LIVRO 2 FORMAÇÃO DOS PROFESSORES EAD MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO Organizadoras: Ana Cristina Teodoro da Silva/DFE-UEM Marta Bellini/DFE/UEM O que é pesquisa? Fiz esta pergunta a: -uma jovem de 16 anos do ensino médio de nossa escola. -uma criança de 9 anos. - a uma estudante de primeiro ano de graduação. Respostas: - É laboratório? - É a cópia de livros para a tarefa de casa? - Não sei, mas acho que é pesquisa do cientista. Não é fácil para os estudantes compreenderem o que a pesquisa e as ciências embora as estudem, pois a escola tem o papel de transposição dos conceitos científicos para os estudantes, não as executam. No entanto, a escola faz ainda mais: cria uma idéia de ciência e cientista que não condiz com o que temos na discussão científica. Em 1992 analisando um caderno de um jovem de 12 anos que estava na 3ª série do ensino fundamental de uma escola municipal pública, encontrei: -Faça uma pesquisa! -Você nasceu de dia ou de noite? Pesquise sobre o tema Plantas! - Haja Barsa e internet. Ouço muito de estudantes de graduação: - Quero fazer uma pesquisa sobre alfabetização. - Quero fazer uma pesquisa sobre o comportamento dos cães. - Desejo estudar a história dos gregos. - O desenvolvimento geológico do norte do Paraná. - Quero pesquisar o porquê os alunos são indisciplinados. -Quero pesquisar o porquê de os pais não se responsabilizam pelos filhos. São temas equivocados para a pesquisa. Por quê? O público tem uma idéia equivocada de que a ciência é um empreendimento impessoal, desapaixonado e totalmente objetivo. Enquanto a maioria das outras atividades humanas é dominada por modas e personalidades, se supõe que a ciência seja restringida por regras de procedimentos consagradas e testes rigorosos. São os resultados que contam, não as pessoas que os produzem. Trata-se, é claro, de um disparate. A ciência é uma atividade baseada em pessoas, como todo empreendimento humano, e igualmente sujeita a moda e ao capricho. Neste caso, a moda é ditada menos pela escolha do assunto do que pela forma de os cientistas pensarem sobre o mundo. Cada época adota sua abordagem particular dos problemas científicos, geralmente segundo a trilha aberta por certas figuras dominantes que definem a agenda e os melhores métodos de atacá-la. Ocasionalmente, cientistas adquirem uma estatura suficiente para serem notados pelo público em geral, e, quando dotados de um talento excepcional, um cientista pode se tornar um ícone para toda comunidade científica. Em séculos anteriores, Isaac Newton foi um ícone. Newton personificou o cientista cavalheiro – bem relacionado, devotadamente religioso, calmo e metódico em seu trabalho. Seu estilo de fazer ciência fixou o padrão por duzentos anos. Na primeira metade XX, Einstein substituiu Newton como cientista popular. Excêntrico, descabelado, germânico, totalmente absorvido em seu trabalho e um pensador abstrato arquetípico. Einstein mudou a forma de se fazer a física, questionando os próprios conceitos que definem o assunto (PAUL DAVIES, prefacio de Física em seis lições, De Richard Feynman) O que Paul Davies fala? Esse tema é tratado em A ciência e os diferentes tipos de conhecimento de Cleide Riva Campelo e em A ética na pesquisa científica de Eloísa Parolin. No texto Ética na pesquisa e o lugar do pesquisador no mundo de José de Arimathéia Cordeiro Custódio, vemos que a resposta às perguntas anteriores é uma pedra no caminho do pesquisador, pois ele, as vezes, quer iniciar sua pesquisa com um preconceito mais do que com uma ciência. Como diz Custódio (2005, p. 43-45): A ética na pesquisa tem muito a ver com a visão de mundo. O pesquisador busca a legitimidade de sua pesquisa em algum fundamento ético que lhe dá conforto intelectual ou moral. É deste “lugar” confortável que ele desenvolve toda a sua pesquisa. Ética, porém, é muito mais do que seguir um conjunto de regras escritas e consagradas, muito mais do que seguir um Código. Ética – em pesquisa ou em qualquer contexto – tem a ver com diálogo: é o diálogo entre o pesquisador e os outros atores envolvidos na pesquisa. Note que não falamos em “objeto” de pesquisa, como normalmente acontece, porque nem sempre a pesquisa é sobre um objeto, mas