n. 212, 2 de agosto de 2011. Ano V. god save the queen Em abril, antes do casamento real, a polícia invadiu espaços anarquistas na cidade de Londres e mais de 20 jovens foram presos. Agora, no mês de agosto, um aviso antiterrorismo circula pela cidade. Convoca os cidadãos a denunciar à polícia qualquer um que seja identificado como anarquista. O comunicado foi emitido pela polícia do bairro de Belgravia, como parte do projeto Griffin, que visa orientar agentes e funcionários de segurança privada ou estatal sobre ações contra o terrorismo. Enquanto a convocação à denúncia ronda a cidade e desdobra-se em construção de bancos de dados para localização de subversivos, as práticas liberadoras contra uma autoridade centralizada não cessam. A existência e a insubmissão de um anarquista é insuportável para o Estado, é preciso estar atento para afirmar práticas de liberdade e desestabilizar hierarquias, assim como permanecer alerta para não ser o bode expiatório de sempre. na mira Durante o período das férias escolares cresce a procura pelo serviço de detetives particulares. Pais contratam o serviço para saberem a respeito da sexualidade de seus filhos e do envolvimento dos jovens com drogas. Além da tradicional perseguição acompanhada de fotos e filmes, os investigados têm programas instalados em seus computadores que denunciam os sites, blogs, chats que frequentam. Outra opção é um programa instalado em celulares que, além de servir de GPS, localizando o jovem a qualquer momento, envia o conteúdo integral de cada ligação para o email do detetive. Quando o assunto são jovens, cada vez se investe mais em policiamento, seja na escola, nos clubes, condomínios, baladas ou serviços particulares. E o que os jovens não se dão conta é que são monitorados pelos aparelhos mais utilizados por eles mesmos para o seu entretenimento. os reativos Alguns jovens e figuras religiosas organizaram mais uma marcha, fazendo das redes sociais seu principal meio de articulação – a nova praxe. Entre os participantes, a maioria era ligada a um grupo religioso alternativo que, em nome da família brasileira, bradavam contra a descriminalização da maconha. Fantasiados de hippies, alertavam que a bandeira do “sonho de liberdade” estaria sendo mal utilizada e para fins inapropriados. São reacionariozinhos nada alternativos e aproveitadores que marcham para reforçar o conservadorismo repaginado. A atual democracia os comporta e conduz tão bem quanto aos alternativos que marcham a favor da maconha. Um e outro são inofensivos e apenas contribuem para revestir a atual democracia conservadora em uma roupagem mais ou menos liberada, fazendo vistas grossas ao mercado do tráfico que articula empreendimentos legais e ilegais. a inconfessável preferência Bomba e tiros na Noruega. Desde que um extremista assassinou quem pôde no país do Nobel da Paz, especialistas começaram a afirmar que a ênfase dada ao combate do fundamentalismo islâmico fez com que os europeus tenham descuidado da extrema direita. Chamam, então, a atenção para o fato de que o crescimento eleitoral dos partidos xenófobos acompanha o ritmo ditado pela crise econômica e pelo desemprego, e recomendam que se limite os espaços legais para esses discursos e movimentos, como se a repressão pudesse calar o ódio racista que reverbera incessante – ainda que quase inaudível − para, quando as correlações de força permitam, eclodir. E, também, como se os democratas europeus nunca tivessem preferido e permitido o fortalecimento de fascistas, nazistas, falangistas etc. à emergência de experiências de liberdade radicais. Foi assim na Espanha, nos anos 1930; foi assim no e após 1968. Foi assim antes. Será agora e depois?