1 O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO COMO FERRAMENTA PARA DISCUSSÕES SOBRE O PLANEJAMENTO ESCOLAR NO ÂMBITO DO PIBID-BIOLOGIA-UFT-ARAGUAÍNA Eduardo Libanio Reis Santos, PIBID-Biologia, UFT – Campus de Araguaína -TO Railane de Jesus Arruda, PIBID-Biologia, UFT – Campus de Araguaína -TO Milena Alves dos Santos, PIBID-Biologia, UFT – Campus de Araguaína -TO José Luiz Oliveira Franco, professor supervisor, PIBID-Biologia - Araguaína -TO Compreendemos o Projeto Político Pedagógico (PPP) como princípio orientador das ações educativas anuais. Suas proposições refletem as intencionalidades da comunidade escolar acerca do cidadão que se pretende formar. Nesse sentido, a análise do PPP faz parte de um rol de atividades relacionadas à formação para a docência que vem sendo desenvolvidas pelo subprojeto Biologia da UFT – Campus Araguaína, no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID. O objetivo do presente trabalho é apresentar discussões relacionadas ao planejamento escolar, destacando os aspectos pedagógicos e administrativos suscitados a partir da análise do PPP da escola-parceira e das concepções dos professores sobre planejamento. A pesquisa foi desenvolvida nos moldes da abordagem qualitativa a partir de dois eixos de análise: 1) compreensão da estrutura organizativa do documento na apresentação das propostas didático-pedagógicas; 2) compreensão de planejamento dos professores da escola-parceira. Utilizamos como instrumento para construção dos dados um questionário-exploratório, aplicado aos professores para evidenciarmos suas concepções sobre planejamento e a relação com suas práticas pedagógicas. Além do questionário, foram consultadas bibliografias sobre o planejamento escolar que serviram de base teórica para as análises e discussões. A partir da análise do PPP, evidenciamos que os projetos e ações mencionados no documento, não estavam anexados e nem explicitavam seus objetivos com a proposta, o que dificultou nossa compreensão sobre as atividades. Com relação às concepções dos professores sobre planejamento, identificamos preocupações relacionadas as dificuldades que os mesmos encontram em desenvolver as ações apresentadas no PPP, o que denota a incompreensão do mesmo enquanto movimento reflexivo-ativo advindo das avaliações das atividades desenvolvidas na comunidade escolar durante o ano letivo. As discussões suscitadas por meio deste trabalho de pesquisa, contribuíram significativamente para re-significar a importância do PPP e do planejamento enquanto necessidade e possibilidade de intervenção e mudança da realidade. Acreditamos que o grupo PIBID-Biologia UFT-Araguaína também tenha contribuído com o processo avaliativo da referida proposta ao identificar pontos importantes que deverão ser discutidos pela comunidade escolar quando da (re)elaboração das ações para o ano seguinte. Palavras-Chave: PPP; Planejamento; PIBID; Biologia; Formação de Professores 2 Introdução Este trabalho é parte de um rol de atividades que estão sendo desenvolvidas no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID - Biologia – UFT- Araguaína, em parceria com o Colégio Estadual Adolfo Bezerra de Menezes. Com apoio financeiro da CAPES, participam diretamente do referido projeto dez acadêmicos do curso de Biologia, dois professores em exercício (escola-parceira) e a professora orientadora (UFT-Araguaína). O projeto PIBID-Biologia, foi planejado para ser desenvolvido em três etapas principais: etapa 1) Observação Geral da Rotina Escolar; etapa 2) Etapa: Análise da Proposta Curricular dos Professores Regentes; etapa 3) Intervenção propriamente dita. É importante ressaltar que essas etapas não são rígidas podem se modificadas conforme as avaliações que realizamos a cada etapa de trabalho, lembrando ainda que toda etapa comporta certa intervenção. A análise do Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola-parceira é uma das atividades da primeira etapa do planejamento. Nessa etapa, buscamos apresentar propostas de intervenção contextualizadas, ou seja, com base nas problematizações advindas das observações e análises do cotidiano escolar. Segundo Vasconcellos (2000), “Planejar é antecipar mentalmente uma ação ou um conjunto de ações a ser realizadas e agir de acordo com o previsto. Planejar não é, pois, apenas algo