Gazeta Mercantil – 18/07/2007
Instituto prevê 28% de risco de racionamento até 2011
Brasília, 18 de Julho de 2007 - Estudo do Acende Brasil avalia que, com PIB de 5% ao ano,
faltarão 3,1 mil MW de energia. O Instituto Acende Brasil divulgou um estudo ontem que prevê
28% de risco de racionamento de energia até 2011, resultado da falta de oferta de 3,1 mil
megawatt (MW) no sistema energético do País. O cálculo foi feito em um cenário em que o Produto
Interno Bruto (PIB) cresça 5% ao ano, percentual próximo à meta perseguida pelo governo de
4,7% neste ano, segundo última revisão divulgada pelo Banco Central.
Para se ter uma idéia de grandeza, esse déficit de oferta de energia equivale ao total de produção
da usina nuclear de Angra 3 ou da Hidrelétrica de Santo Antônio, uma das duas usinas do Rio
Madeira, prevista para ser concluída em 2012. O estudo da instituição inclui o Termo de
Compromisso firmado pela Petrobras com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que
retirou 1,2 mil MW de oferta do sistema no final de 2006. Na ocasião, a estatal disse que não
garantia mais o fornecimento firme de energia de térmicas movidas a gás natural, o que reduziu a
oferta de um modo geral.
A perspectiva de crise excede o critério de planejamento do governo, de risco de 5%, para o
período de 2009 e 2011. Segundo o estudo, a solução para contornar o racionamento é a
realização de um novo leilão de fontes renováveis e a contratação de reserva energética, prevista
no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O leilão de energias renováveis poderia colocar no sistema 1,8 mil MW de energia de biomassa,
basicamente oriunda da cana-de-açúcar, cujas usinas de Mato Grosso e Goiás estariam
habilitadas a operar no final de 2010. Nesses estados os investimentos nas usinas já estão em
andamento e podem gerar 1,8 mil MW, mas faltam torres de transmissão de energia elétrica para
atender a uma maior demanda.
Segundo o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, estão
sendo feitos estudos para as ligações elétricas. Mas, empresários e governo correm contra o
tempo. Para o consultor Mario Veiga, da PSR, os empresários precisam definir a compra de
caldeiras com maior capacidade de produção até agosto, mas necessitam de um sinal positivo dos
investimentos em transmissão. Para isso, o governo tem que realizar um leilão ainda neste ano.
Antes disso, porém, é preciso abrir uma licitação.
Outra opção seria construir usinas movidas a óleo combustível, cujo prazo de maturação é mais
rápido, cerca de um ano, mas com custos mais altos, tanto para o consumidor quanto para o meio
ambiente.
A contratação da energia de reserva serviria para desafogar o sistema das empresas que não têm
energia firme contratada das distribuidoras e que, mesmo assim, compram energia dessas
distribuidoras, mas isso sobrecarrega o sistema. Essas empresas, chamadas de consumidores
livres, são grandes corporações que optaram por comprar no mercado livre porque havia oferta de
energia. Com o crescimento da economia e a conseqüente maior demanda de energia, ficaram
sem fornecedores confiáveis.
A solução para os consumidores livres é comprar energia das distribuidoras, mas isso também
sobrecarrega o sistema. Em 2008, o Instituto prevê que os consumidores livres irão demandar
entre 800 MW e 1000 MW do sistema, o que vai pressionar, ainda mais, o atendimento aos
consumidores que têm contrato firme com as distribuidoras.
O presidente do Instituto, Claudio Sales, quer que o governo defina as regras do possível
racionamento, em 2011, para orientar o mercado. Segundo ele, é importante que se saiba antes
qual vai ser a escala de corte de energia em caso de necessidade.
Download

Gazeta Mercantil - Instituto Acende Brasil