O abade e o rabino Aquele que precisa do seu cuidado pode ser o Messias Era uma vez uma abadia. Tinha sido célebre pelo passado, mas atravessava momentos difíceis. Antigamente seus muros albergavam muitos monges jovens e a espaçosa igreja abacial ressoava com seus cânticos. Agora, estava deserta. Só um punhado de velhos monges aparecia perambulando pelos corredores da clausura e louvava a Deus com o coração pesado. Na clareira da mata vizinha, um velho rabino construiu para si uma cabana. De vez em quando vinha ali para orar e jejuar. Nunca ninguém lhe dirigiu a palavra, mas cada vez que voltava a sua cabana, imediatamente a notícia circulava entre os monges: "O Rabino passeia debaixo das árvores"... Enquanto ele ali permanecia, os velhos monges sentiam-se rejuvenescer pelo exemplo do velho orante. Um dia, o Abade decidiu visitá-lo a fim de lhe abrir o coração. Depois da missa da manhã dirigiu-se ao bosque. Ao aproximar-se, viu o Rabino de pé, junto da escada, de braços estendidos em sinal de boas vindas. Dava a impressão que estava à espera dele. Os dois homens de Deus abraçaram-se como dois irmãos que estavam há muito tempo separados e que agora se encontravam. Depois, permaneceram um em face do outro e sorriam demoradamente... O Rabino convidou o Abade a entrar na cabana. No meio havia uma mesa de madeira, sobre a qual estava a Bíblia aberta. Sentaram-se um momento na presença do Livro. De repente, o Rabino começou a soluçar... Contagiado, o Abade não podia resistir e cobrindo a face com as mãos, pôs-se a chorar também. Pela primeira vez na sua vida, ele esvaziava seu coração. Os dois homens estavam ali, como duas crianças perdidas, enchendo a cabana de soluços e inundando a mesa de lágrimas. Quando a fonte estancou, a calma veio, o Rabino levantou a cabeça e disse: "Tu e teus irmãos servis a Deus com o coração pesado. Vieste buscar a luz perto de mim. Vou dizer-te um segredo... que vós podereis repetir só uma vez. Depois ninguém mais deve dizer novamente. O Rabino olhou o Abade nos olhos e disse-lhe: "O MESSIAS SE ENCONTRA ENTRE VÓS". Seguiu-se um silêncio... Depois, o Rabino disse: Agora, é melhor que te vás. O Abade partiu sem dizer palavra e sem olhar para trás. Na manhã seguinte, reuniu os monges na sala capitular. Disse-lhes que tinha recebido um segredo do Rabino que passeava debaixo das árvores e que esse segredo nunca mais seria repetido. Olhando um a um nos olhos, disse: "O Rabino disse que um de nós é o Messias". Os monges ficaram estupefatos. O que significa? Perguntaram: Frei João é o Messias? Ou será Frei Matheus? Talvez Frei Tomás? Eu mesmo serei o Messias? ...Que significa isto? Estavam todos perturbados com o segredo do rabino, mas ninguém mais falou nele. À medida que o tempo passava, os monges começaram a se tratar uns aos outros com delicadeza e atenção especiais. Reinava entre eles uma cordialidade e uma qualidade de relações que seria difícil de descrever, mas de modo que todo mundo podia notar. Cada um vivia com o outro, como um homem que tinha descoberto algo e todos rezavam e estudavam a Escritura como homens que procuravam algo. Os hóspedes que passavam por ali ficavam profundamente impressionados pela maneira de orar daqueles homens e pela qualidade de seu acolhimento. Rapidamente os fiéis vieram de todos os lados para se alimentar da vida de oração dos monges e os jovens começaram a abraçar a vida que eles levavam. Nestes tempos, o Rabino já não passeava debaixo das árvores do bosque... Sua cabana ruiu... Mas os velhos monges que tinham depositado o seu segredo no mais profundo do seu coração continuavam a ser misteriosamente apoiados pela presença do Orante. (IN: Província Franciscana da Imaculada Conceição)