Tempo de Aprender com o Tempo Programa Escolar 2014 / 2015 Caro (a) Educador (a), A Faber-Castell disponibiliza seus produtos e desenvolve ações diferenciadas em mais de cem países. Mas só no Brasil a empresa tem o Programa Escolar, planejado especificamente para você e todos os educadores do país, nos diversos níveis da escolaridade básica. Não importa seu cargo, ou a área em que atua. O importante é estabelecer um canal de comunicação para tratar de temas que são relevantes para você, seus alunos e para a educação em geral. O Programa Escolar, com cerca de vinte anos de existência, tem buscado estabelecer um canal de diálogo com os educadores, comunicando aquilo que considera fundamental e que, sem dúvida, possa contribuir para o seu aperfeiçoamento profissional. Durante seu tempo de existência, o Programa Escolar abordou diversos temas, escolhidos em sintonia com as demandas educativas contextuais e coerentes com os princípios institucionais da Faber-Castell. Assim, desde 2012, tem priorizado discutir a qualidade do Tempo necessário para que todos possam aprender, frente ao mundo acelerado e imprevisível em que vivemos na contemporaneidade. Tempo de Aprender foi o título desse material em defesa do Movimento Slow para a escola, abrindo um debate sobre a importância de a escola refletir sobre o tempo que cada aluno precisa para aprender. No ano seguinte, na sequência do tema, a escolha centrou-se na Criatividade, entendendo que, qualificando o tempo, a criatividade precisa ser o eixo para que cada aluno possa viver o seu tempo com liberdade para aprender e criar. Este ano o tema escolhido é Tempo de Aprender com o Tempo, com o foco na discussão sobre a importância de aprender com e em todas as fases da vida, considerando os avanços das diversas ciências que têm revelado capacidades de todos os seres humanos para aprender e passar a vida aprendendo. Na escola, cada fase da vida de seus alunos pode proporcionar aos educadores importantes conhecimentos sobre o sujeito que aprende, dentro das suas peculiaridades etárias. Então, como o slogan da Faber-Castell indica ”sua companhia para tooooda vida”, este material pretende ajudá-lo a refletir sobre a aprendizagem ao longo da vida e, assim, convidá-lo a se colocar também no lugar de aprendiz e melhor trabalhar com seus alunos, quaisquer que sejam suas idades. O diferencial do Programa Escolar da Faber-Castell é que ele parte da certeza de que cada escola tem suas características históricas, culturais e institucionais, bem como seus compromissos éticos e políticos. Por isso, não pretende apresentar técnicas ou métodos que possam indicar a falsa ideia que, por si só, resolvam os graves problemas da Educação Brasileira. A Faber-Castell deseja com este material que agora chega as suas mãos, que ele possa desafiá-lo a viver uma experiência singular da pessoa que você é, para que seus alunos aprendam não apenas por aquilo que você faz na sala de aula, mas por tudo que você é. Faber-Castell SUM ÁRI O Por aqui começamos ................................................................ 06 O Tempo Perdido x O Tempo Justo ......................................... 07 A escola que morreu x A escola que queremos ..................... 08 Ensinar e Aprender .................................................................... 10 Os Pilares da Educação ............................................................ 11 As fases da vida e os Pilares da Educação ............................. 12 Aprender a Conhecer ................................................................. 13 Aprender a Fazer ........................................................................ 15 Aprender a Conviver .................................................................. 16 Aprender a Ser ............................................................................ 18 Aprender para além dos muros da escola ............................... 21 Ensinar: uma aventura apaixonante ......................................... 32 Ficamos por aqui ........................................................................ 33 Para seguir aprendendo ............................................................ 35 O Tempo Perdido Por aqui começamos Sabemos que o mundo que conhecíamos quando crianças não voltará, o que exige uma mudança mental porque, se esperarmos ou mesmo trabalharmos para que as coisas voltem a ser como eram, estamos fora! O futuro incerto como vivemos hoje o que, para muitas pessoas pode significar algo preocupante, de risco, pode ser visto também como uma possibilidade de algo mais aberto, com mais oportunidades e surpresas. Nosso desafio como educadores é acreditar nesta utopia e seguir aprendendo, respondendo de forma adaptativa às mudanças que exigem de nós uma atuação efetiva junto aos nossos alunos. A sociedade das incertezas necessita de pessoas mais flexíveis e criativas, que possam buscar distintas soluções para um mesmo problema e que sejam capazes de superar com êxito as adversidades e o estresse. Para isso não existe receita de sucesso, mas podemos mergulhar neste desafio para promovermos as mudanças tão necessárias na Educação Brasileira. Esta é a perspectiva que a Faber-Castell tem enfatizado no seu Programa Escolar. Os conteúdos educativos aqui apresentados pretendem estabelecer um diálogo com os educadores de todo o Brasil sobre como podemos trabalhar para que nossos alunos aprendam melhor aquilo que é significativo para suas vidas e, também, como podemos aprender com eles, quaisquer que sejam as suas idades. Alguns princípios regem nossa abordagem. Defendemos que a educação escolar não assegura sua qualidade apenas pela quantidade de horas que os alunos passam na sala de aula, nem na diversidade de atividades complementares que realizam dentro ou fora da escola. Qualidade está na capacidade de interação e estímulo à curiosidade que eles recebem. É o slogan “o menos vale mais” que importa. Atividades com mais sentido, respeitando o ritmo de cada um, com tempo para refletir é que faz a diferença. Do contrário, os desafios e provocações criativas estarão nas ruas, nas máquinas e não na escola. 6 “Devemos lutar pela igualdade sempre que a diferença nos inferioriza, mas devemos lutar pela diferença sempre que a igualdade nos descaracteriza.” Boaventura Souza Santos Por isso, depois de escrevermos sobre a valorização do tempo qualitativo para aprender e viver e, em seguida, trabalharmos a importância da criatividade para sonharmos e aprendermos, agora queremos dialogar sobre o que somos capazes de aprender com a diversidade, porque entendemos que reconhecer as diferenças é uma forma de se caminhar para a aceitação da pluralidade e de se valorizar o outro. A diversidade serve para aprendermos com a experiência do outro e gerar aprendizagens. Assim, temos muitos campos para trabalharmos: diferenças de culturas; de valores; de ideologias, etc. Mas escolhemos apenas um: saber aprender com as diferenças de idades por meio de interações que contribuam na geração e ampliação das potencialidades de cada um. É uma proposta intergeracional. Então, para este ano o Programa Escolar chama-se TEMPO DE APRENDER COM... O TEMPO. Significa pensar sobre o que somos capazes de aprender com aqueles que ensinamos, nas diferentes idades. Precisamos também melhor conhecer as potencialidades deles para que possamos melhor ensinar. É uma via de mão dupla, com um importante alerta do sociólogo português Boaventura Souza Santos, citado na epígrafe desta apresentação. Vamos aqui abordar o tema escolhido visando buscar a igualdade junto aos nossos alunos para que melhor possamos entendê-la para não inferiorizá-los por não terem a nossa experiência. Mas também queremos defender a diferença para melhor entendermos que muitas vezes, quando os igualamos, descaracterizamos aquilo que são. Então, a proposta deste ano é de intra e interaprendizagem, ou seja, poder entender cada fase da vida na sua potencialidade de aprender com a experiência dos outros, de saber conviver melhor com as múltiplas faixas etárias. Um belo desafio para nós e convidamos você a nos acompanhar. Seguimos! X O Tempo Justo O tempo é a matéria da vida, pertence ao campo do desenvolvimento humano. Porém, por muito tempo acreditamos na ideia de que crescimento econômico significava não parar. O tempo humano assim foi esvaziado e passou a ser tempo do trabalho. O tempo tinha que ser preenchido com ações comprometidas com a produção ou com o consumo. Era preciso produzir, produzir, produzir e consumir, consumir e consumir. Desde a década de 1950 acreditamos, no Brasil, que lentidão era atraso e que aceleração desenfreada significava desenvolvimento. Hoje vemos que não é bem assim. O desenvolvimento econômico não trouxe um planejamento ecológico. Nossas cidades estão atoladas de carros, com adensamento populacional e todas as mazelas daí decorrentes como poluição, desigualdade social e baixa qualidade de vida. Levando esta máxima para nossas vidas, entramos num ritmo tão acelerado que chega a ser de autodestruição. Passamos a acreditar que desenvolvimento econômico significa aumento de posses individuais e perdemos a noção de “bem comum”. Queremos mais de tudo. Trabalhamos mais horas para consumir mais. É preciso uma mudança de mentalidade. Não seria o caso, por exemplo, de pensar que, ao invés de acreditar que desenvolvimento é fazer com que mais pessoas possam ter mais carros, não deveria ser de ter cada vez menos necessidade de usar carros? Por outro lado, o desenvolvimento tecnocientífico, principalmente aquele relacionado às tecnologias da informação, fundiu tempo e espaço através da velocidade e quantidade das informações. Constatamos a cada dia que as inovações tecnológicas associadas à aceleração do tempo faz com que tudo fique efêmero, transitório e impermanente. Com a aceleração perdemos a concentração, a pausa, o descanso. Nosso ritmo de vida promove a dispersão. Fazemos mil atividades no mesmo instante, sem nenhum foco. Assim perdemos a capacidade de planejar e desenvolver estratégias. Perdemos-nos na desorganização diária. O caos! Mas houve um tempo, lá na Antiguidade, onde os gregos contavam o tempo de duas formas: Chronos era o tempo linear, quantitativo e Kairós conferia qualidade à existência. Assim, para enfrentar o tirano Chronos era preciso da ajuda de Kairós para qualificar o tempo vivido. O tempo passou e cada vez mais procuramos recuperar a qualidade da existência da vida cotidiana, já que as tecnologias da informação instantânea e o entretenimento excessivo fragmentam cada vez mais nossas experiências, ao mesmo tempo em que nos abrem mil novas possibilidades. “Todos os animais, com exceção do homem, sabem que o principal objetivo da vida é usufruí-la.” Samuel Buther É hora de pensarmos que a palavra “mais” pode ser substituída pela palavra “menos.” Tal decisão atinge direto nossa forma de viver e, é claro, a percepção de tempo. É possível viver de outra forma e isso não significa ter que largar o emprego e ir morar numa comunidade alternativa. É possível desacelerar em qualquer lugar. Ter tempo