UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES CAMPUS DE ERECHIM DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA CURSO DE MATEMÁTICA ARLETE ROSANA BANACZESKI SCARMIGNANI A GEOMETRIA PRESENTE NA CONSTRUÇÃO CIVIL ERECHIM 2010 ARLETE ROSANA BANACZESKI SCARMIGNANI A GEOMETRIA PRESENTE NA CONSTRUÇÃO CIVIL Trabalho de Graduação apresentado ao curso de Licenciatura em Matemática, da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) – Campus de Erechim – Departamento de Ciências Exatas e da Terra. Orientador: Prof. Silvério Fortunato ERECHIM 2010 RESUMO A Geometria está presente em nossa vida em diferentes contextos, seja por suas aplicações ou pelas formas geométricas, o que permite uma contextualização visualizada de seus conteúdos. Considerando isto, o tema da pesquisa, a Geometria presente na construção civil, teve como objetivos relacionar conteúdos que podem ser contextualizados com a construção civil e identificar os conceitos geométricos que podem ser construídos. O presente trabalho apresenta a importância de se trabalhar o ensino Geométrico em sala de aula, considerando as vivências dos alunos, propondo uma aprendizagem com conceitos e significados, que permitam aproximar os conteúdos teóricos com suas aplicações no cotidiano. A proposta consente ao aluno construir sua própria aprendizagem, constituindo conceitos estruturados e solidificados. No desenvolvimento do que foi proposto, será possível relacionar os conteúdos geométricos presentes na construção civil e apresentar propostas para se construir os seus conceitos. A planta baixa de uma casa permite explorar o conceito da Geometria básica (ponto, reta, plano), a Geometria plana e conceitos de medidas. Para os sólidos geométricos, a proposta apresentada para a construção dos pensamentos geométricos é estabelecer relações com maquetes de casas (construídas em aula), ou manusear e explorar os materiais usados para construção predial. Outras propostas de ensino geométricas foram sendo apresentadas durante o desenvolvimento dos conceitos, para possibilitar diferentes conceitos de aprendizagem. Palavras-chave: Ensino da Geometria. Contextualizações de conteúdos geométricos. A Geometria na construção civil. Conceitos geométricos e a construção civil. LISTA DE ILUSTAÇÕES Figura 1 ..................................................................................................................................... 16 Figura 2 ..................................................................................................................................... 17 Figura 3 ..................................................................................................................................... 17 Figura 4 ..................................................................................................................................... 18 Figura 5 ..................................................................................................................................... 18 Figura 6 ..................................................................................................................................... 18 Figura 7 ..................................................................................................................................... 18 Figura 8 ..................................................................................................................................... 19 Figura 9 ..................................................................................................................................... 20 Figura 10 ................................................................................................................................... 21 Figura 11 ................................................................................................................................... 21 Figura 12 ................................................................................................................................... 22 Figura 13 ................................................................................................................................... 22 Figura 14 ................................................................................................................................... 23 Figura 15 ................................................................................................................................... 24 Figura 16 ................................................................................................................................... 25 Figura 17 ................................................................................................................................... 26 Figura 18 ................................................................................................................................... 