Band News
12/04/2007
O Instituto Acende Brasil, entidade que representa os investidores privados do setor elétrico, firmou
parceria com a consultoria PSR e vai divulgar a cada três meses um relatório com cenário sobre
risco de desabastecimento de energia. Sobre este assunto, eu converso agora na Rádio Band
News FM, com o consultor do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales. Boa tarde!
Claudio Sales: Boa tarde, Cássia.
Cássia: Claudio como vai funcionar essa espécie de “termômetro” da oferta de energia no país?
Claudio Sales: Olha, primeiro, a razão de ser desse termômetro, como você está chamando: se
nós formos verificar o que o próprio governo tem dito, a informação é confusa. De um lado,
representantes do governo dizem que não há risco nenhum de desabastecimento futuro, e, de
outro lado, outros representantes do governo, como a própria Secretaria de Acompanhamento
Econômico do Ministério da Fazenda, num relatório recente, de pouco mais de um mês, chama a
atenção para um risco grave de desabastecimento caso se pretenda um crescimento um pouco
melhor da economia brasileira. Enfim, uma situação como essa é contraproducente para uma
sociedade que tem necessidade de crescer e capacidade de gerar soluções para os problemas.
Por isso, a nossa iniciativa de apresentar esse programa “Energia Transparente”, que é de fato um
monitoramento permanente do cenário de oferta de energia, e, principalmente, do risco de se
decretar racionamento.
Cássia: E quais são as fontes que vão ser usadas para elaborar esses relatórios?
Claudio Sales: As fontes são as fontes absolutamente oficiais. Os dados são os mesmos usados
pelo governo e por todos os que estudam essa questão. São dados oficiais do ONS, que é o
Operador Nacional do Sistema, e os dados oficiais da Aneel, que é a Agência Reguladora do Setor
Elétrico. A metodologia aqui desenvolvida, e tem uma inovação nessa metodologia, que foi
desenvolvida pela PSR, que é uma consultora especialista nesse tipo de modelagem, reconhecida
nacional e internacionalmente, essa metodologia tem um certo pioneirismo ao apontar o Risco de
se Decretar o Racionamento. E aí, Cássia, se você me permite, há uma diferença sutil mas
importante. Uma coisa é o risco de déficit, muito falado pelo governo ou pelos diversos lados do
mesmo governo, que é um risco a que a sociedade está exposta ou a que o setor está exposto, de
num dado momento você não ter a energia para entregar. Esse risco ele existe, digamos, no papel,
mas na prática não é assim que acontece porque antes de se chegar numa situação como essa,
os responsáveis pelo setor percebem que isso vai acontecer e decretam um racionamento. O
racionamento nada mais é do que um corte forçado da demanda. É dizer: “olha, eu tenho que
diminuir a demanda em 10% ou em 20%” como foi no caso de 2001. Então, o risco ao qual a
sociedade está exposta é o risco de se chegar a uma situação como essa, de ter que decretar um
racionamento, lembrando que o racionamento, que é um corte forçado da oferta de energia,
implica a inibição do crescimento da economia, porque sem energia elétrica você não faz nada, a
diminuição da perspectiva de criação de empregos, a diminuição do padrão de bem estar da
sociedade, a diminuição da indústria, do comércio, de tudo que seja. Enfim, esse é um risco
importante a ser medido, é o risco de se decretar racionamento.
Cássia: E esse primeiro relatório que vai ser divulgado vai vir traçando qual panorama da situação
brasileira nesse momento em relação ao risco de desabastecimento de energia?
Claudio Sales: Graças a Deus e a São Pedro tivemos um período chuvoso extremamente fértil,
quer dizer, os reservatórios atingiram níveis excelentes, praticamente cheios agora, nesse mês que
passou, isso nos permite dizer, e o estudo demonstra, que 2008 e 2009 o risco de se decretar
racionamento fica no âmbito de 5%, o que é considerado aceitável. Porém, em 2010 e 2011, a
situação é de alerta grave, porque em 2010 esse risco é de 8% e em 2011 esse risco já chega a
14%. E isso está sendo avaliado supondo um crescimento da economia de apenas 4%. Se
levarmos em conta um otimismo implícito por exemplo no programa como o PAC, que fala em
crescimento da ordem de 5%, esses riscos estariam aumentados. Vale dizer, possivelmente, não
se teria energia para suportar o crescimento da economia pretendido.
Cássia: Um outro ponto muito importante a destacar é que esse relatório, cada um deles, vai ter
um cenário de oferta 5 anos à frente. É isso?
Claudio Sales: A idéia é exatamente essa: considerar os cenários por esse período de 5 anos, até
porque a análise disso, provê os indicadores necessários para que se tomem medidas para que
depois de 5 anos essas coisas estejam resolvidas. Esse horizonte de 5 anos tem muita razão de
ser, pela natureza da geração de energia, pela natureza do negócio: você toma decisões de
construir usinas, e o prazo de 5 anos é um prazo razoável. Enfim, por maior que seja um problema
para daqui a 7 ou 8 anos, seguramente há de haver soluções a serem implementadas hoje pra
resolvê-lo. A dificuldade é como enfrentar questões que já estão colocadas aí que teriam que estar
acontecendo nesse período de 5 anos e que eventualmente não estão resolvidas de forma
satisfatória. Uma grande conclusão desse relatório é que nós não estamos hoje numa situação de
alarme total. Mas eu diria de que de um alerta importante porque se nós estamos falando de 2010
e 2011, 2010 está a 3 anos de agora. Então, há mecanismos de tomar decisões de construção de
novas usinas nesse horizonte de 3 anos. São usinas mais caras do que seriam usinas hidrelétricas
de grande porte, por exemplo, feitas com 5 anos de antecedência. Porém, essas decisões tomadas
já seriam mais baratas do que esperar para mais adiante ter que contratar usinas do tipo
emergencial, cujo preço de geração de energia é altíssimo. Portanto, eu acho que o mérito que tem
esse programa, o principal se eu pudesse escolher um, é dar transparência a essa questão, para
que haja uma mobilização consistente e coerente de governo e de todos os agentes do setor, no
sentido de prover as soluções porque já está ficando mais do que em cima da hora.
Cássia: Claudio Sales, consultor do Instituto Acende Brasil, muito obrigada pela sua atenção com o
ouvinte da Radio Band News FM.
Claudio Sales: Obrigado.
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Entrevista sobre o Programa Energia Transparente | Band News FM +