Capı́tulo 18 Problemas - Segunda parte 18.1 Capacidade calorı́fica pela eqüipar- tição 1. Considere um sólido monoatômico, em que a força intramolecular é do tipo harmônica. Mostre que a capacidade calorı́fica molar desse sólido é igual a CV = 3R, estabelecendo, assim, a lei de Dulong e Petit. Solução: Se o sólido é composto de N átomos, 3N graus de liberdade são possı́veis. Cada átomo desse sólido irá contribuir com 21 kT , para a energia cinética média, e 1 kT , 2 para a energia potencial média, já que foi conside- rada a interação do tipo harmônica. Então, para a energia interna, U = 3N( 21 kT + 12 kT ) = 3NkT do que CV = 3Nk. Por mol, CV = 3R, que é a lei de Dulong e Petit. 2. Alguns dados usados na referência original de Dulong e Petit foram CV = 25,6150 J K−1 mol−1 (Bismuto), CV = 25,3743 J K−1 mol−1 (Chumbo) e CV = 24,7724 J K−1 mol−1 (Ouro). Calcule o erro percentual relativo em relação à lei de Dulong-Petit. Uma discussão mais abrangente desse problema é fornecida no livro texto. Solução: Os erros percentuais relativos serão, 2, 6984, 1, 7331 e 0, 6802. 173 174 Fı́sico-Quimica (Copyrighted material) 3. Reproduza a tabela 18.1, considerando o sistema ideal. Por que os resultados não são coincidentes para moléculas e coincidente para o sistema atômico? Solução: O sistema atômico só tem o grau de liberdade translacional, situação em que a aproximação da eqüipartição se aplica melhor. Os outros resultados evidenciam a quebra da eqüipartição da energia. Tabela 18.1: Valores de Cp em J K−1 mol−1 e T = 298, 15K Sistema Cp tabelado Cp pela eqüipartição Ar 20,786 20,786 N2 29,124 37,413 H2 S 34,192 58,198 CO2 37,129 62,355 N H3 35,652 83,140 4. Repita o problema 3 para T = 6000K, conforme tabela 18.2. Discuta, novamente, a eqüipartição da energia. Solução: Quando aumenta-se a temperatura mais estados estarão disponı́veis, justificando a aproximação da eqüipartição da energia. Tabela 18.2: Valores de Cp em J K−1 mol−1 e T = 6000K Sistema Cp /tabelado Cp /eqüipartição Ar 20,786 20,786 N2 38,276 37,413 H2 S 61,609 58,198 CO2 64,957 62,355 N H3 80,751 83,140 175 João Pedro Braga 18.2 dQ e dS 5. Considere um sistema monoatômicos ideal. Use a primeira lei da termodinâmica e a equação de estado para mostrar que, dQ = 32 nRdT + dQ = 52 nRdT − nRT dV V nRT dp p dQ = 52 pdV + 23 V dp Solução: Pela primeira lei, dU = dQ − pdV , ou dQ = dU + pdV . Por U = 23 nRT e pV = nRT retira-se dQ = d( 23 nRT ) + nRT dV V = 23 nRdT + nRT V dV , provando a primeira das relações. Adicionando-se V dp − V dp a dQ = dU + pdV dQ = dU + pdV + V dp − V dp = d(U + pV ) − V dp = d( 23 nRT + nRT ) − V dp. Desenvolvendo, obtém-se dQ = 25 nRdT − V dp ou dQ = 25 nRdT − nRT dp. p Para a terceira das relações usa-se nRdT = d(nRT ) = d(pV ) = pdV + V dp em dQ = 52 nRdT − V dp = 25 pdV + 52 V dp − V dp. Portanto, dQ = 5 pdV 2 + 32 V dp. 6. Considerando as diferenciais dQ desenvolvidas no problema 7 resolva os seguintes problemas: (a) Mostre que a diferencial do calor não representa uma diferencial exata (b) Estabeleça a condição do processo ser adiabático, considerando a solução de dQ = 0. (c) Verifique que 1 T é um fator integrante para o calor. Solução: O raciocı́nio será desenvolvido somente para a primeira das diferencias. 