para pensar na sua vida e concluir que o menos vale mais. Viver sem pressa é um estado de espírito. É também o que nos torna mais criativos. As pessoas que estão vivendo tal experiência afirmam que desacelerar faz com que se crie uma sociedade mais coesa, onde as pessoas estão interessadas no bem-estar de todos. Pisar no freio é cada vez mais necessário porque permite, entre outras coisas: comer com mais tempo e prazer e assim perceber a real necessidade de se alimentar; aprender a respeitar seu próprio ritmo para aprender; viajar para desfrutar dos lugares como um nativo, ao invés de querer conhecer tudo em pouco tempo; ter tempo para praticar o ócio; se permitir ter uma atividade artística, sem a preocupação com o resultado final. Enfim, entrar num outro tempo, desacelerar, permite constatar que quanto maior a pressão para produzir em menos tempo, mais a qualidade do que é produzido ou mesmo pensado, decai. Na pós-modernidade embora o mote principal seja que o ritmo de vida e o ritmo de trabalho devam ser acelerados ao máximo para que se possa atingir a realização doméstica de consumo e o sucesso profissional, a cultura pela velocidade está cada vez mais sendo questionada. Hoje existem muitos estudos apontando para a necessidade de reavaliação do cotidiano e o tempo está sendo redescoberto. Daí nossa defesa pelo Movimento Slow, que começou pela comida, na Itália, na década de 1980 e que acabou se espalhando por outras áreas como educação, economia, turismo, entre outras. É... Isso pode parecer uma piada em tempos em que se ensina e se exige que façamos a maior quantidade de coisas cada vez mais rápido e que a ideia de perder tempo é aterrorizante. Mas tenha certeza, do jeito que está não estamos felizes. Então é hora de mudarmos buscando outro ritmo em todas as esferas da vida. E como estamos aqui conversando com educadores, vamos pensar nesta perspectiva para a escola. Uma escola possível para outro tempo, em que seja possível aprender em todos os tempos da vida. 7 A escola que morreu X A escola que queremos Vivemos tempos difíceis para a escola. Tornou-se o alvo de críticas de todos. Uns dizem que morreu. Outros dizem que precisa se reinventar. O melhor é isso ou talvez aquilo. A sociedade pede à escola que dê mais que as suas possibilidades. Exige que compense as deficiências familiares e sociais. Com isso, a escola acabou se tornando o lugar da socialização, da recuperação, de terapia, de comer de forma equilibrada, de ocupação do tempo livre, o lugar de deixar os filhos com segurança e muito mais. Tentando ser adequada para todas as demandas, a escola se empobrece. Simplifica demais o trabalho intelectual para avançar sem riscos, sem descobrimentos, sem poder errar, alijada da vida real. O ponto de partida para melhor entender o papel da escola, é reconhecer que a escola não é um ambiente natural. É uma organização cultural e política. As crianças, que lá comparecem todos os dias, vão porque são obrigadas pelos adultos a irem. Temos leis que determinam tal frequência. Portanto, a escola precisa assumir os problemas que esta falta de naturalidade comporta. Mas não podemos “jogar a criança junto com a água do banho”! O histórico da invenção da escola prova seu potencial emancipador no compromisso com a renovação do mundo público. Está nela a oportunidade de oferecer aos mais jovens um tempo de formação. O contexto exige um grande esforço de todos os educadores, e da sociedade em geral, para tornar a escola compatível com seu tempo. Para isso ela precisa ser uma fonte de sentido para que cada um possa construir suas relações com a vida, com os outros e consigo mesmo. Escola é para se entender a vida e se sentir inteligente e para isso precisa resgatar seu significado. 8 “A escola que imagino seria um lugar onde os erros são permitidos, os caminhos tangenciais encorajados e pensar grande é celebrado como um processo – seja qual for o resultado.” Salman Khan Como nos ensina o pesquisador francês Bernard Charlot: “Escola deriva da palavra grega que significa lazer. Temos de reinventá-la como o lugar de desejo, de aventura e esforço prazeroso”. É preciso que a escola encontre sua função específica, sua parte insubstituível, que consiste em ser o lugar adequado para que os alunos em dinâmica de confrontação e de cooperação recíproca, desenvolvam ao máximo suas capacidades cognitivas, elaborando suas próprias experiências, utilizando todas as linguagens e todas as dimensões emotivas, criativas e lógicas para a construção de conhecimentos atualizados e críticos da realidade. A escola para “consumidores” está morta. Construir uma escola viva, coerente com o seu tempo é nosso desafio enquanto educadores. E tal construção não nasce apenas de um desejo, mas de experiências verdadeiras que consideram: - que as crianças e jovens sabem e vão à escola para refletir sobre o que sabem, aprofundar seus conhecimentos, acessar outros e desenvolvê-los em grupo; - que o professor cumpre seu papel quando garante que cada aluno possa alcançar os níveis mais elevados possíveis (cognitivos, sociais e afetivos) com a participação de todos; - que a inteligência é uma capacidade mental que se modifica, se enriquece e se transforma permanentemente. Ora, se a escola que queremos considera que todas as crianças e jovens sabem coisas distintas e de formas diferentes, então seu trabalho pedagógico estará baseado na diversidade, considerando que todos podem aprender com o grupo. Daí a importância de se criar grupos não homogêneos em termos de idade. Isso é muito importante porque a organização dos alunos homogêneos cria a falsa ideia de que, por terem a mesma idade, deverão ter as mesmas capacidades – uma falsa igualdade. Para esta escola que precisamos construir, o professor não é mais o dono do saber. Ele deixa de garantir a verdade e passa a garantir o método. Sabe como se trabalha os conhecimentos, como se processa, como se discute. Deixa de ser um improvisador para ser um profissional. Aquele que sabe captar nos alunos seus interesses e motivações, sabe propor conteúdos, sabe destacar os conhecimentos presentes garantindo o direito de todos à palavra. O professor assim não é mais o dono do saber. É um mediador de saberes que, sem hierarquizar as matérias, trabalha junto com os alunos, como pessoas inteiras, plenas. Assim, a escola pode se transformar em algo compatível com o seu tempo. Entendendo que, para construir novas estruturas cognitivas é preciso dedicar o “tempo justo” para cada tema trabalhado. Tempo para que possa ser examinado por diferentes pontos de vista e respeitando o ritmo de cada um dos alunos. Portanto, a escola precisará ser lenta, desacelerada, sabendo usar o tempo de forma adequada, para que todos possam se sentir construtores e não acumuladores de informações. É desta forma que o tempo da escola não mais terminará quando se resolve um problema, mas quando uma resposta se converte em uma nova pergunta. Este é o caminho que podemos construir junto com nossos alunos e com toda a comunidade escolar. Acreditamos que estas questões ajudem a fazer a escola compatível com a sociedade do século XXI, que não é apenas informativa. Ela precisa de pessoas com senso de responsabilidade e de solidariedade. Precisa de pessoas reflexivas e criativas que atuem em grupos e em rede, usando os recursos do seu tempo e que se sintam capazes de sempre fazer o melhor no seu ritmo. A escola do nosso tempo é aquela que tem sentido e a educação oferecida é valorizada pela capacidade de interação e estimulo à curiosidade, que todos que ali estão recebem. 9 Os Pilares da Educação Ensinar e Aprender “Aprender sem pensar é inútil, pensar sem aprender é perigoso.” Confúcio Ensinar e aprender formam um binômio fundamental para todos os educadores. Não vamos tratar aqui das principais teorias sobre o assunto porque existe uma extensa bibliografia especializada e nem é o foco deste material. Queremos apenas lembrar que não existe o tal “processo de ensino-aprendizagem” tão presente em muitos escritos da área. Ensinar é um processo e aprender é outro. Ensinar não é garantia de aprendizagem. Assim como nem tudo que se aprende precisa de uma pessoa ensinando. Temos capacidades para aprender de muitas maneiras. Aprender nos permite transcender os limites físicos da evolução biológica. Graças ao cérebro, que os estudos promovidos pela neurociência muito têm ajudado a conhecermos melhor, sabemos que ele pode transformar-se constantemente em decorrência do aprendizado, o que indica que somos capazes de aprender ao longo de toda vida, para além da vida escolar. Para estar sempre ativo, basta garantir o aprendizado contínuo. Manter a mente ativa desacelera o declínio cognitivo. Por outro lado, isso não significa a defesa pela hiperatividade. Um dos fatores que podem “murchar” o cérebro é o estresse. Dito isso, e reforçando a ideia de que com este material estamos somando os dois anteriores produzidos pela Faber-Castell, agregando a proposta de desacelerar para aprender, tendo por base a criatividade. E o que podemos fazer com isso? Além de mudar o movimento da escola, podemos transformá-la de múltiplas formas e cada um pode tornar seu sonho realidade de acordo com cada contexto e possibilidades. Mas sem nunca desistir, por pior que pareçam os impedimentos a serem superados. Afinal, quem escolhe ser educador não veio a passeio! Está na luta e escolheu este caminho porque acredita que é possível fazer o melhor para muitas pessoas. Nós escolhemos continuar esta história tratando do que podemos aprender e ensinar com as pessoas de todas as idades, de forma que cada um possa se sentir um mestre e também um aprendiz. O ponto de partida é pensar que tudo pode mudar, e duvidar sempre. Por outro lado, ter a certeza de que tudo segue inacabado. Nada é definitivo e as nossas experiências são o fio condutor para ficarmos sempre vivos e abertos para o mundo, na certeza de que podemos aprender sempre com todos. Só assim seremos capazes de fazer não uma escola para todos, mas uma escola de todos. 