sobre outras pessoas. E pessoas nunca são objetos – nem de pesquisa. Este é um ponto importante e bom início de reflexão ética. [...] Qual seria o objeto de pesquisa de um psicólogo que observa a hiperatividade de um grupo de crianças? Lembre-se: sua resposta denuncia sua ética, e sua ética orienta seu comportamento e sua pesquisa. Se sua resposta foi: “ora, o objeto de pesquisa são as crianças”, nota zero para você. Um equívoco comum na pesquisa moderna é considerar seres humanos como objeto de pesquisa. Há um nome para isso: desumanização. E, como vimos, uma ética que reduz seres humanos a objetos de pesquisa pode autorizar pesquisas muito pouco humanas – uma redundância proposital, para fixar bem a idéia. Em outras palavras: seres humanos são sempre sujeitos de pesquisa, independente do lugar que nela ocupem. Mas, se você respondeu que o objeto da pesquisa é o comportamento hiperativo, você - por um artifício intelectual - separou o objeto de estudo da pessoa estudada. Isso é típico da ciência cartesiana (que você deve ter visto no primeiro capítulo), ou seja, uma ciência que entende que é preciso “separar em pedaços” para estudar, compreender e atuar sobre o objeto - este é o conhecimento do médico especialista, que trata o ser humano por partes, ignorando muitas vezes o conjunto. Mas será possível separar o comportamento hiperativo da criança dela mesma? Ou seja, voltamos ao ponto inicial da possível e nada recomendável desumanização. A essa discussão ética de Custódio seguem-se as recomendações do capitulo Orientações para o primeiro projeto de pesquisa de Ana Cristina Teodoro da Silva (2005, p. 55): O objetivo é auxiliar a produção de um primeiro projeto de pesquisa de pequeno porte, já que ao final do curso vocês terão que fazer um trabalho de conclusão. Este trabalho, conhecido como TCC (trabalho de conclusão de curso) ou monografia de fim de curso, começa agora. O projeto a ser executado refere-se ao planejamento do trabalho que será executado no último ano. Quanto a este texto, a sugestão é que façam uma leitura cética, leitura crítica e de questionamento [lembrem-se de Custódio, criança e seus pais não são objetos de pesquisa! Uma boa forma de compreender o conteúdo é estudar a constituição do texto que quer comunicar o conteúdo. Façam perguntas, observem em que momentos a redação está pouco clara, provavelmente são momentos que merecem ser discutidos. De início, serão feitas considerações sobre porque pesquisar; a seguir, a exposição das partes fundamentais de um projeto de pesquisa; concluindo com lembretes sobre a apresentação, a redação e a ética no trabalho. Porém, fica uma indicação na primeira página: só se aprende a fazer pesquisa fazendo, nada substitui o caminho próprio de cada pesquisador, daquele que tem dúvidas, inquietações, que vê relações intrínsecas entre seu trabalho e seu estudo. Esse caminho vocês estão construindo, e ele vai construir vocês. O QUE FAZER PARA INICIAR ESTE PERCURSO? LER! LER! LER! LER! LER! LER! O LEITOR QUANDO LÊ, ESCREVE! A leitura é importante, pois ai está o principal momento criativo para o recorte de nossos procedimentos metodológicos. Os textos de O que é metodologia, Métodos e técnicas de pesquisa em educação: subsídios metodológicos, Orientações para a utilização de entrevistas, questionários, tabelas e gráficos em pesquisas educacionais, Instrumentos de mensuração: algumas considerações e Normas para elaboração de trabalhos científicos tratam do caminho metodológico das pesquisas em educação. Um lembrete: 1) Metodologia e procedimentos metodológicos são campos diferentes. Existe uma confusão terminológica entre metodologia e procedimentos metodológicos, porém metodologia refere-se ao campo geral de estudo dos métodos chamado de meta-nível ou meta-conhecimento por Michel Thiollent (1988). É o campo ou a área que estuda as metodologias, os métodos, suas qualidades e seus defeitos. Metodologia é o campo da atividade filosófica (estudo dos valores, da visão política, da sociologia do conhecimento), da atividade cognitiva (como ocorre a representação dos fenômenos tanto pelo pesquisado, no caso, uma pessoa ou um grupo de pessoas, como pelo pesquisador). Os procedimentos metodológicos constituem