UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS – GRADUAÇÃO “ LATU SENSU” INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS E O PSICOPEDAGOGO ANA PAULA DIAS MIADA ORIENTADOR: CARLOS ALBERTO CEREJA RIO DE JANEIRO FEVEREIRO / 2007 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS E O PSICOPEDAGOGO ANA PAULA DIAS MIADA Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como conclusão prévia do curso de pósgraduação “Latu Senso” em psicopedagogia. RIO DE JANEIRO FEVEREIRO / 2007 3 Epígrafe “A inteligência pode ser definida como a capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos valorizados em um ambiente cultural ou comunitário”. (Howard Gardner) 4 Agradecimentos Agradeço primeiramente a minha mãe por me incentivar a vida toda aos estudos, ao meu marido pelo esforço do dia-a-dia, amizade e companheirismo e aos meus filhos pelas lacunas que eu possa ter deixado, pela falta de tempo em não poder muitas vezes dar a devida atenção de mãe e a Deus que fez com que todas essas pessoas pudessem compartilhar comigo a vida. 5 Dedicatória Dedico esse trabalho a minha querida mãe, que tanto colaborou para confecção e o aperfeiçoamento desse sonho. 6 Sumário INTRODUÇÃO 07 CAPÍTULO I 09 INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS CAPÍTULO II 20 A INTELIGÊNCIA E O DESENVOLVIMENTO HUMANO CAPÍTULO III A ATUAÇÃO 24 DO PSICOPEDAGOGO COM AS MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS CONCLUSÃO 32 ANEXO 36 REFERÊ NCIAS BIBLIOGRÁFICAS 39 ÍNDICE 40 FOLHA DE AVALIAÇÃO 41 7 INTRODUÇÃO Ainda que exista um certo consenso intelectual de que inteligência possa ser concebida como uma capacidade de resolver problemas ou de elaborar produtos que sejam valorizados em um ou mais ambientes culturais ou comunitários ou ainda como a faculdade de conhecer, compreender, discernir e adaptar-se e muito embora o discurso pedagógico use muito essa palavra na caracterização de “indivíduos inteligentes ou pouco inteligentes”, já se afasta o conceito de uma inteligência única e geral e ganha espaço a convicção de Howard Gardner e de uma grande equipe da Universidade de Harvard de que o ser humano é dotado de inteligências múltiplas que incluem as dimensões lingüística, lógico-matemática, espacial, musical, cinestésicocorporal, naturalista, intrapessoal e interpessoal. Os cinco primeiros anos de vida de um ser humano são fundamentais para o desenvolvimento das inteligências.Embora a potencialidade do cérebro se apresente como produto de carga genética que se perde em tempos imemoráveis, nos primeiros anos de vida o cérebro sai dos 400 gramas quando nascimento, para chegar perto do um quilo e meio quando adulto , crescendo e pesando mais em funções das múltiplas conexões entre os neurônios que formam uma rede de informações diversificadas. As áreas do cérebro não nascem prontas, vão se formando progressivamente, principalmente entre os 5 e 10 anos de idade.Logo, observamos a importância de estimular os cérebros de nossos alunos para que dessa forma eles possam ter a possibilidade de desenvolver suas inteligências de forma continua e enriquecedora. No primeiro capítulo podemos perceber que temos inteligências diversificadas, e umas mais evidenciadas do que as outras. Não existe uma inteligência na mente humana, mas diversas e que essas podem e devem ser estimuladas. 8 O segundo capítulo baseia-se na importância de um psicopedagogo na defesa das Múltiplas Inteligências fazendo com que a educação favoreça o potencial de cada um. No terceiro capítulo podemos observar as habilidades e competências que devem estar presentes no trabalho psicopedagógico para que a educação tenha funções sociais, que é operar transformações na sociedade, através da distribuição democrática de conhecimentos, de bens culturais. 9 Capítulo 1 Inteligências Múltiplas Segundo Celso Antunes (1999) inteligência é a capacidade de resolver problemas, compreender idéias, interpretar informações transformando-as em conhecimento e, também, a capacidade de criar. Constitui um componente biopsicológico que difere o ser humano de outras espécies animais. A inteligência é algo difícil de mensurar; temos inteligências diversificadas, e umas mais evidenciadas do que outras. Nossa cultura, porém, valoriza por demais a inteligência lógico-matemática, e ser inteligente geralmente está associada a um desempenho muito bom em áreas ligadas a este tipo de inteligência. Porém o fato de não termos habilidades em uma determinada área não significa que não sejamos inteligentes. A inteligência pode ser estimulada e o papel do meio ambiente associa-se ao da hereditariedade na construção de pessoas mais ou menos inteligentes, não existe uma inteligência na mente humana, mas diversas inteligências relacionadas a habilidades específicas que iam da montagem de blocos à música, à pintura e ao autoconhecimento. O estímulo a essas inteligências não requer tecnologia de ponta ou investimentos que inviabilizem sua prática em todo lugar, em qualquer família ou escola, pois as ações no cérebro atuam com sistemas integrados. É impossível isolarmos uma inteligência, ainda que estímulos específicos podem atuar mais sobre uma que sobre as outras.Embora seja muito mais importante observar o espectro das inteligências e identificar o indivíduo por sua multiplicidade, ainda que se destacando por esta ou aquela linguagem, sempre envolvemos mais de uma habilidade na solução de problemas, embora existam predominâncias. Portanto as inteligências se integram. 10 Segundo Gardner (1987) a teoria da inteligência renega a possibilidade de medi-la pelos métodos convencionais, principalmente com os famosos testes de Q.I. (quociente de inteligência). É que eles mediram apenas as manifestações das competências lógico-matemático e lingüística, não dando conta de avaliar todo o espectro da inteligência. Diversificando as atividades para integrar as inteligências, você dá oportunidades ao aluno de olhar várias vezes uma mesma idéia. A idéia central é a de que a inteligência compõe-se um amplo espectro de competências inter-relacionadas, algumas das quais antigamente eram considerados dons, talentos (como a musical ou a pictórica-espacial) ou virtudes (como a intrapessoal). A diferença no enfoque e o aspecto revolucionário da teoria das Inteligências Múltiplas estão em que todos os seres humanos possuem todas as inteligências acima, só que em diferentes graus de desenvolvimento. Ninguém recebeu dádivas especiais e exclusivas. O que nos falta é treino. Segundo Gardner (1987) provavelmente, a contribuição mais importante da teoria das inteligências múltiplas seja a de alterar alguns conceitos sobre ensino, proporcionando ao aluno desenvolver diversas atividades de forma mais personalizada e de acordo com as suas reais aptidões. Neste processo mais individualizado, as crianças perceberão que suas forças pessoais estão sendo reconhecidas e valorizadas. O importante não está em medirmos a grandeza da inteligência em números ou como um conjunto de habilidades isoladas, e sim como um processo dinâmico, múltiplo e integrado, permitindo ser observada de diferentes ângulos. Esta nova concepção de inteligência nos conduzirá à formação de cidadãos mais felizes, mais competentes, com mais capacidade de trabalhar em grupo e mais equilibrados emocionalmente. 