176 Fı́sico-Quimica (Copyrighted material) As outras provas são análogas. De dQ = 23 nRdT + nRT dV V observa-se que as derivadas cruzadas não são iguais, indicando que dQ nao representa uma diferencial exata. A derivada de 32 nR em relação ao volume vale zero, enquanto a derivada de nRT V em relação à temperatura é diferente de zero. Para estabelecer as condições em que dQ = 0 deve-se resolver 23 nRdT + nRT dV V = 0. Cancelando o fator nR e dividindo-se por T , desenvolve-se, 3 dT + V1 dV = 0 2T R 3 R T2 dT + VV12 dV =0 2 T1 T V 3/2 3/2 ln T2 T1 + ln V2 V1 = 3/2 3/2 ln T2 V2 T1 V1 = 0 3/2 3/2 T2 V2 = T1 V1 0 Por um raciocı́nio análgo obtém-se para as outras duas diferenciais, 5/2 T1 p1 5/2 = T2 p2 3/2 5/2 e p1 V 1 3/2 5/2 = p2 V 2 . Como o resultado é válido para qualquer valor da condição inicial ou final, pode-se escrever, T 3/2 V = constante T 5/2 = p 5/3 pV Por dQ = 32 nRdT + nRT dV V constante = constante , estabelece-se dQ T = 3 nRdT 2T + nR dV V . As derivadas cruzadas serão a zero, mostrando que a nova diferencial, dQ T é exata e denominada de entropia. 7. Estabeleça as três diferenciais da entropia para sistemas ideais monoatômicos, dS = 32 nR dT + T dS = dS = nR dV V 5 nR dT − nR dp 2 T p 5 dV p + 32 V dp 2 T T 177 João Pedro Braga Solução: Por T dS = dQ e problema , T dS = 23 nRdT + nRT dV V nRT 5 nRdT − p dp 2 5 pdV + 23 V dp 2 T T dS = T dS = ou, dS = 32 nR dT + T nR dV V 5 nR dT − nR dp 2 T p 5 dV p + 32 V dp 2 T T dS = dS = como requerido. 8. Calcule as funções S(T, p), S(T, V ) e S(p, V ), S(T, V ) = nR ln(T 3/2 Vn ) 5/2 S(T, p) = nR ln( T p ) S(p, V ) = nR ln(pV 5/3 ) Solução: Por integração de dS = 25 nR dT − T nR dp , p T ∆S = S(T2 , p2 ) − S(T1 , p1 ) = 5/2 = nR(ln T2 p2 5/2 − ln T1 p1 R dS = 25 nR R dT T − nR R dp p ) 5/2 Portanto, S(T, P ) = nR ln( T p ). Usando a equação de estado obtémse, S(T, V ) = nR ln(T 3/2 Vn ) e S(p, V ) = nR ln(pV 5/3 ). 9. Num processo adiabático reversı́vel não poderá haver produção de entropia, pois dQ = 0 e dS = dQ T = 0. Portanto, S é constante em um processo adiabt́ico reversı́vel. Estabeleça a restrição nos valores de temperatura, pressão e volume para um processo adiabático reversı́vel em sistemas monoatômicos ideais. Solução: Pelo problema 8 observa-se que para se manter S constante deve-se 178 Fı́sico-Quimica (Copyrighted material) satisfazer, T 3/2 V = constante, T 5/2 p = constante e pV 5/3 = constante. Observe que o mesmo resultado foi obtido, por um raciocı́nio diferente, no problema 6b. 10. As expressões gerais para a entropia são: dS = dS = dS = ∂p CV dT + ∂T dV T V Cp ∂V dT − ∂T dp T p Cp ∂T CV ∂T dp + T ∂p V T ∂V p dV Aplique essas equações a um sistema ideal monoatômico e compare o resultado com as equações obtidas no problema 7. Solução: Use pV = nRT , U = 23 nRT , CV = 23 nR e Cp = 25 nR para obter as relações desejadas. 18.3 Sobre isotermas e adiabáticas Considerando duas variáveis independentes resolva os seguintes problemas: 11. Duas adiabáticas nunca se cruzam. Solução: Suponha que duas adibáticas se cruzem. Então pode-se passar uma isoterma cruzando essas duas adiabáticas e fechando um ciclo. Poder-se-ia, portanto, ter um ciclo com realização de trabalho com somente uma fonte de calor. Isso contraria a segunda lei da termodinâmica. 