que se faz antes de agir, mas é também agir em função daquilo que se pensa.” (p.79). O Projeto Político Pedagógico O PPP tem sido alvo de significativas reflexões e discussões no âmbito educacional, isso é verificável em muitas abordagens que denotam sua importância para orientar a qualidade do ensino escolar. Contudo, muitas dessas abordagens delineiam a ausência de significação, intencionalidade e fundamentalmente uma construção coletiva nesse projeto. Nesse contexto, há que se compreenderem as problemáticas que imperam no cotidiano escolar, isto é, procurar estudar todos os fatores contrariantes ao projeto e as ações de educação como um todo. A instituição de ensino deve elaborar e direcionar os seus projetos e suas ações voltadas para a comunidade escolar. Isso é garantido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9394/96). No entanto, a responsabilidade de atender as necessidades e prioridades dessa comunidade, em todos os seus aspectos, é de cada escola. Desse modo, na LDBEN (9394/96) nos Artigos 12, incisos I, III e V; e Artigo 3 13, incisos I, II, IV e V, apresentam claramente questões relacionadas à elaboração do PPP, associadas ao direito à educação, como podemos notar a seguir: Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento; V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; (BRASIL, 1996). No entanto cabe ressaltar que a exigência apresentada na LDBEN (9.394/96) não deve ser considerada como uma proposta burocrática e sim em uma perspectiva democrática e libertadora. De acordo com Vasconcellos (2006), o PPP é projeto contínuo da escola, o qual, contem quais serão os passos a se tomar na prática educativa e o que ela visa alcançar: O projeto político pedagógico (ou projeto educativo) é o plano global da instituição. Pode ser entendido como a sistematização, nunca definitiva, de um processo de planejamento participativo, que se aperfeiçoa e se concretiza na caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar. É um instrumento teórico-metodológico para a intervenção e mudança da realidade. (1956, p.169) Assim, no projeto deve estar de forma sistêmica-estruturada tanto a teoria, como também como se dará a metodologia que escola desenvolverá no seu dia-a-dia na ação educativa. Outro ponto que destacamos é que, a construção do PPP, segundo Veiga (1995) parte dos princípios de igualdade, qualidade, liberdade, gestão democrática e valorização do magistério, sendo necessário decidir, coletivamente a estrutura organizacional para atingir a almejada cidadania, vale ainda acrescentar que: A escola é um lugar de concepções, realização e avaliação do seu próprio projeto educativo, uma vez que necessita organizar seu trabalho pedagógico com base em seus alunos. Nessa perspectiva, é fundamental que ela assuma suas responsabilidades, sem esperar que as esferas administrativas superiores tomem essa iniciativa, mas que lhe doem as condições necessárias para levála adiante. Para tanto, é importante que se fortaleçam as condições entre escola e sistema de ensino (VEIGA, 1995, p.11). A escola é um ambiente autônomo com o dever de viabilizar a construção do PPP coletivamente. Nessa visão os indivíduos inerentes a instituição precisam participar dessa construção recorrendo a um adequado referencial constando uma teoria crítica 4 viável que subsidie esse projeto e esteja ligado aos interesses da maioria da população. É necessário também o domínio das bases teórico-metodológicas indispensáveis à concretização das concepções assumidas coletivamente (VEIGA, 1995). O PPP é um instrumento que faz parte da instituição de ensino. Para provocar a reflexão e explicitar as concepções teóricas e as diretrizes para ações da educação. É uma proposta pedagógica que tem a finalidade de orientar a elaboração dos projetos que serão desenvolvidos durante o ano letivo, por isso, é necessária a avaliação de desempenho numa perspectiva contínua. Ainda nessa discussão sobre PPP, Veiga (1995) assiná-la que: “para que a construção do projeto político-pedagógico seja possível é necessário propiciar situações aos professores, equipe escolar e funcionários, que lhes permitam aprender a pensar e realizar o fazer pedagógico de forma coerente, portanto não é necessário convencer a trabalhar mais, ou mobilizá-los de forma espontânea. Assim, o