11 A partir dos anos 80 a teoria das inteligências múltiplas começou a ser elaborado por pesquisadores da universidade norte-americana de Harvard, liderado pelo psicólogo Howard Gardner. Acompanhando o desempenho profissional de pessoas que haviam sido alunos fracos, Gardner se surpreendeu com o sucesso obtido por vários deles. O pesquisador passou então a questionar as avaliações escolares, cujos critérios não incluem a análise de capacidade que, no entanto, são importantes na vida das pessoas. Conclui que as formas convencionais de avaliação apenas traduzem a concepção de inteligência vigente na escola, limitada à valorização da competência lógico-matemática e da lingüística. Gardner demonstrou, porém, que as demais faculdades também são produtos de processos mentais e que não há motivo para diferenciá-los do que geralmente se considera inteligência. Desta forma, ampliou o conceito de inteligências, que em sua opinião pode ser definida como “a capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos valorizados em um ambiente cultural ou comunitário”. O psicólogo estabeleceu vários critérios para que uma inteligência seja considerada como tal, desde sua possível manifestação em todos os grupos culturais até a localização de sua área no cérebro. Ele próprio identificou sete inteligências, mas não considera este número definitivo.(Kátia Stocco, Revista Nova Escola, 1997). As pesquisas mais recentes em desenvolvimento cognitivo e neuropsicologia sugerem que as habilidades cognitivas são bem mais diferenciadas e mais específicas do que se acredita (Gardner, 1985).Neurologistas têm documentado que o sistema nervoso humano não é um órgão com propósito único nem tão pouco é infinitamente plástico.Acreditase, hoje, que o sistema nervoso seja altamente diferenciado e que diferentes centros neutrais processem diferentes tipos de informação (Gardner, 1987). 12 Segundo Salgado (1990) Howard Gardner, psicólogo da Universidade de Hervard baseou-se nestas pesquisas para questionar a tradicional visão da inteligência, uma visão que enfatiza as habilidades lingüística e lógicomatemática.Segundo Gardner, todos os indivíduos normais são capazes de uma atuação em pelo menos sete diferentes e, até certo ponto, independentes áreas intelectuais. Ele sugere que não existem habilidades gerais, duvida da possibilidade de se medir a inteligência através de testes de papel e lápis e dá grande importância a diferentes atuações valorizadas em culturas diversas. Finalmente, ele define inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar produtos que sejam significativos em um ou mais ambientes culturais. A Teoria das Inteligências Múltiplas, de Howard Gardner (1985) é uma alternativa para o conceito de inteligência como uma capacidade inata, geral e única, que permite aos indivíduos uma performance, maior ou menor, em qualquer área de atuação. Sua insatisfação com a idéia de QI e com visões unitárias de inteligência, que focalizam, sobretudo as habilidades importantes para o sucesso escolar, levou Gardner a redefinir inteligência à luz das origens biológicas da habilidade para resolver problemas.Através da avaliação das atuações de diferentes profissionais em diversas culturas, e do repertório de habilidades dos seres humanos na busca de soluções, culturalmente apropriadas, para os seus problemas, Gardner trabalhou no sentido inverso ao desenvolvimento, retroagindo para eventualmente chegar às inteligências que deram origem a tais realizações. Na sua pesquisa, Gardner estudou também o desenvolvimento de diferentes habilidades em crianças normais e crianças superdotadas, adultos com lesões cerebrais e como estes não perdem a intensidade de sua produção intelectual, mas sim uma ou algumas habilidades, sem que outras habilidades sejam sequer atingidas, população dita excepcionais, tais como idiot-savants e autistas, e como os primeiros podem dispor de apenas uma competência, sendo bastante incapazes nas demais funções cerebrais, enquanto as crianças autistas apresentam ausências nas suas habilidades intelectuais e como se deu o desenvolvimento cognitivo através de milênios. Psicólogo construtivista muito influenciado por Piaget, 13 Gardner distingue-se de seu colega de Genebra na medida em que Piaget acreditava que todos os aspectos da simbolização partem de uma mesma função semiótica, enquanto que ele acredita que processos psicológicos independentes são empregados quando o indivíduo lida com símbolos lingüísticos, numéricos gestuais ou outros. Segundo Gardner uma criança pode ter um desempenho precoce em uma área (o que Piaget chamaria de pensamento formal) e estar na média ou mesmo abaixo da média em outra (o equivalente, por exemplo, ao estágio sensório-motor). Gardner descreve o desenvolvimento cognitivo como uma capacidade cada vez maior de entender e expressar significado em vários sistemas simbólicos utilizados num contexto cultural, e sugere que não há uma ligação necessária entre a capacidade ou estágio de desenvolvimento em uma área de desempenho e capacidades ou estágios em outras áreas ou domínios. Num plano de análise psicológico, afirma Gardner (1982), cada área ou domínio tem seu sistema simbólico próprio; num plano sociológico de estudo, cada domínio se caracteriza pelo desenvolvimento de competências valorizadas em culturas específicas. Segundo Salgado (1990) Gardner sugere, ainda, que as habilidades humanas não são organizadas de forma horizontal; ele propõe que se pense nessas habilidades como organizadas verticalmente, e que, ao invés de haver uma faculdade mental geral, como a memória, talvez existam formas independentes de percepção, memória e aprendizado, em cada área ou domínio, com possíveis semelhanças entre as áreas, mas não necessariamente uma relação direta. Gardner (1985) identificou as inteligências lingüística, lógico-matemática, espacial, musical, cinestésica, interpessoal e intrapessoal. Postula que essas competências intelectuais são relativamente independentes, têm sua origem e limites genéticos próprios e substratos