12. Uma isoterma e uma adiabática só se cruzam num ponto. Solução: Se houvesse dois pontos de cruzamento então seria possı́vel construir um máquina térmica, novamente, com somente uma fonte de calor. João Pedro Braga 179 13. Uma adiabática não pode ser tangente a uma isoterma. Solução: Suponha que uma adiabática seja tangente a uma isoterma. Nesse caso poder-se-ia transladar a isoterma de tal forma que essas isoterma cruzaria a adiabática em dois pontos, contrariando a segunda lei da termodinâmica. 14. Ao longo de uma adiabática, a temperatura varia sempre no mesmo sentido. Solução: Se isso não fosse verdade ter-se-ia uma adiabática sendo cruzada duas vezes pela mesma isoterma. 15. Ao longo de uma isoterma, a quantidade de calor fornecida tem sempre o mesmo sinal. Solução: Novamente, se isso fosse possı́vel, uma isoterma poderia cruzar duas adiabáticas. 16. Pelo problema 11 conclua o teorema de Carathéodory: Para um ponto P, que representa o equilı́brio termodinâmico, existem infinitos pontos que não podem atingir esse ponto por caminhos adiabáticos. O teorema é também válido para várias variáveis e constitui-se numa formulação precisa da segunda lei. Solução: Se duas adiabáticas não se cruzam, então elas terão de ser paralelas. Portanto, para um ponto P em uma dessas adiabáticas existem infinitos caminhos que não podem atingı́-lo. 17. Conclua pelo problema 16 que a entropia só pode aumentar ou diminuir num processo termodinâmica. Solução: Ora, se duas adiabáticas não se cruzam então a passagem uma adiabática para outra terá de envolver um aumento ou decréscimo de entropia. Note que as adiabáticas são sempre crescentes(ou decrescentes) pois, do contrário a entropia não seria função de estado. Para mais 180 Fı́sico-Quimica (Copyrighted material) detalhes ver página 139 do livro texto. 18. O aumento ou decréscimo da entropia é decidido por um experimento, como assim sugeriu Max Born. Considere um sistema A = (N, V, T1 ) e um sistema B = (N, V, T2 ), inicialmente isolados, e para ilustrar, composto de gases ideais monoatômicos. Prove que o processo de mistura desses sistemas leva a um aumento de entropia. Considere o sistema total (A + B) isolado. Solução: A variação da energia interna será zero, ∆U = Uf − Ui = 23 (2N)kTf − 32 NkT1 − 32 NkT2 =0 Então, Tf = T1 +T2 .Para 2 a variação da entropia, ∆S = Sf − Si 3/2 2V ) 2N = (2N)k ln(Tf T2 3/2 V ) N − Nk ln(T1 3/2 V ) N − Nk ln(T2 f ) = 32 Nk ln( T1 ×T 2 2 2) = 23 Nk ln( (T4T1 1+T ) ×T2 que é uma quantidade positiva, pois as temperaturas são positivas. 19. A solução do problema 18 fica completa se a prova de (x+y)2 4xy ≥ 1 é elaborada. Demonstre essa relação pelo desenvolvimento de outra desigualdade, (x − y)2 ≥ 0, que obviamente é verdadeira. Solução: Desenvolvendo (x − y)2 = x2 − 2xy + y 2 ≥ 0 e adicionando 4xy de cada lado, x2 + 2xy + y 2 ≥ 4xy, pois x e y são positivos. Portanto, x2 +2xy+y 2 4xy 18.4 ≥ 1 ou, (x+y)2 4xy ≥ 1. Ciclos termodinâmicos 20. O ciclo de Carnot consiste das seguintes etapas: 181 João Pedro Braga (a) Isotérmica de A → B; (b) Adiabática de B → C; (c) Outra etapa isotérmica de C → D; e (d) Outra etapa adiabática de D → A. Admitindo-se que os estados são A = (p1 , V1 , T2 ), B = (p2 , V2 , T2 ), C = (p3 , V3 , T1 ) e D = (p4 , V4 , T1 ), verifique a tabela a seguir para o ciclo de Carnot, em que o gás foi considerado ideal. Tabela 18.3: Conservação da energia para o ciclo de Carnot A→B B→C W nRT2 ln( VV12 ) 3 nR(T1 2 Q nRT2 ln( VV12 ) 4U 0 C→D D→A nRT1 ln( VV43 ) 3 nR(T2 2 0 nRT1 ln( VV34 ) 0 − 23 nR(T1 − T2 ) 0 − 23 nR(T2 − T1 ) − T2 ) − T1 ) 21. Problema 2, página 114. 