SERVIÇO TECNOLOGIA Entenda como funcionam os e-readers. Especialistas e usuários comentam suas vantagens e desvantagens em relação aos livros de papel 32 O bem moderna lhe para a sua estante. Com certeza há ali pelo menos um livro empoeirado que você não pretende mais ler. Os e-readers surgiram há cerca de 10 anos com a promessa de limpar as prateleiras pouco lembradas e de tornar a vida de estudantes e acadêmicos mais prática. Eles nada mais são do que leitores eletrônicos de textos digitais, isto é, aparelhinhos que armazenam uma minibiblioteca. Bem, míni é modo de dizer – há modelos com capacidade para guardar até 4 mil livros. Um e-reader está longe de ser um computador portátil, e é bom não confundir. Sua função é muito mais simples e restrita: guardar textos para que sejam lidos em telas de 5 a 10 polegadas, aproximadamente. Em geral, possui um pequeno teclado, que pode ser usado para fazer anotações. A imagem do texto varia entre o preto e o branco, abrangendo vários tons de cinza, e pode-se optar por mudar o tipo e o tamanho da letra. Os aparelhos pesam entre 250 e 400 gramas e Revista do Idec | Agosto 2010 gastam pouca energia. Dependendo do modelo, a bateria pode durar até 30 dias. Além disso, as letras são “escritas” na tela com uma espécie de tinta virtual, de modo que a claridade não atrapalha a leitura. Esses dispositivos possuem, em geral, de 1 GB (gigabyte) a 4 GB de armazenamento, e embora o cálculo não seja exato, podese supor cerca de mil livros a cada gigabyte. Mas como o texto vai parar dentro dele? Os textos digitalizados podem ser e-books (livros eletrônicos), jornais, revistas, documentos científicos, processos judiciais etc. Os e-books podem ser comprados em livrarias ou baixados da internet (leia sobre direitos autorais à página 34). Para isso, deve-se conectar o e-reader a um computador, porém, se ele tiver placa de wi-fi (ou seja, conexão sem fio), os cabos de transferência de dados não são necessários. Existem hoje dezenas de modelos de e-readers, cada qual com seus diferenciais. A começar, os aparelhos não leem qualquer e-book ou documento digital. Ao comprar um livro eletrônico, portanto, é preciso levar em conta o seu formato (.doc, .txt, pdf etc.). Por exemplo, o Kindle, o mais popular dos e-readers, apenas lê os livros fornecidos por sua própria fabricante, a Amazon. Por isso, é muito importante perguntar ao vendedor: “quais são os formatos lidos por este e-reader?” Ou: “este e-book será lido pelo meu e-reader?” Outra questão a ser considerada é o design. Alguns têm botões, uns mais molinhos e outros mais duros, e ainda há os que oferecem a tecnologia de tela sensível ao toque (touch screen), ou seja, pode-se virar as páginas passando o dedo no canto da tela. Há quem se encante com esse truque; outros podem se irritar quando a página teimar em não virar, ou quando três páginas virarem de uma só vez. “Há quem ache entediante ler na telinha em preto e branco dos e-readers tradicionais”. Por esse motivo, mesmo os aficionados em tecnologia podem ter torcido o nariz para a relativa falta de interatividade dos dispositivos. A chegada do iPad pode mudar essa perspectiva, já que ele também dá acesso à internet. Outra questão ainda bastante desfavorável para brasileiros é a falta de e-books em nossa língua. “Hoje temos 115 mil e-books à venda na Cultura, mas apenas mil em português”, revela Sergio Herz. VANTAGENS Mas nem tudo é desanimador quando se fala em e-readers, muito pelo contrário. A grande vantagem desse eletrônico é evitar o transporte de volumes que, só de pensar, fazem doer as costas. Para estudantes e pesquisadores é uma verdadeira mão na roda. À esquerda, o Alfa, da Positivo — primeiro e-reader produzido no Brasil e que acaba de ser lançado. À direita, o Kindle, da Amazon, que para muitos é sinônimo de leitor eletrônico DIVULGAÇÃO Leitura POPULARIDADE BAIXA Com um e-reader em mãos, você pode acessar seus textos seja lá onde estiver. No entanto, mesmo com essa atratividade, esses aparelhos nunca chegaram a se popularizar de fato, a não ser entre os vidrados em tecnologia. Mesmo nos Estados Unidos, onde os eletrônicos costumam se espalhar com maior rapidez, só neste último ano, com a chegada de um novo modelo do Kindle e com o lançamento do iPad, é que se percebeu um início de boom. O Kindle, fabricado