12/9/2014
PMs que faziam bico no Morumbi matam jovem a caminho de festa, afirma família - Notícias - R7 São Paulo
12/9/2014 às 00h15
PMs que faziam bico no Morumbi matam jovem a caminho de festa, afirma
família
Alexandre dos Anjos foi morto há duas semanas por policiais da Força Tática de Carapicuiba
Guilherme Lima, do R7
Parentes de dois jovens baleados pelos
policiais militares M. S. e H. B., da
Força Tática do 33º Batalhão
(Carapicuíba), em uma rua de alto
padrão no Morumbi, zona sul da capital,
na madrugada do dia 31 de agosto,
acusam os policiais de homicídio. Os
familiares fizeram um protesto no vão
livre do Masp no último domingo.
O caso foi apresentado pelos PMs no 89º
DP (Jardim Taboão) como uma
tentativa de roubo. Os PMs, que
estavam de folga, afirmaram à Polícia
Civil que estacionaram às 3h30 na rua
Jayme de Almeida Paiva, uma via sem
saída, para fazer uma pesquisa no GPS.
Amigos e familiares protestam contra ação dos policiais militares e pedem justiça, liberdade e paz
Na versão dos policiais, Alexandre
Reprodução
Barreto dos Anjos, de 19 anos, e Valter
de Assis da Rocha, de 20, teriam chegado de moto ao local e tentando abordar os PMs.
Anjos morreu no local e Rocha foi ferido à tiros (ele está internado no Hospital das Clínicas). Os PMs afirmaram, em
depoimento, que dispararam ao menos 15 vezes — 12 disparos foram feitos ainda de dentro do carro. No local, o R7
identificou, em dois pontos da rua, nove marcas de bala.
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Na via, há ao menos sete câmeras de segurança. Um porteiro afirmou que, no dia seguinte ao caso, policiais civis
recolheram
as gravações.
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Márcia Assis, mãe de5000
Rocha,
contesta a versão dos PMs. Ela afirma que o filho estava a caminho de uma festa, com Anjos na
garupa. Os rapazes, segundo a mãe, seguiam outros colegas, que conheciam o destino. Mas perderam-se dos amigos, pois
teriam sido parados em uma blitz. Na tentativa de achar o endereço correto, acabaram entrando na rua onde estavam os
policiais. E, ainda conforme Márcia, foram pedir informação.
— Meu filho me falou que, na hora em que chegou perto do carro, os homens já começaram a atirar. Ele e o Alexandre
[Anjos] saíram correndo para se proteger. O Valter [Rocha] se fingiu de morto, mas o Alexandre [Anjos] continuou correndo
e levou mais tiros.
O rapaz, que, de acordo com Márcia, trabalha como carregador de caminhão com o pai, foi indiciado por tentativa de roubo
e está sob escolta policial no HC. Rocha foi atingido, segundo a mãe, por dois tiros na perna, dois tiros no abdômen e um de
raspão na cabeça. Ela visitou o filho na última semana.
O irmão de Anjos, que preferiu não se identificar,
disse que a família está com medo.
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— Não procuramos nenhum advogado ainda porque
não temos condições para isso no momento. Estamos
com muito medo de virem atrás da gente.
Ele reforça a versão da festa dada pela mãe de
Rocha.
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Familiares de Rocha e Anjos afirmam que os policiais
faziam bico na rua em que os rapazes foram
baleados. De acordo com o boletim de ocorrência, o
Voyage prata em que estavam os PMs pertence à GPS
Serviços de Portaria — a empresa está registrada em
nome de E. B. e A. B. B. — que têm o mesmo
sobrenome de H. B.
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Alexandre dos Anjos, morto por policiais militares
Arquivo Pessoal
O R7 apurou que E. B., dono da empresa, seria
investigador da Polícia Civil.
