FORMAÇÃO PERMANENTE DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO ESPECIAL MACHADO, FRANCISCA DE MOURA – Universidad de la Empresa-UDE -Uruguai – [email protected] Eixo: Formação de Professor/n. 10 Agência Financiadora: Sem Financiamento RESUMO Este estudo é resultado de uma pesquisa de natureza descritiva realizada com professoras que atuam com crianças de 4 e 6 anos no programa de ensino infantil de um centro de educação especial do município de Rio Branco – AC. Conhecer as professoras e avaliar os cursos de formação continuada em relação à prática cotidiana dessas professoras a partir dos relatos sobre um curso de formação continuada em Arte, foi o objetivo desse estudo. Por meio de relatos e formulários com itens abertos e fechados, levantaram-se dados sobre o curso de formação continuada, suas condições de trabalho e concepções de trabalho no atendimento com as crianças nas atividades com a Arte. Evidenciaram-se falta de formação especifica das professoras, ambigüidades nos relatos sobre concepções de Arte. O estudo descore também a formação permanente dessas professoras como ação cultural a fim de democratizar o acesso à arte em toda a sua diversidade. Palavras-chave: Formação de professor, Educação especial, Arte. INTRODUÇÃO A Constituição Federal de 1988 garantiu, em seu Artigo 206, a igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola; a educação como direito de todos é dever do Estado e da família (Art. 205) e deve estender-se também ao atendimento educacional especializado, quer dizer, aos deficientes (Art. 208, III), preferencialmente na rede regular de ensino, isso quer dizer que quando pensamos na formação do educador devemos também pensar em uma escola que dê a todos uma mesma formação básica, uma vez que nesse momento histórico o que queremos formar é o professor qualificado, o profissional preparado para lidar com o aluno, seja ele "normal" ou "deficiente". A formação do professor de educação especial é parte integrante da formação dos profissionais da educação, em nossa sociedade historicamente cativa de tradições culturais 2 e de práticas sociais discriminatórias, a educação especial não tem se constituído, em geral, como parte do conteúdo curricular da formação básica, comum, do educador; quase sempre é vista como uma formação especial reservada àqueles que desejam trabalhar com alunos com "necessidades especiais"1 diferentes, indivíduos divergentes sociais, deficientes. Quando pensamos em educação especial, quase não lembramos que ela vem se construindo historicamente e acompanhando os progressos não só da medicina, biologia e psicologia, mas também da pedagogia. Esquecemo-nos que, apesar de sua especificidade, ela tem se organizado com e para sujeitos concretos. A formação continuada de professores de educação especial tem que está calcada na viabilidade histórica de um projeto de transformação real, isso significa, saber analisar e criticar propostas oficiais ou institucionais da educação (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994), a da Integração (POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, 1994) - a fim de reconhecer suas pertinência, ou não, às condições históricas existentes. O professor de educação especial deve ser qualificado, dono de um saber reconhecido socialmente, e competente no seu métier, além disso, há de ser também um profissional voltado para as práticas sociais vigentes, dotados de uma consciência lúcida de sua realidade histórica e dos problemas dela emergentes. Somente dessa maneira poderá contribuir para a diminuição da segregação e da exclusão dos diferentes pela sociedade capitalista moderna. Alguns estudos apontam para a maciça presença da mulher no magistério e que uma das possíveis razões para o fenômeno seja a ideologia patriarcal de aceitar essa atividade extradomética como uma ocupação transitória (ERGUITA, 2001). Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é avaliar os cursos de formação continuada em relação à prática cotidiana dessas professoras a partir dos relatos sobre um curso de formação continuada em Arte. 1 Os órgãos oficiais que normatizam a educação especial definem os deficientes como "portadores" de necessidades especiais; "portar", segundo o dicionário Novo Aurélio, significa levar consigo, carregar, conduzir, agir, proceder de uma certa maneira; comportar-se. No entanto, a surdez, a cegueira, a Síndrome de Down, a paralisia cerebral etc., são condições que integram os seres, que são inerentes ao seu modo de ser. A "diferença", portanto, assumida por eles como tal, faz parte deles e é a partir disso que integra também suas percepções do mundo e dos homens. 