26 Figura 19 ................................................................................................................................... 27 Figura 20 ................................................................................................................................... 27 Figura 21 ................................................................................................................................... 29 Figura 22 ................................................................................................................................... 30 Figura 23 ................................................................................................................................... 36 Figura 24 ................................................................................................................................... 37 Figura 25 ................................................................................................................................... 38 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 5 2 O ENSINO DA GEOMETRIA............................................................................................. 6 3 O ENSINO DA GEOMETRIA CONTEXTUALIZADA ................................................ 11 4 A GEOMETRIA E A CONSTRUÇÃO CIVIL ................................................................ 14 4.1.1 Explorando a geometria plana na planta baixa .......................................................... 15 4.1.2 Ponto, reta e plano ......................................................................................................... 17 4.1.3 Porta e ângulos ............................................................................................................... 19 4.1.4 Circunferência ou círculo? ........................................................................................... 23 4.1.5 Os polígonos da planta baixa ........................................................................................ 24 4.1.6 Um quarto de quatro lados ........................................................................................... 25 4.1.7 A soma dos ângulos internos ........................................................................................ 27 4.1.8 Perímetro e área das figuras geométricas ................................................................... 30 4.1.9 O construtor e a escala .................................................................................................. 31 4.2.1 Área total de um sólido geométrico.............................................................................. 33 4.2.2 Volumes e capacidades .................................................................................................. 34 4.2.3 Quanto pesa 1000l de água? ......................................................................................... 35 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 42 5 1 INTRODUÇÃO O ramo da construção civil nos permite conviver com diferentes pessoas e com os mais variados graus de conhecimentos. Com base no grau de conhecimento sobre os conceitos geométricos apresentados pelas pessoas, percebem-se as dificuldades de aplicação destes conceitos no cotidiano. Independente de idade, sexo ou grau de instrução, é possível visualizar claramente que muitos não conseguem estabelecer relação do que foi ensinado em sala de aula com suas vivências. Buscando a construção do conhecimento e o desenvolvimento do ensino da Geometria contextualizada com o cotidiano, esta pesquisa visa identificar e analisar quais os possíveis conteúdos geométricos estudados no ensino fundamental que podem ser utilizados na construção civil. Mais precisamente, os objetivos da pesquisa são: relacionar os conteúdos geométricos que podem ser contextualizados com a construção civil e identificar os conceitos geométricos que podem ser construídos trabalhando à Geometria na construção civil. Com base em autores como Giardinetto, Lorenzatto, Biembengut, entre outros, será realizada uma análise da situação do ensino da Geometria no ensino fundamental. Além disso, será analisada a perspectiva desses autores perante as metodologias para o desenvolvimento do conhecimento em sala de aula, visto que, por mais que estamos inseridos numa sociedade em que possui inúmeros objetos com formas geométricas e situações envolvendo a Geometria, o seu ensino encontra-se numa situação de total descaso. O ensino tradicional de memorização continua presente em sala de aula. Professores insistem em não dar ênfase aos conteúdos geométricos, muitas vezes, excluindo por completo da relação de conteúdos propostos para o ano letivo. À continuação, serão relacionados os conteúdos geométricos programáticos propostos para o ensino fundamental. Com o propósito de desenvolver o estudo dos conteúdos geométricos e suas definições, possibilitando as possíveis contextualizações com as situações presentes no ramo da construção civil. 