neuroanatômicos específicos e dispõem de processos cognitivos próprios.Segundo ele, os seres humanos dispõem de graus variados de cada uma das inteligências e maneiras diferentes com que elas se combinam e organizam e se utilizam dessas capacidades intelectuais para resolver problemas e criar produtos. Gardner ressalta que, embora estas 14 inteligências sejam, até certo ponto, independentes uma das outras, elas raramente funcionam isoladamente.Embora algumas ocupações exemplifiquem uma inteligência, na maioria dos casos as ocupações ilustram bem a necessidade de uma combinação de inteligências.Por exemplo, um cirurgião necessita da acuidade da inteligência espacial combinada com a destreza da cinestésica. A dimensão lingüística se expressa de modo muito marcante no orador, no escritor, no poeta ou no compositor, que lidam criativamente e constroem imagens com palavras e com a linguagem de maneira geral.A lógico matemática esta associada à competência em desenvolver raciocínios dedutivos e em construir cadeias causais e lidar com números e outros símbolos matemáticos, se expressando no engenheiro, mas sobretudo no físico e nos grandes matemáticos. A dimensão espacial da inteligência esta diretamente associada ao arquiteto, geógrafo ou marinheiro que percebe de forma conjunta o espaço o espaço e o administra na utilização e construção de mapas, plantas e outras formas de representações planas.A competência musical representa um sentimento puro na humanidade e esta ligada a percepção formal do mundo sonoro e o papel desempenhado pela musica como forma de compreensão do mundo,enquanto que a cinestésica - corporal se manifesta na linguagem gestual e mímica e se apresenta muito nítida no artista e no atleta que não necessitam elaborar cadeias de raciocínio na execução de seus movimentos corporais.Uma das ultimas competências destacadas por Gardner e não presente em suas primeiras obras e a inteligência naturalista ou biológica que, como seu nome indica esta ligada à compreensão do ambiente e paisagem natural, uma afinidade inata dos seres humanos por outras formas de vida e identificação entre os diversos tipos de espécies, plantas e animais.Esse elenco se completa com as inteligências pessoais, manifestas na competência interpessoal, revelada através do poder de bom relacionamento com os outros e na sensibilidade para identificação de suas intenções, suas motivações e sua auto-estima.Essa forma de inteligência explica a imensa empatia de algumas pessoas e é característica de grandes lideres, professores e terapeutas. A dimensão intrapessoal pode ser sentida 15 por todos quantos vivem bem consigo mesmo, sentem-se como envolvidos pela presença de “um educador de si mesmo”, administrando seus sentimentos, emoções e projetos com o “auto astral” de quem percebe suas limitações, mas não faz das mesmas um estímulo para o sentimento de culpa ou para estruturação de um complexo de inferioridade. 1.1- As inteligências 1.1.1- Inteligência lingüística – Os componentes centrais da inteligência lingüística são uma sensibilidade para os sons, ritmos e significados das palavras, além de uma especial percepção das diferentes funções da linguagem. É a habilidade para usar a linguagem para convencer, agradar, estimular ou transmitir idéias.Gardner indica que é a habilidade exibida na sua maior intensidade pelos poetas.Em crianças, esta habilidade se manifesta através da capacidade para contar histórias originais ou para relatar, com precisão, experiências vividas. 1.1.2- Inteligência musical - Esta inteligência se manifesta através de uma habilidade para apreciar, compor ou reproduzir uma peça musical.Inclui discriminação de sons, habilidade para perceber temas musicais, sensibilidade para ritmos, texturas e timbre, e habilidade para produzir e/ou reproduzir música. A criança pequena com habilidade musical percebe desde cedo diferentes sons no seu ambiente e, freqüentemente, canta para si mesma. 1.1.3- Inteligência lógico-matemática – Os componentes centrais desta inteligência são descritos por Gardner como uma sensibilidade para padrões, ordem e sistematização. É a sensibilidade para explorar relações categorias e padrões, através da manipulação de objetos ou símbolos, e para experimentar de forma controlada; é a habilidade para lidar com séries de raciocínios, para reconhecer problemas e resolvê-los. É a inteligência característica de matemáticos e cientistas.Gardner, porém explica que, embora o talento científico e o talento matemático possam estar presentes num mesmo indivíduo, os motivos que movem as ações dos cientistas e dos matemáticos não são os mesmos. Enquanto os matemáticos desejam criar um mundo abstrato consistente, os cientistas pretendem explicar a natureza. A criança 16 com especial aptidão nesta inteligência demonstra facilidade para contar e fazer cálculos matemáticos e para criar notações práticas de seu raciocínio. 1.1.4- Inteligência espacial – Gardner descreve a inteligência espacial como a capacidade para perceber o mundo visual e espacial de forma precisa. É a habilidade para manipular formas ou objetos mentalmente, a partir das percepções iniciais, criar tensão, equilíbrio e composição, numa representação visual ou espacial. É a inteligência dos artistas plásticos, dos engenheiros e dos arquitetos. Em crianças pequenas, o potencial especial nessa inteligência é percebido através da habilidade para quebra-cabeças e outros jogos espaciais e a atenção a detalhes visuais. 1.1.5- Inteligência cinestésica - Esta inteligência se refere à habilidade para resolver problemas ou criar produtos através do uso de parte ou de todo o corpo. É a habilidade para usar a coordenação grossa ou fina em esportes, artes cênicas ou plásticas no controle dos movimentos do corpo e na manipulação de objetos com destreza. A criança especialmente dotada na inteligência cinestésica se move com graça e expressão a partir de estímulos musicais ou verbais demonstra uma grande habilidade atlética ou uma coordenação fina apurada. 1.1.6- Inteligência interpessoal - Esta inteligência pode ser descrita como uma habilidade para entender e responder adequadamente a humores, temperamentos, motivações e desejos de outras pessoas.Ela é mais bem apreciada na observação de psicoterapeutas, professores, políticos, vendedores bem sucedidos.Na sua forma mais primitiva, a inteligência interpessoal se manifesta em crianças pequenas como a habilidade para distinguir pessoas, e na sua forma mais avançada, como a habilidade para perceber intenções e desejos de outras pessoas e para reagir apropriadamente a partir dessa percepção. Crianças especialmente dotadas demonstram muito cedo uma habilidade para liderar outras crianças, uma vez que são extremamente sensíveis às necessidades e sentimentos de outros. 