Modernismo (1ª fase) Características e Autores Iniciou-se no Brasil com a SAM de 1922. Didaticamente, divide-se o Modernismo em três fases: a primeira fase, mais radical e fortemente oposta a tudo que foi anterior, cheia de irreverência e escândalo; uma segunda mais amena, que formou grandes romancistas e poetas; e uma terceira, também chamada Pós-Modernismo por vários autores, que se opunha de certo modo a primeira e era por isso ridicularizada com o apelido de neoparnasianismo. Modernismo (1922-1960) Caracteriza-se por ser uma tentativa de definir e marcar posições. Período rico em manifestos e revistas de vida efêmera. É a fase mais radical justamente em conseqüência da necessidade de definições e do rompimento de todas as estruturas do passado. Caráter anárquico e forte sentido destruidor. Principais autores desta fase: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira. Primeira fase Modernista no Brasil (1922-1930) Características busca do moderno, original e polêmico nacionalismo em suas múltiplas facetas volta às origens e valorização do índio verdadeiramente brasileiro “língua brasileira” - falada pelo povo nas ruas paródias - tentativa de repensar a história e a literatura brasileiras A postura nacionalista apresenta-se em duas vertentes: nacionalismo crítico, consciente, de denúncia da realidade, identificado politicamente com as esquerdas. nacionalismo ufanista, utópico, exagerado, identificado com as correntes de extrema direita. Primeira fase Modernista no Brasil (1922-1930) O período de 1922 a 1930 é o mais radical do movimento modernista, justamente em conseqüência da necessidade de definições e do rompimento com todas as estruturas do passado. Daí o caráter anárquico dessa primeira fase e seu forte sentido destruidor, assim definido por Mário de Andrade: CARACTERÍSTICAS "(...) se alastrou pelo Brasil o espírito destruidor do movimento modernista. Isto é, o seu sentido verdadeiramente específico. Porque, embora lançando inúmeros processos e idéias novas, o movimento modernista foi essencialmente destruidor. (...) Mas esta destruição não apenas continha todos os germes da atualidade, como era uma convulsão profundíssima da realidade brasileira. O que caracteriza esta realidade que o movimento modernista impôs é, a meu ver, a fusão de três princípios fundamentais: o direito permanente â pesquisa estética; a atualização da inteligência artística brasileira e a estabilização de uma consciência criadora nacional.“ MÁRIO DE ANDRADE CARACTERÍSTICAS Várias obras, grupos, movimentos, revistas e manifestos ganharam o cenário intelectual brasileiro, numa investigação profunda e por vezes radical de novos conteúdos e de novas formas de expressão. Entre os fatos mais importantes, destacam-se a publicação da revista Klaxon, lançada para dar continuidade ao processo de divulgação das idéias modernistas, e o lançamento de quatro movimentos culturais: o Pau-Brasil, o Verde-Amarelismo, a Antropofagia e a Anta. Esses movimentos representavam duas tendências ideológicas distintas, duas formas diferentes de expressar o nacionalismo. REVISTAS E MANIFESTOS O movimento Pau-Brasil defendia a criação de uma poesia primitivista, construída com base na revisão crítica de nosso passado histórico e cultural e na aceitação e valorização das riquezas e contrastes da realidade e da cultura brasileiras. A Antropofagia, a exemplo dos rituais antropofágicos dos índios brasileiros, nos quais eles devoram seus inimigos para lhes extrair força, Oswald propõe a devoração simbólica da cultura do colonizador europeu sem com isso perder a nossa identidade cultural. MANIFESTOS O momento esteticamente mais radical do Modernismo foi a Antropofagia. Invocando a cultura e os costumes primitivos do Brasil, este movimento afirma a necessidade de sermos um povo antropófago, para não nos atrofiarmos culturalmente. Deve-se filtrar as contribuições estrangeiras para alcançar uma síntese transformadora. MANIFESTOS ABAPORU Este é o quadro mais importante já produzido no Brasil. Tarsila pintou um quadro para dar de presente para o escritor Oswald de Andrade, seu marido na época. Tarsila e Oswald batizaram-no de Abaporu (o homem que come). Oswald, inspirado na ideologia representada pelo quadro, escreveu o Manifesto Antropófago e criou o Movimento Antropofágico, com a intenção de "deglutir" a cultura européia e transformá-la em algo bem brasileiro. Este Movimento, apesar de radical, foi muito importante para a arte brasileira e significou uma síntese do Movimento Modernista brasileiro, que queria modernizar a nossa cultura, mas de um modo bem brasileiro. ABAPORU Em oposição a essas tendências, os movimentos Verde-Amarelismo e Anta, defendiam um nacionalismo ufanista. Dentre os muitos escritores que fizeram parte da primeira geração do Modernismo destacamos Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Alcântara Machado, Menotti del Picchia, Raul Bopp, Ronald de Carvalho e Guilherme de Almeida. REVISTAS E MANIFESTOS É uma das figuras