3 MATERIAL E MÉTODO Optei em realizar uma pesquisa de natureza descritiva, de acordo com Gil (2004), pesquisadores preocupados com a atuação prática costumam realizar pesquisas descritivas. Nos incluímos nesse caso, pois buscamos conhecer as características desse professor pra desenvolvermos futuros projetos em comum entre a universidade e a escola especial. Participaram desse trabalho 15 professoras de uma escola especial da cidade de Rio Branco - AC com idade média em torno de 35 anos, todos participantes tinha apenas o Ensino Médio (habilitação magistério) com experiência na docência, atuavam no programa de educação infantil com crianças de 4 a 6 anos. O método utilizado foi à comparação entre o objetivo do um curso de formação continuada em Arte, os conteúdos que são considerados pertinentes pelas professoras de acordo com estudo na formação continuada do ponto de vista social, cultural e científico. RESULTADOS E DISCUSSÃO A fim de conhecer o processo de formação continuada em educação especial dessas professoras, indagamos sobre o curso de formação continuada. Neste trabalho utilizamos a expressão formação continuada e permanente, entendida como todas as formas deliberadas e organizadas de aperfeiçoamento profissional docente, mediante palestras, seminários, encontros pedagógicos, grupos de estudo, oficinas, cursos presenciais e a distância. As professoras em sua maioria avaliam esses cursos em relação ao trabalho que realizam, julgam que, de alguma maneira, concorrem para a melhoria do desempenho, mas são muito vagas em precisar o tipo de contribuição, dando ênfase à ampliação dos conhecimentos pedagógicos e mais experiência; especificam que esses cursos cooperam para a aquisição de novas metodologias; declaram que a influência mútua com os alunos melhora após a realização do curso; consideram que esses cursos não colaboram para seu trabalho, porque estão fora da realidade ou porque é muito pouco tempo; alegam que os cursos aperfeiçoam o uso das tecnologias existentes na escola; não lembram em que o curso contribuiu. Percebemos nos relatos, que as professoras demonstram dificuldade em avaliar a eficiência desses cursos de formação, ou seja, como eles se refletem na prática, nas situações do cotidiano, se o processo de ensino e aprendizagem vivido pelas professoras e 4 alunos se altera após a realização de um curso de formação. Sem dúvida, é necessário que as professoras tenham a oportunidade de crescimento para que os alunos se beneficiem e possamos atingir a meta de uma educação centrada no ser humano e que priorize o aprender a aprender. Após refletir sobre os dados apresentados, suponho que deveríamos deslocar o eixo da discussão da formação do professor, centrada em uma rápida aquisição de conhecimentos e técnicas que conduzam ao bem ensinar, para uma ação cultural. Nós, professores, necessitamos de um espaço no qual não se discutirão apenas as importantes questões metodológicas do trabalho docente, mas que possibilitem o contato com os bens culturais. Dada a já consolidada tendência de deterioração das condições de trabalho dos docentes, nos encontramos privados da possibilidade de compartilhar os bens culturais produzidos por nossa sociedade. Se pretender que o professor deixe de ser um executor de instruções uniformes, devem-se criar condições para que ele se familiarize com a criação cultural (CANDAU, 1996). A criação cultural não se investigar sobre que estágio de operações mentais, nem em que série se encontra os seus possíveis fruídos. A escola, bem como tudo a ela associado está rigidamente apegada à idéia de adequação, de fases, níveis. Essa excessiva rigidez deixa a instituição escolar constantemente desatualizada. Enquanto os professores se perguntam, se certo filme deve ser passado nessa ou não naquele programa de atendimento, o mesmo acontece com as novas tecnologias, as descobertas científicas, os assuntos políticos, os eventos artísticos. É como a escola só se interessasse pelo saber usar e não pelo saber fazer. Para possibilitar a sensibilização dos alunos, é necessário que o próprio professor se envolva com ampla gama de experiências artístico-culturais. Somente uma pessoa que mantém vivo a curiosidade, parte fundamental dessa condição humana que é o desejo de conhecer, não apagará a qualidade em outras pessoas, senão seus procedimentos se tornam mecânicos. Não se trata de promover cursos ou oficinas, nem mesmo preservar os bens culturais, mas sim propiciar um espaço no qual se possa compartilhá-los como bens sociais que são. Não se trata de cultivar o espectador, o admirador, ou de formar um novo público de consumidores que apenas dispõe dos objetos, mas de oferecer condições para que esses 5 professores tenham acesso ao êxtase, que lhes permita estar fora, sair de seu mundo cotidiano e experimentar o de outrem que é antes de tudo esta existência de um mundo possível. (DELEUZE & GUATTARI, 2005, p.28). Alguns educadores argumentam que as propostas de formação permanente tendem a ser mais eficiente a partir das demandas dos docentes. Estudos como Veiga (2002) comprovam que a formação continuada deve considerar a experiência e a realidade profissional da pessoa e, assim, possibilitar uma reflexão sobre sua própria ação, suas potencialidades e limites. Instigamos essas docentes a proporem