Um modelo possível para explicar a inibição de tipo não competitivo é admitir a existência na enzima de um local de ligação diferente do centro activo cuja ligação ao inibidor impedisse a formação do produto. A par da classificação que divide os inibidores em competitivos e não competitivos existe uma outra que divide os modificadores (inibidores ou activadores) em isostéticos ou alostéricos. Um modificador isostérico liga-se ao centro activo e é sempre inibidor: é um inibidor isostérico. Um ligando alostérico liga-se à enzima num sítio diferente do centro activo (um sítio alostérico) provocando uma alteração conformacional na enzima. Sítios alostéricos Inibidor alostérico De acordo com este modelo tudo se passaria como se as moléculas de enzima ligadas ao inibidor estivessem excluídas do processo catalítico, isto é, a concentração de enzima tivesse baixado. 37 Quando uma fibra muscular se contrai aumenta a velocidade de hidrólise do ATP e aumenta a concentração de ADP (e AMP; 2 ADP → AMP + ATP). O AMP liga-se à fosforílase muscular induzindo uma conformação mais activa ⇔ o AMP é um activador alostérico da fosforílase muscular. Fosforílase muscular na conformação tensa (inactiva) AMP Activador alostérico Se a alteração conformacional aumentar a actividade da enzima dizemos que há activação 38 alostérica. A cínase-1 da frutose-6-P (ATP+ Frutose-6-P→ ADP + Frutose-1,6-bisfosfato) o ATP é, simultaneamente, substrato e inibidor alostérico. Para concentrações fisiológicas de ATP, o AMP é um activador alostérico. Fosforílase muscular na conformação relaxada (activa) (3) O AMP compete com o ATP pelo mesmo sítio alostérico impedindo a sua acção inibidora. sítio alostérico AMP centro activo Se a alteração conformacional diminuir a actividade da enzima dizemos que há inibição alostérica. 39 (1) Um dos substratos da cínase da frutose-6-P é o ATP. (2) Contudo, existe na enzima um sítio alostérico onde o ATP se liga inibindo-a. Para concentrações fisiológicas de ATP essa acção inibidora é muito 40 marcada. O receptor da insulina pode ser visto como uma enzima alostérica com o seu centro alostérico activador virado para o lado extra-celular (onde se liga a insulina) e o centro activo no lado citoplasmático. O receptor da insulina é uma cínase (ATP + proteína → ADP + proteína-P) que catalisa a fosforilação de proteínas específicas (ISR – “insulin receptor substrates”) num resíduo de tirosina. A ligação entre os substratos e o centro activo entre os inibidores competitivos e o centro activo ou entre os modificadores alostéricos e os sítios alostéricos é de tipo não covalente e reversível. sítio alostérico Os IRS fosforilados pela acção catalítica do receptor da insulina vão funcionar como activadores alostéricos de outras enzimas estando na origem de uma cadeia de reacções que estão na base dos efeitos da insulina. AMP 41 42 Um ligando diferente do substrato que se liga ao centro activo é um inibidor isostérico (se se liga no centro activo só pode inibir). A lípase pancreática catalisa a hidrólise de triacilgliceróis no intestino. Se a ligação entre um inibidor isostérico e o centro activo for reversível (se poder se “deslocado” pelo substrato) esse inibidor comporta-se funcionalmente como inibidor competitivo No tratamento da obesidade pode usar-se um fármaco (orlistat; xenical) que é um inibidor da lípase pancreática. ... mas se a ligação do inibidor ao sítio activo for irreversível (não podendo ser “deslocado” por altas concentrações de substrato) as moléculas de enzima ligadas ao inibidor ficam excluídas do processo catalítico. Neste caso o inibidor comporta-se funcionalmente como não competitivo. 43 O orlistat reage com uma serina (formando uma ligação covalente e irreversível) situada no centro activo da enzima bloqueando a sua actividade. 44 A modificação da actividade de uma enzima pode envolver a sua modificação covalente (hidrólise irreversível ou fosforilação reversível) por acção catalítica de enzimas. Muitas enzimas são reguladas por mecanismos de fosforilação/desfosforilação catalisadas por enzimas (cínases e fosfátases). A fosfátase da desidrogénase do piruvato catalisa a desfosforilação da desidrogénase do piruvato que no estado desfosforilado fica activa. Certas enzimas são activadas por hidrólise irreversível. São exemplos a activação dos zimogénios na digestão dos nutrientes. 45 A transição do estado de saciedade para o de jejum induz aumento da glicagina que, ligando-se ao seu receptor nos hepatócitos, induz a síntese de AMPc, que activa a PKA, que promove a fosforilação de muitas enzimas: síntase do glicogénio, cínase do piruvato, fosfátase-1 de proteínas, cínase da fosforílase do glicogénio, enzima bifuncional (cínase-2 da frutose-6-P; frutose-2,6-bisfosfátase), etc. glicose fosfoenolpiruvato ADP ATP piruvato Se pensarmos que o papel da glicagina é (1) promover a formação de glicose pelo fígado (2) inibir o seu consumo neste órgão... podemos deduzir qual o efeito da fosforilação catalisada pela PKA numa determinada enzima... A cínase do piruvato hepática é inibida por fosforilação mas... a isoenzima muscular não é substrato da PKA nem é regulada por 47 fosforilação/desfosforilação. Forma fosforilada (inactiva) Forma desfosforilada (activa) A cínase da desidrogénase do piruvato catalisa a fosforilação da desidrogénase do piruvato 46 fica que no estado fosforilado inactiva. Nalguns casos, a modificação da actividade de uma enzima (se o seu substrato é outra enzima) pode depender da modificação alostérica do substrato. A fosforílase do glicogénio é activada por fosforilação e inactivada por desfosforilação que é catalisada pela fosfátase-1. A actividade fosfatásica da fosfátase-1 na fosforílase do glicogénio aumenta quando a glicose se liga à fosforílase em sítios alostéricos. 48 A regulação de uma via metabólica pode envolver activações e inibições alostéricas e/ou isostéricas assim como activações e inibições por fosforilação e desfosforilação reversível que operam em cadeia. O AMP é activador alostérico de uma cínase que inactiva a carboxílase de acetilCoA o que baixa a concentração de malonil-CoA. A descida do malonilCoA “desinibe” a carnitina-palmitoil transférase I A carnitina-palmitoil transférase I é a enzima reguladora da oxidação dos ácidos gordos. 49 Desejo a todos os alunos as maiores felicidades na Frequência de Bioquímica e nas outras frequências. 50