n. 178, 12 de outubro de 2010. Ano IV. "amo a liberdade, por isso deixo as coisas que amo livres" (john lennon). contra as liberações 1 Noticia-se que o debate sobre a descriminalização da maconha está em alta. Anuncia-se o embate entre o “lobby proibicionista”, dos contrários ao afrouxamento da ilegalidade, e o “lobby da maconha”, dos favoráveis às reformas progressistas. Situa-se esse “debate” como a disputa definitiva entre dois modelos. De um lado, argumenta-se que maconha faz mal e é porta de entrada para outras drogas “perigosas”. De outro, que a maconha não faz tanto mal assim e que pode até fazer bem quando usada para fins terapêuticos. Dos dois lados, a mesma lógica: a da regulação legal, pelo Estado ou pelo Mercado, de práticas relacionadas à maconha. Para ambos, os lobbies é preciso elencar argumentos “científicos” que justifiquem o uso ou o banimento da droga. Usos outros e que escapam aos parâmetros da ciência são temíveis, tanto para quem execra quanto para quem defende a maconha pela ótica da ciência. contra as liberações 2 O discurso maconheiro que diz “a erva é natural e não pode, por isso, te prejudicar” é tido por muitos como progressista. No entanto, ele diz, pelo avesso, que as drogas que passam por qualquer processamento não seriam “naturais” e, portanto, perigosas. Assim, por exemplo, cocaína, heroína e LSD deveriam continuar proibidas. Maconheiro de carteirinha é, mesmo que involuntário, um proibicionista. Se ligue! contra as liberações 3 Ex-presidentes e economistas neoliberais defendem a legalização das drogas. Psiquiatras e médicos defendem o uso medicinal da maconha. A grande imprensa mundial se abre para o debate. E, enquanto isso, nos EUA, empresários e o governo californiano aguardam, com expectativa, o próximo plebiscito de novembro que pode votar pela legalização da cannabis. Estão de olho nos milhões de dólares que a maconha pode gerar em impostos e como commodity. Tudo muito progressista. Interessa legalizar para deixar drogas como a maconha sob a regulamentação do Mercado ou sob o controle estatal? outras liberações? No Rio de Janeiro, um músico foi preso porque plantava pés de maconha em casa. Ele disse que procurava evitar os traficantes, produzindo para si. Para o Estado brasileiro, ele era traficante. Preso, tentou por duas semanas provar que era “usuário”, para responder em liberdade. No Canadá, nos EUA e na Holanda já são muitos os que escolheram o mesmo que o músico brasileiro: nem o tráfico, nem o capital, nem o Estado. São práticas que afirmam outraspossibilidades para além do debate dos “lobbies” que redundam, de um modo ou de outro, em legalizações, remodelados controles e novos ilegalismos. Por que não ousar liberações? no meu corpo, não! A morte na fogueira para as bruxas e os xaropes de ópio para as histéricas foram algumas maneiras encontradas, séculos atrás, para submeter os corpos das mulheres à soberania e à disciplina. No século XXI, chegou-se à modulação psiquiátrica denominada Transtorno Disfórico Pré-menstrual (TDPM). Pesquisadores afirmam que 3% das mulheres atingidas pelos sintomas da famigerada TPM desenvolvem aquela variação agravada de desordem física, cognitiva e emocional. Chegaram à conclusão de que este é um “problema de saúde pública”, para o qual é recomendada uma pequena dosagem diária do antidepressivo Prozac. Ignoram assim o óbvio, mulheres e homens livres excedem os dias. recobrindo o passado de novidade Os analistas políticos brasileiros destacam nas urnas das eleições presidenciais a novidade chamada marina silva. Raciocínio viciado em terceira via. Marina Silva respondeu ao alternativo gestado em algumas décadas, dando-lhe forma como sustentabilidade público-privada. Trouxe nitidez ao perfil de subjetividades responsáveis, com uso eficiente das tecnologias eletrônicas voltadas às colaborações diretas de simpatizantes ao programa do partido. Atualizou a estratégia obama de campanha política eleitoral. Expressou o atual estado das coisas da mentalidade colaborativa em funcionamento. De posse do resultado, a candidata pretende, no segundo turno, situar-se como independente. Para si e para a democracia participativa isso é um retrocesso ao bom e velho alternativo e à memória do purismo que sustentou por muitos anos a eterna candidatura lula da silva. Ela ainda é seu efeito, e, como tal, refugia-se no estado de purificação do passado recoberto de religiosidade, plebiscitos e de natureza preservacionista e conservacionista acanhadas. recobrindo a novidade de passado Enquanto isso... O Taleban, depois de mais uma estrondosa ação terrorista contra caminhões de transportes de combustíveis, negocia, na Arábia Saudita, a abertura das fronteiras entre o Afeganistão e o Paquistão para o abastecimento da OTAN; o exército estadunidense investe em energias alternativas para manter suas tropas de ocupação, mostrando, outra vez, que a guerra é a prática ativadora de novas tecnologias que mais tarde soam como democracia eletrônica (Internet) ou tecnologias responsáveis e sustentáveis; analistas, por sua vez, concluem que o Estados Unidos não é mais a potência condutora no novo mundo multilateral, e que sua população passa por uma mudança de mentalidade para que as práticas de governo elevem os intrusos e os ilegais em seu território a uma nova classe média...; "a história do poder da verdade, numa sociedade como a nossa, é uma questão que ronda as cabeças, sem parar, há uma centena de anos" (michel foucault).