10 A Faber-Castell, ao longo dos últimos cinco anos, tem defendido a divulgação dos 4 Pilares Básicos da Educação, criados pela UNESCO, por meio de seu Relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI (1993/1996), coordenado por Jacques Delors. De acordo com este Relatório, a educação deve se organizar em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo da vida serão, para cada pessoa, os pilares do conhecimento. Esta foi a produção que os membros da Comissão consideravam mais relevante, frente à imprevisibilidade do futuro. Um documento simples, ao mesmo tempo potente e que, infelizmente, foi pouco aproveitado no Brasil, como muitas obras que se transformam em modismos e depois caem no esquecimento. Publicado aqui em 2001, com o título “Educação: Um tesouro a descobrir”, é uma obra que vale a pena ser revisitada para nos ajudar a romper com a visão meramente instrumental da educação. A base dos 4 Pilares Básicos do Conhecimento é o que a UNESCO chamou de “aprender a aprender” e para que possa acontecer, é necessário: “aprender a conhecer”, isto é adquirir os instrumentos da compreensão; “aprender a fazer”, para poder agir no mundo envolvente; “aprender a conviver” ou a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; “aprender a ser”, via essencial que integra as três precedentes. Embora a escola centralize sua função no Pilar “Aprender a Conhecer”, queremos transgredir aqui e propor enfatizarmos em igualdade de importância os 4 Pilares indicados pela UNESCO, dando o especial destaque para o “Aprender a Conviver” porque o tema deste material é APRENDER A APRENDER COM O TEMPO, ou seja, “em relação”. E o tempo aqui significa o tempo marcado pelas idades, porque na escola, na maioria das vezes, as crianças e jovens só se relacionam com pessoas da mesma faixa etária. Estão assim organizadas as salas de aula e até mesmo os turnos escolares. Acreditamos que “Aprender a Aprender” é a base da nossa existência que nos mantém aprendizes enquanto estivermos vivos. Por outro lado, “Aprender a Conviver” é o arcabouço da Cultura da Paz. Se não soubermos conviver com aquilo que é diferente de nós, não seremos capazes de entender que fazemos parte da mesma humanidade, embora com todas as diferenças decorrentes de cada contexto. O fotógrafo Sebastião Salgado comentando sobre sua exposição “Êxodos” justifica sua escolha: “às vésperas do século XXI, tentei mostrar a necessidade de refundarmos a família humana sobre as bases da solidariedade e da partilha”. Foi olhando e fotografando, que ele constatou a degradação das condições de vida, mas não ficou aí. Entendeu que ele poderia fazer algo maior e foi lá e fez. Mostrou ao mundo todo, por meio de suas fotos, as vítimas das desigualdades. Fez porque sentiu que tinha obrigação ética e moral de fazer algo. Deu uma aula de humanidade para todos nós, entendendo que fazemos parte do mesmo planeta e o que acontece nos lugares mais distantes, afeta a todos nós. É este sentido de humanidade que precisamos resgatar em nós diante de nossos alunos. Um caminho é acreditar que todos sabem alguma coisa e, portanto têm algo para ensinar, assim como nós temos algo a aprender. Isso exige respeito e humildade. Todos, independentes da idade, são capazes de nos ensinar algo. Estamos ligados a algo maior que nos faz humanos. Assim aprenderemos a adquirir a noção pessoal do essencial. Daquilo que é realmente necessário, do justo, do básico. Saberemos o que é o verdadeiro foco do nosso trabalho, sem nos perdermos em esforços desnecessários que nos atolam de tarefas sem significado e que nada ensinam. Foi pensando nas múltiplas possibilidades que os 4 Pilares Básicos da Educação criados pela UNESCO oferecem, que a Faber-Castell abraçou a causa e apresenta possibilidades de atuação para enriquecer o trabalho pedagógico dos professores, ajudando-os a pensar nesta perspectiva, qualquer que seja o projeto pedagógico e curricular da escola. A proposta do Programa Escolar da Faber-Castell é de inspiração apenas. Cada um sabe e deve fazer seu caminho, porém, sem nunca perder a coragem de acreditar que pode mudar para melhor. 11 Aprender a Conhecer “As coisas que não têm nome são as mais pronunciadas por crianças.” Manoel de Barros O Pilar Aprender a Conhecer é a essência do aprender a aprender e tem por base a curiosidade intelectual. Defende que para aprender a conhecer não basta dominar conceitos. É preciso desenvolver formação contínua ao longo da vida. Representa uma oportunidade de aprender com o diferente e com o igual; com o que está perto ou distante, sempre com motivação para aprender. Então, nada melhor do que começarmos pelas crianças. São os nossos alunos que todos os dias estão conosco e que a escola entende que, quanto mais jovens são, mais precisam ser ensinados. Como são pequenos, não acreditamos que eles possam ter algo para nos ensinar. Será? E muitas vezes atrapalhamos sua criatividade dirigindo aquilo que achamos que devem fazer. Como exatamente entendemos as crianças e como vivem na sociedade contemporânea? As fases da vida e os Pilares da Educação O distanciamento social entre gerações é um fenômeno da contemporaneidade, resultante de uma sociedade que estabelece uma série de espaços exclusivos para atender às diferentes faixas etárias. Por outro lado, a família, que sempre foi o lugar privilegiado de relações intergeracionais, passou por mudanças significativas em seus arranjos. Virou uma família nuclear com diferentes configurações. A falta de convívio intergeracional resulta no desconhecimento, e o distanciamento gera estereótipos que impedem a aproximação entre as pessoas de idades diferentes. A nossa cultura está impregnada de conflitos geracionais. O preconceito reforça a ideia de que a juventude possui qualidades como força e atividade; aos velhos ressalta-se as perdas e as carências, e as crianças são vistas na sua incompletude. Diante deste quadro, a escola pode ser um espaço privilegiado de aproximação intergeracional. Com o Programa Escolar da Faber-Castell, queremos contribuir para a tão necessária melhoria da escola, chamando a atenção para a importância do olhar cuidadoso para o pluralismo - de culturas e de saberes. Neste campo, enfatizamos a aprendizagem que é proporcionada pelo entendimento de cada etapa da vida e suas identidades. Nosso desafio: aprender em cada fase da vida e com as pessoas de diferentes idades. Destacamos cada Pilar da Educação que a UNESCO produziu em relação a uma determinada fase da vida. Assim, acreditamos que seremos capazes de dialogar sobre o que se tem de mais potente e depois conectar, juntar, misturar e criar uma verdadeira ecologia da aprendizagem. 12 Ser criança Começamos perguntando: cadê os espaços de crianças nas cidades? O que exatamente fazemos com elas? Mandamos para a escola! “Lá será seguro, vai aprender um monte de coisas e conviver com outras crianças de sua idade.” Ufa! Os pais assim descansam em paz. Nos fins de semana, visitas aos shoppings para consumir. E se as mães tiverem pressa, deixam as crianças aprisionadas numas gaiolas desses mesmos shoppings que recebem o nome de espaços infantis. Conseguimos tirar o direito ao espaço das crianças, assim como não damos voz para elas. São vistas como cidadãos do futuro e afastadas no presente de uma participação social efetiva. No momento social que vivemos, o adulto é o agente principal e as crianças são seres inacabados, incompletos, com potencial a ser desenvolvido até atingir a plenitude, ou seja, virarem adultos. Que pena! Tantas coisas poderíamos aprender com as crianças se conseguíssemos vê-las naquilo que realmente são e não o que achamos que sejam. Como assim? Vamos conversar sobre isso agora. que a infância é uma construção cultural, ou seja, é a sociedade adulta que define o que é “ser criança” de acordo com os momentos sócio-históricos, visando atender às necessidades de cada época. Ao longo do tempo, a infância passou de uma situação de plena participação no mundo medieval para uma condição de invisibilidade a partir da modernidade, quando as crianças passam a ser excluídas do mundo adulto, ocupando ambientes específicos destinados a elas, dentre os quais a família é o principal, além de escolas, creches, parques infantis. A intenção dos adultos era de protegê-las e a consequência foi a redução das possibilidades de as crianças utilizarem suas próprias capacidades e de opinarem sobre suas vidas. Ao longo dos séculos, vários pensadores buscaram explicar as diferenças entre adultos e crianças. Hobbes, Locke, Rousseau, Piaget, Freud, Durkheim, entre outros, buscaram entender as crianças. Enfatizavam a negatividade às características infantis, como a fragilidade física e moral, gerando as práticas sociais de confinamento. Podemos constatar também que nas diversas explicações produzidas, existe o reconhecimento de que as crianças e os adultos são diferentes. Este cenário começou a se alterar no final do século XX, com os estudos sociológicos realizados por pesquisadores como Qvortrup, Moss, Sarmento, Corsaro, entre outros, os quais defendiam que a infância não é um “tempo de passagem”, mas uma categoria na estrutura da sociedade. Foi o reconhecimento das crianças como sujeitos de direitos. Deixaram de serem vistas como incompletas, para se tornarem pessoas concretas e contextualizadas, como membros de uma rede de relações, que são capazes de contribuir ativamente na sociedade, produzindo mudanças nos sistemas em que estão inseridas. Um pouco de história Para entendermos melhor como chegamos a ter este posicionamento, é bom buscar na Sociologia da Infância um pouco de história. Primeiro é preciso saber 13 Aprender a Fazer “Não é de um tempo que tenho saudade. Saudade eu tenho é de não haver tempo nenhum.” Mia Couto Tornar visível o que estava invisível As crianças, assim como os adultos, têm o direito de serem ouvidas individual e coletivamente sobre as questões que as afetam e o direito de verem suas inquietações levadas a sério pela sociedade. E o que podemos fazer sobre isso na escola? O primeiro passo é reconhecer as crianças como seres humanos. Não são inocentes ou más – apenas humanos que fazem parte do mundo como ele é. O trabalho da escola é aquele que reconhece as crianças como cidadãos, membros do grupo. Portanto como sujeitos ativos, cujas ideias e teorias precisam ser ouvidas e consideradas, e questionadas também. Então vamos lembrar aqui algumas características das crianças que, mesmo já sendo do conhecimento dos professores, às vezes nos esquecemos, quando trabalhamos para que sejam adultos no futuro. O tempo da criança é hoje! Então vamos lá: • As crianças são curiosas, exploradoras natas. Metem o dedo em tudo, cutucam, pulam, se movimentam muito. A vida para elas é um grande experimento, uma grande aventura de descoberta. • São grandes inventoras e sonhadoras. Tanto que os cientistas se inspiram nelas para passar pela vida perguntando “por quê?”. • Exercitam a sua criatividade sem fronteiras. Tudo com muita energia. • As crianças se preocupam com seus pais. Seus problemas as afetam. • Estão sempre dispostas a ir adiante, enfrentando desafios constantes, atentas a tudo que ocorre à sua volta. • Possuem outra lógica. Quando pequenas não entendem metáforas. Isso é isso, aquilo é outra coisa. • As narrativas infantis são como brinquedos verbais, são um sistema lógico em que as crianças podem encaixar, à sua maneira, o que acham que vai acontecer ou o que viveram. • Quando escutam histórias o fazem de forma ativa, ou seja, elas não recebem a informação de forma bruta, tudo se transforma, combina, lapida a seu gosto. • O brincar como linguagem universal confirma que o desenvolvimento das crianças se processa de uma forma sistêmica, sem fragmentações, em que tudo está ligado a tudo e marca também o início de sua trajetória como eterno aprendiz. • As crianças não conhecem divisão entre corpo e mente. Tudo é uma coisa só. • Também não fazem separação entre teoria e prática. Elas simplesmente fazem. • São profundamente audiovisuais. 