22. Problema 3, página 114. 23. Na figura 18.1 representa-se um ciclo de Carnot em que T2 = 40K, V1 = 1, 5L, V2 = 3, 2L e V3 = 5, 5L. Considerando um mol de um sistema monoatômico ideal, calcule os outros valores de pressão, temperatura e volume para esse ciclo. Solução: Os pontos, representados por, A = (p1 , V1 , T2 ), B = (p2 , V2 , T2 ), C = (p3 , V3 , T1 ) e D = (p4 , V4 , T1 ), serão: A=(221, 7067, 1, 5000, 40, 0000), B=(103, 9250, 3, 2000, 40, 0000), C=(42, 1404, 5, 5000, 27, 8774), D=(89, 9068, 2, 5781, 27, 8774). 182 Fı́sico-Quimica (Copyrighted material) Os valores se encontram no sistena MKS e vários significativos foram considerados para que a resposta possa ser conferida pelo leitor. 24. Mostre que nos pontos A,B, C e D vale pV T igual à constante dos gases, R. 25. Verifique a relacao T 3/2 V = constante ao longo das adiabáticas. Solução: 3/2 3/2 3/2 Usando os valores obtidos, T2 V2 = T1 V3 = 809, 5431 e T1 V4 = 3/2 T2 V1 = 379, 4733. O leitor deve verificar também, apesar de terem sido usadas na resolução do problema 23, as relações T 5/2 p = constante e pV 5/3 = constante. 240 A 220 200 180 Pressão / Pa 160 A=(p ,V ,T ) 1 1 2 B=(p2,V2,T2) C=(p3,V3,T1) D=(p4,V4,T1) 140 120 B 100 D 80 60 C 40 20 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5 5.5 6 Volume / L Figura 18.1: Representação de um ciclo de Carnot 26. Represente o ciclo de Carnot do problema 23 no diagrama temperatura por entropia. Solução: A figura será um retângulo. As temperaturas irão de T1 até T2 e 3/2 as entropias de S1 = R ln(T1 V4 ) = 49, 3751 J K−1 mol−1 a S2 = 3/2 R ln(T2 V2 ) = 55, 6745 J K−1 mol−1 . Esses valores de entropia não 183 João Pedro Braga representam valores absolutos, pois constantes arbitrárias, que não dependem de p, V ou T , foram desprezadas. Esse resultados apresenta-se na figura 18.2. 42 A B 40 T2 38 T/K 36 S1 34 S2 32 30 T1 28 C D 26 49 50 51 52 53 54 55 56 S / J K−1 T−1 Figura 18.2: Representação T S de um ciclo de Carnot 27. Usando o plano T S calcule o rendimento de um ciclo de Carnot. Solução: A conservação da energia no ciclo, H dQ = H T dS. Portanto, W = H H dU = 0 implica que dW = H H dW = T dS = T2 (S2 − S1 ) + 0 + T1 (S1 − S2 ). O rendimento será, ε= W T2 (S2 − S1 ) + T1 (S1 − S2 ) T1 = =1− Q2 T2 (S2 − S1 ) T2 28. Usando o fato de que o rendimento de máquina térmica irreversı́vel é menor do que o de uma máquina térmica reversı́vel, prove a desigualdade de Clausius. Para isso, considere um ciclo de Carnot em que o calor cedido pela fonte quente é feito de forma irreversı́vel Solução: Representando esse calor cedido de forma irreversı́vel por Q02 , escreve- 184 Fı́sico-Quimica (Copyrighted material) se: Q1 Q02 Q1 − Q0 2 Q1 − T1 Q02 − QT11 T2 H dQ T 1− ≤1− Q1 Q2 ≤ − TT12 Q0 ≤ − T22 ≤0 ≤0 que é a desigualdade de Clausius. Observe que ∆S = da entropia do sistema e, por Q02 T2 Q1 T1 é a variação − QT11 ≤ 0 conclui-se que ∆S ≥ ou seja, a entropia do sistema aumentou. Q02 T2 ≥ 0,