pela Amazon, é o mais famoso dos e-readers. Já o iPad é o novo objeto-fetiche da Apple, a empresa que talvez tenha maior facilidade em transformar tecnologia em febre mundial. A explicação para a dificuldade de disseminar os e-readers pode ser simples: o custo. O Kindle custa entre US$ 139 e US$ 400. Os Sony Readers, que também vêm se destacando no mercado, variam entre US$ 250 e US$ 400, mais ou menos. Isso sem contar o valor dos impostos e do frete. A tendência, porém, é que esses preços caiam. Por outro lado, os e-books são cerca de 30 a 40% mais baratos que um livro de papel. Uma resistência natural a novas tecnologias é outro aspecto a ser considerado. “Trata-se de uma tecnologia, e, como toda tecnologia, não atrai muito até se tornar amigável”, argumenta Sergio Herz, diretor de operações da Livraria Cultura, que acabou de sentir um aumento significativo na venda de e-books – hoje, são comercializados 80 e-books por dia, embora esse número não passasse de 30 até maio de 2010. Apesar dessa recente virada, Herz ainda não prevê uma grande entrada no mercado brasileiro. “Se vai emplacar? Ainda é cedo para dizer. Acho que o que dá para afirmar é que vai ser um nicho importante”, completa. Um terceiro fator a ser levantado é o fato de as pessoas estarem acostumadas com o colorido e a dinâmica da internet. O blogueiro Bernardo Szpilman, do site <www.escrito.com.br>, especializado em e-readers e e-books, comenta: Cuidados na hora da compra DIVULGAÇÃO MONTAGEM: PHOTOS.COM/DIVULGAÇÃO Mas a maioria deles precisa ser importada, pois não é comercializada por aqui. A primeira versão nacional chega às lojas este mês. Fabricado pela Positivo, o Alfa deverá custar entre R$ 650 e R$ 750 e terá capacidade para armazenar cerca de 1.500 livros. Já os e-books estão razoavelmente acessíveis, sendo vendidos por grandes livrarias, como a Cultura e a Saraiva, e pelas lojas on-line Gato Sabido <www.gatosabido.com.br> – pioneira no mercado de e-books – e Amazon, entre outras. IDEC EM AÇÃO TECNOLOGIA “Comprei meu primeiro e-reader há três anos, inicialmente para facilitar a leitura de artigos científicos. Mas acabei por utilizá-lo também para a leitura de livros em geral”, conta o português Mário Simões, professor do ensino superior na área de ciências do desporto. “A grande vantagem do aparelho é mesmo a praticidade. Posso levá-lo a todo lugar, e agora até ando na esteira lendo”, complementa Mário, que mora em Santo Tirso, Portugal, e possui um modelo da Sony. Gianni Carta, correspondente da revista CartaCapital na Europa, contou há alguns meses, em sua coluna, a experiência de surpreender os passantes com seu aparelhinho, enquanto lia sentado em um café parisiense. Para Gianni, a vida também se tornou mais prática após a compra do acessório. “Antes eu tinha de viajar com uma mala de livros e artigos de referência. Agora coloco todos no e-reader”, comemora o autor de Velho novo jornalismo (Editora Conex). Isso não significa, porém, que Gianni acredite que o e-reader e os e-books substituirão os velhos e bons volumes de papel. Uma experiência recente fez o colunista se recordar de seu afeto pelas 933 páginas, já bem marcadas, de seu Ulisses de James Joyce. “Usei minhas velhas anotações, reli as páginas, cheirei-as”, conta ele, resumindo em seguida: “O e-reader é como o DVD – o cinema sobreviverá”. Polêmicas: direitos autorais e livros de papel E stamos diante do início da popularização dos só lê-los digitalizados, mas o livro tem caracteríse-books no Brasil. Ainda falta muito, claro, ticas irreproduzíveis: pode ser passado de geração para que se torne comum ver as pessoas em geração, não precisa de bateria e possui um aslendo textos eletrônicos nas ruas. Ainda assim, é pecto físico próprio”, ressalta Nanci, que dá aulas bom já ficarmos atentos à questão dos dina Universidade Federal da Bahia (UFBA). reitos autorais de livros baixados da inDe fato, o que aconteceria com o merternet. Por enquanto, a regra é simples: cado editorial se o livro impresso fosse sempre que não houver aval do autor aos poucos deixado de lado? É até e/ou da entidade editora, há violação. difícil prever as consequências. Alerta Caso seja um texto oferecido oficial e para um possível desastre intelectual, gratuitamente, o download é legítimo. Nanci espera que haja união por