Universidade Federal de Sergipe
Técnicas em Exame Psicológico I
Inteligência
Daniele Alves
Eduardo César
Jamile Carvalho
Larissa Leal
Mário Celso
Rafaela Azevedo
1. Inteligência: áreas de estudo
1) Teorias sobre natureza da inteligência.
2) Referente à metodologia tanto teórica quanto
aplicada, para se mensurar a inteligência.
3) Diferenças de inteligência quanto aos grupos.
4) Influências hereditárias e ambientais sobre
desenvolvimento da inteligência.
Como chamá-los?
- Nomes padrões para esses testes eram: testes de
inteligência, de capacidade mental ou aptidão.
• Motivos:
- O que significa “inteligência”? Busca de termos de
acordo com o propósito específico do teste.
Ex: Otis Intelligence Scale -> Otis-Lennon Mental Ability Test
-> Otis-Lennon School Ability Test.
- Suposição de que a inteligência ou aptidão são
inatas ou exclusivamente hereditárias. Os autores
preferem escolher termos que enfatizem o fato de
que o teste mensura habilidades desenvolvidas pelo
sujeito.
2. As Teorias da Inteligência
Duas Teorias Clássicas
2.1) O “g” de Spearman (1927):
- Inglês Charles Spearman (1863-1945) criou a
primeira teoria formal sobre capacidade mental
humana.
- Teoria baseada nas correlações entre vários testes
de funções sensoriais simples.
Teoria de Dois Fatores
Teoria de Um Fator ou Unifatorial de Inteligência
S2
S3
S1
Fator geral da
capacidade mental
S4
S8
S5
S7
S6
2.2) As Capacidades Mentais Primárias de
Thurstone
- Psicólogo
norteamericano Louis Leon
Thurstone (1887-1955),
da
Universidade
de
Chicago.
- Correlações
de
Spearman eram baixas o
suficiente para se pensar
que elas mensuravam
vários fatores bastante
independentes
(Thurstone, 1938).
- Thurstone propõe 9 capacidades mentais primárias
originais: Espacial, Perceptual, Numérica, Verbal, de
Memória, de Palavras, Indutiva, de Raciocínio,
Dedutiva.
- 4 aparecem em quase todas versões de testes de
HMP: os fatores espacial, numérico, verbal e de
raciocínio. Entre fatores de memória, fluência verbal
e perceptual, este é o mais frequente.
2.3) Joy Paul Guilford (1897-1987):
- Psicólogo norte-americano.
- Capacidade mental manifestada
em três eixos principais: conteúdos,
produtos e operações.
• Operações:
aplicado.
tipo
de
- Produção divergente:
alternativas ou incomuns.
processamento
produção
de
mental
soluções
- Produção convergente: identificação de uma única
resposta correta.
• Conteúdos: tipo de material aos quais se aplicam
as operações ou processos mentais.
• Produtos: tipo de associação ou conexão que esse
problema envolve.
Modelo de Estrutura de Intelecto, de Guilford
3. Modelos Hierárquicos
Propõem que existem diversas habilidades
distintas, mas essas habilidades estão
dispostas em uma hierarquia cujo topo tem
apenas um ou uma quantidade reduzida de
fatores, chamados dominantes, “desdobrados”
em outros específicos, secundários, etc.
3.1) Três modelos estudados:
(a) Cattell: Inteligências Fluida e Cristalizada
(b) Modelo de Vernon
(c) Resumo de Carroll
São modelos baseados em modelagens matemáticas de
equações estruturais não lineares, rotações não ortogonais
de eixos de simetria e modelos de regressão multivariada.
(a) O modelo de Cattell
Inicialmente (década de 40), Cattell desenvolveu um teste
de inteligência perceptual, baseado na teoria das matrizes
e labirintos, tecendo fortes críticas ao teste de Binet, por
este ser excessivamente verbal e dependente da
escolaridade.
- Na década de 60 lançou a Teoria da Gf – Gc:
Gf: Inteligência Fluida = entendida como uma “casa de
máquinas mental”, com algum substrato neurológico, onde
se processariam as operações mentais, também chamada de
inteligência potencial.
Gc: Inteligência Cristalizada = soma de tudo que se
aprende e se desenvolve, através da educação, experiência e
prática, também vista como inteligência atual.
- Ambas as inteligências são compostas de diversos
fatores específicos, daí o modelo ter sido “rotulado”
de hierárquico.
