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Classificação do artigo 17 mar 2015 O Globo
NA WEB Vídeo: protestos contra o governo reúnem 2 milhões em todo o país LUIZA DAMÉ, CATARINA
ALENCASTRO E SIMONE IGLESIAS opais@ oglobo.com. br glo.bo/1bcdv9N
Humildade no dia seguinte
Após protestos, Dilma reconhece erros, propõe diálogo e diz que corrupção é
‘senhora bastante idosa’
Petista agora fala em humildade, afirma que seu governo se abrirá ao diálogo amplo e que
manifestações mostraram que democracia no país está mais forte do que nunca
Um dia depois de cerca de dois milhões de pessoas saírem às ruas contra o governo Dilma, o PT e a
corrupção, a presidente, num tom mais brando que o habitual, saiu da defensiva, pregou humildade e até
admitiu erros: “É possível que a gente tenha cometido algum erro de dosagem (na economia).” E fez
defesa enfática da necessidade agora de um ajuste fiscal, que chamou de essencial, explicando
detalhadamente a necessidade de cortes, já que as medidas usadas até o ano passado não fizeram a
economia reagir. Perguntada sobre a condenação aos escândalos pelas ruas, disse que a corrupção é “uma
senhora bastante idosa”, que não nasceu hoje. Em discurso antes da coletiva, Dilma disse que “valeu a
pena lutar pela democracia” e que o Brasil está mais forte do que nunca. ­BRASÍLIA­ Um dia após os
protestos que levaram ao menos dois milhões de pessoas às ruas do país, segundo estimativas oficiais, a
presidente Dilma Rousseff saiu ontem da defensiva, reconheceu erros do governo, pregou humildade e se
declarou aberta ao diálogo com todos os setores da sociedade.
A mudança de postura da presidente revelouse desde cedo, quando chamou uma reunião de avaliação
das manifestações, no Palácio do Planalto, ampliando, finalmente sua coordenação política com mais três
partidos da base: PMDB, PSD e PCdoB. Dilma fez referência aos protestos no discurso de sanção do Código
de Processo Civil, à tarde, e, em seguida, deu entrevista coletiva, na qual pediu trégua às divergências
políticas, reconheceu que talvez tenha cometido “algum erro de dosagem” nas medidas econômicas e
defendeu o diálogo com regras, sem fomento à instabilidade política. A presidente fechou o dia com uma
reunião no Planalto com o ex­presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o presidente do PT, Rui Falcão.
DILMA: COMPROMISSO É COMBATER CORRUPÇÃO
Durante a entrevista, falou de forma coloquial, usando bastante a expressão mineira “ocê”. Também
fez questão de explicar didaticamente termos econômicos, como as medidas anticíclicas adotadas para
estimular a economia durante a crise internacional, e a relação entre a dívida pública e o PIB (soma de
bens e serviços produzidos no país). A obrigação do governo, segundo a presidente, é escutar o recado das
ruas. Ela reiterou que o compromisso de seu governo é combater a corrupção e a impunidade. Em
resposta ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB­RJ), que afirmou que a corrupção está no
Executivo, Dilma disse que nenhum setor está imune a desvios:
— A corrupção não nasceu hoje, ela não só é uma senhora bastante idosa nesse país, como ela não
poupa ninguém. Ela pode estar em tudo quanto é área, inclusive, no setor privado.
Partiu dos peemedebistas a constatação de que faltava humildade ao governo, crítica constante da
oposição. Dilma ouviu e passou a adotar a palavra como lema. Mergulhada numa crise política e
econômica, a presidente pediu na reunião da coordenação o apoio integral às medidas de ajuste fiscal. Só
elas, disse Dilma aos aliados, poderão fazer o governo reagir. Aos ministros, delegou a função de conversar
com empresários e movimentos sociais e sindicais para pedir que cedam e apoiem o pacote. O governo vê
nas medidas do ministro Joaquim Levy (Fazenda) o passaporte para dias melhores. Sem o hábito de dar
autonomia aos auxiliares, Dilma tenta inaugurar um novo momento, prometendo diálogo e cumprindo
com sua intenção de ouvir os aliados.
— O governo tem obrigação de abrir o diálogo. Obviamente, de um lado, uma postura humilde,
porque, para dialogar, você tem de aceitar o diálogo. O que temos de postura humilde é “estou aberto ao
dialogo”. Ao mesmo tempo, o governo tem de ter uma postura firme naquilo que ele acha importante e
que, muitas vezes, está coerente com o que as manifestações querem e, algumas vezes, não — disse a
presidente.
A presidente insistiu na importância da aprovação do ajuste fiscal e pediu apoio às propostas em
tramitação na Câmara. Dilma tem enfrentado resistência dos governistas e de Cunha e do presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB­AL), que colocam em votação projetos sem aval do Planalto, atendendo à
pressão da oposição.
— Quando a gente diz que o quanto pior melhor é algo que não se pode aceitar, o que nós estamos
dizendo é o seguinte: vamos brigar depois, agora vamos fazer, para o bem do Brasil, tudo aquilo que tem
de ser feito pelo bem do Brasil. É essa a ideia — afirmou.
INSTABILIDADE AMEAÇA A TODOS
Segundo a presidente, as instituições políticas brasileiras não estão à altura das necessidades do país,
e isso inclui todos os partidos políticos. Dilma afirmou que, em uma democracia, o diálogo e a livre
manifestação são essenciais, mas as regras do processo democrático têm de ser respeitadas para garantir
a governabilidade:
— Se você instabiliza o país sempre que lhe interessa, uma hora essa instabilidade passa a ser algo
que ameaça a todos. A escalada é a pior situação que tem. Nós estamos em uma fase democrática em
que temos de buscar o consenso mínimo, ninguém tem de concordar em tudo. Pelo contrário, eu acho
que é da democracia não haver concordância e unanimidade. Unanimidade só tem em um regime e a
gente sabe qual é. Alguns pensam e falam, e os outros que calem a boca.
A prisão de Renato Duque e o pedido de abertura de inquérito contra o tesoureiro do PT, João Vaccari
Neto foi considerada problema antigo, com personagens que já estavam sendo investigados.
— Eu acho que esses acontecimentos mostram que todas as teorias de como é que o governo
interferiu no Ministério Público para investigar ou fazer qualquer coisa com quem quer que seja são
absolutamente infundadas.
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