objetivo do presente trabalho é apresentar discussões relacionadas ao planejamento escolar, destacando os aspectos pedagógicos e administrativos suscitados a partir da análise do PPP da escola-parceira e das concepções dos professores sobre planejamento. A pesquisa foi desenvolvida nos moldes da abordagem qualitativa a partir de dois eixos de análise: 1) compreensão da estrutura organizativa do documento na apresentação das propostas didático-pedagógicas; 2) compreensão de planejamento dos professores da escola-parceira. Metodologia O presente trabalho é resultante de uma das etapas das atividades desenvolvidas no âmbito do PIBID-Biologia-UFT-Araguaína. Essa etapa trata-se da análise do PPP da escola-parceira e das concepções dos professores sobre planejamento. Para a análise do PPP nos amparamos nas bases metodológicas da pesquisa documental, que de acordo com VEIGA (1995), este estudo tem como objetivo refletir acerca da construção do projeto políticos pedagógico, sendo que o mesmo é entendido com a própria organização do trabalho didático da escola. A pesquisa foi desenvolvida nos moldes da abordagem qualitativa a partir de dois eixos de análise: 1) compreensão da estrutura organizativa do documento na apresentação das propostas didático-pedagógicas; 2) compreensão de planejamento dos professores da escola-parceira. Para identificar as concepções dos professores, 5 utilizamos como instrumento um questionário-exploratório, para evidenciarmos suas concepções sobre planejamento e a relação com suas práticas pedagógicas. Os questionários foram analisados de acordo com a análise categorial de Bardin (2008), que baseia-se em operações de desmembramento do texto (no caso, das respostas) em unidades, ou seja, descobrir os diferentes núcleos de sentido que constituem a comunicação, e posteriormente, realizar o seu reagrupamento em classes, categorias ou temas. O tema é geralmente utilizado como unidade de registro para estudar motivações de opiniões, de atitudes, valores, de crenças, etc. Além do questionário, foram consultadas bibliografias sobre o planejamento escolar que serviram de base teórica para as análises e discussões. Resultados e Discussões Na primeira etapa de análise, identificamos no PPP (TOCANTINS, 2014) que o mesmo apresenta as seguintes subdivisões: Identificação de Unidade Escolar (aspectos legais); Justificativa; Visão Estratégica; Dimensões Jurídicas; Dimensões Administrativas; Dimensão Pedagógica; Fundamentos da dimensão financeira; Avaliação do PPP; Referências; Anexos: Plano de suportes estratégico – Plano de ação/2014; Plano de gestão escolar/2014; Plano de ação da coordenação pedagógica/2014; Projeto pedagógico – Educação de jovens e adultos; Projetos saúde e prevenção nas escolas; Projeto tecendo a paz. De acordo com o documento da escola-parceira (TOCANTINS, 2014), a dimensão pedagógica é fundamentada no sociointeracionismo, “que por sua vez estão defendidos nos pressupostos de Paulo Freire, Vygotsky, Howard Gardner” (p. 21). Segundo o documento, para Vygotsky e Gardner aprendemos de forma diferentes, portanto qualquer processo de ensino e aprendizagem precisa considerar estas conclusões, compreendendo que só é possível alcançar plenamente o conhecimento através de práticas que valorizem todos os sentidos. Ainda de acordo com o documento, as ideias freireanas servem como orientação para o processo de formação docente no que se refere à reflexão crítica da prática pedagógica que implica em dialogar e escutar, que supõe o respeito pelo saber do educando e reconhece a identidade cultural do outro. A partir do supramencionado, cabe questionarmos se as práticas pedagógicas do corpo docente da escola-parceira de fato são baseadas nos pressupostos teóricos de Freire, Vigotsky e Gardiner. Além disso, cabe mencionar que ambos autores apresentam 6 especificidades em suas teorias que nem sempre são dialogáveis, por exemplo quando buscamos o conceito de “construção do conhecimento” em Vigotsky, Gardner e Freire. Vygotsky define a cultura como uma espécie de palco de negociações. Seus membros estão num constante movimento de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significados. Nesta visão os sujeitos devem ser observados no conjunto de sua atuação coletiva e individual para que se valorizem todos os esforços