- O modelo de Cattell também é conhecido como
Teoria de Cattell-Horn, pois Cattell desenvolveu boa
parte do trabalho juntamente com J. L. Horn.
 Alguns Questionamentos à Teoria Gf – Gc:
- É possível mensurar essa “caixa de máquinas
mental”, que não sofre influência da cultura, da
educação, da família, etc?
- Como acessar a “casa de máquinas” se ela se
manifesta apenas por meio das habilidades já
desenvolvidas, que por definição correspondem a
Gc?
- Estariam Gf e Gc tão interligadas que formariam
um único grupo, uma espécie de “Super-g” de
Spearman?
(b) O modelo de Vernon:
Philip Vernon (décadas
de 50 e 60) elaborou
uma
das
mais
mencionadas
teorias
hierárquicas
de
inteligência,
consolidando todas as
teorias e pesquisas
feitas até a década de
50, para dar-lhes um
sentido
comum
e
suavizar os pontos
conflitantes.
Na década de 60 lançou o conhecido Modelo de
Vernon, uma espécie de “fatorização” da
inteligência.
Na base de seu esquema, as chamadas habilidades
específicas são representadas por linhas verticais.
As habilidades específicas “aglomeram” um nível
acima em diversos fatores secundários de grupo.
Os fatores secundários se “aglutinam” em dois
fatores de grupo maiores, que Vernon chamou de
v:ed (verbal : educacional) e k:m (espacial :
mecânico ou prático).
Os fatores v:ed e k:m se juntam formando a
capacidade mental geral, correspondente ao “g” de
Spearman.
Modelo de Vernon
Capacidade Mental
Geral
V:ED e K:M
Fatores Secundários
de Grupo
Habilidades específicas
g
V:ED
Verbal e Numérica
Fator 1
Fator 2
K:M
Espacial, Mecânica e
Habilidades Psicomotoras
Fator 3
Fator 4
(c) O Resumo de Carroll
- O Resumo de Carroll é também uma “fatorização”
da inteligência, que ele chamou de Teoria dos
Três Estratos:
- A inteligência geral se situa no nível mais alto e
também corresponde ao “g” de Spearman.
- No segundo nível, Carroll junta os fatores Gf e Gc
de Cattell e algumas das capacidades mentais
primárias de Thurstone.
- No terceiro nível, Carroll “fatorou” a inteligência em
habilidades específicas, numa lista complexa e
inter-relacionada de fatores.
- A intensidade de ligação dos fatores do Estrato II
com a Inteligência Geral é representada pelo
comprimento da linha no diagrama.
Modelo de Carroll
4. Teorias do Desenvolvimento
Teorias Psicométricas da Inteligência:
Dependem da análise das relações entre testes
específicos.
Teorias do Desenvolvimento da Inteligência:
Maneira como mente se desenvolve com a idade
e com a experiência.
Características das Teorias da Inteligência
Baseiam-se em estágios
O sequenciamento dos estágios é invariante
Os Estágios
D
C
N.D¹.
B
A
Idade/ Experiência
N.D.¹ = Nível de Desenvolvimento
4.1. A Teoria Piagetiana do
Desenvolvimento Cognitivo
A mente humana desenvolve-se por meio de
quatro estágios.
Influência sobre a educação de crianças
pequenas.
Influência
sobre
a
psicologia
do
desenvolvimento.
Não exerce tanta influência no campo da
testagem.
4.2. Teoria de Kohlberg
Teoria do Desenvolvimento
moral.
Aplica-se somente à área
cognitiva conhecida como
raciocínio moral.
Possui três estágios
principais.
Os 3 Estágios
(Novo tipo de abordagem para pensar sobre as
capacidades mentais)
5. O Processamento da Informação e as
Teorias Biológicas da Inteligência
Modelos de Processamento de Informação
(enfatizam como o conteúdo é processado)
Modelos Biológicos ( ênfase no funcionamento
do cérebro)
5.1. Tarefas Cognitivas Elementares (TCEs)
Abordagem do Processamento da Informação
Tarefas simples que exigem processamento
mental.
Referem-se a algo que esteja nas raízes da
Inteligência.
Esperam-se medidas não-viesadas
independam da cultura.
e
que
5.1. Tarefas Cognitivas Elementares
Tempo de Reação Simples (Velocidades versus
Inteligência).
