Universidade Federal da Bahia SESSÃO DE PEDIATRIA Apresentadoras: Marília Andrade; Cláudia Alencar; Clara Lima Orientadora: Dra Lêda Solano Caso Clínico • ID: RPC, 1ano e 2 meses, negra, natural e procedente de Lauro de Freitas, BA • QP: Falta de ar e febre há 15 dias • HMA: Genitora refere que a criança vinha bem quando há 15 dias começou a apresentar dispnéia e febre. Procurou atendimento médico após 2 dias, sendo diagnosticado IVAS e prescrito amoxicilina. Evoluiu nos últimos 3 dias com piora da dispnéia, febre persistente, diminuição do apetite, vômitos e distensão abdominal. Procurou atendimento médico diversas vezes, sendo prescrito dimeticona. Procurou então médico particular que solicitou radiografia de tórax e diagnosticou pneumonia com derrame pleural à esquerda. Procurou o PA, sendo encaminhada para o HGE para avaliação com o cirurgião. Caso Clínico • IS: NDN • AM: Nega viroses da infância, internamentos anteriores e alergias medicamentosas • AON: G1P1A0. Genitora refere ter realizado pré-natal, nega intercorrências durante a gestação, PSNV, a termo, com apgar de 9 e 10. Esteve em alojamento conjunto. Refere conjuntivite no período pós-natal • AA: Refere aleitamento materno até os dias atuais, com introdução de verduras, carne, arroz e frango aos 10 meses • AV: Apresenta cartão de vacinação atualizado Caso Clínico • DNPM: Sustentou a cabeça com 2 m; sentou com 7 m; andou com 9 m; falou com 8 m. Não possui controle de esfíncter vesical e anal • AE: Realizou viagens para Mata de São João e Serra Preta há 3 meses • HS: Seus pais têm 1o grau incompleto, seu pai é jardineiro e sua mãe doméstica. Mora em casa própria com seus pais, com 4 cômodos, com banheiro. Refere saneamento básico e renda familiar de 300 a 350 reais. A criança fica na creche durante 12 horas • AF: Bisavó cardiopata, avó hipertensa e cardiopata, pai com 34a, mãe com 31a, ambos com saúde aparente Caso Clínico • Exame físico do PA – Descrição geral: Paciente em REG e N, taquipneica, hidratada, afebril, corada – DV: FR=68 ipm; T=35,5oC – DA: Peso=11,42Kg – AR: MV rude, com crépitos bolhosos em base de HTE – ACV: BRNF em 2T, sem sopros – ABD: Flácido, indolor à palpação, sem VMG, RHA+ – EXT: Bem perfundidas, sem edemas Caso Clínico • Exame físico – Descrição geral: Paciente em REG e BEN, gemente, chorosa, taquipneica, hidratada, afebril, anictérica, descorada ++/IV – DV: FR=60 ipm; FC= 148 bpm; T=35,5oC – Orofaringe: Sem alterações – Tórax: Sem abaulamentos ou retrações – AR: MV bastante diminuído em HTE, sem RA – ACV: BRNF em 2T, sem sopros – ABD: Distendido, flácido, indolor à palpação, sem VMG, hipertimpânico, RHA+ – EXT: Bem perfundidas, sem edemas Suspeitas Diagnósticas • 1- Pneumonia + derrame pleural • 2 - Afastar Tuberculose • 3- Anemia Caso Clínico • Plano Propedêutico – Hemograma completo, eletrólitos, uréia, creatinina, TGO,TGP,VHS, PT e frações, PPD, radiografia de tórax, hemocultura • Plano Terapêutico – Iniciado Penicilina cristalina- 200000 UI/Kg/dia, 06/06h, hidratação de manutenção e sintomáticos Exames Laboratoriais 11/09 12/09 14/09 16/09 Hb (g/dl) 8,0 7,9 10,1 10,5 Ht (%) 22,9 23 23,4 30 Plaquetas 514000 458000 381000 347000 Leucócitos 10500 6000 8800 10600 Segmentados (%) 38 41 27,8 30 Bastões (%) 0 1 0 Linfócitos (%) 47 46 55,2 59 Linf Atípicos (%) 0 4 0 1 Eosinófilos(%) 0 0 1,3 1 Monócitos (%) 12 8 14,2 9 Uréia/ Creatinina 6 / 0,9 7 / 0,9 Exames Complementares • • • • Sumário de urina (12/09) – normal PPD (16/09) – Não reator Hemocultura (1/10) - negativa Radiografia de tórax Evolução • A paciente retornou do HGE com dreno em selo d`água, produzindo líquido serossanguíneo apenas no 1o dia, permanecendo com o dreno por 5 dias. Não foi feito estudo do líquido pleural. • A paciente evoluiu afebril, com melhora progressiva da dispnéia, da tosse e da ausculta respiratória em uso de penicilina cristalina por 11 dias seguido de amoxicilina por 3 dias. Evolução • Apresentou conjuntivite viral, com remissão após uso tópico de soro fisiológico • Apresentou anemia com Hb = 7,9, recebendo concentrado de hemácias no dia 13/09 • Apresentou obstipação. Fez uso de dieta laxante e supositório de glicerina Discussão do Caso • Como estabelecer o diagnóstico de Pneumonia? • Como estabelecer os agentes