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Classificação do artigo 27 abr 2015 O Globo
Rodrigo Botero Montoya é economista e foi ministro da Fazenda da Colômbia
O novo panorama interamericano
Observa­se uma menor disposição dos países latino­americanos a adotar atitude de confrontação sistemática
contra os EUA
As reuniões hemisféricas no âmbito de chefes de governo têm um objetivo distinto ao da tomada de
decisões. Servem para fazer uma revisão do estado das relações interamericanas e para tratar de
identificar áreas de ação conjunta. A heterogeneidade dos países participantes faz com que as conclusões
sejam inócuas ou revelem a falta de consenso.
O evento noticioso do Fórum do Panamá foi a presença de Raúl Castro e sua reunião com Barack
Obama para continuar avançando no processo de normalização das relações bilaterais. Este encontro não
foi surpreendente. Contribuiu para tornar explícito o compromisso anunciado pelos dois presidentes em
dezembro.
Tampouco foram surpreendentes as diatribes contra os Estados Unidos durante as inter venções de
Cristina Kirchner e Nicolás Maduro, com a ausência conspícua do presidente Obama. A situação econômica
dos países afeta sua imagem externa. A Argentina se encontra em estado de suspensão de pagamentos e
em recessão. A Venezuela enfrenta uma atividade econômica em queda livre e uma inflação de três
dígitos.
O clima da opinião internacional se tornou menos receptivo à retórica autoritária e coletivista dos
ideólogos bolivarianos. Com motivo da Cúpula, houve uma reunião hemisférica de empresários, na qual o
ministro de Comércio Exterior e Investimento Estrangeiro de Cuba, Rodrigo Malmierca, expressou a
aspiração de atrair fluxos de investimento privado da ordem de US$ 2 bilhões anuais para a ilha. A
crescente pressão externa a favor de respeito aos direitos humanos e a liberdade de presos políticos na
Venezuela colocaram o regime de Maduro na defensiva.
Observa­ se uma menor disposição dos países latino­ americanos a adotar uma atitude de
confrontação sistemática contra os Estados Unidos. A aproximação diplomática com Cuba removeu um
tema controverso da agenda hemisférica. E a atitude do presidente Obama com relação ao manejo da
imigração foi bem recebida.
Além disso, a América Latina se encontra em uma situação econômica frágil, num momento em que
se recupera a economia dos Estados Unidos. A política exterior e a política interna têm um vínculo
estreito. Assim, por exemplo, a recessão econômica no Brasil e a indignação popular pela crise da
Petrobras ajudam a explicar o baixo perfil e o tom conciliador de Dilma Rousseff.
Um tema que teve pouca relevância nas discussões da Cúpula foi o da liberalização comercial em
escala hemisférica. Este deixou de ser um objetivo prioritário para Washington. A Casa Branca está
concentrando seus esforços em negociar a Parceria Transpacífica e a Associação Transatlântica de
Comércio e Investimento com a União Europeia.
Como parte da diversidade latinoamericana, aceita­se que alguns países optem pelo livre comércio,
enquanto que outros prefiram o protecionismo. O momento de grandes esquemas interamericanos, como
a Aliança para o Progresso ou a Alca, já passou. Porém, com boa vontade e pragmatismo, continua
havendo um campo extenso para impulsionar projetos de interesse comum no hemisfério.
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