17 1.1.7- Inteligência intrapessoal - Esta inteligência é o correlativo interno da inteligência interpessoal, isto é, a habilidade para ter acesso próprios sentimentos, sonhos e idéias, para discriminá-los e lançar mão deles na solução de problemas pessoais. É o reconhecimento de habilidades, necessidades, desejos e inteligências próprias, a capacidade para formular uma imagem precisa de si próprio e a habilidade para usar essa imagem para funcionar de forma efetiva.Como esta inteligência é a mais pessoal de todas, ela só é observável através dos sistemas simbólicos das outras inteligências, ou seja, através de manifestações lingüísticas, musicais ou cinestésicas. Na sua teoria, Gardner propõe que todos os indivíduos, em princípio, têm a habilidade de questionar e procurar respostas usando todas as inteligências. Todos os indivíduos possuem, como parte de sua bagagem genética, certas habilidades básicas em todas as inteligências. A linha de desenvolvimento de cada inteligência, no entanto, será determinada tanto por fatores genéticos e neurológicos quanto por condições ambientais. Ele propõe, ainda, que cada uma destas inteligências tem sua forma própria de pensamento, ou de processamento de informações, além de seu sistema simbólico.Estes sistemas simbólicos estabelecem o contato entre os aspectos básicos da cognição e a variedade de papéis e funções culturais. (Gardner,1990) A noção de cultura é básica para a Teoria das Inteligências Múltiplas. Com a sua definição de inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar produtos que são significativos em um ou mais ambientes culturais, Gardner sugere que alguns talentos só se desenvolvem porque são valorizados pelo ambiente. Ele afirma que cada cultura valoriza certos talentos, que devem ser dominados por uma quantidade de indivíduos e, depois passados para a geração seguinte. 18 Segundo Gardner, cada domínio, ou inteligência pode ser visto em termos de uma seqüência de estágios: enquanto todos os indivíduos normais possuem os estágios mais básicos em todas as inteligências, os estágios mais sofisticados dependem de maior trabalho ou aprendizado. A seqüência de estágios se inicia com o que Gardner chama de habilidade de padrão cru. O aparecimento da competência simbólica é visto em bebês quando eles começam a perceber o mundo o seu redor. Nesta fase, os bebês apresentam capacidade de processar diferentes informações. Eles já possuem, no entanto, o potencial para desenvolver sistemas de símbolos, ou simbólicos. (Gardner,1990) O segundo estágio, de simbolização básico, ocorre aproximadamente dos dois aos cinco anos de idade. Neste estágio as inteligências se revelam através dos sistemas simbólicos. Aqui, a criança demonstra sua habilidade em cada inteligência através da compreensão e uso de símbolos: a música através de sons, a linguagem através de conversas ou histórias, a inteligência espacial através de desenhos etc. No estágio seguinte, a criança, depois de ter adquirido alguma competência no uso das simbolizações básicas, prossegue para adquirir níveis mais altos de destreza em domínios valorizados em sua cultura.À medida que as crianças progridem na sua compreensão dos sistemas simbólicos, elas aprendem os sistemas que Gardner chama de sistemas de segunda ordem, ou seja, a grafia dos sistemas (a escrita, os símbolos matemáticos, a música escrita etc). Nesta fase, os vários aspectos da cultura têm impacto considerável sobre o desenvolvimento da criança, uma vez que ele aprimorará os sistemas simbólicos que demonstrem ter maior eficácia no desempenho de atividades valorizadas pelo grupo cultural. Assim, uma cultura que valoriza a música terá um maior número de pessoas que atingirão uma produção musical de alto nível. 19 Finalmente, durante a adolescência e a idade adulta, as inteligências se revelam através de ocupações vocacionais ou não vocacionais. Nesta fase, o indivíduo adota um campo específico e focalizado, e se realiza em papéis que são significativos em sua cultura. 20 Capítulo 2 A inteligência e o desenvolvimento humano Segundo Celso Antunes (2005) toda criança é semelhante a inúmeras outras em alguns aspectos e singularíssima em outros.Irá se desenvolver ao longo da vida como resultado de uma evolução extremamente complexa que combinou, pelo menos, três percursos: a evolução biológica, desde os primatas até o ser humano, a evolução histórico-cultural, que resultou na progressiva transformação do homem primitivo ao ser contemporâneo e, a do desenvolvimento individual de uma personalidade específica, pela qual atravessa inúmeros estágios, de bebe à vida adulta.Essas crianças adaptam-se e participam de suas culturas de formas extremamente complexas que refletem a diversidade e a riqueza da humanidade e possuem a habilidade de se recuperar de circunstancias difíceis ou experiências estressantes, adaptandose ao ambiente e, portanto, aos desafios da vida. Esse poder humano de recuperação, no entanto, não significa que um incidente traumático na infância possa sempre estar desprovido de conseqüências emocionais graves, e algumas vezes irreversíveis, mas, por outro lado, eventos posteriores podem progressivamente modificar alguns resultados dessas experiências.Em síntese, ambiente e educação são essências, o resto quase nada. Um ambiente afetuoso e uma educação rica em estímulos ajudam a superar muitas das privações e atenuar os efeitos de conseqüências emocionais. A importância do ambiente e da educação necessita, entretanto, ser percebida em uma dimensão expressiva, mas não infinita. Nenhuma criança é uma esponja passiva que absorve o que lhe é apresentado. Ao contrário, modelam ativamente seu próprio ambiente e se tornam agentes de seu processo de crescimento e das forças ambientais que elas mesmas ajudam a formar. Em síntese, o ambiente e a educação fluem do mundo externo para a criança e da própria criança para o seu mundo. Desde o nascimento, as linhas 21 inatas do bebê interferem na maneira como pais e professores se relacionam com essa criança. Mesmo a mãe menos informada sabe que existem bebês “comunicativos” e “fechados”, ativos e calmos, apáticos e “ligados”. A adequação entre os adultos e a criança produzem afetações recíprocas e todos os jogos usados para estimular suas múltiplas inteligências somente ganham validade quando centrados sobre o próprio indivíduo.Em outras palavras, todo jogo pode ser usado para muitas crianças, mas seu efeito sobre a inteligência será sempre pessoal e impossível de ser generalizado. O jogo, em seu sentido integral, é o mais eficiente