6 2 O ENSINO DA GEOMETRIA A preocupação com a educação matemática vem aumentando no decorrer dos anos e desencadeia uma série de discussões sobre como ensinar os conteúdos de matemática em sala de aula, já que esta ocupa uma posição de relevante importância na formação do cidadão. Ela está presente, diariamente, nas atividades cotidianas do homem, seja pelo simples cálculo do custo de um produto ou nos gráficos expressos nos jornais. A matemática é exigida, como indicadora de competência, em praticamente todos os processos seletivos de admissão funcional e está presente na maioria das profissões, sejam elas graduações como: administração, medicina, engenharia. Ou nas profissões não graduadas como: costureira, pedreiro, carpinteiro, entre outras. É por essa relevante importância que a matemática, na educação formal, é ministrada em todas as séries do ensino fundamental e médio. Pois segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p.19): “(...) a Matemática é componente importante na construção da cidadania, na medida em que a sociedade utiliza, cada vez mais, de conhecimentos científicos e recursos tecnológicos, dos quais os cidadãos devem se apropriar. A aprendizagem em Matemática está ligada à compreensão, isto é, à apreensão do significado; aprender o significado de um objeto ou acontecimento pressupõe vê-lo em suas relações com outros objetos e acontecimentos” (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1997, p.19). Dentre os ramos matemáticos propostos, para serem estudados nas escolas, abre-se um espaço para o ensino da Geometria. O desenvolvimento dos conceitos geométricos constitui uma parte importante da matemática, para os PCNs (1997). O pensamento geométrico permite ao aluno compreender, descrever e representar, de forma organizada, o mundo que vive. Isto porque estimula a observação e a percepção das mais variadas formas geométricas dos objetos que o cercam. Apesar dos documentos oficiais, para o ensino da matemática na educação básica, ressaltar a importância da Geometria na formação do indivíduo, sabe-se que ainda hoje esta área tem um tratamento frágil. O ensino sistemático da geometria é ministrado somente a partir da 5º série do ensino fundamental, que conforme Lorenzatto (1995) é trabalhada uma 7 pequena parte do conteúdo a ser aplicado e retido especificamente na geometria plana, raramente, abrangendo os conteúdos de geometria espacial. De acordo com Kaleff (1994), ao longo das últimas décadas, a Geometria no Brasil, não possui o reconhecimento de suas potencialidades em todos os níveis de ensino e áreas de aplicação, mesmo considerando apenas a sua vertente Euclidiana. E ainda, muitas escolas confundem a Geometria com desenho geométrico, chegando a trabalhá-la separadamente da matemática. O fracasso escolar e as dificuldades que os alunos enfrentam em sala de aula estão diretamente relacionados, segundo Giardinetto (1999), com o fato de que o ensino da Geometria tem sido desenvolvido de forma enfadonha, com ênfase numa memorização aleatória de resultados conceituais, muitas vezes, apresentados sem lógicas. Ainda conforme o autor, existem educadores que se preocupam apenas com os compromissos didáticos, ou seja, seguir todo o programa pedagógico ou realizar todas as avaliações periodicamente. Pressupõe-se que estes educadores estão preocupados apenas em transmitir o conhecimento escolar que é trabalhado com todo formalismo, e consequentemente, as aplicações práticas são esquecidas ou deixadas de lado. Dificilmente a rotina dos alunos é tomada como exemplo em sala de aula, fator este que distancia a matemática ensinada nas escolas da sua aplicação no cotidiano. Além do mais, há situações em escolas que a Geometria nem sequer é ensinada e o que chama a atenção são os empecilhos colocados pelos professores para não ensiná-la. Sempre há uma explicação ou um culpado, que não justifica o descaso pelo ensino da Geometria no ensino fundamental. De acordo a Perez (1995), as explicações mais comuns entre os professores que não ensinam a Geometria são a falta de tempo para cumprir a programação e a falta de conteúdos geométricos ou metodologias adequadas para ensinar. Perez expõe que alguns professores seguem o livro didático e este, geralmente, posiciona os conteúdos geométricos nos últimos capítulos. E há, ainda, professores que dão preferência em ensinar Álgebra ou Aritmética porque na concepção dos mesmos os alunos vão utilizar mais do que os conteúdos geométricos. A realidade do ensino nas escolas torna-se mais agravante quando o professor aprova seus alunos sem os conhecimentos básicos de Geometria. Também, quando estes alunos mudam de escola ou de professor, deixando comprometida a construção da aprendizagem. Se a turma recebe novo professor, com uma metodologia diferente de ensino, é possível que os 8 alunos não consigam acompanhar as explicações em relação aos conteúdos. Neste caso, o novo professor se vê obrigado