14 O que podemos aprender Concluindo este tema, também precisamos considerar que não foram somente as crianças que perderam espaço. Todos nós perdemos o direito ao espaço, ao céu, à natureza. Perdemos a conexão com a natureza, erguendo paredes que acreditamos nos proteger da violência e também acelerando a vida ao máximo. Esta desconexão nos torna incapazes de ver e de sentir muitas coisas e assim vamos desaprendendo a viver na natureza, a proteger nossa espécie e a viver uma vida verdadeira. Enfim, temos muito trabalho pela frente para mudar, nos ver melhor e ver as crianças na dimensão real. Precisamos recuperar a infância do nosso tempo, sem saudosismos. Precisamos também resgatar espaços públicos para todos. Não apenas para as crianças e muito menos os temáticos. Espaços públicos devem ser de múltiplas linguagens para todos. Temos que dar asas para a criatividade das crianças, ou pelo menos não cortá-las. E ter muita coragem para acreditar que vai dar certo se você mudar, enxergando a criança como um ser humano como você, porém diferente de você e que merece respeito igual. O professor então precisa reconhecer que, sendo o outro, precisa somar com as crianças, e se não caminhar junto, todos perdem. O que as crianças podem nos ensinar? Tudo! Elas nos ensinam que não é preciso ter pressa para aprender. Com elas nos aprimoramos como pessoas mais abertas para a aventura e para a curiosidade. Com elas também aprendemos a confiar no potencial humano. É uma lição de beleza, de leveza e de humanidade, com uma preciosa habilidade para retomar o valor vital do tempo. O Pilar Aprender a Fazer é indissociável ao pilar anterior, pois não basta conhecer. É preciso também atuar, intervir, a partir daquilo que se conhece. É fazendo que nos fortalecemos para enfrentar numerosas situações de forma que sejamos cada vez mais capazes de resolver os problemas práticos da vida. Combina a capacidade de iniciativa e o gosto pelo desafio. O tema da velhice é indicado para este Pilar porque a experiência requer tempo. Ser idoso A velhice faz parte do ciclo da vida. É um estado natural que os seres humanos precisam viver para amadurecer. É um momento que traz sabedoria. Porém, ser idoso na sociedade contemporânea brasileira não é nada fácil porque ser jovem é imperativo. A idade avançada é um sinal assustador e inevitável para todos. É uma fase em que a memória começa a desapontar, há um desgaste da visão, audição, equilíbrio e lentidão nos reflexos. É comum associarmos velhice à solidão, morte e tristeza. Mas isso não significa que o idoso é um ser inutilizado, de fim de linha. Mas está havendo uma mudança de paradigma da velhice e isso se deve à combinação do aumento da expectativa de vida e diminuição da taxa de natalidade em todo mundo. Com o aumento da expectativa de vida da população mundial, os idosos acima de 80 anos já estão sendo considerados na “quarta idade”. E o Brasil está se tornando um país maduro. Os brasileiros estão vivendo mais. Na década de 1980 a expectativa de vida era de 63 anos; atualmente é de 74,6 anos. Em 2010, a população de idosos saltou para 10,8% (em 1960 era de 4,7%), de acordo com o IBGE. Estima-se que em 2040 teremos mais de 30% nessa faixa. Diante deste quadro podemos constatar que atualmente está-se vivendo uma nova velhice, identificada com uma postura mais ativa e de protagonismo em suas escolhas. Então, sabe aquela velhinha de cabelos brancos, sentada na cadeira de balanço fazendo tricô? Pois, é... Morreu! Os idosos que são os avós dos alunos em nada correspondem a esta imagem desatualizada. Mas a escola segue convidando as avós para contarem sobre como era no seu tempo, ainda mais tomando chá. Já os avôs vão aos eventos organizados pela escola para ensinar algo que eles sabiam fazer na infância, como um brinquedo. Há variações nas propostas, mas, de um modo geral, os familiares mais velhos são vistos pela escola como pessoas de um tempo passado. Vieram de um lugar que não existe mais. E o que são no presente? A escola não pensa sobre isso. Assim como na sociedade, quando o assunto é velhice, raramente se pensa no presente ou se sonha com um futuro. Isso, de alguma forma, ensinamos para os alunos. Velhinho sim, e daí? Os idosos vivem de formas diferenciadas em cada contexto. Existem aqueles que estão trancados e esquecidos dentro de casa ou asilos; os que estão trabalhando, seja em casa ou na rua; aqueles que estudam; os que preferem não fazer nada mesmo; os que participam de atividades lúdicas e desportivas. Enfim “idoso” é uma categoria social ampla e diversificada. É um desafio para a escola entender que todos os seres vivos são seres do seu tempo. Basta estar vivo! Ter vivido mais não significa pertencer ao passado. Então podemos concluir que envelhecer é a única forma de adiar a morte. E cabe à escola educar seus alunos para saberem interagir de forma igualitária e respeitosa com os idosos. O que podemos aprender Para aprender, não tem prazo de validade. Basta estar vivo. A velhice pode ser tão rica quanto a juventude e pode produzir muitas coisas belas e criativas. Os idosos podem ser pensadores criativos, tanto quanto as crianças e jovens. Eles são interessados em atualizar seus conhecimentos e ampliar seus horizontes intelectuais. Por outro lado, os idosos são como uma biblioteca de vida e conversar com eles é ter uma vivência de vida que ainda não tivemos. Os vínculos pelo afeto, e não pela obrigação ou interesse, podem criar relações de reciprocidade e amizade em que todos ganham. Podemos aprender com eles sua sabedoria que ensina a dar menos importância ao que causa sofrimento e focar naquilo que realmente nos pode trazer benefícios. 15 Aprender a Conviver “Do rio que tudo arrasta se diz violento, mas ninguém diz que são violentas as margens que comprimem esse mesmo rio.” Bertolt Brecht O Pilar Aprender a Conviver é apontado pela UNESCO como o mais importante dos pilares, por causa do seu valor para os dias atuais. Significa aprender a viver coletivamente, desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências dos seres humanos. É o respeito pelos valores do pluralismo e da compreensão mútua para o estabelecimento da cultura da paz. Escolhemos falar sobre os jovens ou adolescentes que é uma faixa etária que os adultos apontam como de difícil convivência. Ser jovem É uma queixa sem fim. Os pais reclamam que os filhos não conversam mais com eles, que preferem a companhia dos amigos. As avós também reclamam da falta de atenção dos jovens, que só sabem dizer: “Oi, Vó. Tchau, Vó”. Para os jovens os adultos são chatos, vivem fazendo cobranças e não os entendem. A escola sempre aponta: os jovens não respeitam ninguém, muito menos os professores e mais: eles já vêm com este “defeito” de casa, já que os pais não sabem dar limites. São os discursos que escutamos com frequência. Além de rótulos que apontam os adolescentes como: precoces, mimados, individualistas, sem foco, ansiosos, preguiçosos e viciados em tecnologia. De fato, a palavra respeito está sempre presente quando o assunto é juventude. Por isso queremos inverter o rumo da conversa. Será que são somente os jovens que não respeitam os adultos? E os adultos, respeitam os jovens? Eles realmente estão sendo respeitados pela escola? E os professores, respeitam os alunos quando repetem ou não preparam suas aulas? Quando se atrasam? Quando usam notas para dar ou tirar pontos, dependendo das atitudes dos alunos? Ou quando enchem a lousa de matéria, sem se preocupar se aquilo faz sentido para os jovens? Este cenário complexo se deve ao fato da adolescência ainda ser vista como uma etapa intermediária entre a infância e a vida adulta. Muitos 16 professores, pela falta de entendimento sobre o que significa ser jovem, acabam enfatizando somente os aspectos negativos de seus alunos. O desafio é entender a juventude ou a adolescência como uma fase com significado próprio, importante para a construção de sua identidade. Um aspecto primordial na relação entre professor e aluno adolescente é o respeito ao ritmo de amadurecimento de cada um. O corpo e a forma de ver o mundo, os outros e a si mesmo se modificam sem respeitar uma sequência linear. São muitas características especificas. Para melhor entender os adolescentes, aqui estão listadas algumas características próprias dessa fase da vida, caso você tenha se esquecido que passou por isso também: • O adolescente vive um frenesi de sentimentos e isso tem impacto em seu comportamento. • O corpo entra em ebulição e o organismo de meninos e meninas começa a mudar sensivelmente. • Torna-se capaz de raciocinar de forma mais elaborada, sem se limitar ao real graças ao pensamento abstrato que adquiriu. Argumenta de forma contundente e é capaz de divagar por horas. • Reelabora a percepção de quem é e do que é capaz, graças à capacidade mais sofisticada de pensar. Daí a fascinação em experimentar toda sorte de situações. E os riscos são grandes. • Gosta de aproveitar seu tempo com os amigos. Fala, gesticula, brinca e debocha. • Os amigos são as pessoas mais importantes e sofre influências deles, positivas ou negativas. • Os grupos deixam de ser só de meninos ou de meninas para ser de todos. Aparecem as tribos e os namoros. • A escola passa a ser vista como o lugar para conhecer pessoas e para encontrar amigos. • É a fase em que é estruturada uma das condutas biológicas fundamentais: a sexualidade. • Rejeita os modelos arbitrários e suas verdades cristalinas, ao mesmo tempo em que busca respostas para sua vida nas narrativas das tribos juvenis. • Por conta do seu funcionamento cerebral, normalmente, tem aquela inércia, preguiça, crise. • Está aberto ao diálogo, à incerteza, à fugacidade dos relacionamentos, à experimentação. De um modo geral, o adolescente não sabe bem o que fazer na escola, e a escola por sua vez não sabe o que fazer com o adolescente. E para complicar ainda mais, pela primeira vez na história da escola, os alunos podem ensinar algo, ou sabem mais que os professores, principalmente quanto às TICs tecnologias da informação e comunicação. As mídias sociais revolucionaram como os jovens se conhecem, se relacionam. Esta é a maior diferenciação comportamental entre as gerações. Mas em essência, as dúvidas, os anseios e as vontades de querer mudar, transformar e ser diferente são semelhantes às épocas anteriores. Os jovens gostam de desafios em que possam usar todo seu potencial e que proporcionem feedbacks. Por isso é necessário que os estudantes trabalhem uns com os outros, pois são capazes de se comunicar com mais facilidade. Uma possibilidade para a escola é trabalhar com projetos desenhados a partir de demandas reais e de interesse dos estudantes. Esta pode ser a forma mais adequada de aprender. E com as novas tecnologias, é possível combinar o aprendizado baseado no interesse e no desenvolvimento personalizado de habilidades. Assim, cada estudante tem uma trajetória de aprendizado única que se conecta com a aprendizagem do grupo. Os projetos estimulam ainda o compartilhamento de histórias e experiências sobre os assuntos abordados em sala de aula. O que podemos aprender Acabou o tempo em que só o professor fala e os alunos apenas escutam. São posições anacrônicas, incompatíveis com o nosso tempo. Não vale a pena tentar fazer os jovens aprenderem como nós aprendemos. Precisamos instituir a escola do diálogo, em que a identidade do professor é tão importante quanto a do aluno. O desafio é se fazer ouvir. Assim seremos capazes de mudar a cultura do silêncio dos alunos e criar o silêncio e a escuta do professor. O caminho? Um só: professor e aluno parceiros em uma relação baseada no diálogo, porque conviver com os jovens é sempre renovador. Se começarmos com atenção ao que nos dizem, teremos uma lição de escuta. Pôr-se à escuta significa prestar atenção ao que dizem os jovens, e deixar de nos preocuparmos com os jovens para ouvirmos o que nos diz cada um em particular. Desta forma nos mostraremos receptivos às novas maneiras de estar no mundo desses estudantes. Abrir a oportunidade de pensar no que esses jovens nos dizem. E sem esquecer que escutamos com as nossas próprias histórias. O que nos remete a refletir: o que eu posso entender melhor de mim e que me ajude a olhar e escutar melhor meus alunos? 