À reportagem, um morador da rua afirmou que os policiais faziam segurança para um condomínio da via. De acordo com a
testemunha, que também não quis se identificar, o carro em que estavam os PMs ficava, frequentemente, sob uma árvore
em frente ao local durante as madrugadas. Depois da morte de Anjos, o veículo nunca mais foi visto.
Sem se identificar, a
equipe de reportagem
do R7 entrou em contato
com a empresa. O
atendente confirmou que
a firma atuava em
segurança na região do
Morumbi e citou o nome
de "E." como o diretor da
companhia. Minutos
depois, o mesmo
funcionário da GPS ligou
para a reportagem
do R7 e disse que a
empresa faz apenas
serviços de
monitoramento por
Foto do local onde, segundo testemunha, carro em que PMs faziam segurança ficava parado em frente a condomínio
câmeras de segurança, de
R7
limpeza e de portaria.
O site da empresa está fora do ar desde o segundo telefonema. Desde então, o R7 não conseguiu mais contato com o
responsável da empresa.
Encontro com mulheres
À Polícia Civil, os PMs não falaram em bico. Deram outra versão para estarem estacionados na rua naquela madrugada. De
acordo com depoimento do policial H. B., ele e M. S. se perderam quando estavam a caminho de um encontro marcado com
duas mulheres pela internet.
Segundo o boletim de ocorrência, porém, não foi apresentado nenhum documento ou registro de conversa entre os PMs e as
mulheres.
Apesar de constar como "solteiro" no boletim de ocorrência, o policial H.B. aparece em sua página no Facebook com uma
companheira e uma criança de colo. Nas imagens, ele usa um anel que aparenta ser uma aliança de noivado (na mão
direita).
Armas
Os PMs apresentaram na delegacia uma pistola calibre 380 e uma arma de pressão como tendo sido encontradas com
Alexandre dos Anjos e Valter da Rocha. Diferentemente do definido pela resolução SSP-5, de 7 de janeiro de 2013, os PMs
não deixaram o armamento no local, para que a cena fosse examinada pela perícia.
Márcia nega que Rocha usasse armas.
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— Ele é trabalhador. Tem a mão cheia de calos.
O irmão de Anjos também nega que o morto tivesse envolvimento com o crime.
Ainda segundo o registro da ocorrência, a arma de H. B., uma pistola calibre ponto 40, foi apresentada à Polícia Civil sem
munição. Já M. S. apresentou duas armas: outra pistola ponto 40, que também não tinha munição no momento em que foi
apreendida, e um revólver calibre 38, com seis cápsulas deflagradas.
Em São Paulo, a arma oficial da PM é a pistola ponto 40. O R7 questionou, na segunda-feira, se os policiais carregavam
pistolas da corporação. A corporação não respondeu.
Caso é investigado pela Polícia Civil, diz PM
Procurada para esclarecer o caso na última segunda-feira (8), a Polícia Militar se limitou a afirmar, em nota emitida na
terça-feira (9), que "os policiais militares encontravam-se em folga" e que o "caso está sendo investigado pela Polícia
Civil”.
Na quarta-feira (10), o R7 reencaminhou os questionamentos à SSP (Secretaria de Estado da Segurança Pública). A pasta
enviou, na quinta-feira (11), uma nova nota, emitida pela PM. A íntegra do texto segue abaixo:
"Em atenção ao seu novo pedido, encaminhado à AI [assessoria de imprensa] da SSP, reafirmamos que a Polícia Militar não
tem condições de responder aos questionamentos feitos, tendo em vista o fato de os policiais estarem de folga e se tratar
de suposto crime comum. Assim, os elementos pedidos dependem das provas que eventualmente venham a ser obtidas no
devido processo penal. Esclarecemos que as informações sobre procedimentos operacionais são de caráter sigiloso. Caso se
comprove, eventualmente, que os policiais agiram de maneira irregular, será instaurado processo administrativo interno, o
qual poderá resultar na exclusão deles das fileiras da Instituição. Contudo, não podemos antecipar qualquer tipo de
julgamento ou juízo de valor."
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