a resgatar os conteúdos que ficaram pendentes. Já quando ocorre à mudança de escola, o aluno, em um novo ambiente, em uma nova turma e com metodologias diferenciadas, pode encontrar dificuldades prejudicando sua aprendizagem e a construção do conhecimento. Diante de uma reflexão sobre a situação em que se encontra o ensino, não só da geometria, como também da matemática, verifica-se a necessidade de mudanças urgentes e revolucionárias, indispensáveis para reverter este quadro de descontentamento e quebrar os paradigmas da sociedade escolar em relação à Matemática como um todo. Com relação à afirmação acima, a educação propõe que o ensino da Geometria passe a constituir um processo de interação entre professor e aluno, em que ambos possam problematizar, refletir e produzir conhecimentos matemáticos. Cada vez mais, espera-se o desenvolvimento de atividades didáticas envolvendo a construção e o manuseio de materiais concretos que contribuam de forma eficaz na construção do conhecimento. Segundo Kaleff (1999) as atividades, quando bem planejadas e executadas, tornam-se importantes para a construção do conhecimento e para as habilidades de visualização, desenho e interpretação do pensamento geométrico. O incentivo mediante um planejamento de aulas que exijam a exploração de materiais concretos e a contextualização dos conteúdos geométricos são formas de relacionar a Geometria da sala de aula com a Geometria do cotidiano. Já que em nosso meio estamos cercados de formas geométricas e situações que exigem conhecimentos geométricos. Portanto, o propósito de metodologias diferenciadas, inovadoras no âmbito de mudar a realidade do ensino de Geometria nas salas de aula, independente da formação escolar do aluno, desperta a ânsia de ampliar nossos conhecimentos, pesquisar e construir meios que nos permitam unir teoria e prática, fugindo do método tradicional de ensino. Em fim, levar para as salas de aula o conhecimento geométrico, envolvendo professor e aluno, para que estes desenvolvam o pensamento crítico, possibilitando a visibilidade da importância da Geometria no desenvolvimento intelectual de cada um. 9 2.1 PRIMEIROS CONTATOS COM A GEOMETRIA O processo de aprendizagem da Geometria em sala de aula torna-se mais atrativo quando os alunos conseguem visualizar ou relacionar com seu cotidiano, explorando o conhecimento através de objetos já conhecidos por eles. Essa é uma proposta de ensino de aprendizagem contextualizada e muito aceita na sala de aula. Quanto antes começarmos a trabalhar a Geometria contextualizada em sala de aula, melhores serão os resultados obtidos no processo de construção de conhecimento do ensino fundamental. Trautenmuller (2005) sugere que os primeiros contatos do aluno com a Geometria sejam ainda nas séries iniciais do ensino fundamental e que o professor utilize materiais concretos tridimensionais das mais variadas formas, principalmente, objetos presentes na vida da criança, como: brinquedos, sacolas, e também, os sólidos geométricos para que eles estabeleçam relações entre a Geometria e o mundo físico que os rodeia. Após o reconhecimento dos objetos tridimensionais, o professor deve dar sequência às figuras planas, isto desenvolve a percepção espacial dos alunos. Trautenmuller (2005) explica que através da exploração do material tridimensional, o aluno começa a identificar as características de cada objeto, que se incentivado e auxiliado pelo professor inicia a construção do conhecimento da geometria bidimensional. Esta metodologia pode facilitar ao professor o ensino da Geometria plana em sala de aula, pois o aluno identificará que a figura geométrica pode ser o lado de uma caixa, a parede de um prédio ou a base de um sólido geométrico. Assim, os alunos perceberão que estão planificando os objetos, ou seja, deixando-os na forma bidimensional. Os Parâmetros Curriculares Nacionais – Matemática (1997, p.82), propõe o incentivo aos alunos: 10 [...] a identificar posições relativas dos objetos, a reconhecer no seu entorno e nos objetos que nele se encontram formas distintas, tridimensionais e bidimensionais, planas e não planas, a fazer construções, modelos ou desenhos do espaço (de diferentes pontos de vista) e descrevê-los. Um trabalho constante de observação e construção das formas é que levará o aluno a perceber semelhanças e diferenças entre elas. Para tanto, diferentes atividades podem ser realizadas: compor e decompor figuras, perceber a simetria como característica de algumas figuras e não de outras, etc. Dessa exploração resultará o reconhecimento de figuras tridimensionais (como cubos, paralelepípedos, esferas, cilindros, cones, pirâmides, etc.) e bidimensionais (como quadrados, retângulos, círculos, triângulos, pentágonos, etc.) e a identificação de suas propriedades (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1997, p.82). Portanto, de acordo com Trautenmuller (2005), as atividades realizadas que permite às crianças