Tempo de Reação de Escolha
necessário para a resposta motora).
(Tempo
Pares de letras (Letras fisicamente idênticas e
Identidade).
Verificação Semântica.
Tempo de Inspeção.
Pares de Letras
AB AA BB AA Aa aB bb Bb ab
Verificação Semântica
Letras na Tela
Afirmativa
V ou F
B C A
B está entre C e A
V F
C B
B está depois de C
V F
A C B
A está antes de C e de B
V F
5.2. A teoria de Jensen
Em 1969, Arthur Jensen ficou famoso após a
publicação do artigo que falava sobre a
diferença dicotômica da inteligência.
Ênfase nas relações entre as TCEs e a
inteligência geral.
Especificou que a inteligência pode ser
compreendida em função da velocidade da
condução neuronal.
5.3. A Teoria Triárquica de Sternberg
Inteligência tem três facetas e cada uma
delas apresenta várias subdivisões.
As três subteorias:
Componencial
 Experencial
 Contextual

a) Componencial
Refere-se aos Processos Mentais, e por isso é a
mais citada na teoria.
Inclui 3 tipos de processos:
1) Planejamento, Monitoramento e Avaliação
(Funções executivas / Orientam outras operações)
2) Desempenho
(Solução real do problema, supervisionado pelas F.Exec.)
3) Aquisição do conhecimento
1) Codificação das informações
2) Combinação dos elementos codificados
3) Comparação dos elementos codificados
b) Experencial:
Essa faceta trata da familiaridade das tarefas.
Das tarefas novas até aquelas que a execução é
automática.
c) Contextual:
Sugere 3 modos de se lidar com o
ambiente:
Adaptação ao ambiente
Alteração do ambiente
Seleção de um ambiente diferente
5.4. A teoria de Gardner:
Inteligências Múltiplas
Inserida na categoria da teorias biológicas, pois
refere-se ao funcionamento do cérebro e também
aos conceitos evolutivos.
Teoria utilizada nos meios educacionais pois
maximiza o potencial de todos e a sugere a ideia de
que todo mundo é bom em alguma coisa.
Não constitui uma teoria adequada da inteligência.
Em 1983, anunciou a existência de 7 tipos de
inteligências:
Linguística
Musical
Lógico-matemática
Espacial
Corpóreo-cinética
Intrapessoal
Interpessoal
Em 1999, Gardner acrescentou 4 novos tipos de
inteligência à teoria:
Naturalista
Espiritual
Existencial
Moral
5.5. A teoria PASS:
PASS = Planejamento, Atenção e processamento
Simultâneo e Sequencial.
Modelo
de
processamento
baseado
nos
fundamentos biológicos das áreas do cérebro.
Postula três unidades funcionais que ocorrem em
unidades específicas do cérebro:
Atenção ou excitação
Recebimento e processamento da informação
Planejamento “é a essência da inteligência
humana”
Para esta teoria existem dois tipos de processos: o
Sequencial e o Simultâneo
Processamento
Simultâneo:
material
holístico e integrado, tarefas que são
simultâneas.
Processamento
Sequencial:
Eventos
ordenados temporalmente;encadeados.
Ordem
Unidade funcional
Terceira
Planejamento
Segunda
Sequencial ou simultâneo
Primeira
Atenção
Área do cérebro
Pré-frontal
Occipital, Parietal, temporal
Tronco, Medial
O estado atual da testagem em relação
às teorias
Nos testes, o modelo de inteligência
mais
utilizado deriva do modelo hierárquico.
“Um” (Spearman) ou “vários” fatores (Thurstone)
de inteligência, ambos tem ganhos.
Nos testes mais utilizados no resultado final
encontra-se um “g” e também os subescores que
correspondem aos fatores gerais.
A teoria de Vernon, Gf-Gc e a teoria dos 3
estratos de Carroll => Testes de capacidade
mental.
É preciso que o psicólogo conheça os modelos
hierárquicos para compreender os testes de
capacidade mental
Pelo simples fato do manual informar que está
utilizando uma teoria não significa que o teste
esteja fazendo isso, e nem que a teoria seja válida.
Cuidado!
Os modelos biológicos e os modelos de
processamento da informação não exercem grande
influência nos testes atuais. Mesmo as pesquisas
predominando nesta área.
A teoria do desenvolvimento da inteligência
também não exercem muita influência nas práticas
de mensuração da capacidade mental.