desprendidos em busca de uma qualidade educacional. Além de Vygotsky e Gardner, as abordagens pedagógicas de Paulo Freire contribuem significativamente para a reflexão do homem e seu compromisso com a sociedade. Nesse sentido, as ideias freireanas servem como orientação para o processo de formação docente no que se refere à reflexão crítica da prática pedagógica que implica em saber dialogar e escutar, que supõe o respeito pelo saber do educando e reconhece a identidade cultural do outro (TOCANTINS, 2014). Dentre essas concepções de coletividade a escola tem um trabalho voltado para uma sociedade culturalmente, diversificada e democrática. Nesta perspectiva, as metodologias de ensino empregadas pelos educadores de acordo com o PPP (TOCANTINS, 2014), têm fundamentação científica, mas também com valorização dos conhecimentos baseados na experiência. No entanto não explicita claramente o que seria a “valorização” dos conhecimentos experienciais. Por meio de indicadores, que são realizados anualmente, o trabalho pedagógico tem atingido seus objetivos no desempenho do aluno e avaliação da prática docente. De acordo com o PPP (TOCANTINS, 2014), através dos indicadores, o trabalho de cada professor voltar-se-á para ações que oportunizem a cada aluno o desenvolvimento de competências e habilidades necessárias ao seu sucesso acadêmico. Nesse sentido cabe questionarmos: o documento não estaria valorizando a formação do educando para o vestibular? E a formação cidadã? Com ênfase no atendimento voltado para a qualidade da aprendizagem, o PPP (TOCANTINS, 2014) explicita que a escola estará aberta a atender os discentes que se enquadrarem nas exigências da Educação Inclusiva. Para atender este anseio, as atividades docentes direcionadas a estes receberão apoio pedagógico dentro das exigências educacionais. Dispondo de uma equipe preparada para acompanhar esses alunos no processo de desenvolvimento. Não cabe realizarmos nenhuma análise além do referido documento, mas para refletirmos sobre a Educação Inclusiva é importante destacar que mesmo diante de Cursos de Formação de Gestores e Educadores, como 7 apresenta o PPP (TOCANTINS, 2014), há um déficit de equipes qualificadas para trabalhar com educandos com necessidades especiais. Quando o documento (TOCANTINS, 2014) apresenta elementos sobre “Tratamento de aos temas transversais” aponta a importância de contemplar questões sociais no currículo escolar. Seguindo o que aponta os Parâmetros Curriculares Nacionais (1999), os temas transversais são trabalhados em diversas áreas de conhecimento como: Ética, Pluralidade Cultural, Meio ambiente, Saúde, Orientação sexual, Trabalho e Consumo. O documento explicita ainda o papel do professor de buscar atribuições que possam contribuir com o ensino dos alunos. Como o mesmo é mediador dos seus conhecimentos, ele irá usar de ferramentas para que os alunos possam pensar, questionar e aprender a ler a nossa realidade, para que possam contribuir com opiniões próprias. Se o docente se compromete com o desenvolvimento dos discentes, por sua vez, terão a consolidação do ensino-aprendizagem (TOCANTINS, 2014). O PPP (TOCANTINS, 2014) ao caracterizar o corpo discente, frente a aplicação de questionários e entrevistas evidenciou que os mesmos são em sua maioria oriundos de famílias desestruturadas com baixo poder aquisitivo, ainda acrescenta que os pais dos mesmos apresentam um nível baixo de cultura por não terem concluído no mínimo o ensino fundamental. Mas o que o documento compreende por nível cultural? Seria o conhecimento sistematizado? Ainda de acordo com o referido documento (2014) boa parte dos alunos de Ensino Médio e da EJA são oriundos de famílias de baixa renda, não possuem crescimento socioeconômico, e por sua vez muitos saem da escola em busca de sobrevivência, assim deixando de lado o aprendizado (evasão) que poderiam conquistar no âmbito escolar e possivelmente um progresso social. Nota-se, como afirma Cortella (2011) a noção ingenuamente otimista de que a escola é uma estrutura à parte da sociedade, capaz de reconstruí-la por meio de seus resultados. Assim, uma discussão sobre o papel social da escola em uma perspectiva crítica requer inicialmente compreendê-la como um dos eixos complementares para a “reconstrução social”. No que diz respeito ao tratamento dos resultados educacionais, o documento explicita que há um acompanhamento sistemático no qual verificam a prática dos professores de como os alunos compreendem os conteúdos ministrados, dessa forma acreditam no sucesso da instituição quando não há evasão e sim rendimento na aprendizagem. 