o desenvolvimento da percepção espacial, deveriam fazer parte do programa de ensino da Matemática desde as séries inicias, considerando o desenvolvimento total da mesma, resultando numa Geometria presente na vida escolar do aluno, desde o momento que ele ingressa na escola, permitindo que as primeiras construções conceituais dos conteúdos geométricos iniciem antes da 5° série. O desenvolvimento de tarefas, que estimulam a construção do conhecimento e a coordenação motora de cada aluno, conduz a um crescimento mental e estrutural. Isto influencia diretamente no interesse e na motivação do mesmo, durante o ano letivo atual e nos anos seguintes, não somente pela Geometria, mas por outros ramos da matemática. Portanto quando se aproxima o conteúdo da sala de aula com o cotidiano, cria-se um vínculo de significado ao que se está aprendendo. 11 3 O ENSINO DA GEOMETRIA CONTEXTUALIZADA As primeiras manifestações geométricas, ligadas ao cotidiano, surgiram da necessidade do homem, ainda na pré-história. As civilizações antigas que povoavam as margens dos grandes rios, Nilo e Ganges, utilizavam formas geométricas para demarcação e medição das terras para plantio, possibilitando calcular a área atingida pelas enchentes, o custo e os impostos relativos à área demarcada, conforme Kallef (1994). A Geometria é tão importante quanto à matemática como um todo. Se observarmos ela está presente em todos os momentos do nosso dia a dia, seja nas formas geométricas que nos cercam ou no espaço que ocupamos. O homem, na construção do seu habitat, deu formas às coisas, tendo como base a natureza. Construiu e organizou os objetos conforme sua cultura. Quando a criança nasce, ela passa por um processo de descobrimentos. Primeiramente, a posição que ocupa no espaço; na sequência a identificação dos objetos que a cercam e suas formas geométricas. Portanto, ao ingressar na escola, ela já possui um determinado conhecimento, o qual não pode ser desconsiderado pelo professor: Os alunos trazem para a escola conhecimentos, idéias e intuições, construídas através das experiências que vivenciam em seu grupo sociocultural. Eles chegam à sala de aula com diferenciadas ferramentas básica para, por exemplo, classificar, ordenar, quantificar e medir. Além disso, aprendem a atuar de acordo com os recursos, dependências e restrições de seu meio (PCN´s, 1997). O manuseio de materiais concretos como caixas, latas, maquetes, possibilita ao aluno uma maior facilidade na construção de seus próprios conceitos, relacionando e identificando as diferentes formas geométricas. Conforme Grando e Marasini (2008), o aluno vai estabelecendo significados àquilo que está aprendendo a cada novo conceito construído, o que determina a evolução da aprendizagem. Portanto, cabe ao professor: 12 [...] a relação entre aprendizagem e interação social e entre desenvolvimento mental e aprendizagem, a importância do domínio dos fundamentos da matemática e da definição dos objetivos para as atividades propostas e a relevância de considerar os conceitos referentes a um sistema de conhecimento de modo contextualizado (GRANDO; MARASINI: 2008 p. 21). Para Lorenzatto (2006), o ensino da Geometria nas escolas e o sucesso do professor e dos alunos no processo de aprendizagem dependem de muitos fatores ligados à educação, entre eles, a metodologia de ensino adotada pelo professor, os materiais didáticos utilizados e como o educador se propõe a construir o conhecimento. Para o autor, o professor deve saber o conteúdo, conhecer os materiais didáticos disponíveis e suas aplicações e, principalmente, saber explorá-los dando ênfase ao seu propósito para que os materiais utilizados não se tornem simples objetos. No entanto, há professores que não utilizam materiais didáticos porque não sabem como poderiam explorar em sala de aula. Outros têm medo de que estes recursos possam gerar situações ou questionamentos, que fogem do planejado, criando dificuldades e constrangimento. Isto ocorre quando o professor não tem domínio do conteúdo, ou sabe, mas não confia no seu potencial. Quando há falta de confiança em si mesmo, utilizar materiais didáticos ou não, proporcionará resultados parecidos, pois os recursos utilizados não terão seu devido significado. Os alunos até poderão manusear os materiais didáticos ou contextualizar os conteúdos, porém certamente não terão a oportunidade de construir os conceitos e concluir fórmulas, pois o professor entregará tudo pronto para que possam resolver os exercícios. Esta triste realidade piora ainda mais, quando o professor acredita que levando alguns sólidos geométricos ou situações-problemas para a sala de aula e passando os conceitos e fórmulas prontas no quadro negro, estará construindo o conhecimento. Na busca da construção do conhecimento geométrico, há inúmeras metodologias diferenciadas, propostas pelos autores citados, para se ensinar geometria, como: jogos, resolução de problemas, etnomatemática, modelagem