infecciosos mais prováveis? • Como reconhecer uma pneumonia complicada? • Como diferenciar velamento por derrame pleural de velamento por condensação? • Como proceder em casos de derrame pleural? • Quais são os critérios para retirada do dreno? • Quais são os critérios para internação? • Qual seria o tratamento indicado no caso clínico? Como estabelecer o diagnóstico de Pneumonia? • Clinica – Dispnéia, taquipnéia ( FR>40ipm), tiragem, batimentos de asa do nariz, tosse produtiva, febre alta, prostração, crépitos, diminuição do MV • Radiologia – Diminuição da transparência pulmonar Como estabelecer os agentes infecciosos mais prováveis? • Idade (2 meses – 5 anos) – – – – Vírus Streptococcus pneumoniae Haemophilus influenzae Staphylococcus aureus • Origem comunitária – Streptococcus pneumoniae – Haemophilus influenzae Como estabelecer os agentes infecciosos mais prováveis? • Clínica – Pneumonia típica • início súbito, dispnéia, febre alta com calafrios, tosse produtiva, crepitações, leucocitose – Pneumonia atípica • início insidioso, febre baixa, tosse improdutiva, prodrômos Como estabelecer os agentes infecciosos mais prováveis? • Radiologia – Vírus • Infiltrado intersticial difuso, bilateral, hiperinsuflação, com rebaixamento de cúpulas – Bactérias • Condensação localizada, assimétrica Como reconhecer uma pneumonia complicada? • Não há melhora clinica com uso de antibióticos • Radiografia – – – – – – Derrame pleural Pneumatocele Abscesso Bronquiectasias Fibrose pulmonar Atelectasias Como diferenciar velamento por derrame pleural e por condensação? • • • • • MV abolido X MV diminuído Macicez X Som claro pulmonar Diminuição do FTV X Aumento do FTV Diminuição X Aumento da ausculta da voz Radiografia de tórax em decúbito lateral com raios horizontais • Ultrassonografia de tórax (5 ml) Como proceder em caso de derrame pleural? • Toracocentese – Espessura do derrame no RX de tórax em decúbito lateral ≥ 10 mm – Espessura < 10mm → RX de tórax em 48hs • Colocação de dreno – – – – pH < 7 ou glicose< 40 → colocar pH >7,2; glicose> 40 e LDH< 1000 → não colocar 7 < pH < 7,2 → colocar se derrame extenso Sintomas prolongados, RX de tórax mostrando loculações ou espessamento pleural → colocar Como proceder em caso de derrame pleural? • A drenagem, quando indicada, deve ser feita precocemente, para se evitar procedimentos invasivos como toracotomia ou decorticação pulmonar devido a formação de septações e espessamento das pleuras. • Os tromboliticos via intrapleural podem ser usados em pacientes que não tiveram resposta com a drenagem torácica, para evitar a formação de septações Quais são os critérios para retirada do dreno? • Volume drenado < 50 ml nas 24hs – Afastar obstrução, mau posicionamento – Afastar septações • Melhora clínica – radiológica • Líquido drenado seroso Quais são os critérios para internação? • Lactentes < 6 meses • Prematuridade ou baixo peso ao nascer • Presença de comorbidades: desnutrição, imunodepressão, cardiopatias, fibrose cística, doença neuromuscular • Recusa em ingerir líquidos ou desidratação • Pneumonias extensas ou com complicações • Contato prévio com hospitais • Falha da terapêutica ambulatorial • Criança com sinais clínicos de insuficiência respiratória • Tiragem subcostal, sinais de hipoxemia, apnéia, convulsões Qual seria o tratamento indicado? PNEUMONIA DA COMUNIDADE SEM DOENÇA DE BASE Penicilina Cristalina (72 horas) Melhora clínica, sem febre Sem melhora, mantendo febre Penicilina Cristalina (5 a 10 dias) Radiografia de tórax Sem melhora, cloranfenicol (10 dias) Sem complicações Com complicações Penicilina Cristalina (até 5 dias) Oxacilina + Cloranfenicol ou ceftriaxona Qual seria o tratamento indicado nesse caso? • Penicilina cristalina – internamento – Dose: 200000 UI/Kg/dia • Amoxicilina – ambulatório – Dose: 40-60 mg/Kg/dia – Dose subterapêutica? – Nível sérico baixo? Artigo • American Journal of Respiratory and critical care medicine; • Publicado em 1999, volume 159, páginas 37- 42 Artigo • TEMA: • Uroquinase intrapleural versus solução salina no tratamento de derrame pleural parapneumônico complicado e empiema Artigo • • • • Estudo randomizado Estudo duplo-cego Estudo prospectivo Primeiro estudo a comparar instilação intrapleural de uroquinase