o campo do método efetivo e da técnica, são o que Thiollent (1988) chama de métodos em pequena escala. Paulo Salles de Oliveira (1999, p.17): Qual é o sentido que se pode emprestar à noção de método? Trata-se de um conceito que comporta múltiplas acepções. [...] Método indica, portanto, estrada, via de acesso e, simultaneamente, rumo, discernimento de direção. Concluindo com as palavras de Marilena Chauí, “methodos significa uma investigação que segue um modo ou uma maneira planejada e determinada para conhecer alguma coisa; procedimento racional para o conhecimento seguindo um percurso fixado”. [...] O método assinala, portanto, um percurso escolhido entre outros possíveis. Não é sempre que o pesquisador tem consciência de todos os aspectos que envolvem este caminhar; nem por isso deixa de assumir um método. Todavia, neste caso, corre muitos riscos de não proceder criteriosa e coerentemente com as premissas teóricas que norteiam seu pensamento. O estudo dos métodos evita os erros como iniciar uma entrevista assim: O senhor acha que as crianças pobres não têm bom desempenho na escola? Ou Vou fazer uma pesquisa com método materialista histórico. Ou Vou estudar como melhorar o ensino de ciências. [...} precisamos deixar claro que método não é um conjunto de procedimentos e de técnicas; quando falamos, por exemplo, método Paulo Freire isto não significa falar da um tipo de recurso para a alfabetização. Para descrever um método, no caso, o de Paulo Freire, será “necessário ir além para perceber o embasamento teórico, que dá suporte e consistência ao método. De que modo encara a educação? Quais são os pressupostos da relação entre educador e educando? Como tais questões podem interferir na produção do saber? E assim por diante” (OLIVEIRA, 1999, p. 21) Metodologia É UMA ÁREA DE ESTUDO QUE DÁ [...] “parecer” sobre os métodos da pesquisa que selecionamos em nossa investigação. Trata-se de um campo que nos permite elaborar condutas para a pesquisa que queremos realizar e, também, avaliar as condutas que adotamos como pesquisadores. Michel Thiollent (1984, p. 46) resume o campo de estudo da metodologia da seguinte maneira: A) Metodologia geral (de nível epistemológico) que aborda os problemas da explicação em ciência social, causalidade, teologia, compreensão etc e a discussão da especificidade das orientações gerais: positivismo, pragmatismo, behaviorismo, experimentalismo, fenomenologia, hermenêutica, dialética etc. B) Metodologia aplicável na arte de conduzir projetos de pesquisa social ou educacional: definição de temas, formulação de hipóteses, análise de técnicas, de suas capacidades e distorções. C) Estudo aprofundado das técnicas convencionais, com aspectos qualitativos e quantitativos: questionários, entrevistas, análise de conteúdos etc. D) Técnicas quantitativas: amostragem, inferências, correlações, análise fatorial, “pacotes” de computação etc. E) Técnicas qualitativas formalizadas: gráficos, modelagem, gramáticas, estruturas lógicas, inclusive, ao nível das relações e contradições sociais (NAVILLE, 1983). F) Métodos especiais que incluem os: - Métodos de intervenção: pesquisa participante, pesquisaação, intervenção sociológica, análise institucional etc. - Métodos de avaliação: com aplicações em educação, organização e tecnologia. - Métodos de projetação: com aplicação em organização, arquitetura, engenharia. - Métodos de prognosticação: técnica Dephi e outras técnicas prospectivas em ciência, tecnologia e políticas públicas. IMPORTANTE: Na relação entre as teorias podemos escolher duas ou mais teorias pelo pesquisador para orientar metodologicamente sua investigação. Assim, dependendo dos objetos e objetivos propostos e de nossa capacidade teórica e prática tecnológica, freqüentemente devemos construir nosso próprio modelo teórico, geralmente de alcance médio (ou seja, pretende explicar somente um aspecto determinado do real), a partir de uma teoria, ou de várias teorias existentes ou a partir do estudo dos conceitos utilizados por historiadores que abordaram temáticas comparáveis, todo o qual implica sempre em um desafio a nossa criatividade. Somos também partidários de um ecletismo teórico, sempre que os elementos das teorias utilizadas