17 O que podemos aprender Aprender a Ser O Pilar Aprender a Ser destaca que não se pode negligenciar nenhuma das potencialidades de cada indivíduo, para desenvolver, o melhor possível, a personalidade. Se não formos capazes de desfrutar de nós mesmos e da vida, não conseguiremos atingir os demais pilares. Precisamos aceitar como somos, mas procurando melhorar sempre. Por isso é com este Pilar que melhor podemos refletir sobre a identidade docente. Ser professor Embora muitos pais esperem que os professores eduquem seus filhos, não podemos cair neste equívoco. O ponto de partida para conversarmos sobre o Aprender a Ser professor é a certeza de que o professor nunca substitui os pais, embora para muitas crianças e jovens eles sejam seus modelos mais valorizados. Atuam como aliados apenas, e isso já é muito! A função primordial dos professores é mais do que a transmissão de conhecimentos. Os professores são tradutores das diversas linguagens do mundo – que são ainda mais vastas quando se considera que o conhecimento tem múltiplas origens. Mas o exercício da profissão docente está cada dia mais difícil. As cobranças são estressantes e os desafios enormes. Porém, para avançarmos é importante ter como ponto de partida o reconhecimento de que o mundo que conhecíamos não voltará. Isso exige uma mudança mental. Outro aspecto fundamental é a formação de identidade. O que significa ser professor? Que identidade precisamos construir? Se não tivermos uma ideia clara de quem somos, do nosso papel social, dificilmente saberemos para onde ir. 18 “Na maior parte das vezes, a nossa felicidade ou infelicidade não deriva da vida propriamente dita, mas do significado que lhe damos.” Orhan Pamuk Hoje existe um forte debate sobre a distinção entre educar e ensinar. Alguns estudiosos defendem que os pais educam seus filhos de acordo com seus valores e os professores, ensinam. A autoridade do professor é acadêmica, profissional. Ele dirige sua turma com a autoridade necessária para exercitar sua função. Quanto mais os pais e os professores compartilharem informações, melhor compreenderão o aluno e este se sentirá mais visível. Para outros especialistas, o professor também educa e a discussão é se ele educa para informar ou formar. São dois eixos de valores distintos. Na prática pedagógica “educar para informar” apenas significa “dar a matéria”. Informar é expor conteúdos. Mas entupir a cabeça do aluno com informações não faz dele um cidadão. Mais atenção para formar significa contribuir para que o aluno se torne uma pessoa justa, verdadeira, compassiva e democrática. Portanto, “educar para formar” vai além dos conteúdos escolares. Informação só não basta, é fundamental ganhar distância em relação a ela para que se possa elaborá-la e colocar-se na posição de sujeitos e isso precisa ser ensinado pelo professor, porque todos nós somos sujeitos de conhecimento. Ensinar a pensar é complicado e difícil e, às vezes, dói. Mas não podemos nos sentir esmagados pelo conhecimento acumulado até agora e ficar imobilizados. Ser professor é uma tarefa complicada. Mas insubstituível! Nada e nem ninguém substitui um professor que é tratado com dignidade. Aprender a ser professor começa pela autovalorização. Além de ter que lutar contra tudo que nos desqualifica enquanto profissionais. Somos humanos e cidadãos. E isso é muito! O exercício da profissão exige como condição básica o desejo de ensinar, o ato de convocar o aluno para aprender. E o aluno percebe qual a mensagem que está sendo enviada para ele. Sua sala de aula pode ser uma prisão ou um laboratório de descobertas. Você decide o que quer fazer. É uma opção consciente ou não. Mas saiba que está em suas mãos fazer somente aquilo em que acredita. O olhar sensível do professor é capaz de admirar porque encontra formas de valorizar o que vê. A palavra “admiração” tem a ver com olhar, mirar. Outra palavra importante é “respeito” que está diretamente ligada à capacidade de ver. A palavra “respectus” em Latim significa “olhar para trás”, “olhar com mais atenção”, e também respeito, estima, consideração. O professor precisa sempre estudar, se aperfeiçoar na profissão, como qualquer outro profissional no mundo do trabalho. Quanto mais estudar, se aperfeiçoar para transformar seu fazer pedagógico, mais seus alunos e ele mesmo ganharão. Precisa também refletir constantemente sobre a prática educacional e compartilhar com outros professores sua experiência. Mas de nada vai adiantar seu esforço, se não souber ver o imprescindível da sua própria vida, como um sujeito que faz sua própria história e que reconhece com respeito e atenção cada história trazida pelos seus alunos. 19 Aprender para além dos muros da escola O individualismo, a competição e o consumismo são marcas de nosso tempo e tendem a distanciar as pessoas. O crescimento urbano juntamente com a vida acelerada, que confina as pessoas em espaços fechados e específicos, reduziu o relacionamento com parentes, amigos e vizinhos, enfraquecendo os esquemas de ajuda e cooperação. Para as crianças, restou a escola como o único ou o mais importante espaço de convivência. Neste contexto, a escola corre o risco de trazer o mundo para dentro dela, achando que assim está cuidando dos mais jovens. Mas é exatamente no sentido contrário que se deve trabalhar, ou seja, colocar a escola no mundo, rompendo com o seu distanciamento da comunidade em que está inserida. Não basta promover atividades dentro da escola. É preciso sair da escola e ganhar a comunidade, o mundo. A escola tem uma função social da maior importância na comunidade, porém, não dialoga com outras organizações sociais, limitando-se a ficar no âmbito das famílias. Está na hora de romper seus muros e sair. Somando com e na comunidade para transformá-la de verdade e se transformar. Sem perder sua identidade e função, a escola pode e deve participar de iniciativas sociais que promovam integração entre crianças, jovens, adultos e idosos, em um clima de descoberta e convivência solidária. E por que este enfoque é importante? Porque frente à complexidade da sociedade precisamos nos ajudar, e para ajudar um ao outro é preciso sermos bons aprendizes. E as interações sociais funcionam como catalisadores da aprendizagem. Sem isso não podemos aprender nem nos desenvolver adequadamente. E temos potencial para aprendermos para além da escola. Para muitos pesquisadores, os pobres e marginais do século XXI serão aqueles que não poderão, ou não se envolverão na aprendizagem ao longo da vida. Por isso é necessário um esforço conjunto da escola, das entidades sociais, das estruturas produtivas e culturais para que trabalhem em prol da construção do papel educativo que a cidade deve ter. É preciso que os espaços públicos descubram e respeitem a criança e possam ensiná-las novas possibilidades de conhecimento. Somando com jovens, adultos e idosos, melhor ainda, porque todos precisam se apropriar dos espaços públicos para a construção de um projeto educativo integrado. Assim a escola será também um espaço aberto. 20 “Caminhos não há Mas os pés na grama os inventarão. Aqui se inicia uma viagem clara Para encantação.” Ferreira Gullar Não existem receitas de como fazer, cada contexto exige um tipo de atuação. Mas qualquer que seja a realidade, é importante ter claro que educar vai além da vida na escola. Ela é importante, mas a educação não acontece somente na escola. É preciso que toda sociedade se comprometa com ela. Por isso as ideias aqui apresentadas visam criar oportunidade de integração entre pessoas de diferentes faixas etárias que gerem oportunidades de se relacionar, aprender e trocar experiências. A educação, seja ela escolar ou social, existe para renovar nossos ânimos frente a um cotidiano que muitas vezes nos desanima. Inventar ações que estimulem a convivência, a empatia e o combate à intolerância são fundamentais para a construção de uma sociedade mais inclusiva e solidária. • O que podemos fazer juntos “Devemos aprender a nos amar como irmãos e irmãs, ou nos preparar para morrer como imbecis.” Martin Luther King São muitas as possibilidades de inventarmos ações que envolvam gerações diferentes e toda a comunidade. No entanto, este caminho na escola pode representar uma dificuldade porque ela prefere trabalhar com o universo conhecido e assim ter o controle de todas as etapas. A escola, de um modo geral, prefere fazer suas festas centradas nas efemérides para as quais as famílias dos alunos “são convidadas”, como plateia, para assistir aos espetáculos por ela preparada. A cultura que ela propõe é uma cultura imóvel, segura e sempre igual. Acaba sendo anacrônica em relação ao mundo que a rodeia. Nossa proposta é convidá-lo a pensar “fora da caixinha”, ou melhor, “sem caixinha”. É um desafio para se arriscar; perder o controle e abandonar as certezas do conhecido e aprender com as crianças, que se mostram aprendizes abertas ao desconhecido. Precisamos trabalhar na escola mais a palavra “imaginação” e menos as palavras “atenção e memória”. A imaginação estimulada provocará a experiência que expande a criatividade. Acreditamos que faz parte do desafio pensar que a criatividade pode ser cultivada em muitas direções. Não é uma listagem de receitas. Em tempos de desgraças, é necessário uma dose de imaginação e criatividade para derrubarmos “os muros” que aprisionam a escola como acreditamos que ela possa ser. 21 Para fora da escola Por dentro da escola Nosso desafio começa pela atenção do professor ao que dizem os alunos. Ele precisa criar situações em que todos os alunos possam expressar seus conhecimentos acerca do que está sendo trabalhado. A importância disso que pode parecer “normal” é que, quando falamos, tomamos consciência dos nossos próprios conhecimentos. Não é falar para depois o professor dar “a resposta certa”. Também de nada adianta sentar em círculos e dar a palavra para os alunos, sem que eles tenham as melhores condições para se expressar. Para isso é necessário o uso de diferentes linguagens que permitam que cada um encontre o meio mais adequado, podendo se expressar nos diversos níveis de abstração e de complexidade. Dar voz aos alunos é também educá-los a escutar aos demais num clima de respeito e interesse. Para o professor, ter atenção ao que dizem os alunos corresponde estar interessado no que dizem e também levar em conta o que dizem. Quanto aos espaços internos, a escola precisa estar aberta para seus alunos. Para que eles posam ter acesso a todos os lugares espontaneamente, de forma verdadeiramente autônoma. São ambientes que deveriam ser culturalmente significativos: os laboratórios, as salas de leitura ou bibliotecas; até o pátio, refeitório ou corredores. Eles precisam ser espaços nos quais os alunos se sintam dentro de um ambiente estimulante. O uso dos espaços não pode se limitar a uma programação pedagógica. Por exemplo, a biblioteca deveria ser como uma livraria, com livros expostos de forma amigável, que dê vontade de manipulá-los e não apenas estarem nas estantes. Livros fora das estantes, organizados em alguma mesa, por algum critério ou tema mutante para despertar a curiosidade. É interessante também oferecer material com o qual os alunos possam trabalhar coletivamente. 