meio estimulador das inteligências.O espaço do jogo permite que a criança realize tudo o que deseja. Quando entretido em um jogo, o indivíduo é quem quer ser, ordena o que quer ordenar, decide sem restrições.Graças a ele, pode obter a satisfação simbólica do desejo de ser grande, do anseio em ser livre. Socialmente, o jogo impõe o controle dos impulsos, a aceitação das regras, mas sem que se aliene a elas, posto que são as mesmas estabelecidas pelos que jogam e não impostas por qualquer estrutura alienante.Brincando com sua espacialidade, a criança se envolve na fantasia e constrói um atalho entre o mundo inconsciente, onde desejaria viver, e o mundo real, onde precisa conviver.Para Huizinga, o jogo não é uma tarefa imposta, não se liga a interesses materiais imediatos, mas absorve a criança, estabelece limites próprios de tempo e de espaço, cria a ordem e equilibra ritmo com harmonia. As inteligências em um ser humano são mais ou menos como janelas de um quarto. Abrem-se aos poucos, sem pressa, e para cada etapa dessa abertura existem múltiplos estímulos.Não se fecham presumivelmente ate os 72 anos de idade, mas próximo à puberdade perdem algum brilho.Essa perda não significa desinteresse, apenas ocorre à consolidação do que se aprendeu em período de maior abertura. Abrem-se praticamente para todos os seres humanos ao mesmo tempo, mas existe uma janela para cada inteligência.Duas crianças, na mesma idade, possuem a janela da mesma inteligência com o mesmo nível de abertura, isso não significa, entretanto que sejam iguais; a história genética de cada uma pode fazer com que o efeito dos estímulos sobre essa abertura seja maior ou menor, produza efeito mais imediato ou mais lento. 22 É um erro supor que o estímulo possa fazer a janela abrir-se mais depressa.Por isso, essa abertura precisa ser aproveitada por pais e professores com equilíbrio, serenidade e paciência. O estímulo não atua diretamente sobre a janela, mas, se aplicado adequadamente, desenvolve habilidades e estas, sim, conduzem as aprendizagens significativas. Sem esses estímulos a criança cresce com limitações e seu desenvolvimento cerebral fica extremamente comprometido. Mas, é preciso cuidado.Estimulações excessivas possuem o mesmo sentido que alimentação em quantidade acima da necessidade.Um berço precisa ser a primeira sala de aula de uma criança e sua primeira escola da vida é o quarto, a sala e a cozinha, com mães e pais estimulando todas as inteligências. Mas isso não pode ser feito o tempo todo.A toda hora, todas as iniciações lingüísticas, lógicomatemáticas, espaciais, corporais e outras. Cabe ao professor ou aos pais estarem plugados na criança o tempo todo e sentirem que, quando surgir o apetite pelo desafio do jogo, é importante ter em mãos os recursos para que sejam usados com sobriedade e, principalmente, com a co-participação de outras crianças e de adultos.Joga-se com a criança quando com ela se conversa, mas também se joga quando se passeia, quando se anda de carro, no caminho da escola, quando se assiste televisão ou quando se propõe suas interações com os avós, tios ou com seus amiguinhos. Outro elemento importante no estímulo é observar a criança o tempo todo e anotar seus progressos, mesmo os mais simples.Conservar uma ficha simples para cada inteligência e ir anotando resultados ajuda a compreender melhor a criança.O fascínio da aprendizagem não se manifesta pelo alcance de uma meta numérica, mas pela percepção do progresso, mesmo o mais modesto.Jamais compare o progresso de uma criança com o de outra.Nunca confunda velocidade na aprendizagem com inteligência.Andar mais cedo, resolver um problema mais depressa, falar com maior fluência, sensibilizar-se pelo som de uma música precocemente não é sinal de inteligência maior, reflete apenas heranças genéticas diferentes. 23 A aprendizagem na infância possui limitações impostas pela maturidade; por mais que a mãe insista, uma criança não aprenderá a andar antes que seus membros estejam prontos para suportá-la.Certas competências motoras, sensoriais e neurológicas devem estar biologicamente “prontas” antes que a aprendizagem a elas relacionada possa acontecer.A maturação, portanto, não depende da aprendizagem, mas constitui condição necessária para que a aprendizagem possa acontecer. Da mesma forma como desde o nascimento, a criança desenvolve diferentes formas de aprendizagem, também desenvolve diferentes tipos de memorizações.Assim como desenvolve a inteligência lingüística, lógicomatemática, espacial, musical e outras, desenvolve também formas específicas de memorização, cada uma dessas ligada a cada inteligência. A aprendizagem e a memória e, portanto, o estímulo às inteligências se processam através de estágios diferenciados.Para o psicólogo suíço Jean Piaget, o primeiro estágio do desenvolvimento cognitivo de uma criança é o estágio sensório-motor, um período em que os bebês aprendem sobre si mesmos e seu mundo através de seu próprio desenvolvimento sensorial e da atividade motora. Beauclair parte do princípio da psicopedagogia como um movimento de busca de respostas e alternativas à questão do aprender, tanto no plano psíquico como no cognitivo, criando o espaço multidisciplinar construtor de sua epistemologia e fundamentação.Onde o olhar se constrói na busca permanente da reflexão teórica e através das vivências e pesquisas cotidianas abertas aos novos paradigmas que apontam para a transdisciplinariedade e a complexidade.Não há como deixar de lado este aspecto: o psicopedagogo necessita deste constante movimento de olhar novos horizontes e caminhos para trilhar, para abrir espaços não só objetivos como também subjetivos, onde a autoria e a autonomia de pensamento seja uma concreta possibilidade. 