parte Entretanto, como já aconteceu com a de editoras e leitores: “Devemos, junNanci Oddone música, que pode ser baixada gratuitatos, salvar o livro impresso”. mente no formato mp3 por qualquer pesPor outro lado, a digitalização de texsoa conectada à rede, pode-se imaginar que datos importantes à sociedade pode ser muiqui a alguns anos usuários da internet passem a bai- to benéfica. Nanci lembra, por exemplo, de docuxar também e-books para ler em seus e-readers, com- mentos disponibilizados nos sites do governo em putadores, telefones etc. Há risco, portanto, de que formato pdf. qualquer livro seja oferecido em sites piratas, sem Seguindo esse mesmo raciocínio, Pedro Paranaguá, custos e sem autorização da editora ou do autor. doutorando na área de direitos autorais pela UniSegundo a professora Nanci Oddone, doutora em versidade Duke, nos Estados Unidos, e coautor do Ciência da Informação e bolsista do Conselho Na- livro Direitos autorais (Editora FGV), chama a atenção cional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico para a possibilidade de uso livre de livros, eletrônicos (CNPq) com uma pesquisa a respeito desse assunto, ou não, na educação pública. Mas, ao mesmo tempo, o primeiro esclarecimento fundamental é: o e-book ele vê uma desatualização na concepção de direitos não é um livro, portanto, não pode substituí-lo autorais no Brasil, ainda mais no que diz respeito ao inteiramente. “A indústria pode tentar nos conven- acesso à educação: “Falta promover usos didáticos, cer de que deixaremos de ler livros impressos para sem fins lucrativos e sem necessidade de remuneração. Cópias privadas e para fins educacionais são essenciais para o desenvolvimento do país”. “Devemos, juntos, salvar o livro impresso” Saiba mais Acesse os fóruns de discussão da Editora Plus <http://editoraplus.org>, que trazem muitas informações sobre os e-readers e as novas tecnologias 34 Revista do Idec | Agosto 2010 20 ANOS DE CDC Mais um O vem aí! Idec Aberto é um dos eventos promovidos pelo Instituto para comemorar o aniversário de 20 anos do Código de Defesa do Consumidor. Após tratar dos temas Serviços Financeiros e Planos de Saúde, chegou a vez de tirar as dúvidas dos consumidores com problemas relacionados às telecomunicações (telefonia, internet e TV por assinatura). Os especialistas na área Estela Guerrini e Guilherme Varella, ambos advogados, irão ministrar palestra gratuita para associados e não associados em 31 de agosto (veja mais detalhes ao lado). O último Idec Aberto, realizado no auditório do Parque da Água Branca em 29 de julho, foi um sucesso! E não poderia ser diferente, já que planos de saúde – o tema abordado – é o setor líder de reclamações no Idec há dez anos. A palestra, apresentada pelas advogadas do Instituto Daniela Trettel e Juliana Ferreira, foi assistida por 129 pessoas. Serviço Data: 31 de agosto Horário: das 19h30 às 21h Local: a definir. Acompanhe pelo site do Idec <www.idec.org.br> Inscrições: gratuitas – podem ser feitas até 27 de agosto no site do Idec. Vagas limitadas Prepare-se para o seminário de comemoração D esde o primeiro semestre de 2010 o Idec vem realizando uma série de eventos para celebrar os 20 anos do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Em 13 de setembro vai ser a vez do seminário Vinte Anos do Código de Defesa do Consumidor: Muito a Comemorar, Muito a Celebrar, que será realizado pelo Instituto em parceria com o Procon de São Paulo, o Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor (Brasilcon) e a Consumers International (CI). Além de palestras acerca dos avanços e desafios na proteção dos direitos do consumidor e de reflexões sobre o CDC e o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDEC), quem se inscrever poderá participar de debates e assistir a uma homenagem aos autores e colaboradores do CDC. Serviço Data: 13 de setembro Horário: das 9h às 19h Local: Auditório Paulo de Barros, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) – rua Monte Alegre, 984, Perdizes – São Paulo/SP Inscrições: gratuitas – podem ser feitas no site do Idec <www.idec.org.br>. Vagas limitadas Atenção, associado! A partir de 16 de agosto o Idec terá novos horários de atendimento: Por telefone — das 9h às 17h, sem interrupção. Presencial — das 13h às 17h. Revista do Idec | Agosto 2010 35