Economia em Dia
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Por que ninguém previu o forte
crescimento da economia brasileira ?
*Tiago Wickstrom Alves
No final de 2009, ano em que o Brasil se revelou ao
mundo como uma economia sólida a ponto deter sido, entre
os países latino-americanos, o que respondeu mais rapidamente
à crise do subprime, havia diversas previsões de crescimento
para 2010. As mais otimista vinha do presidente Lula que projetava um crescimento de 5%, rebatido por uma ampla gama
de projetistas, até mesmo do próprio governo. No entanto, as
previsões foram sendo inflacionadas à medida que se avançava
no tempo. Por exemplo, Guido Mantega, em maio de 2009, em
uma audiência pública, anunciava que a economia iria crescer
menos que o esperado em 2010, projetando um valor entre 3% e
4%. Em dezembro de 2009, admitia que o crescimento deveria
situar-se entre 4,5% e 5% e, em janeiro de 2010, sua previsão
já era de 5,2% enquanto o mercado, estimava 5,08%. Enquanto
isso, o Banco Central, em dezembro, apresentou uma previsão
de crescimento da ordem de 5,8%.Em setembro de 2010, o
Ministério do Planejamento anunciou que estava modificando
sua estimativa do crescimento da economia brasileira de 6,5%
para 7,2% em 2010.
Esses dados nos levam a seguinte questão: o que ocorreu com a economia brasileira que ninguém foi capaz de prever
esse forte crescimento? Vejamos alguns aspectos que são considerados fundamentais para o desempenho da economia, como
a taxa de juros, tributação e mercado externo. Os empresários
têm reclamado da elevada taxa de juros praticados no Brasil e
com razão, pois o Brasil é o país com a maior taxa real de juros
do mundo. Em segundo temos, às vezes, a Hungria, em outras
a Turquia ou China, mas o que importa é que estamos sempre
no topo desta lista. Outra reclamação constante do setor produtivo refere-se à tributação que, além de complexa e custosa, é
demasiadamente elevada. Neste quesito, o Brasil é o sexto país
com a maior carga tributária do mundo, com um valor superior
ao da Alemanha, que é conhecida pela qualidade dos serviços
públicos e pelos benefícios sociais que possui e muito superior
a dos Estados Unidos da América e Japão que são os países com
as maiores economias do mundo.
E, por fim, quanto ao mercado externo somos um país
exportador de commodities, que tem seus preços muito sensíveis a demanda mundial, indicando elevado risco para o país
além de serem produtos que não agregam valores internamente. Além disso, o saldo em transações correntes, em 2010,
atingiu, nos últimos meses, o maior déficit das últimas décadas
da história brasileira. Esse elemento contradiz o fato de que
o crescimento brasileiro tem ocorrido basicamente estimulado
pela demanda Chinesa por commodities e o incremento do
preço dessas no mundo. Além do que, ocorreu uma redução
na taxa de crescimento da China e isso ainda não foi sentido
no Brasil. Esses argumentos indicam que o Brasil não apresentaria os elementos necessários para justificar um crescimento
tão elevado como o apresentado, em 2010, e muito menos de
que este seja sustentável. Então, voltamos novamente a nossa
questão de quais são os elementos que permitiram esse elevado
crescimento até então e que poderão fazer com que a economia
brasileira cresça acima de 7%, em 2010? Destacando-se que
este crescimento não foi previsto por nenhum dos analisas no
ano passado e nem mesmo em meados deste ano.
Minha percepção de que a demanda interna tem sido
o motor do crescimento brasileiro. E essa ocorre em função de
dois elementos. O primeiro e mais importante, é que os investimentos têm crescido com taxa superior a do consumo. Isso é
fundamental, pois ao mesmo tempo em que neste período ela
age como componente da demanda, no período seguinte ela
representa capacidade ampliada de produção. O segundo são
os gastos públicos, que tem batido recordes a cada período. Estes, associados com políticas de inclusão, ampliaram significativamente o mercado interno e o crescimento tem gerado uma
elevada confiança nos investidores e consumidores que geram
elementos que se autopropulsionam. Com isso em mente, fica
para reflexão, em que medida este crescimento é sustentável.
*Professor titular de Economia e Contabiliade da Unisinos
Obs.: As opiniões acima são de responsabilidade do autor.
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