O espaço do cuidado frente ao adoecimento a partir de uma perspectiva de atuação psicoterapêutica fenomenológica existencial Marina Cecchini, Univ. São Paulo Camila Gusmão de Almeida, UMC Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo, Univ. Estado do Rio de Janeiro/IFEN Resumo: As práticas de saúde, na atualidade, estão predominantemente pautadas em referenciais técnico-científicos. Assim, destacam-se, nessas práticas como fundamentais, a precisão diagnóstica, a medicalização de vários aspectos da vida humana e a atenção aos aspectos bio-orgânicos. O modo do cuidado que aí impera é aquele que se dedica à busca constante por soluções dadas pelo poder dos especialistas de modo que se possa restituir a saúde daquele que é considerado fora dos padrões de uma vida saudável. Esse tipo de relação acaba por infantilizar e retirar daquele que se encontra doente a responsabilidade por sua existência. Frente ao exposto, apresenta-se a necessidade urgente de compreender atentamente como estes métodos foram se constituindo historicamente até alcançar o estatuto atual. No entanto, tais práticas encontram-se tão enraizadas no mundo contemporâneo que uma questão se faz pertinente: haveria abertura para pensar em outras possibilidades de atuação, no caso do psicólogo, frente àquele que se encontra com suas possibilidades de escolha em restrição? Há a necessidade de repensar a atuação do psicólogo voltada à pessoa que, adoecida, torna-se apenas um doente para ser assistido pelos profissionais de saúde. Para podermos abrir um espaço de reflexão sobre essa temática recorremos primeiramente ao modo como o nosso mundo se articula, naquilo que Heidegger (2007) denominou de Era da técnica com suas determinações essenciais: produtividade, estocagem e descarte. Ainda nessa mesma determinação da técnica própria de nosso mundo, cabe pensar como, em um mundo em que o fazer do especialista se constitui em uma prática que desafia, pode se escapar dessa determinação? Assim, num contexto hospitalar, surge a necessidade de se pensar na possibilidade de introduzir novas práticas de atuação por meio de uma perspectiva fenomenológica existencial. Essa atuação se dá ao modo de um cuidado que não infantiliza, pois não substitui o outro na sua tarefa de ter de existir. Permitindo uma aproximação de quem se encontra ali, adoecido, em todo seu existir, e não apenas um aproximar que busque dar conta do adoecimento e de práticas psicológicas que visem promover uma profilaxia auxiliar à medicina. Deste modo, se torna possível um outro modo de relação entre o homem e a técnica, no qual este reconhece os benefícios e limitações da última, sabendo que o conhecimento provido pela racionalidade humana não supre nem é capaz de proporcionar o cuidado que só pode se dar no encontro humano. A partir de uma proximidade trazida pelo cuidado que só é possível ao homem, abrem-se outras possibilidades de estar frente ao adoecido, considerando amplamente sua existência em suas variadas dimensões. Ainda que este encontrar-se aconteça num breve momento, ele já ocorre a partir de uma disposição diferenciada, compreendendo o adoecimento enquanto um fenômeno que ocorre em articulação com toda a existência, e por isso, deve ser considerado a partir desta amplitude, sabendo que este não é o único aspecto da pessoa a ser olhado e cuidado, mas sim buscando um aproximar-se do existir da pessoa que se encontra naquele estado de não-familiaridade. Palavras-Chave: psicologia fenomenológica; cuidado; hospital; saúde