22 Além dos espaços abertos para todos porque pertencem a toda comunidade escolar, as atividades que garantem algum intercâmbio horizontal entre os alunos é sempre uma iniciativa bem-vinda. Não apenas para os alunos maiores apresentarem algo para os menores, na relação dos que sabem para os que não sabem, mas criar situações em que alunos de idades diferentes possam trabalhar no mesmo projeto, cada um no seu nível, e numa situação de troca permanente, de forma que todos possam aprender com todos. Isso pode acontecer em diversos espaços da escola que possam ser ambientes de pesquisa e experimentação, como a biblioteca, laboratório, atelier ou até mesmo a cozinha. Assim é possível concretizar a certeza de que todos sabem coisas distintas e de formas distintas, significa basear-se na diversidade. A escola que desfruta da diversidade entre os alunos reconhece que este é o motor indispensável para a ação educativa. A opção por esta experiência considera como caminho para a avaliação, não a checagem de conteúdos, mas a consciência do caminho que os alunos estão percorrendo. O mundo fora da escola, ou seja, a comunidade em que ela está inserida, não pode ficar alijada da vida dos alunos. Vale a pena unir forças distintas da comunidade que são potencialmente complementares. Então, sair dos muros da escola para atuar nos espaços da cidade que poucos conhecem é uma aventura educativa para todos. Estar na comunidade é ter em conta que os saberes das pessoas também são diversos e que eles devem ser respeitados. O valor do conhecimento não está apenas naqueles que possuem títulos acadêmicos. Todos têm algo para ensinar e para aprender, sempre. Os parágrafos que se seguem são algumas inspirações de experiências que tivemos oportunidade de conhecer e estudá-las. Não são roteiros de atividades a serem seguidos, mas situações que podem gerar novas ideias para realidades diferentes, que merecem ser investigadas, debatidas e não apenas copiadas ou repetidas. Convidamos você a construir suas próprias experiências, a tocar com suas mãos, a se intrometer de forma autoral e autônoma. Para fazer sentido e ser verdadeira, é preciso ter a sua marca! Mas lembre-se: nunca será uma coisa acabada. É para seguir inventando. É para continuar sempre. Ganhar a rua com as crianças pode ser aventura inesquecível. Deixá-las caminhar em segurança pelas calçadas, ir a uma praça ou a um parque. Enfim, sair sem pressa. Não sair pra ir a algum lugar. Pode ser apenas sair, passear. Ver bichinhos da grama, pular uma poça d’água, subir um degrau, descobrir a sombra. Enfim, pequenas maravilhas do universo podem estar na pracinha, na rua ou em qualquer lugar. A “viagem” está no percurso e não na chegada. É importante que o professor registre de alguma forma esta aventura. A fotografia é uma excelente documentação e, depois, tema de estudo e pesquisa para as reuniões pedagógicas. A cidade não é apenas um mar de cimento que condena as crianças e jovens a viverem como passarinhos nas gaiolas. Pode ser diferente. Buscar espaços públicos que existem na comunidade ou na cidade é enriquecedor. Um espaço cultural, por exemplo, seja um grande museu ou apenas um pequeno espaço identitário, que mostra a história local, são oportunidades educativas. Mas a visita não é colocar os alunos como “consumidores” de algo que está sendo oferecido. A experiência não pode ser para pontuar na avaliação e nem para preencher fichas que transformam a visita em uma ação enfadonha e de perda de tempo. Para ser educativo de fato, exige um planejamento prévio entre os professores e as pessoas do espaço que será visitado, com a definição de um foco a ser trabalhado. A visita é de descoberta, debate, de aprendizagem com sentido. Mas não apenas as instituições culturais são espaços educativos. O setor de serviços pode se converter em oportunidades educativas. Os correios, o supermercado, uma agência de viagem, um cartório, um local de coleta de lixo municipal, um ambulatório, uma empresa de transporte urbano, escola de polícia etc. Além das visitas organizadas para “conhecer”, pode ser também uma experiência de “fazer”, como por exemplo, ir a uma padaria bem cedo e ajudar o padeiro a fazer pão e depois tomar um café com o pão que fizeram. Enfim, são experiências “não escolares”, que trabalham com materiais reais, com as mãos. 23 São experiências simples, diretas, que mantêm seu significado e seu valor em si. E tudo pode se converter em uma aventura para aprender, que exige escuta, observação e diálogo entre pessoas de diferentes idades e de formas diversas de viver. As festas de rua são sempre um sucesso. Não como algo feito na escola para acontecer na comunidade. Mas como sendo da comunidade. Uma festa combinada, planejada e realizada por toda comunidade. Pode ser um festival cultural, socializando todas as manifestações culturais locais, nas múltiplas linguagens artísticas como: artes plásticas, música, teatro, dança entre outras, que traz também múltiplos materiais, desde os mais específicos, até as sucatas. Enfim, tudo que a comunidade tem para compartilhar. Este pode ser um evento intergeracional em que a escola não é a detentora do saber nem da organização, mas é mais uma organização social que, inserida numa comunidade, sabe o valor daquilo que dá identidade. Nesse festival, cada grupo pode entrar com aquilo que sabe fazer melhor e tudo pode ser pesquisado e divulgado nas redes sociais. Outra ideia interessante é ter um projeto em que se possa envolver muitos serviços, pessoas e instituições da comunidade. Barcelona, na década de 1980, fez um projeto bastante inspirador. A prefeitura lançou um álbum de figurinhas sobre as árvores de Barcelona, desenhadas pelas crianças. As escolas pesquisaram que árvores havia na cidade e onde estavam localizadas. Os alunos fizeram desenhos de observação. Também fizeram o mapeamento de onde podiam ser encontradas. Especialistas coordenaram junto às crianças o que era importante aprender sobre essas árvores. Empresas ajudaram na impressão das imagens em forma de figurinhas e, no álbum, além das imagens das árvores informava-se suas características e onde se localizavam. As figurinhas podiam ser compradas nas bancas de jornal e o dinheiro arrecadado se converteu no financiamento de novas experiências. Não é à-toa que esta cidade dirige a Associação Internacional de Cidades Educadoras! Acreditamos que desta forma a escola se torna um laboratório, em que sua atividade se constitui na elaboração contínua das experiências vividas, abertas ao confronto e debate, utilizando as linguagens culturais disponíveis para alcançar o máximo de aprofundamento possível, nesta incrível aventura que é aprender. 24 • Ideias feitas à mão com materiais que inspiram A Faber-Castell, todos os anos, lança novos produtos pensados especialmente para cada fase da vida, ao mesmo tempo em que está sempre aprimorando os seus produtos que são referência no mercado. É pela sua longa história de mais de 250 anos de existência, mantendo a qualidade de seus produtos, que a marca faz parte das nossas lembranças desde a infância. Como seu slogan assinala: sua companhia para tooooda vida! Porém, antes de falar dos materiais, é importante recuperar o que trabalhamos no Programa Escolar passado, quando tratamos da criatividade. No material que produzimos (disponível no site www.educacao.faber-castell.com.br) destacamos a atenção aos espaços escolares. Todos os espaços da escola são espaços educativos e refletem, na prática, o projeto pedagógico de cada instituição. Então de nada adianta ter variedade de materiais, se os espaços escolares não forem lugares para aprender em conjunto sobre o mundo real e o mundo da imaginação. Portanto, antes de pensar nos materiais que a escola necessita, procure responder: de que tipo de espaço as crianças e os jovens precisam para habitarem a escola da melhor forma? Qualquer que seja sua resposta, não abra mão e se comprometa em fazer do prédio da escola um espaço vivo e mutável. Aprendemos com a experiência das escolas de Reggio Emilia, na Itália, que a escola para ser verdadeiramente um local de experimentação, aprendizado e de inspiração cultural precisa ser uma verdadeira “oficina de ideias feitas à mão”. É por meio da experiência que as crianças e também os jovens conseguem entender o percurso de sua aprendizagem e o significado de suas relações com o outro. Lembre-se: um ambiente no qual é agradável estar, que tem um sentido estético cuidadoso, que pode ser explorado e experimentado através de todos os sentidos, inspira os avanços na aprendizagem. Outro aspecto importante, além de considerar o potencial dos espaços, é o valor do tempo. É preciso respeitar o tempo de cada um. O tempo acelerado não permite que os alunos tenham qualquer tipo de experiência educativa e de experiência verdadeira com os materiais. Apenas responderão a uma tarefa demandada pelo professor. As experiências dependem dos espaços, tempo, recursos ou materiais utilizados, que podem potencializar ou embotar a criatividade. Na escola, qualquer atividade a ser desenvolvida, além de ter claro o que se quer com ela e como será desenvolvida, necessita de materiais adequados para se obter melhores resultados. Os materiais podem ser entendidos como veículos para expressar e comunicar. Fazem parte da constituição da experiência vivida pelos alunos. Por isso precisam ser conhecidos pelos professores. Por outro lado, desde que não coloquem em risco a segurança das crianças e jovens, nada é proibido de ser usado e tudo pode também ser utilizado de forma diferente daquilo que estamos acostumados. Mesmo assim, se conseguirmos oferecer meios e materiais que facilitem a autoexpressão das pessoas, seja por meio da arte ou da escrita, melhor será. Pensando nisso, desenvolvemos e organizamos materiais específicos para cada faixa etária. O que não significa dizer que somente os indicados são os únicos que podem ser usados. Tudo pode ser misturado, experimentado, manipulado. O importante é que consigamos romper com uma das máximas da escola que é: muito desenho para as crianças pequenas e, na medida em que crescem, esta atividade vai perdendo a importância no currículo escolar. Até que as crianças se transformem em adultos que categoricamente afirmam que não sabem desenhar. Podemos mudar esta postura? 