não se contradigam ou se anulam mutuamente. Isto até pouco tempo soava a heresia [...] (DOESJVWIJ, 1993, p.66) Reproduzimos aqui um trecho belíssimo de seu livro, do item Constituição e politização do método (1999, p.23/24): O método existe para ajudar a construir uma representação adequada das questões a serem estudadas. Ele foi constituído no âmbito de um movimento que remonta aos séculos XVI e XVII e que valorizava a capacidade do pensamento racional. Acreditava-se que, pelo uso da razão, seria possível aos homens não só conhecerem o mundo, mas, além disso, transformá-lo. [...] Cuidou-se, então, de construir meios confiáveis para observar, para promover experimentos, bem como para elaborar hipóteses e princípios. O desenvolvimento desses princípios foi concomitante ao das técnicas; postulava-se, afinal, uma ciência de intervenção, que fosse atuante na prática e que estivesse, a um só tempo, sintonizada com a expansão capitalista e com o aumento da capacidade produtiva. Ordenar as coisas, sistematizá-las, identificar unidade e diversidade, mensurar, decompor o todo em partes, analisar, eis resumidamente a empreitada que se queria consolidar. Quem iria operacionalizar o método? [...] No caso das ciências humanas, porém um paradoxo se interpõe: afinal é do homem que se trata. Isto quer dizer que o homem se torna, ao mesmo tempo, sujeito e objeto na investigação científica. Além disso, sendo o sujeito do conhecimento representado pela figura do homem-cientista, ele em tese pode tudo, mas, ao exercitar este poder, torna-se prisioneiro de uma situação que, supostamente, é capaz de controlar e, portanto, dominar. [...] O estudo da metodologia em ciências humanas necessita ser cuidadoso e zelar para que homens concretos, sujeitos e objetos de suas indagações, não fossem mutilados ou, então, não se tornassem objetos nas mãos de cientistas dispostos a fazer da ciência outro poderoso instrumento de dominação. Lembrem-se do porquê de as pesquisas que querem estudar crianças problemas na escola, indisciplina, agressividade das crianças e jovens podem ser investigações de dominação e de não descobertas. Técnicas, que técnicas? Falamos do estudo das correntes, porém podemos avançar mais um pouco. Aqui, neste item, cabem perguntas como: Como se comporta o pesquisador no processo de investigação? Como ele obtém dados de uma pesquisa de alfabetização, por exemplo, com catadores de lixo? Quais são as propostas do pesquisador? Quais são as crenças do pesquisador? Qual o papel da linguagem na pesquisa? Diz Alves-Mazzotti (1998, p.150) diz: “Pesquisadores iniciantes frequentemente confundem um tema ou tópico de interesse com um problema de pesquisa. É comum um aluno procurar o orientador dizendo, por exemplo: “Eu quero fazer minha pesquisa sobre o movimento sem-terra”. O interesse pelo tema, embora seja um aspecto importante, não é suficiente para conduzir uma pesquisa. É necessário problematizar, refletindo sobre o que, mais especificamente, nos atrai, nos preocupa ou intriga nesse movimento: é sua capacidade de organização? É o papel das mulheres nessa organização? É o fato de que o movimento se desenvolveu em uns estados e não em outros? É a maneira como ele é visto pela opinião pública? É a observação de que determinada teoria sobre movimentos sociais parece se aplicar às características dos sem-terra?” Para pesquisar ALFABETIZAÇÃO, relação ALUNOPROFESSOR não bastam as receitas das secretarias de educação... Um candidato à monografia que pretende pesquisar a relação das crianças com suas professoras, pode buscar, por exemplo, argumentos da psicologia da aprendizagem e da epistemologia genética para problematizar este tema. Ele pode analisar a representação dos professores em relação aos desenhos iniciais que a criança de 5 anos faz. Outra técnica de informação pode ser empregada no trabalho com fontes documentais. Em educação podemos ler o trabalho organizado por Carlos Monarcha (2001) que resgatou documentos sobre a vida e obra do educador Anísio Teixeira (1900-1971), um dos pensadores do Manifesto dos Pioneiros de 1932. A pesquisa de Monarcha e colaboradores (idem) discutem os projetos de educação para o Brasil sob a “tradição pedagógica liberal