,407) Como esperado, quanto maior a distância, menor o comércio para a maior parte das estimações, sendo que os menores impactos aconteceram para os setores de manufaturados e de mineração. Com respeito às variáveis binárias para fronteira entre os parceiros considerados e se os países compartilham dos mesmos acordos preferenciais de comércio, o setor de mineração apresentou os coeficientes estimados com maiores magnitudes e positivos, além de significativos estatisticamente. A variável que capta o “efeito terceiro país” mostrou-se positiva e significativa para a grande parte das estimações complementares. Os resultados confirmaram a grande importância que as incertezas associadas à “guerra cambial” entre outros parceiros comerciais afetam fortemente o setor agrícola, conforme já havia sido constatado pela Tabela 2. Tabela 4 – Coeficientes significativos para a volatilidade cambial utilizando diferentes defasagens nos modelos com painel estático e dinâmico Medidas de Volatilidade Modelo Painel Estático Pecuário Agrícola Mineração Químico Manufaturados Sij8 - -0,757*** -1,429*** -0,585*** -0,701*** Vij8 -0,001*** -0,001** -0,002*** - -0,001*** Sij6 - -0,629*** -1,237*** - -0,613*** Vij6 -0,004*** -0,005*** - - -0,004*** Sij4 -0,507*** -0,723*** -1,015*** -0,280** -0,704*** Vij4 -0,024** -0,029*** -0,081** -0,018** -0,047** Sij2 -0,571*** -0,643*** -0,743*** - - Vij2 -0,230*** -0,203*** -0,436*** -0,107** -0,288*** Medidas de Volatilidade Modelo Painel Dinâmico Pecuário Agrícola Mineração Químico Manufaturados Sij8 -0,651** -0,676*** -1,106** -0,430*** -0,326*** Vij8 - - -0,003*** -0,001* - Sij6 - -0,600** -1,049*** -0,307*** -0,327** Vij6 - - -0,009*** - -0,003*** Sij4 -0,501* - -0,860** -0,227** -0,168* Vij4 -0,022** -0,018* -0,037*** -0,012** - Sij2 -1,332*** -0,936*** -1,424*** -0,462*** -0,296* Vij2 -0,567*** -0,377*** -0,149** -0,082** -0,103*** FONTE: Elaboração própria a partir de dados do COMTRADE. * significativo a 10%; ** significativo a 5%; *** significativo a 1%. 30 Os resultados obtidos neste estudo são parte de mais um trabalho empírico tentando elucidar o papel empírico da volatilidade da taxa de câmbio sobre o comércio internacional. As estimações resultaram em impactos negativos para a maior parte das estimações, confirmando estudos anteriores em diversos aspectos. Os resultados mostraram robustos impactos negativos da volatilidade cambial no comércio setorial em quase todas as estimações, apesar do impacto ter sido mais elevado para alguns setores, confirmando os resultados obtidos em análises agregadas como em Frankel e Wei (1993), Eichengreen e Irwin (1995), Frankel (1997), ou os resultados decorrentes de análise setorial como em Cho et al (2002). Na verdade, o estudo de Tenreyro (2007) conclui que o impacto da volatilidade cambial no comércio é muito pequeno. Os resultados encontrados no presente artigo também mostraram uma magnitude baixa, apesar do sinal negativo e estatisticamente significativo dos coeficientes das volatilidades, principalmente da medida P&S utilizada. Estes resultados são confirmados, por exemplo, por Kandilov (2008). 8 – Considerações finais O presente estudo faz parte de um pequeno grupo de estudos que, quanto à metodologia, utiliza dados em painel na investigação do impacto da volatilidade cambial no comércio, dentre os quais temos Cho et al (2002), Tenreyro (2007), e Kandilov (2008). Quanto à utilização de taxas de câmbio real, como foi o caso deste estudo, podemos citar os artigos de Aristotelous (2001), Cho et al (2002), Doganlar (2002), Vergil (2002), Baak (2004), Arize et al (2005), Hwang e Lee (2005), dentre os mais recentes. Apesar da literatura relacionando comércio internacional com alterações na taxa de câmbio ser extensa, não existe consenso quanto aos impactos que aumentos na volatilidade na taxa de câmbio podem trazer para o comércio dos países. Como demonstra Côté (1994), um grande número de estudos empíricos encontra uma relação negativa entre a volatilidade cambial e o comércio, no entanto, este efeito quando medido parece ser muito pequeno. Considerando a volatilidade cambial como sendo consequência de uma “guerra cambial” dentre os principais parceiros comerciais do Brasil que, por 31 sua vez, reflete políticas macroeconômicas desses países sem nenhum tipo de coordenação, os principais resultados que este estudo traz são que a volatilidade cambial afeta negativamente o comércio setorial brasileiro, no entanto, este efeito parece não ser tão importante como esperado e reportado em outros estudos, como em Tenreyro (1997) e Kandilov (2008). Os resultados obtidos confirmam que o chamado “efeito terceiro país” também é um efeito presente no comércio setorial brasileiro, pois as estimativas foram positivas e significativas para a maior parte das estimações. Cushman (1986) mostra que a variabilidade relativa entre duas moedas pode ter um papel importante ao afetar o padrão de comércio bilateral. Se um país exporta bens para diversos países, o comércio será desviado daqueles mercados cuja taxa de câmbio mais aumentou. Como a maioria dos estudos empíricos disponíveis não incorpora a volatilidade de terceiro país, conforme afirma Côté (1994), esta pode ser uma das razões para alguns estudos reportarem efeitos positivos da volatilidade cambial sobre o comércio. Nas estimativas obtidas no presente estudo, no entanto, os coeficientes para o efeito terceiro país não apresentaram magnitudes preocupantes a ponto de poder afirmar que a “guerra cambial” entre os parceiros brasileiros podem ser um problema para o comércio setorial brasileiro. 9 - Referências Anderson, J.E. A theoretical foundation for the gravity equation. The American Economic Review 69 (1),1979, 106-116. Anderson, J.E. and E. van Wincoop. 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(#) k = 8 anos para a defasagem usada nas volatilidades; todos os modelos foram estimados com variáveis dummies para controle de efeito do tempo e da heterogeneidade não- observada (efeito fixo). 38