24 Capítulo 3 A atuação da psicopedagogia com as Múltiplas Inteligências. As implicações da teoria de Gardner (1989) para a educação são claras quando se analisa a importância dada às diversas formas de pensamento, aos estágios de desenvolvimento das várias inteligências e à relação existente entre estes estágios, a aquisição de conhecimento e a cultura. A teoria de Gardner apresenta alternativas para algumas práticas educacionais atuais, oferecendo uma base para: o desenvolvimento de avaliações que sejam adequadas às diversas habilidades humanas(Gardner & Hatcch,1989;Blythe Gardner,1990), uma educação centrada na criança com currículos específicos para cada área do saber(Konhaber & Gardner,1989);Blythe & Gardner,1390) e um ambiente educacional mais amplo e variado, e que dependa menos do desenvolvimento exclusivo da linguagem e da lógica(Walters & Gardner,1985;Blythe & Gardner,1990). Quanto à avaliação, Gardner faz uma distinção entre avaliação e testagem. A avaliação, segundo ele, favorece métodos de levantamento de informações durante atividades do dia-a-dia, enquanto que testagem geralmente acontecem fora do ambiente conhecido do indivíduo sendo testado. Segundo Gardner é importante que se tire o maior proveito das habilidades individuais, auxiliando os estudantes a desenvolver suas capacidades intelectuais, e, para tanto, ao invés de usar a avaliação apenas como uma maneira de classificar, aprovar ou reprovar os alunos, esta deve ser usado para informar o aluno sobre a sua capacidade e informar o professor sobre o quanto está sendo aprendido. (Gardner,1989) Gardner sugere que a avaliação deve fazer jus à inteligência, isto é, deve dar crédito ao conteúdo da inteligência em teste. Se cada inteligência tem um certo número de processos específicos, esses processos têm que ser 25 medidos com instrumento que permitam ver a inteligência em questão em funcionamento. Para Gardner, a avaliação deve ser ainda ecologicamente válida, isto é, ela deve ser feita em ambientes conhecidos e deve utilizar materiais conhecidos das crianças avaliadas.Gardner também enfatiza a necessidade de avaliar as diferentes inteligências em termos de suas manifestações culturais e ocupações adultas específicas.Assim, a habilidade verbal, mesmo na pré-escola, ao invés de ser medida através de testes de vocabulário, definições ou semelhanças, deve ser avaliada em manifestações tais como a habilidade para contar histórias ou relatar acontecimentos.Ao invés de tentar avaliar a habilidade espacial isoladamente, devem-se observar as crianças durante uma atividade de desenho ou enquanto montam ou desmontam objetos. Finalmente, ele propõe a avaliação, ao invés de ser um produto do processo educativo, seja parte do processo educativo e do currículo, informando a todo o momento de que maneira o currículo deve se desenvolver. (Gardner, 1989). No que se refere à educação centrada na criança, Gardner levanta dois pontos importantes que sugerem a necessidade da individualização. O primeiro diz respeito ao fato de que, se os indivíduos têm perfis cognitivos tão diferentes uns dos outros, as escolas deveriam, ao invés de oferecer uma educação padronizada, tentar garantir que cada um recebesse a educação que favorecesse o seu potencial individual. O segundo ponto levantado por Gardner é igualmente importante: enquanto na Idade Média um indivíduo podia pretender tomar posse de todo o saber universal, hoje em dia essa tarefa é totalmente impossível, sendo bastante difícil o domínio de um só campo do saber. Assim, se há necessidade de se limitar à ênfase e a variedade de conteúdos, que essa limitação seja da escolha de cada um, favorecendo o perfil intelectual individual. 26 Quanto ao ambiente educacional, Gardner chama a atenção para o fato de que embora as escolas declarem que preparam seus alunos pare a vida, a vida certamente não se limita apenas a raciocínios verbais e lógicos. Ele propõe que as escolas favoreçam o conhecimento de diversas disciplinas básicas; que encorajem seus alunos a utilizar esse conhecimento para resolver problemas e efetuar tarefas que estejam relacionadas com a vida na comunidade a que pertencem; e que favoreçam o desenvolvimento de combinações intelectuais, a partir da avaliação regular do potencial de cada um. (Gardner, 1989) De acordo com Adriana Dias Eiras a Teoria das Inteligências Múltiplas fornece aos educadores recursos que podem aprimorar a sua atuação, na medida em que a identificação, o reconhecimento e o desenvolvimento das potencialidades dos educandos se liguem com o entendimento e a experimentação dos processos e conteúdos. Para isto, busca-se desde a infância, a integração das faculdades humanas; percebendo a criança como um todo, em vez de concentrar –se somente num aspecto. O ser humano é visto e tratado em suas múltiplas dimensões. Uma criança não é só musical ou corporal, ela é um todo em que se inter-relacionam as suas múltiplas facetas. O emprego dessa teoria possibilita a realização de várias ações diferenciadas, pois é por desta que é possível à compreensão e o atendimento das individualidades, mediante: A identificação e o reconhecimento das potencialidades e interesses dos alunos, o fornecimento de subsídios para a elaboração e aplicação de métodos e técnicas de aprendizagem considerando tanto os processos de aquisição do conhecimento quanto a sua adequação às características peculiares dos alunos e a viabilização e a exploração de múltiplos caminhos que estimulam o despertar e o desenvolvimento de diversos domínios das inteligências dos educandos, com o propósito de ampliar as possibilidades de construção do conhecimento. (Dias, Adriana Eiras) 27 Antes de agir, o educador deve refletir a respeito de sua prática, pois cabe a ele, quando estiver numa situação concreta, resolver ou tentar solucionar algumas questões. No momento atual, a cada dia e em diversos meios, deparamo-nos com discussões e debates acerca das questões sociais, políticas e econômicas.Os problemas atingem toda a população e, conseqüentemente, se faz presente à divergência de idéias a respeito dos encaminhamentos e condições que possam propiciar a prosperidade nacional. Segundo Marcelino (2003), nesse contexto, volta o discurso da educação como fator de desenvolvimento e condição para melhoria da qualidade de vida de todos os cidadãos.Nunca os problemas educacionais foram tão candentes, ao mesmo tempo tão latentes, e contaram com a participação efetiva da comunidade como atualmente.Os problemas no ensino deixaram de ser uma questão dos gabinetes ministeriais; de um lado, atingiram a dimensão do cotidiano, uma espécie de dimensão nacional-popular e, de outro, a relevância internacional diante do processo de globalização da economia e da crescente mobilidade do capital. A escola, no momento atual, deixa de ser vista enquanto organização racional e planificada que cumpre apenas objetivos burocráticos e passa a ser considerada enquanto organizações sociais, culturais e humanas, na qual podem ser tomadas importantes decisões educativas, curriculares e pedagógicas. Cada personagem presente no seu interior tem importância fundamental nas decisões a serem tomadas e tudo é construído através da participação efetiva na construção dos projetos a serem efetuados. Pais, alunos, professores, supervisores e diretores, dentre outros, compõem e fazem o cotidiano escolar acontecer. É na área curricular que encontra apoio a participação desse profissional na avaliação, seja no nível escolar, orientado a escola quanto à adequação de mecanismos de aprendizagem à sua realidade, seja no educacional, com a