brasileira” e descrevem a luta entre os defensores da escola pública e os guardiões da escola privada a partir da década de 30 do século XX. Além da recuperação da memória de Anísio Teixeira, o livro contribui apresentando ao leitor documentos e fotografias das escolas planejadas por Anísio Teixeira. Pesquisas sobre a história de uma escola, sobre os fundadores da escola de uma cidade podem ser feitas com fontes documentais sobre as primeiras escolas em uma cidade, seus fundadores, seus projetos pedagógicos. Os documentos podem ser jornais, fotografias, documentos da escola e, se houver professores vivos, as entrevistas podem ser uma técnica importante. As entrevistas e questionários constituem importante técnica para as investigações, mas há passos a realizar. São eles: Quais os tipos de dados ou informações que queremos? Quais os mecanismos para as entrevistas? Há dados objetivos, por exemplo, a data de nascimento, porém há dados que queremos obter que são subjetivos como conhecer as opiniões, atitudes, preferências. Questionários e entrevistas são técnicas diferentes, mas são complementares. O questionário pode ser aplicado sem a presença do pesquisador em alguns casos. Podemos enviar o questionário por correio, por e-mail. Em uma abordagem qualitativa o questionário pode conter questões abertas, ou pode ser substituído por roteiro de entrevista; se for uma pesquisa não-diretiva, o entrevistador pode optar por um tema chave ou dar uma instrução ao respondente. A diferença entre questionário, que pode ser aplicado em uma entrevista dirigida e em um conjunto de pessoas (escolhidos por critérios, por exemplo, de representatividade da população global), reside na extensão destes instrumentos. Geralmente o questionário é feito para ser aplicado a um grande número de pessoas e a entrevista (semi-estruturada e não diretiva) é dirigida a um pequeno número de pessoas com perguntas com mais aberturas para captar maior profundidade nas respostas (THIOLLENT, 1985, p. 33) Na entrevista não-diretiva há a formulação de um problema que é o eixo da entrevista. Por exemplo, solicitamos a um indivíduo que descreva a vida política de país sem interferimos muito em sua fala. Há, aqui, necessidade de gravar a entrevista, pois há muitos lapsos e silêncios e é preciso que tomemos o maior número de informações possíveis. A concepção que ampara esta técnica é a cognitivista na qual o entrevistado fala e o entrevistador faz os recortes das falas do entrevistado de acordo com seus objetivos. (THIOLLENT, 1985, p. 33) É freqüente, mas não é desejável que façamos o caminho mais fácil ou o caminho ingênuo. Por exemplo, em uma pesquisa sobre estudantes na década de 60, conforme Thiollent (1985) propôs-se estudar a freqüência com o que os alunos de alto e de baixo “status” se relacionavam com os professores. A pergunta feita foi: O senhor acha que os alunos de “baixo status” se relacionam menos com os professores? Este tipo de pergunta e de pesquisa de delito metodológico, pois na questão estão ocultas uma ideologia, uma opinião e um sentido comum. Para Thiollent (idem) outro procedimento possível seria definir alto e baixo “status” como indicadores de renda, operacionalizar a relação professor e aluno definindo o que é bom relacionamento, faixa de relacionamento etc. Thiollent (idem) chama nossa atenção para a natureza da pergunta nas entrevistas e alerta sobre os erros mais comuns. ERROS metodológicos... 1 - Desconsiderar o papel da linguagem. Thiollent diz que não podemos esquecer que a linguagem não é neutra. Entre usar a palavra regime, sistema político ou governo, a última é mais compreensível para as pessoas, sobretudo, se forem de classes sociais diferentes. 2 - A formulação de uma pergunta poderá induzir respostas enviesadas caso uma pergunta com respostas fechadas não dê alternativas suficientes para o entrevistado. A pergunta: “Por que o Sr. resolveu alugar a casa onde mora?”, seguida de alternativas: a) O aluguel é baixo; b)a casa é confortável e c) a vizinhança é boa”, pode resultar em uma resposta tendenciosa, pois não havia, por exemplo, uma alternativa como: “A casa fica perto de meu trabalho” (THIOLLENT, 1985, p.56). Pesquisar... É uma aventura! Requer ousadia ...