com instilação intrapleural de solução salina em pacientes com derrames parapneumônicos e empiema Artigo • Métodos – Critérios de inclusão • Todos os pacientes apresentavam coleção pleural não resolvida com drenagem • Todos os pacientes tiveram o diagnóstico de derrame pleural e empiema através de TC e US torácica • Todos os pacientes apresentavam febre prolongada, dispnéia e produção de escarro • Foram estudados 31 pacientes • 15 pacientes receberam uroquinase – grupo caso • 16 pacientes receberam solução salina – grupo controle • A idade média foi de 56 anos ( 21-78) Artigo • Métodos – Critérios de exclusão • • • • Idade > 90 anos Fistula broncopleural Sensibilidade conhecida a uroquinase Contra-indicações para terapia trombolítica Artigo • Protocolo – A UK foi instilada via dreno torácico na diluição de 100000 UI/100ml de SF – grupo caso – Foi instilada 100ml de solução salina via dreno torácico – grupo controle – A instilação foi feita uma vez ao dia durante 3 dias – Drenagem insuficiente →volume drenado< 50 ml nas 24h prévias – Falha no grupo caso → encaminhados para cirurgia – Falha no grupo controle → instilação de UK por 3 dias → falha → cirurgia Artigo • Avaliação da efetividade do tratamento – – – – Radiografia de tórax Ultrassonografia e/ou TC torácica Monitorização diária do volume drenado Clínica – sinais e sintomas Artigo • Variáveis secundárias – Tempo até contagem de leucócitos < 10000/ml – Desvio da contagem de plaquetas, nível de protombina e fibrinogênio – Presença da degradação da fibrina Artigo • Seguimento – Todos os pacientes foram seguidos durante 14 meses com exame clinico, RX, US e/ou TC de tórax Artigo • Resultados – Análise do liquido pleural e do sangue • Caracterização • Citologia • Gasometria Aná An lise do liquido Uroquinase Controle pH Glicose LDH Leuco (x103/ml) 7,0 ± 0,3 25±10 1,280 ± 120 17,500 ±2,300 7,02 ± 0,2 20 ± 19 1,160 ± 150 19,200 ± 3,200 Artigo • Resultados – Microbiologia • 12 pacientes apresentaram gram, hemoculturas ou culturas do liquido positivas – Resposta terapêutica • Apenas 2 pacientes do grupo caso e 4 do controle não tiveram melhora clinica • Observou-se febre por 6 dias no grupo caso e por 10 dias no grupo controle • Observou-se melhora radiológica em 12 pacientes do grupo caso e 2 do grupo controle Artigo • Resultados – Resposta terapêutica Volume drenado antes do tratamento Volume drenado 24h após o tratamento Grupo caso 48 ± 23 ml 410 ± 99 ml Grupo controle 55 ± 31ml 105 ± 10 ml Artigo • Resultados – Falha do tratamento • 13,5% do grupo caso e 75% do grupo controle tiveram a drenagem pleural inadequada – Complicações da terapia • Não houve complicações no dreno • Um paciente do grupo caso apresentou aumento de TP e decréscimo de fibrinogênio • Não foram observadas hemorragias – Resultados a longo prazo • Não foram observadas recorrências nos 31 pacientes estudados Resultados Parâmetros Uroquinase Solução salina (n=15) (n=16) Valor de p Duração da hospitalização (dias) 13(4) 18(5) < 0,01 Duração da drenagem pleural (dias) 8 (4) 12(6) < 0,05 Taxa de melhora radiológica (no 3o dia de tratamento) 2,7 (0,59) 1,2(0,9) < 0,001 Taxa de sucesso 3 primeiros dias de tratamento intrapleural 86,5 Intervenção cirúrgica 13,5 25 37,5 < 0,001 < 0,05 Número de patogénos em culturas positivas 8 7 < 0,05 Discussão • A UK aumenta o volume drenado e melhora a aparência do RX de forma mais intensa que a solução salina • Mecanismo de ação da UK: Lise das aderências X Efeito de volume • Não há prova conclusiva de que o efeito de volume não desempenhe papel no tratamento do derrame pleural • Estudos prévios mostram a efetividade dos agentes fibrinolíticos mesmo com volumes mínimos de diluição • Os fibrinolíticos são mais efetivos se usados precocemente Discussão • Os pacientes do grupo caso que não responderam ao tratamento tinham empiema • Todos os pacientes do grupo controle com empiema não responderam ao tratamento • O tratamento com fibrinolíticos não parece alterar os parâmetros de coagulação sistêmicos • Esse é o 1o estudo que mostra que a UK de uso intrapleural na dose diária de 100000 UI por 3 dias é seguro e efetivo na melhora da drenagem e redução da permanência hospitalar em pacientes com derrame pleural parapneumônico e empiema