aplicação de instrumentos de análise de desempenho, a elaboração de 28 propostas para avaliação ou medidas que visem à melhoria do rendimento escolar. O desafio de assumir a atuação na área curricular como elemento de transformação da escola é que pode inseri-lo no seu terreno próprio, que é a escola, numa atuação conjunta com os professores. A intervenção do psicopedagogo no âmbito da escola deve se dar no sentido de estabelecer parceria com os professores, levando-se a cabo um processo de capacitação permanente de caráter técnico-político. Lourdes Marcelino (2003-p. 16) advoga a totalidade destes dois aspectos, pois são inseparáveis e inegáveis no processo educativo: “... pode-se concluir que de qualquer prisma que se enfoque a questão da função da educação, esta se apresenta com função técnico-política”. É dentro dessa indissociável ótica técnico-política que se torna possível uma intervenção na escola, articulando e avaliando uma proposta conjunta. Segundo Marcelino (2003-p. 27), muito embora a prática seja o que caracteriza o cotidiano do ser humano, o agir traz em si o conhecimento, como instrumental que se origina na acumulação histórica e modifica as formas práticas de atuação do próprio homem respeitando e aprimorando suas aptidões.Os erros cometidos em relação à afinidade entre conhecimento e prática foram, segundo o autor, o metafísico e o cientista: “Mesmo quando se está diante de um objeto puramente material, a sua essência como conjunto de características mais ou menos fixas, só tem sentido enquanto capacidade de uma forma de atividade. O erro metafísico consistiu exatamente em privilegiar a fixidez dessas características em detrimento de sua potencialidade ativa.Já o equívoco 29 da visão cientificista foi pensar que a ação se desenvolve de modo puramente mecanicista.” A educação tem umas funções sociais, que é operar transformações na sociedade, através da distribuição democrática de conhecimentos, de bens culturais. Ela será tanto mais democrática quanto maior for a participação do aluno na produção desses bens. Segundo Marcelino (2003) o psicopedagogo pode tornasse importante elo de ligação entre o projeto pedagógico da escola e o projeto político da educação. Segundo Marcelino (2003) há carência de administradores e supervisores com visões ampla e profunda sobre A teoria das Múltiplas Inteligências, que implicam obrigatoriamente vivência tanto no nível de docência como no de administração e supervisão. São imprescindíveis profissionais comprometidos com a causa educacionais brasileiras, que, além de sólidos conhecimentos sobre administração e supervisão, estejam abertos para as descobertas, isto é, longe de se apresentarem prontos e acabados, tenham uma atitude de busca permanente. Segundo Beauclair é no campo específico desta ação construtiva que o psicopedagogo pode ver os problemas que dificultam a aprendizagem. As habilidades e competências que devem estar presentes no trabalho psicopedagógico precisam ser vinculadas à compreensão do par dialético proposto por Fernandéz (1990) entre o desejo e o não desejo de aprender, ou seja, é preciso instrumentalização e pesquisas constantes para que se compreenda como tal processo ocorre e de que modo pode-se intervir em sua trajetória e rumo. 30 De acordo com Gonçalves (2002): “as relações com o conhecimento,a vinculação com a aprendizagem,as significações contidas no ato de aprender, são estudados pela psicopedagogia a fim de que possa contribuir para análise e reformulação de práticas educativas e para a ressignificação de atitudes subjetivas.” Em tempos de reconfiguração de paradigmas, pensar nos processos de autoria do pensamento nos remete a uma compreensão do sujeito que aprende, ocupação a que tem se dedicado a psicopedagogia, que entende a inteligência não como ponto principal, mas sim a articulação entre inteligência e desejo, entre organismo e corpo, numa relação de alteridade, terreno onde se constitui o ensino e a aprendizagem, onde ocorre a “ensinagem”. É preciso que, ao se pensar na construção de processos teóricos voltados à pratica psicopedagógica, considerarmos que: “ somos pescadores e nossas teorias são como redes.E não deixamos de lado de bom grado as redes com as quais algumas vezes pescamos pelo mero fato de que não servem para certos peixes ou em determinados mares,mas continuamente inventamos e tecemos novas redes e distintas e as lançamos à água, para ver o que pescamos com elas.Não desprezamos rede alguma e em nenhuma confiamos excessivamente,ainda que prefiramos carregar o barco com as redes mais eficazes e deixar no porto as de menos uso.E assim, vamos 31 navegando,renovando continuamente nosso arsenal de redes em função das características da pesca.”(BEAUCLAIR,2004,p. 49) Assim, o aprender e o fazer teoria em psicopedagogia é antes de qualquer coisa, exercer a autonomia como elemento que faça germinar perguntas, baseando-se no risco da criatividade e na capacidade de descobrirmos o sentido presente no ato de não-conhecer.Enquanto sujeitos, somos capazes de nos assumirmos como incompletos e, assim, nos aventurarmos na busca prazerosa de construirmos conhecimentos, de encontrarmos outras explicações para os fenômenos da vida. Perceber o aprendizado como processo, no nosso tempo presente, requer a superação de um grande desafio: saber situar-se num contexto com excesso de informação e permanente produção. É inevitável, ao assim fazer, também destacar as muitas e distintas formas de aprender: cada aprendente constrói seu próprio caminho, apenas seu, pois são muitos os modos, são diversos os modos de trilhá-los. 32 CONCLUSÃO Pode-se observar durante esses meses de pesquisa e estudo a importância que deve ser dada e respeitada ao aluno no que se refere ao seu potencial, que é único e pessoal. Ao fazer a pesquisa de campo com a psicopedagoga Vera Simões orientadora educacional do Colégio Servita pode-se perceber que o que ela conceitua como inteligência está bem próximo do que Gardner pensava, pois acredita que inteligência é destreza mental; habilidades; formação de idéias e que é aí que o ser humano se destaca dos outros seres vivos, pela capacidade de pensar e de atuar em diferentes áreas intelectuais.A formação das idéias, o juízo e o raciocínio são comumente mencionados como seus principais atos principais. Ela explica também que os cérebros humanos, guardando-se as devidas proporções, são mais ou menos como a mão esquerda de uma pessoa destra, que é inábil para uma série de tarefas que a mão direita realiza com extrema facilidade.Mas a eventualidade de uma fratura e a imposição do uso da mão esquerda despertarão suas competências e, pouco a pouco, constituirão capacidades que antes se acreditava impossível.A idéias vale para a mente humana: se estimularmos com exercícios coerentes e planejamentos adequados nossa memória, criatividade, atenção, capacidade de pensar, sensibilidade tátil, capacidade sonora e inúmeros outros elementos, estaremos acordando o saber mental que é a matéria prima para o despertar de uma inteligência. O emprego da Teoria das Inteligências Múltiplas possibilita e fornece aos educadores recursos que podem aprimorar a sua atuação, na medida em que a identificação, o reconhecimento e o desenvolvimento das potencialidades dos educandos se liguem com o entendimento e a experimentação dos processos e conteúdos. 