8 A partir do objetivo de conhecer a prática pedagógica dos professores, o questionário exploratório procurou compreender as concepções dos professores sobre planejamento e as características gerais do perfil profissional, tais como: faixa etária; experiência profissional; formação acadêmica e extracurricular. Dentre os nove professores que responderam ao questionário, 5 são do sexo feminino, 7 professores com idade entre 36 e 46 anos, e dois entre 47 e 57 anos. Os professores foram identificados de P1 a P9, onde P quer dizer professor e o número representa o questionário que o mesmo respondeu. Em vista a importância em ressaltar a formação dos professores participantes da investigação (Conferir Anexo, Quadro 01) dados referentes a essa elucidação. Como explicitado no Quadro 1, os docentes respondentes ao questionário são formados em Biologia, Geografia História, Letras, Matemática e Pedagogia, quatro deles fizeram sua graduação na Universidade do Estado do Tocantins - UNITINS. Grande parte dos docentes possuem especialização em diferentes áreas, quase todos são efetivos exceto P7 professor temporário. Em sua maioria possuem mais de 10 anos de experiência na profissão docente. Um dos professores possui formação específica em uma área diferente da área em que atua. Esse fato nos remete a questionarmos: a falta de habilitação na área em que leciona não poderia causar o prejuízo no ensino? Além disso, nos leva a outro problema relacionado ao déficit de professores que atuam na área de ensino de Ciências: Química, Física, Matemática e Biologia. Quando questionados sobre o significado do planejamento identificamos três categorias a partir das colocações dos professores: 1) Organização Pessoal: o planejamento parte de uma ação ideológica baseado em suas próprias percepções, como explicita P7: “O Planejamento significa a organização das aulas semanais. Além disso, facilita meu trabalho”. Assim essas concepções fazem sentido nas palavras de Vasconcellos “Nesta medida, o planejamento pode ser, pois, uma forma de organizar o pensamento do professor tendo em vista a pratica pedagógica. Planejando e avaliando, poderá ir se aproximando de uma forma mais apropriada de trabalho” (VASCONCELLOS, 2006, p. 48). 2) Organização coletiva: o planejamento é visto como uma prática pedagógica que deve ser socializada. Tem-se um conceito de socialização entre os professores voltada para a interdisciplinaridade no planejamento, como podemos observar na fala do P8 “O planejamento é um momento necessário e importante para a prática docente, pois são estas oito horas que temos para organizar, 9 planejar e estudar os conteúdos que são ministrados. E é neste encontro ainda, que podemos socializar com os colegas metodologias necessárias para uma boa aula.” 3) Foco nos Educandos: planejamento focando os anseios e a realidade dos alunos. Nesta categoria, partimos do pressuposto de Freire “Não existe docência sem discência. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (FREIRE, 2002, p. 23). Neste sentido, o planejamento para ter um significado é necessário haver uma ação por parte do docente de acordo com a realidade do discente. Então o plano de ensino deve ser criado, analisado e aprovado em conjunto por professores e alunos. O aluno precisa ser o sujeito deste trabalho, para que assuma a responsabilidade das atividades juntamente com o professor. Quando questionados sobre a relevância do PPP para a escola, todos disseram que o mesmo é importante, pois orienta as atividades a serem desenvolvidas na escola. Alguns expressaram a relação do PPP com a melhoria do processo de ensinoaprendizagem, das atividades de ensino e realização de projetos como podemos observar nas falas: P2 “É importante, para a reflexão sobre a prática pedagógica”, para P5 “Através dele criamos e desenvolvemos ações para melhorar o ensino e aprendizagem dos alunos” e, P6 “A relevância do PPP para a escola é justificado pela articulação entre as ações constantes neste e o planejamento de aulas. Os professores