temas para cursos que considerariam como os mais importantes para o exercício profissional na educação especial com deficiente mental. Os temas que se destacaram são aqui relacionados em ordem decrescente por número de referências: Oficinas de Linguagem (música, teatro e artes plásticas); Objetivos da Psicomoticidade para o aluno com deficiência mental; Dinâmicas e Vivências com as famílias dos alunos especiais; Conteúdos e Planejamento em Ludicidade; Expressão Corporal; Atividades utilizando Sucata. CONSIDERAÇÕES FINAIS Buscamos verificar quais as dificuldades que encontram no cotidiano da escola para a realização do trabalho com a Arte, tendo em vista que estávamos fazendo um estudo com professores de educação especial que atende crianças deficientes mental. Entre as respostas, agrupa em torno da falta de material didático e material adequado; no espaço impróprio e a necessidade de uma sala ambiente; julgaram ser a grande dificuldade a deficiência do aluno e outros atribuíram à falta de empenho do aluno em virtude de sua deficiência; e reconhecem a falta de formação adequada na área de conhecimento com a qual trabalha; na desvalorização das atividades com a Arte. A concepção sobre o trabalho de Arte, que prevalece entre as professoras é a de ser a Arte uma expressão pessoal de sentimentos e a criação artística resultado do afeto e da emoção. Em contrapartida, essas mesmas professoras afirmaram ser a função da Arte na escola passar qualquer conteúdo escolar, comemorar, preparar as festas, desenvolver a capacidade motora, melhorar a disciplina e a atenção. Enfaticamente, referem-se à Arte como um dom que se desenvolve naturalmente, uma coisa que já nasce com o individuo. 6 Sem dúvida, a arte é auto-expressão, como se percebe no entendimento das professoras, mas é também uma forma de conhecimento que favorece os desenvolvimentos cognitivos, afetivos, psico-motor e sobre tudo o intelectual. Como qualquer outra área do conhecimento, possui conteúdos próprios capazes de estimular situações adequadas à construção de conhecimento aliado à produção artística. Fusari & Ferraz (2002) afirmam que o sucesso de um processo transformador no ensino da Arte depende de um professor cuja prática teórica do saber e do fazer artístico deve estar conectada a uma concepção de Arte e propostas pedagógicas consistentes. Os dados apresentados no relato deste estudo indicam professores distantes das características sinalizadas por Fusari & Ferraz (2002). Temos professoras que para complementar suas horas de trabalho se responsabilizaram por um conteúdo sem terem uma formação para tal e que ainda não buscaram suprir essa lacuna. Poderíamos classificá-las como professoras leigas simulando o trabalho de uma professora de educação especial. Professoras com uma concepção instrumental de Arte, pois entendem na como atividade auxiliar, recreativa, como meio para alcançar outros fins e não pelos valores que ela possui em si mesma. Para a efetiva consolidação das valiosas contribuições do documento oficial, faltalhe uma política complementar adequada para alcançarmos a qualidade do ensino e da aprendizagem. Entendo tal política como uma estratégia de intervenção governamental que inclua a formação do professor de Arte, além de proporcionar condições materiais para a realização de seu trabalho. Nesse ponto, reportamos a Morin ao afirmar que oferecer mais recursos materiais aos professores e escolas não garante a necessária reforma do pensamento, porém sem esses recursos a reforma tampouco é garantida (SILVA, 2004). Fazer Arte em qualquer espaço pressupõe o exercício coordenado de pensamento, intuição, sensibilidade e imaginação. Fazer Arte é fomentar a capacidade de criar imagens que está na raiz de qualquer processo de conhecimento. Fazer Arte no precário contexto escolar brasileiro pode parecer, para muitos, impossível, inviável, porém manter essa impossibilidade perpetua o conservadorismo que tem caracterizado nossa cruel lógica da exclusão. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Atlas, 1988. BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial. Livro 1. Brasília: MEC/Seesp, 1994. CANDAU, V. M. F. Formação continuada de professores: tendências atuais. In REALI, A.M.M.R.; MIZUKAMI, M.G.N. Formação de professores: tendências atuais. São Carlos: EDUFSCAR, 1996, p.139-152. ENGUITA, M. A Ambigüidade da docência: entre o profissionalismo e a proletarização. Teoria e Educação; p.41-61,2001. DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O Que é a filosofia? Rio de Janeiro: Ed. 34, 2005. FUSARI, M. F. R.; FERRAZ, M. H. C. Arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 2002. GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2004. SILVA, J. M. O Elo mais frágil. Folha de São Paulo, Caderno Mais, p.13, 2004. UNESCO, Declaração de Salamanca: sobre princípios, política e prática em educação especial. Salamanca, 1994. VEIGA, I. Caminhos da profissionalização do magistério. Campinas: Papirus, 2002.