33 Para isto, busca-se desde a infância, a integração das faculdades humanas; percebendo a criança como um todo, em vez de concentrar-se somente num aspecto.O ser humano é visto e tratado em suas múltiplas dimensões.Uma criança não é só corporal ou musical, ela é um todo em que se inter-relacionam as suas múltiplas facetas, por isso é importante a proposta de Gardner (1999) quando ele propõe uma nova compreensão das competências humanas, sua teoria está fundamentada na pluridimensionalidade da inteligência. O emprego da Teoria das Inteligências Múltiplas possibilita a realização de uma ação psicomotora diferenciada e faz com que as competências sejam desenvolvidas em sala de aula, pois por meio daquela compreensão e o atendimento as individualidades é possível à viabilização e a exploração de múltiplos caminhos que estimulam o despertar e o desenvolvimento de diversos domínios das inteligências dos educandos, com o propósito de ampliar as possibilidades de construção do conhecimento. O psicopedagogo deve fornecer subsídios para a elaboração e aplicação de métodos e técnicas de aprendizagem junto ao professor considerando tanto os aspectos de aquisição do conhecimento quanto a sua adequação às características peculiares dos alunos. Como seria possível incentivar um aluno a se interessar por uma matéria que não gosta? A educação se insere no cenário com o objetivo de penetrar no processo criativo de construção e expressão do movimento, do conhecimento e da personalidade do educando, considerando suas peculiaridades e procurando atuar na sua formação. E, em sua perspectiva metodológica, essa busca concebe recursos e estratégias de ensino que propiciem desenvolver as potencialidades dos educandos, percebendo e lidando com suas diferenças, desenvolvendo a autonomia, a cooperação, a participação social e a afirmação de valores e princípios democráticos. O educando é um ser criativo e possuidor de múltiplas inteligências, capaz de construir seu conhecimento a partir da interação com o meio, avançando progressivamente de estruturas cognitivas elementares para novas e mais complexas; já o docente deve ser facilitador e 34 desafiador. O educador desafiador deve auxiliar o aluno a avançar em seu conhecimento individual e na consciência de si e do mundo.Ele tem como tarefa interagir com o aluno criando propostas adequadas ao estágio de desenvolvimento deste, às vezes, propondo atividades um pouco acima de sua capacidade (Vygotsky, Oliveira, 1995, e Rego, 1985), porém em sintonia com suas motivações e interesses. O conhecimento ocorre pela construção contínua e ativa do aluno.O seu desenvolvimento é feito por estágios e na passagem de um estágio para outro são formadas novas estruturas cognitivas; o ensino é centralizado na interação do indivíduo com o meio e a aprendizagem é uma atividade de inventar e descobrir; busca-se valorizar as experiências vividas e significativas para o educando; as atividades propostas são centralizadas no grupo e ora atendem às individualidades, ora são realizadas livremente ora direcionadas.A dialética do individual e do universal se faz presente do acordo com as oportunidades efetivamente oferecidas pelo facilitador, para que os educandos possam desenvolver as suas potencialidades e adquirir uma melhor formação. Como seria a avaliação dentro desses novos parâmetros das “Inteligências Múltiplas?” A avaliação será por meio de um processo contínuo que ocorrerá durante o desdobramento das atividades.A avaliação se baseia não só no que os alunos são capazes de realizar sem ajuda, mas também com o auxílio de adultos e colegas mais experientes.A avaliação tem um caráter de diagnóstico, possibilitando detectar os erros construtos do desenvolvimento do aluno e, considerando seus erros construtivos, os avanços efetuados no sentido de reestruturar o planejamento do trabalho efetuado nessa proposta. O benefício que pode trazer para os alunos deve ser a principal preocupação do avaliador.O importante é servir os alunos e ajudá-los a melhorar as suas vidas. Por isso, de acordo com Kátia Stocco, a Teoria das Inteligências Múltiplas renega a possibilidade de avaliação pelos métodos convencionais, principalmente com os famosos testes de Q. I (quoeficiente de inteligência). É que eles mediram apenas as manifestações das competências lógicomatemático e lingüística, não dando conta de avaliar todo o espectro da 35 inteligência. Diversificando as atividades para integrar as inteligências, você dá oportunidades ao aluno de olhar várias vezes uma mesma idéia. 36 ANEXO 37 38 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - ANTUNES, Celso; Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. 2005.Editora: Vozes. - BEAUCLAIR, João; Trabalhando competências, criando habilidades.Editora: Wak,Rio de Janeiro,2004. -DIAS, Adriana; Criando e Interagindo de Múltiplas Formas na Educação Infantil: Uma proposta de trabalho em Educação, 2001. -FERNÁNDEZ, Alicia.O saber em jogo: a psicopedagogia possibilitando autorias de pensamento.Editora: Artmed, Porto Alegre, 2001. -GARDNER, H; A Teoria das Inteligências Múltiplas e suas implicações para Educação.São Francisco, 1982. - MARCELINO, Lourdes Machado; Administração & Supervisão Escolar, 2003. - STOCCO, Kátia, Revista Nova Escola & Dissertação da Mestra em Matemática, 1997. 40 ÍNDICE INTRODUÇÃO 07 CAPÍTULO I 09 INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS 08 1.1 – As inteligências 15 1.1.1 – Inteligência lingüística 15 1.1.2 – Inteligência musical 15 1.1.3 – Inteligência lógico-matemática 15 1.1.4 – Inteligência espacial 15 1.1.5 – Inteligência cinestésica 16 1.1.6 – Inteligência interpessoal 16 1.1.7- Inteligência intrapessoal 17 CAPÍTULO II 20 A INTELIGÊNCIA E O DESENVOLVIMENTO HUMANO CAPÍTULO III 24 A ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO COM AS MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS CONCLUSÃO 32 ANEXOS 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 39 ÍNDICE 40 FOLHA DE APROVAÇÃO 41