empregam o PPP como parâmetro para a realização dos projetos educacionais”. O planejamento parte de várias ações, não existe um conceito formado, visto que sua complexidade é enorme, pois está em torno do planejamento, gera múltiplas ações, no qual o professor além dos conhecimentos científicos de determinada área, necessita conhecer a realidade do aluno, visando a reformação de cidadãos. Considerações Finais O PPP é de suma importância para a escola, pois é a base do sucesso da unidade escolar, é fruto da interação entre os objetivos e prioridades estabelecidas pela comunidade escolar, que estabelece, através da reflexão, as ações necessárias a construção de uma nova realidade. E, antes de tudo um trabalho, que exige comprometimento de todos os envolvidos no processo educativo: professores, equipe gestora, alunos, pais e a comunidade como um todo. Dessa forma, o PPP não deve se restringir, em termos de formulação, a um pequeno grupo de gestores. Deve-se ter consciência que um passo inicial para a escola alcançar seus objetivos é todos os circundantes do âmbito escolar o elaborarem, pois se 10 há troca de ideias e opiniões entre estes na sua formulação, com certeza há também troca de conhecimentos sobre a realidade que vivenciam diariamente. E isto é essencial para o elaborarem de fato explicitando a sua dimensão administrativa e pedagógica. A partir da análise do PPP (TOCANTINS, 2014), evidenciamos que os projetos e ações mencionados no documento, não estavam anexados e nem explicitavam seus objetivos com a proposta, o que dificultou nossa compreensão sobre as atividades. Com relação às concepções dos professores sobre planejamento, identificamos preocupações relacionadas as dificuldades que os mesmos encontram em desenvolver as ações apresentadas no PPP, o que denota a incompreensão do mesmo enquanto movimento reflexivo-ativo advindo das avaliações das atividades desenvolvidas na comunidade escolar durante o ano letivo. Nesse sentido, compreendemos que o processo de ensino-aprendizagem se dá em um planejamento amplo, PPP, e planejamento didático-pedagógico de cada docente. Pois se é o professor o mais próximo do aluno, isto é, no sentido de que estar na sala de aula mediando conhecimento e visando a aprendizagem dos mesmos, previamente planejar a metodologia e os conteúdos da aula é uma tarefa que deve ter sentido no que diz respeito a conhecer a necessidade e a singularidade de cada aluno. Sendo assim, o PPP não deve ser visto só como um documento a ser cumprido, deve ser encarado como o facilitador do procedimento educativo e ser um eixo orientador da prática passando anualmente por avaliações. Referências Bibliográficas BRASIL, MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.9394/1996. CORTELLA, M. S. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos. 14 ed. São Paulo: Cortez, 2011. FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005, 42.ª edição. TOCANTINS. Projeto Político Pedagógico do Colégio Estadual Adolfo Bezerra de Menezes. Araguaína – Tocantins, 2014. VASCONCELLOS, C. dos S. Planejamento: Projeto de ensino-aprendizagem e projeto político-pedagógico. São Paulo: Libertad Editora, 2006. VEIGA, I. P. A. Projeto Político-Pedagógico da Escola: Uma construção possível. Campinas, SP: Papirus, 1995. 11 Anexos Anexo 1: Quadro 01: Formação inicial e continuada dos professores participantes da pesquisa Prof. Graduação – IES* Ano Conclusão Disciplina Ministrada Pós graduação – Área Exercício da Docência P1 Pedagogia – UNITINS 2002 Matemática Especialização Metodologia Ensino de Matemática 27 anos P2 História UNITINS 1997 História, Filosofia e Sociologia Especialização - História do Brasil 14 anos P3 Geografia UNITINS 2004 Química Especialização -Geografia Urbana 20 anos P4 Biologia UNIESELVE 2010 Ciências, Biologia e Filosofia Especialização - Gestão em Ambiente 10 anos P5 MatemáticaUNITINS 1998 Matemática Língua Portuguesa Letras Língua P7** 2009 UFT Portuguesa Língua P8 *** 2006 Portuguesa História, P9 UFT 2000 Filosofia e Sociologia * Instituto de Ensino Superior que o docente graduou-se ** Contrato temporário *** Não especificou P6 Letras – UFT 1998 Especialização – Educação Matemática (em andamento) Especialização Supervisão Educacional Especialização -Estudos Literários 19 anos 22 anos *** *** 3 anos *** 13 meses