Instituto Babcock para Pesquisa e Desenvolvimento da Pecuária Leiteira Internacional Essenciais em Gado de Leite University of Wisconsin-Madison 20) SECREÇÃO DO LEITE NO ÚBERE DA VACA DE LEITE Michel A. Wattiaux Babcock Institute ESTRUTURA DA GLÂNDULA MAMÁRIA O úbere de uma vaca é um órgão designado à produção de leite e oferecimento ao bezerro recém-nascido de um fácil acesso ao leite de sua mãe. Ele está suspenso externamente à parede posterior do abdômen e portanto não está restrito, apoiado ou protegido por nenhuma estrutura óssea. O úbere de uma vaca é composto por quatro glândulas mamárias ou quartos. Cada quarto é uma entidade funcional própria que opera independentemente e secreta o leite por seu próprio teto. Geralmente, os quartos traseiros são levemente mais desenvolvidos e produzem mais leite (60%) do que os quartos dianteiros (40%). Os p r incipais componentes do úbere estão listados aqui com uma curta explicação de sua importância e função. Sistema de suporte. Um conjunto de ligamentos e tecido conjuntivo mantém o úbere próximo à parede do corpo. Ligamentos fortes são desejados porque eles ajudam a prevenir a ocorrência de úbere penduloso, minimizando o risco de ferimentos, e evitando dificuldades no uso de equipamentos de ordenha. Sistema secretor e de ductos. O úbere é conhecido como uma glândula exócrina porque leite é sintetizado em células especiais agrupadas em alvéolos e então excretado para fora do corpo por um sistema de ductos que funciona como os afluentes de um rio. Suprimento sanguíneo e estruturas capilares. A produção de leite demanda muitos nutrientes que são trazidos ao úbere pelo sangue. Para produzir 1 Kg de leite, 400 a 500 Kg de sangue devem passar pelo úbere. Além disso, o sangue carrega hormôn i o s que control a m o desenvolvimento do úbere, síntese de leite, e regeneração de células secretórias entre as lactações (durante o período seco). Figura 1: Sistema de suporte do úbere da vaca. 77 Essenciais em Gado de Leite—Lactação e Ordenha Sistema linfático. A linfa é um fluído claro que vem dos tecidos altamente irrigados por sangue. A linfa ajuda a balancear o fluído que se movimenta para dentro e fora do úbere, e ajuda a combater infecções. Em alguns casos, o aumento do fluxo de sangue no início da lactação leva ao acúmulo de fluído dentro do úbere até que o sistema linfático seja capaz de remover o fluído extra. Esta condição, conhecida como edema de úbere, é mais comum em novilhas na primeira parição e vacas mais velhas com úbere penduloso. Inervação do úbere. Receptores nervosos na superfície do úbere são sensíveis ao toque e à temperatura. Durante o preparo do úbere para ordenha, esses nervos são estimulados e iniciam o reflexo da descida do leite que permite a liberação do leite. Os hormônios e o sistema nervoso também estão envolvidos na regulação do fluxo de sangue para o úbere. Por exemplo, quando uma vaca se assusta ou sente dor física, a ação da adrenalina e do sistema nervoso diminuem o fluxo sanguíneo para o úbere, inibindo o reflexo da descida do leite e diminuindo a produção de leite. Sistema de suporte Em vacas leiteiras modernas, o úbere pode pesar mais de 50 Kg devido a grande quantidade de tecido secretor e leite que se acumula entre as ordenhas. As estruturas principais que suportam o úbere são o ligamento suspensor medial e o ligamento suspensor lateral (Figura 1). A pele também desempenha um papel menor no suporte e estabilização do úbere. O ligamento suspensor medial é um tecido elástico que adere o úbere à parede abdominal. De vista posterior, o espaço inter mamário, uma linha média distinta no úbere, marca a posição do ligamento suspensor medial. Como esse tecido é elástico, ele funciona como um amortecedor de choques e acomoda mudanças no tamanho e peso do úbere que ocorrem de acordo com a produção de leite e idade da vaca. Lesões ou fraqueza desse ligamento causa o estiramento do úbere para baixo fazendo com que seja mais difícil para ordenhar, aumentado a probabilidade de ferimentos, especialmente nos tetos. Seleção genética para um forte ligamento suspensor é eficaz em reduzir esse tipo de problema no rebanho. Figura 2: Alvéolos e ductos formam o sistema secretor de leite. 78 20—Secreção de Leite no Úbere da Vaca de Leite Ao contrário do ligamento suspensor medial, o ligamento suspensor lateral é tecido fibroso não flexível. Ele cobre as laterais do úbere, com origem no tendão ao redor do osso púbico, para formar uma rede suspensora. Ductos e sistemas de secreção do leite O alvéolo é uma unidade funcional de produção onde uma única camada de células secretoras de leite estão agrupadas numa esfera com um centro oco (Figura 2). Tecidos de capilares sanguíneos e células mioepiteliais (como células musculares) circundam o alvéolo, e o leite secretado é encontrado na cavidade interna (lúmen). As funções dos alvéolos são: • Remover nutrientes do sangue; • Transformar esses nutrientes em leite; • Descarregar o leite dentro do lúmen. O leite sai do úbere por um ducto coletor. Um lóbulo é um grupo de 10 a 100 alvéolos drenados por um ducto comum. Lóbulos são organizados em unidades maiores chamadas lobos. Os lobos liberam o leite em ductos coletores maiores que levam à cisterna da glândula que fica diretamente acima do teto da glândula (Figura 2). O úbere é portanto composto por bilhões de alvéolos onde o leite é secretado. Os ductos formam canais de drenagem onde leite se acumula entre as ordenhas. Entretanto, isto ocorre somente quando as células mioepiteliais que recobrem os alvéolos e os ductos menores contraem em resposta ao hormônio ocitocina (reflexo da descida do leite) para que o leite flua dentro dos galactóforos e