Mesas viradas Normalmente, sentimos que perdemos algo ao praticar tsedacá. Conhecendo esta história da senhora Genendel, pensaríamos de forma diferente. No ínicio da década de 1930, o rabino Yaacov Yisrael Berger, um notável estudioso da Torá, era o rabino da sinagoga Shomer Shabat, uma pequena congregação no centro de Cleveland, Ohio. O rabino Berger ganhava, na sinagoga, magros 18 dólares por semana. Entretanto, se realizasse algum casamento ou funeral, poderia receber um ou dois dólares extras. Para completar sua escassa renda, o rabino era forçado a procurar trabalho em lojas de comércio ou em fábricas. Entretanto, tais empregos -‐ mesmo quando o contratavam -‐ raramente duravam mais de uma semana. Nos Estados Unidos daquela época, era comum judeus ortodoxos serem despedidos logo no final de semana por não comparecerem no Shabat. O rabino Berger fazia de tudo para manter sua mulher Feigue e seus sete filhos bem alimentados, mas ninguém que o visse poderia considerá-‐lo saudável. Mesmo assim, de certa maneira, ele era um milionário. Numa época em que a maior parte dos pais judeus perdeu sua descendência para a empolgação e as oportunidades que a secular América oferecia, os filhos do rabino Berger continuaram comprometidos com a Torá; eram judeus totalmente observantes. Dois de seus filhos, Avraham e Yerachmiel, estudaram na Yeshivá Torá Vadáat, no Brooklym. Avraham retornou para Cleveland, onde serviu como rabino da Congregação Ahavat Yisrael por mais trinta anos. Certo dia, o rabino Yiaacov Yisrael Berger recebeu uma carta de sua irmã Rivcá, de Rava-‐Mazeweczka, Polônia. A carta dizia que sua outra irmã Yochêved, acabara de ficar noiva, mas a pobreza de ambas era tanta, que elas não tinham dinheiro suficiente para pagar o dote. Rivcá solicitava na carta ao Rabino Yaacov, que tentasse levantar fundos para levar o casamento adiante. O rabino Berger considerou suas opções. Ninguém que ele conhecia possu;ia economias suficientes para emprestar-‐lhe dinheiro. Mas ele sabia que a mitsvá de hachnassat calá era de super importância. O rabino Berger não tinha dinheiro suficiente -‐ mas ele possuía alguns móveis. Ele reuniu seus filhos e comunicou sua decisão. Ele levaria seu mobilário caríssimo à casa de penhores e usaria o dinheiro para custear parte do casamento de sua irmã na Polônia. Quando ele tivesse dinheiro suficiente novamente, recuperaria os móveis. Os filhos do rabino Berger ficaram incrédulos. Seu pai abriria mão de suas cômodas, armários e mesas por uma noiva que estava a mais de cinoc mil quilômetros de distância! Para o rabino Bergerm entretanto, não restavam dúvidas. Uma irmã estava passando por grande necessidade. Como ele ousaria não se sacrificar por um motivo tão importante? Anos mais tarde, uma se suas filhas lembrou que, no dia em que o carregador da transportadora retirou os móveis, havia uma atmosfera de tristeza na casa que lembrava Tish'á Beav. Privada da maior parte de seus móveism a casa dos Berger parecia ter perdido muito de sua personalidade. Paredes que até então não eram visíveis, fitavam com seu vazio tudo o que acontecia no lar. A casa, que agora parecia muito maior, estava, de fato, dimínuida. O rabino Berger assegurou à sua família que recuperaria todos os móveis, item por item, logo que obtivesse o dinheiro. Seus filhos consolados, porém céticos. Onde ele conseguiria tamanha quantia? Isso levaria anos! Mesmo desanimados, os filhos do rabino Berger estavam muito orgulhosos do que seu pai fizera. Eles entenderam que, se a situação fosse inversa, eles ficariam eternamente gratos ao seu benfeitor. Uma semana depois que os móveis foram retirados, um dos membros da congregação do rabino Berger aproximou-‐se dele e disse: -‐ Eu gostaria de enviar meus dois filhos para a Yeshivá Torá Vadáat, mas sei que eles estão atrasados em relação aos outros garotos da mesma idade na yeshivá. Talvez dois de seus filhos possam ensinar os meus para que alcancem o nível necessário para serem aceitos. Estou disposto a pagar-‐lhes bem pelas aulas. O rabino Berger tinha dois filhos em casa: Yossef, que foi um dos primeiros alunos do rabino Yitschac Yaacov Ruderman, e Moshê. O rabino Berger tinha certeza que seus filhos aceitariam o desafio. A família Berger decidiu que os primeiros fundos que ganhassem seriam direcionados imediatamente para a casa de penhores, a fim de reaver os móveis da família. Os dois garotos começaram a ensinar. O dinheiro que recebiam era entegue diretamente ao pai, que fazia pagamentos semanais ao dono da casa de penhores. Em alguns meses os Berger conseguiram reaver todos os móveis que penhoraram. As paredes e quartos solitários se encheram de alegria novamente. A família Berger já estava discutindo o destino do dinheiro extra que conseguiria com as futuras aulas. Todos tinhas sugestões. Logo após recuperarem o último móvel penhorado, o pai dos garotos que estudavam com os Berger se aproximou do rabino e disse: -‐ Estou muito satisfeito com o progresso de meus filhos. Talvez já seja a hora de enviá-‐los para Nova Iorque para fazerem o teste de admissão na yeshivá. O que você acha? Meus filhos estão prontos para isso? O rabino Berger, que estava acompanhando o progresso dos garotos, foi bem honesto: -‐Você está certo. Acho que seus filhos, estão evoluindo extremamente bem. Deixe-‐os ir para a yeshivá e que tenham muito sucesso lá. Inacreditavelmente, o dinheiro conseguido com as aulas era a exata quantia que a família Berger precisava para recuperar seus móveis. As aulas terminaram, e o dinheiro adicional também. Recentemente, a bisneta do rabino Berger, que leciona em dois seminários em Jerusalém, contou a seus alunos a história de seu bisavô. Ela acrescentou o seguinte pensamento, que é uma lição para todos nós. O Báál Haturim (Shemot 30:12) escreve que a palavra hebraica venatenu -‐ eles devem dar -‐ é uma palavra que se lê igualmente nos dois sentidos. Isso significa que aqueles que fazem caridade não precisam se preocupar por perderem algo. Pelo contrário, eles serão recompensados e terão de volta tudo o que deram -‐ como aconteceu na casa dos Berger. A professora, então, me procurou para contar essa história e para informar-‐me que ela ouvira pela primeira vez esta explicação do Báal Haturim em uma das minhas fitas de palestras. Eu me senti pessoalmente gratificado, por que a professora é minha nora, a senhora Genendel Krohn, que deu o nome para seu primeiro filho, meu neto, de Yaacov Yisrael, assim como seu bisavô, o rabino Berger. Do livro "Refflections of the Maggid"Publicado com permissão da Mesorah Publications