mais importantes da poesia brasileira e um dos iniciadores do Modernismo. Sua poesia destaca-se pela consciência técnica com que manipulou o verso livre. Participa indiretamente da SAM, quando Ronald de Carvalho declama seu poema Sapo MANUEL BANDEIRA Beijo pouco, falo menos ainda Mas invento palavras Que traduzem a ternura mais funda E mais cotidiana Inventei, por exemplo, o verdo teadorar Intransitivo: Teadoro, Teodora MANUEL BANDEIRA Namorados O rapaz chegou-se para junto da moça e disse: -Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com sua cara. A moça olhou de lado e esperou. -Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada? A moça se lembrava: -A gente fica olhando... A meninice brincou de novo nos olhos dela. O rapaz prosseguiu com muita doçura: -Antônia, você parece uma lagarta listrada. A moça arregalou os olhos, fez exclamações. O rapaz concluiu: -Antônia, você é engraçada! Você parece louca. POEMAS / MANUEL BANDEIRA Tragédia brasileira Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade. Conheceu Maria Elvira na Lapa — prostituída com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria. Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria. Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado. Misael não queria escândalo. Podia dar urna surra, um tiro, urna facada. Não fez nada disso: mudou de casa. Viveram três anos assim. Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa. Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bom Sucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos... Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontra-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul. POEMAS / MANUEL BANDEIRA Sempre pensando que morreria cedo (tuberculoso), acabou vivendo muito e marcando a literatura brasileira. Morte e infância são as molas propulsoras de sua obra. Ironizava o desânimo provocado pela doença, mas em Cinza das Horas apresenta melancolia e sofrimento por causa da “dama branca”. Além de ser um poeta fabuloso, também foi ensaísta, cronista e tradutor. O próprio autor define sua poesia como a do "gosto humilde da tristeza". MANUEL BANDEIRA Pneumotórax Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: - Diga trinta e três. - Trinta e três... trinta e três... trinta e três... - Respire. - O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. - Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino. POEMAS / MANUEL BANDEIRA Mário de Andrade (1893-1945) Um dos organizadores do Modernismo e da SAM, foi o que apresentou projeto mais consistente de renovação. Começou escrevendo críticas de arte e poesia (ainda parnasiana) com o pseudônimo de Mário Sobral. Rompeu com o Parnasianismo e o passado com Paulicéia Desvairada e a Semana, da qual participou ativamente. Injetou em tudo que fez um senso de problemático brasileirismo, daí sua investida no folclore. De jeito simples, sua coloquialidade desarticulou o espírito nacional de uma montanha de preconceitos arcaicos. Lutou sempre por uma literatura brasileira e com temas brasileiros. Seu primeiro romance é Amar, Verbo Intransitivo que penetra na estrutura familiar da burguesia paulistana, sua moral e seus preconceitos. Aborda, ao mesmo tempo, os sonhos e a adaptação dos imigrantes na agitada Paulicéia. Já em Macunaíma, Herói sem nenhum caráter, cria um antiherói com um perfil indolente, brigão, covarde, sincero, mentiroso, trabalhador, preguiçoso, malandro, otário multifacetado. Inspirando-se no folclore indígena da Amazônia, mesclando a lendas e tradições das mais variadas regiões do Brasil, constrói-se um herói que encarna o homem latino-americano. Macunaíma é uma figura totalmente fora dos esquemas tradicionais da prosa de ficção, uma aglutinação de alguns possíveis tipos brasileiros. Oswald de Andrade (1890-1953) Foi poeta, romancista, ensaísta e teatrólogo. Figura de muito destaque no Modernismo Brasileiro, ele trouxe de sua viagem a Europa o Futurismo. Amigo de Mário de Andrade, era seu oposto: milionário, extrovertido, mulherengo (casou-se 5 vezes, as mais célebres sendo as duas primeiras esposas: Tarsila do Amaral e Patrícia "Pagu" Galvão). Foi um dos principais artistas da Semana de Arte Moderna e lançou o Movimento Pau-Brasil e a Antropofagia, corrente que pretendia devorar a cultura européia e brasileira da época e criar uma verdadeira cultura brasileira. Fazendeiro de café, perdeu tudo e foi à falência em 1929 com o crash da Bolsa de Valores. Militante esquerdista, passou a divulgar o Comunismo junto com Pagu em 1931, mas desligou-se do Partido em 1945. Sua obra é marcada por irreverência, coloquialismo, nacionalismo, exercício de demolição e crítica. Incomodar os acomodados, estimular o leitor através de palavras de coragem eram constantes preocupações desse autor. OSWALD DE ANDRADE Erro de português Quando o português chegou Debaixo duma bruta chuva Vestiu o índio Que pena! Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido O português POEMA / OSWALD DE ANDRADE