da cisterna da glândula. O teto forma uma passagem por onde o leite pode ser descartado da glândula. Ele é coberto por uma pele lisa e um rico suprimento de sangue e nervos. A extremidade inferior do teto mantém-se fechada por um anel de musculatura lisa ou esfíncter, denominado canal do teto. Na sua parte superior, o teto é separado da cisterna da glândula por uma série de dobras de célula s s e n s i t iv a s p a r t i cularmente vulneráveis à danificação. Essas dobras de tecido também são encontradas na outra extremidade do teto diretamente acima do canal do teto (roseta de Furstenburg). O teto é portanto projetado como uma barreira efet i v a à s bactérias invasoras. A preservação da estrutura normal do teto é essencial para manutenção do mecanismo natural de defesa contra bactérias causadoras de mastite. Diferenças na estrutura do teto, particularmente de diâmetro e comprimento, estão relacionadas à susceptibilidade à infecção. SECREÇÃO DO LEITE NAS CÉLULAS SECRETÓRIAS A secreção do leite pelas células secretórias é um processo contínuo que envolve muitas reações bioquímicas intrínsicas. Durante a ordenha, a taxa de secreção de leite é de certa forma diminuída mas nunca cessa completamente. Entre ordenhas, o acúmulo de leite aumenta a pressão no alvéolo e diminue a taxa de síntese do leite. Por isso, é recomendado que vacas de alta produção sejam ordenhadas o mais próximo de intervalos de 12 horas (as mais produtoras devem ser ordenhadas primeiro de manhã e por último a noite). A ejeção do leite mais frequente reduz a pressão acumulativa dentro do úbere e por esta razão, ordenhar três vezes ao dia pode aumentar a produção de leite em 10 a 15%. A célula secretória é um fator complexo. A Figura 3 mostra um resumo dos mecanismos e origem de nutrientes necessários para síntese do leite. O uso de glicose por uma célula secretória. Apesar de a glicose na dieta ser totalmente fermentada no rúmen em ácidos voláteis (ácido acético, propiônico e butírico), ela é necessária em grandes quantidades para o úbere lactente. O fígado transforma ácido propiônico novamente em glicose que é transportada pelo sangue para o úbere, onde é usada pelas células secretórias. A glicose pode ser usada como uma fonte de energia para as células, como o bloco construtor de galactose e subsequentemente lactose, ou como fonte de glicerol necessária para síntese de gordura. Síntese de lactose. A síntese de lactose é controlada por duas unidades de enzimas chamadas lactose sintetaze. A sub-unidade 79 Essenciais em Gado de Leite—Lactação e Ordenha Figura 3: Secreção do leite nas células secretórias (os círculos com um X são passos regulatórios essenciais). α-Lactoalbumina é encontrada no leite como uma proteína do soro. Regulação do volume de leite. A quantidade de leite produzido é controlada principalmente pela quantidade de lactose sintetizada pelo úbere. A secreção de lactose na cavidade alveolar aumenta a concentração de substâncias dissolvidas (pressão osmótica) relativa ao outro lado das células secretórias onde o sangue flue. Assim, a concentração de substâncias dissolvidas em cada lado das células secretórias é balanceada pela liberação de água do sangue e pela mistura com outros componentes do leite encontrados na cavidade alveolar. Para o leite normal, um balanço é atingido quando há 4.5 a 5% de lactose no leite. Portanto, a produção de lactose atua como uma válvula que regula a quantidade de água liberada no alvéolo e portanto, o volume de leite produzido (ciclos Figura 3). O efeito da dieta na produção de leite pode ser facilmente observado: 1) A quantidade de energia (por ex. concentrado) na dieta influencia a produção de propionato no rúmen; 2) O propionato disponível influencia a quantidade de glicose sintetizada pelo fígado; 80 3) A glicose disponível influencia a quantidade de lactose sintetizada na glândula mamária; 4) A lactose disponível influencia a quantidade de leite produzido por dia. Síntese de proteína. As caseínas encontradas no leite são sintetizadas a partir de aminoácidos provenientes do sangue sob controle de material genético (DNA). Essas proteínas são organizadas em micelas antes de serem liberadas no lúmen alveolar. O controle genético da síntese do leite no alvéolo vem da quantidade de αLactoalbumina sintetizada pelas células secretórias. Como descrito acima, essa enzima é um regulador importante da quantidade de lactose e leite produzidos por dia. As imunoglobulinas são sintetizadas pelo sistema imune e essas proteínas geralmente grandes vêm do sangue para o leite. A permeabilidade das células secretórias às imunoglobulinas é alta durante a síntese de colostro, mas diminue drasticamente com o início da lactação. Síntese de gordura. A cetato e butirato produzidos no rúmen são usados em parte como blocos construtores de cadeia curta de ácidos graxos encontrados no leite. O glicerol necessário para unir 3 ácidos graxos em um triglicerídeo vem da glicose. Cerca de 17–45% da gordura do leite é construída de acetato e 8–25% de butirato. A composição da dieta tem uma forte influência na concentração da gordura do leite. A falta de fibra deprime a formação de acetato no rúmen que resulta na produção de leite com baixa concentração de gordura (2–2.5%). Lipídios mobilizados das reservas do organismo no início da lactação são outro bloco construtor para síntese de gordura no leite. Entretanto, em geral, somente metade da quantidade de ácidos graxos na gordura do leite é sintetizada no úbere, a outra metade vem predominantemente de ácidos graxos longos encontrados na dieta. Portanto, a composição da gordura do leite pode ser alterada por manipulação do tipo de gordura na dieta da vaca.