25 Para as crianças: Para os bebês: A Faber-Castell tem uma linha especial para a primeira infância que estimula a criatividade e o aprendizado, com produtos adequados às suas necessidades. Crianças pequenas necessitam de espaço e liberdade para se expressarem. Brincam com os materiais. No início do desenho infantil é puro gesto. Não importa os nomes que sejam dados, as crianças pequenas pintam, riscam, colam. São atividades espontâneas do fazer, repletas de sentido em si e de prazer. Foi pesquisando este potencial infantil que a Faber-Castell criou alguns produtos especiais para esta etapa da vida: • O PAINT PEN é um conjunto de 4 canetinhas de cores diferentes que possuem um formato especial para a pegada do produto com toda a mão, sem precisar fazer o movimento de pinça. É para se expandir, deslizar no papel com segurança. • O GIZ SUPER SOFT é um conjunto de 6 cores de giz de cera supermacio. Seu tamanho é pequeno para atender especialmente às mãos pequenas. O destaque é sua textura. As cores são fortes e não exige nenhum esforço da criança para seu deslize no papel. • PINTURA A DEDO vem numa caixa com 6 cores vivas para serem utilizadas sem pincel. A textura da tinta é firme o que permite a livre expansão das mãos. Vem em frascos resistentes à quebra com a vedação ideal. 26 A Faber-Castell tem produtos específicos para crianças da educação infantil e para maiores. Nesta primeira fase, as crianças gostam muito de desenhar. A variedade de materiais desperta a curiosidade para novas experiências. O que fazem é para compreender o mundo e também se expressar. A partir dos três anos, seu traço está mais estável e a criança começa a se aventurar na representação de mundo. Para estas crianças a Faber-Castell criou a LINHA JUMBO, cujos produtos são adequados às mãozinhas pequenas. Possuem um formato menor, com diâmetro mais grosso para auxiliar na pegada, dando maior firmeza para seu uso. Tem o EcoLápis de Cor; EcoLápis Grafite; e o conjunto de Canetinhas. Para as crianças menores tem ainda o EcoGiz de Cera Bicolor, com revestimento em madeira 100% reflorestada para dar maior resistência e combater a quebra. E o Giz de Cera Curtom, que são os menores tamanhos de giz, ideal para as mãozinhas. Além destes, tem ainda o Guache Lavável, que pode ser usado sem limitações. Dos seis aos dez anos, as crianças manejam o lápis e as canetinhas com destreza. Seus desenhos ficam mais elaborados e a palavra escrita passa a fazer parte da sua expressão. Para esta fase a Faber-Castell desenvolveu vários produtos. Vamos falar de alguns, mas no site da empresa você encontra todas as informações. Para colorir, a linha ECOLÁPIS DE COR é bem diversificada. Possui vários modelos: SuperPonta; Bicolor; Neon; Triangular; Metálico; Apagável; Aquarelável. Também variam os formatos, podendo ser: triangular, sextavado e redondo. Na categoria CANETINHA, o destaque é para a PONTA VAI E VEM, que além de ter tinta lavável, possui um exclusivo sistema que protege a ponta contra impactos, garantindo maior durabilidade. Mas tem ainda as Canetinhas Colors, Bicolor e Vai e Vem Apagável. Outros produtos são indicados para esta faixa etária como PINTURA FACIAL CARA PINTADA, que é de fácil aplicação e remoção. É um produto testado dermatologicamente e serve para se usar o rosto como suporte para uma pintura ou desenho. Assim ensinamos para as crianças que o rosto não serve só para maquiagem, ou melhor, para isso, só quando crescerem e se tornarem adultos. CANETINHA PINTA VIDRO é outra opção de expressão que traz uma variedade para o suporte. É para ser utilizado em vidros ou espelhos. Tem ainda as MASSAS DE MODELAR, que a Faber-Castell oferece em 2 tipos: Amido, que em contato com o ar endurece, virando uma escultura permanente; e à base de cera. Para os adolescentes / jovens: A partir dos dez anos suas possibilidades expressivas são enormes. Mas é precisamente neste período que os adolescentes abandonam progressivamente a prática de desenhar. O desenho perdeu o encantamento. São mais críticos e os diversos conteúdos que passam a estudar fazem com que o desenho se transforme em um mero acessório. É nesta fase também que fica claro que a escola não se interessa pelos desenhos dos jovens e, na medida em que deixam de praticar, seus desenhos empobrecem e eles passam a acreditar que não sabem mais desenhar. Para esta fase da vida a Faber-Castell estimula o uso de todos os produtos que possam recuperar a expressão criadora. Todos os que foram mencionados até aqui e um destaque para a LINHA GRIP com Canetas, EcoLápis, Borrachas, Apontadores, Marca Texto, Lapiseiras e Canetinhas. Toda a linha tem esferas antideslizantes que facilitam a pega do produto não deixando escorregar. O KIT LINHA VERDE é para estimular o desenho. É composto de 4 EcoLápis Grafite Castell 9000, com graduações: HB, 2B, 4B e 6B. Para complementar, indicamos a BORRACHA DUST FREE, que apaga com precisão e é fácil de limpar. Além dos produtos para a expressão criadora, a Faber-Castell tem uma linha de escrita, como as canetas esferográficas TRILUX; Lapiseiras; Marca Texto; e o EcoLápis Perfeito, que possui borracha, tampa extensora e apontador embutido. Para os idosos: Se as crianças pequenas precisam de lápis mais grosso, para dar mais firmeza na pegada, os idosos, com as mãos mais cansadas, também. A LINHA JUMBO é excelente para aqueles que achavam que não iriam mais desenhar na vida. Para os idosos que se sentem mais motivados para se expressarem, qualquer produto Faber-Castell vai ajudar. Se quiserem desenhar, o KIT LINHA VERDE tem a qualidade necessária para experimentar diferentes graduações de grafite. Para as salas de professores: Mas não são somente para os alunos que os produtos da Faber-Castell são pensados. Os professores também podem ter seu kit especial para que nunca se esqueçam de que se ensina melhor aquilo que é experimentado. Não basta estimular a capacidade criadora dos alunos se o professor não desenvolve a sua. Então sugerimos que na Sala dos Professores, além do cafezinho, tenha também materiais diversos de expressão criadora como EcoLápis de Cor, Massinha, Canetas Hidrográficas, Marca Texto. Assim a sala ficará mais criativa na medida em que terão materiais para se expressarem, não se restringindo apenas aos livros didáticos. É claro que existem mais produtos Faber-Castell que já fazem parte do nosso dia a dia e que não foram citados aqui como: apontadores; borrachas; cola bastão; marcadores de texto, e que nem precisamos apresentar. Eles você já conhece. Mesmo assim, a cada ano a empresa lança estes produtos com novas cores e design inovador que vale a pena conhecer. Enfim, não se esqueça de que a qualidade dos produtos utilizados na escola é tão importante quanto a diversidade dos materiais, dos meios e dos suportes. É fundamental que a escola ofereça variedades como papéis de diferentes tamanhos, texturas e formatos. Crie situações em que os alunos possam desenhar na mesa, no cavalete, na parede, no ladrilho, na terra. Use barbante, argila, pincéis, tesouras, colas, jornais, vidros, espelhos, tecidos, caixas, areia, água etc. As variações de materiais estão no universo da arte e a escola precisa acompanhá-las. Outro aspecto importante é sobre as cores. A preferência por cores é, antes de tudo, um fenômeno cultural. São os adultos que tendem a considerar cores vivas e primárias como os elementos cromáticos mais apropriados para objetos e ambientes para as crianças. Não existe pesquisa científica que comprove tal afirmação. Então, antes de encher de cores fortes uma classe de educação infantil, reflita se está fazendo isso para a criança ou para você mesmo! Atividades interessantes e diversificadas no campo da criatividade devem ser desenvolvidas todos os dias na escola. Quanto mais os alunos experimentarem, mais expandem seus repertórios, além de aprenderem a selecionar o que melhor responde a seus propósitos criativos. 27 28 29 Para debater com os jovens: Para discutir a velhice: Direção: Lais Bodanzky Direção: Hal Ashby A história narra os altos e baixos da vida de um adolescente de 15 anos, que estuda em um colégio particular de classe média de São Paulo. Ele vive a separação dos pais, e seus reflexos na sua vida e de seu irmão. Convive com os dramas da sua mãe e irmão, ao mesmo tempo em que aprende guitarra, curte os amigos e tenta entender o mundo. A trama se desenvolve em torno do encontro de um jovem chamado Harold, de 20 anos, que gosta de simular sua própria morte, com uma idosa de 79 anos apaixonada pela vida. Por meio da convivência, ela o apresenta à beleza da vida. AS MELHORES COISAS DO MUNDO • Outra forma de aprender para além da escola: o cinema Todos nós temos nossas miopias e uma das maiores dos educadores é não conseguir identificar outras formas de ensinar e aprender, para além da forma como se faz na sala de aula. Porém, podemos aprender de muitas maneiras. Existe uma forma que praticamos pouco na escola: usar o cinema para debater sobre a escola, sua função e os alunos. Então, vamos aproveitar os óculos da educação para ver filmes que nos ajudam a nos entender. Na internet é possível encontrar muitas sugestões. Selecionamos alguns filmes especiais que podem gerar debates interessantes entre os professores; professores e alunos e para toda a escola, incluindo as famílias. É uma pequena lista, mas que pode ser um começo de uma longa pesquisa feita por você e sua escola. Aqui estão: Para discutir a família na contemporaneidade: PELOS OLHOS DE MAISE Direção: Scott McGehee EUA, 2014 História de uma garotinha de sete anos que, em meio ao conturbado divórcio dos pais, tenta entender o que se passa. De um lado a mãe, uma estrela do rock. Do outro o pai, um influente galerista. Ambos disputam sua guarda, mas em meio às brigas, ambos a abandonam igualmente. Vivendo e observando tudo o que se passa, a menina descobre uma nova forma de ter uma “família”. TOMBOY Direção: Céline Sciamma França, 2012 O filme conta a história de uma menina de 10 anos, que tendo acabado de mudar de localidade com seus pais e irmã menor, resolve se apresentar como um menino às crianças do lugar, após ter sido identificada como tal por outra menina. A partir daí ela passa a viver uma nova identidade que, ao ser descoberta, causa uma série de problemas a serem superados. 