6. Diferenças entre Grupos de
Inteligência
 São descritas segundo três perspectivas:
- A regra geral é superposição das distribuições;
- As diferenças entre os grupos não revelam sua
própria causa;
- As diferenças podem variar com o tempo.
6.1) Diferenças quanto ao sexo:
- Diferenças mínimas em teste de funcionamento
mental geral;
- Diferenças mais notórias em testes de habilidades
específicas;
- Diferenças de habilidades notórias na fase de
desenvolvimento que desaparecem no fim da
adolescência;
- A variação de diferença de inteligências no grupo dos
homens é maior do que no grupo das mulheres.
6.2) Diferenças quanto a idade:
- Curva de crescimento da inteligência mais inclinada até os
12 anos;
- A partir dos 20 anos há um crescimento moderado;
- Estimativa do ponto máximo por volta dos 16 ou 25 anos,
se mantendo estável a partir de então;
- Declínio na curva de inteligência a partir dos 60 anos;
- Declínio se dá de maneiras diferentes para determinadas
habilidades específicas;
- Diferenças entre estudos transversais e longitudinais;
- Níveis relativos de inteligência se estabelecem por volta dos
6 anos, porém, essa estabilidade nunca é completa.
• Mudanças na população ao longo do tempo:
- James Flynn realizou um trabalho de resumo
dos dados dos testes de inteligência dos últimos
60 anos em 20 países e constatou que a média
do Q.I. tem aumentado ao longo das gerações.
Para os testes relacionados à inteligência fluida
tem havido um aumento médio de 15 pontos
por geração e para os testes de inteligência
cristalizada tem tido um aumento médio de 9
pontos por geração.
Esse fenômeno é
conhecido como “efeito Flynn” e ainda não se
encontram explicações para a sua ocorrência.
6.3) Diferenças quanto ao nível socioeconômico:
-
Dificuldade
para
socioeconômica (CSE).
definir
a
condição
- Relação clara entre níveis de inteligência e a CSE.
- Médias de diferenças entre grupos são de 5 a 10
pontos de Q.I.
- Razões para a diferença e controvérsias.
6.4) Diferenças quanto ao grupo racial/étnico:
- Como se define uma raça?
Ex: Negros = norte-americanos, brasileiros, franceses, etc.
Asiáticos = chineses, japoneses, coreanos, etc.
- Muita discordância dos pesquisadores
- Diferença nos resultados entre todos os grupos,
nos testes: verbais, não-verbais, Q.I, espacial e
de figuras.
- Grupo branco (grupo majoritário) melhor em
quase todos.
- Razões da diferença:
 Público alvo ou majoritário
 Linguagem utilizada
 Estereótipos e interiorização
7. Influências da hereditariedade e do
ambiente na inteligência:
7.1. Conceituação:
- Grande controvérsia por parte dos pesquisadores
por certo tempo.
- Isolados nenhum dos dois tem capacidade de
determinar completamente a inteligência.
- É consenso que a inteligência resulta da interação
de influências hereditárias e ambientais.
- Estudos atuais tratam da contribuição relativa e da
interação entre hereditariedade e ambiente.
7.2. Metodologia:
 Problemática envolvida:
- Estudo com gêmeos (monozigóticos e dizigóticos)
em ambientes distinto.
- Ambiente familiar (diferença entre os membros da
mesma família e entre famílias).
7.3) Principais resultados:
- Estimativa da hereditariedade da inteligência é de
0,6 na média dos diversos estudos.
- Quase todos os autores enfatizam o pouco
conhecimento da ciência sobre os mecanismos
pelos quais os genes ou o ambiente influenciam a
inteligência.
- Com o decorrer do tempo a influência da
hereditariedade aumenta.
- Com o decorrer do tempo a influência do ambiente
familiar diminui.
- Pequena variação entre famílias e certa variação
dentro da mesma família.
Referências Bibliográficas
Almeida, Leandro S. (2002). As Aptidões na
Definição e Avaliação da Inteligência – o Concurso
da Análise Fatorial. Universidade do Minho, Braga
– Portugal.
Hogan, T. P. (2006). Introdução à Prática de Testes
Psicológicos, Capítulo 7 – Inteligência: Teoria e
Tópicos. Rio de Janeiro, RJ. Editora LTC.
Download

Inteligência: áreas de estudo