30 Para discutir o papel do professor: NENHUM A MENOS Direção: Zhang Yimou China, 1999 Trata-se da história de um professor de uma escola primária em estado precário, situada na zona rural chinesa, que sai de licença para cuidar da sua mãe doente. A única pessoa que aceita substituir esse professor é uma menina de 13 anos. Embora sem experiência, ela tem como desafio manter todos os alunos na escola. Mas um dos alunos abandona a escola para procurar emprego na cidade. A jovem professora vai buscar o aluno, numa jornada inesquecível. MONSIEUR LAZHAR O QUE TRAZ BOAS NOVAS Direção: Phillipe Falardeau Canadá, 2011 Um imigrante argelino é contratado para substituir uma professora que morreu tragicamente numa escola pública de ensino fundamental no Canadá. O novo professor imprime uma forma de aprender à classe considerada tradicional, ao mesmo tempo em que trata da superação da perda. Diversos conflitos são vividos, além do risco de ser deportado a qualquer momento por ser imigrante. ENTRE OS MUROS DA ESCOLA Direção: Laurent Cantet França, 2008 O filme retrata uma escola pública francesa de ensino médio, localizada na periferia de Paris. Um professor de língua francesa e seus colegas de ensino buscam apoio mútuo na difícil tarefa de fazer com que os alunos adolescentes aprendam algo ao longo do ano letivo. O descompasso entre o que pensam os professores e o que são seus alunos aponta para o fracasso escolar, no qual todos perdem. Brasil, 2010 A ONDA Direção: Dennis Gansel Alemanha, 2008 É a história de um professor do Ensino Médio que decide realizar uma arriscada experiência pedagógica numa escola alemã, reproduzindo na sala de aula alguns clichês do nazismo, para proporcionar uma experiência prática que explique os mecanismo de fascismo e poder. A escola inteira é envolvida no fanatismo e o professor perde o controle da experiência pedagógica, gerando consequências trágicas. ENSINA-ME A VIVER EUA, 1971 MINHAS TARDES COM MARGUERITTE Direção: Jean Becker França, 2010 O filme mostra os encontros numa praça de duas pessoas bem distintas: um feirante com pouca instrução, que mal sabe ler e se expressar, com uma idosa que vive numa casa de repouso e que tem especial encanto pelos livros. Na praça ela passa a lê-los em voz alta para o feirante. O amor, a cumplicidade, a amizade surge entre os dois, a partir de conversas triviais e leituras de romances. Para debater o que significa ensinar e aprender: LA LENGUA DE LAS MARIPOSAS Direção: José Luis Cuerda Espanha, 1999 Trata-se de uma história singela, triste e profunda do relacionamento entre aluno e um velho professor, de uma pequena cidade espanhola, durante a ascensão do regime militar espanhol. O aluno de sete anos descobre com o mestre o prazer de aprender, de admirar e explorar a natureza, de viver com os sentidos e os sentimentos. SER E TER Direção: Nicolas Philibert França, 2002 O documentário acompanha a vida dos estudantes do jardim da infância até o último ano do primário, dos quatro aos onze anos, de uma escola rural da França, vivida numa única sala. O período mostra a rotina da sala de aula, onde as crianças em pleno processo de formação do conhecimento e da identidade pessoal, transitam do universo familiar para um ambiente escolar, respeitando a individualidade de cada um. 31 Ficamos por aqui, mas você pode continuar! E nante nsinar: uma aventura apaixo “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.“ Paulo Freire Depois de tudo que conversamos até aqui, não poderíamos encerrar sem defender a aventura apaixonante que é ensinar, e que por vezes esquecemos frente a tantos problemas do nosso cotidiano escolar. Usamos a palavra aventura para comparar com uma viagem que podemos escolher como vamos vivê-la. Existem duas possibilidades. Podemos fazer a aventura de ensinar como um pacote fechado de viagem. Nele, como turistas, embarcamos com tudo decidido por algum especialista no roteiro. Seguimos as orientações e apenas obedecemos. A viagem consiste em viver aquilo que foi decidido para nós. A máxima é aproveitar o tempo, visitando a maior quantidade de lugares possíveis. Então, corremos para registrar tudo para depois mostrar para quem não foi, mesmo confundindo as paisagens. Guardar as imagens fica mais importante do que estar lá. Na escola podemos ser “turistas” também. Fazer somente aquilo que os especialistas dizem que devemos fazer, amarrados em algum planejamento imutável ou livro didático. Sem nenhuma aventura ou descoberta. Tudo está previsto. Anula a criatividade e mata a curiosidade. Nada a aprender, apenas registrar por onde passamos e depois mostrar, mesmo que os demais professores não tenham o menor interesse. Mas tem outro caminho. Ao invés de comprar um pacote fechado, fazer o roteiro da sua própria viagem: 32 ser um viajante. Buscar informações com quem já foi aos lugares que se quer ir. Fazer seu roteiro personalizado sem se preocupar em ver tudo. O tempo é o do lugar. Não se vai lá para registrar, mas para apreciar, viver cada paisagem que tiver escolhido. Na viagem tudo pode mudar. Nada é definitivo e imutável. Novas curiosidades podem surgir e que exigirão desvio de rota. Faz parte! Na escola, como “viajante”, seu percurso de aprendizagem conta tanto como o dos seus alunos. O roteiro estabelecido para que todos possam acessar as informações importantes é construído com a participação de seus alunos, porque podem e devem opinar e colaborar. É assim que seus alunos aprenderão a caminhar com autonomia. E lembre-se, o menos vale mais! Pequenas aquisições cognitivas, sobretudo de forma experiencial e emotiva, mediante um processo lento, tornarão a viagem sólida, inesquecível! Sim, e agora podemos fechar com uma questão para pensarmos: por que será que quanto mais se amplia a esperança de vida, mais aumenta a pressão na escola para que os alunos aprendam uma quantidade maior de informações em menos tempo? Isso não seria um paradoxo? Não seria uma opção por uma viagem que não leva a lugar nenhum? Vamos fazer valer cada tempo livre inventando aquilo que possamos construir, sonhar, fazer com as mãos e com a imaginação. “O que eu escuto, eu esqueço. O que eu vejo, eu lembro. O que eu faço, eu entendo.” Confúcio Não podemos nos esquecer de que a crise da escola não começa e nem termina nela. Faz parte de uma crise maior, sistêmica, com dimensões sociais, econômicas e ecológicas. Não é a escola que tem que dar resposta sozinha para aquilo que a sociedade está se isentando, que é o compromisso com a educação. Mas como escola, temos sim muito a fazer. De nada adianta novos métodos e tecnologias se a verdadeira interação coletiva e presencial não acontecer independente das idades dos sujeitos envolvidos, tendo por base o respeito às relações humanas. Sala de aula não é entretenimento e exige do professor muita prática reflexiva para que possa despertar a imaginação, criatividade e o encantamento pelo ato de aprender na escola e de seguir aprendendo ao longo da vida. Sabemos que há um longo caminho a ser percorrido na construção de relacionamentos mais afetivos entre gerações. O campo intergeracional é uma nova fonte de conhecimento e a escola tem uma contribuição fundamental a ser dada. Esta é uma causa importante para combater o mundo cada vez mais individualizado e sem tempo. Vamos aproveitar as chances de uma relação positiva entre as gerações para multiplicar as oportunidades de expressão da experiência, o que ajuda a cada um dos envolvidos, independente da idade, a se conhecer melhor e assim se sentir conectado ao mundo e com a certeza de que se pode aprender. Assim conseguiremos de fato “crescer em humanidade”. Para o exercício da prática docente não existe panaceias salvadoras nem fórmulas prontas. Por isso, o que apresentamos aqui, foi uma possibilidade a ser estudada e experimentada para que sua sala de aula seja cada vez mais um espaço aberto, vivo de aprendizagem para todos e de todos. Desejamos que você consiga, pelo seu entusiasmo, contagiar os estudantes, tornando-os “cúmplices” de uma aventura única, que envolve escutar, refletir, experimentar e trocar para aprender com significado. Não é algo acabado, que se esgote com esta leitura. Esperamos, porém, que sirva de estímulo para continuar seu próprio percurso de aprendizagem. 33 Para seguir aprende ndo gre. Artmed, 2001. ivas mundiais. Porto Ale ect rsp pe er: sab o e s g.): Os joven CHARLOT, Bernard (or . Editora Penso, 2011. Infância. Porto Alegre da ia log cio So m: llia Cortez. CORSARO, Wi scobrir. Unesco, MEC, ção: Um tesouro a de uca Ed ): ord . (co es qu DELORS, Jac , Editora Penso, 2012 ção infantil. Porto Alegre uca ed na liê ate do l O pape GANDINI, Lella (org.): ramentos, 2013. antil. São Paulo. Melho Inf ção uca Ed na ho desen IAVELBERG, Rosa: O Octaedro, 2001. ggio Emilia. Espanha. Re em ntil infa n ció Educa MALAGUZZI, Loris: La 1982. ulo, Summus Editorial, a da Fantasia. São Pa átic am Gr i: nn Gia RI, RODA Paralela, 2014. ra. São Paulo. Editora Ter à ra ter ha min Da SALGADO, Sebastião: Bibliografia: ER COM O TEMPO TEMPO DE APREND ell ast , da empresa Faber-C ma Escolar 2014 / 2015 Publicação do Progra es Atié ão do conteúdo: Lourd Concepção e elaboraç 11 Artes Projeto gráfico: Studio ber-castell.com.br fa o. ca ca du .e w w w : Visite nosso portal Conheça a sala dos professores ra você, educador(a), Um espaço criado pa cos, paradidáticos, com conteúdos didáti para atividades, planos de aulas, ideias oficinas e muito mais! ha, assim como o O conteúdo desta cartil ponível também das anteriores, está dis site. on-line. É só entrar no 34 35 Ideal para Mãozinhas Pequenas EcoLápis de Cor Jumbo EcoLápis Grafite Jumbo • Formato triangular ergonômico: facilita a pega e o uso, garantindo maior conforto. • Formato triangular ergonômico: garantia de conforto e melhor escrita. • Ponta Max Resistente. Canetinha Jumbo Apontador Jumbo • Com exclusivo Apontador para os EcoLápis Jumbo. • Lâmina de alta qualidade – maior durabilidade. • Com depósito – maior praticidade. • Tinta lavável: não mancha o uniforme e estimula a criatividade. • Ponta grossa e macia: permite dois tipos diferentes de traço. Cores Vibrantes EcoMarca texto - SuperNeon Canetinha Ponta Vai e Vem • Para grifar e sublinhar. • Sua aplicação é suave e suas cores brilhantes. • Possui tampa para proteger as pontas e não sujar o estojo. • Sistema exclusivo que protege a ponta contra impactos, garantindo maior resistência e durabilidade. • Não afunda a ponta. • Tinta lavável na maioria dos tecidos: estimula a criatividade. EcoLápis de Cor Aquarelável EcoLápis de Cor Grip • Vira uma pintura de Aquarela – basta passar um pincel umedecido em água. • Exclusivas esferas antideslizantes: maior firmeza para pintar. • Formato triangular ergonômico: facilita a pega e o uso, garantindo maior conforto. • Cores vivas e vibrantes. 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Sustentabilidade Marcador Permanente Recarregável Refil para Marcador Permanente • Escreve em diversas superfícies: Madeira, Metal, Plástico, Vidro, Flip Chart e outros materiais. • Fácil de recarregar. • Disponível em 3 cores: Azul, Preto e Vermelho. • Fácil de recarregar. • Recarga única. • Disponível em 3 cores: Azul, Preto e Vermelho. A. W. Faber-Castell S. A. Rua Cel. José Augusto de Oliveira Sales, 1876 • CEP 13560-820 • São Carlos-SP Tel.: (16) 2106.1000 • Televendas 0800 701 7099 www.faber-castell.com.br @FaberCastell_BR Faber-Castell Brasil