matemática, entre outros. Dentre estes, a que mais se destaca é a modelagem matemática, como uma alternativa de ensino que busca relacionar os conhecimentos práticos do cotidiano, com os conhecimentos sistematizados da sala de aula. Contudo, a construção da aprendizagem geométrica, com atividades que envolvam a modelagem matemática, o manuseio de materiais concreto e as contextualizações dos 13 conteúdos, torna-se significativa. Os alunos percebem, através da visualização, as várias formas que a Geometria assume, tanto nos sólidos geométricos, quanto nas figuras planas, a organização espacial dos objetos. A maioria destes alunos ingressará nas próximas séries com um grau de conhecimento mais avançado, relembrando as atividades realizadas em sala de aula, assim que o novo professor apresentar o conteúdo. Estas propostas têm como objetivo melhorar o ensino da educação de Geometria em sala de aula, buscando despertar o interesse do aluno em conhecer, aprender e construir os conhecimentos geométricos de forma significativa, estimulando o senso crítico e a curiosidade exploratória dos conteúdos, de forma objetiva em que isto solidifique conceitos cada vez mais complexos, em que o aluno supere os paradigmas impostos sobre o ensino da matemática em geral. Paradigmas estes impostos por uma sociedade estruturada, educacionalmente voltada à memorização de conteúdos, conceitos e fórmulas, em que professores se preocupam em vencer os conteúdos propostos para o ano letivo, desenvolvendo suas aulas num método tradicional de transmissão de conhecimento e decoreba. 14 4 A GEOMETRIA E A CONSTRUÇÃO CIVIL Quando o homem saiu das cavernas, deixou de ser nômade e passou a construir a sua moradia, surgiu-se a preocupação com as formas, pois era necessário desenvolver ferramentas e utensílios que os ajudassem no seu cotidiano. Isto estimulou o homem a observar as formas que existiam na natureza e a função que elas desempenhavam no seu contexto. Na reprodução do que se observava, construíram casas, prédios, monumentos, templos, etc. Com base nestas formas, o homem criou todo o ambiente em que vive, sendo que para aprimorar as aplicações destas construções, necessitou um desenvolvimento teórico, no qual envolve a Geometria. Atualmente, a Geometria é considerada um dos principais conteúdos, com aplicação matemática, ligada ao ramo da Engenharia Civil, e também, da Arquitetura. São através de formas e cálculos geométricos, que profissionais ligados a estas áreas, esboçam as plantas das casas, prédios, ruas, praças. Ela também se faz presente no dia a dia dos pedreiros e carpinteiros, na construção de casas. Estes profissionais não utilizam fórmulas para calcular ângulos e nem teoremas, como Pitágoras, para construir os telhados. Mas traduzem em suas obras, geralmente sem saber, os conteúdos, que distante dali, são ensinados em sala de aula. Conforme Biembengut (2004), a geometria contextualizada com o cotidiano, envolvendo a construção civil, pode ser uma opção a ser trabalhada em sala de aula. Relacionar, identificar e construir os conceitos geométricos que estão presentes neste ramo profissional permite aproximar a Geometria teórica da Geometria da aplicação, na qual o aluno desenvolve pensamentos geométricos manuseando e criando seu material propulsor de aprendizagem. 4.1 CONCEITOS GEOMÉTRICOS BASICOS PRESENTES NA CONSTRUÇÃO CIVIL Para uma melhor contextualização e identificação dos conteúdos geométricos, foi feita uma relação do que envolve a construção de uma casa. Com ela verificou-se que se faz necessário um capital financeiro, seguido de um terreno, do projeto da casa (planta baixa, 15 planta 3D), das licenças legais, do material (tijolo, areia, ferragem, madeiras), da mão de obra (engenheiro, pedreiro, carpinteiro, eletricista, encanador), entre outros. Todos os itens são importantes para a construção de uma obra, no entanto o projeto é o que mais se destaca, já que é através dele que se pode concretizar a obra dentro dos desejos de cada um, estimar o custo que será gerado e se este está dentro do orçamento do proprietário. Também auxilia o engenheiro a calcular a quantidade e o tipo de material a ser utilizado. Já para os profissionais envolvidos, diretamente na construção da obra, o mesmo serve como um guia. É através do projeto, que estes profissionais conseguem determinar a posição que a obra ficará em relação ao terreno, onde ficarão os pilares, as vigas e, até mesmo, como será o formato do telhado, seguindo sempre os regulamentos legais. Logo após o levantamento do que se utiliza na construção de uma casa, vem o segundo passo que é identificação dos conteúdos e em que situações eles podem ser explorados, envolvendo o contexto da construção civil. É importante o planejamento das aulas e o conhecimento do material que está sendo utilizado por parte do professor, pois geralmente quando a aula é contextualizada ao cotidiano, gera comentários entre os alunos, e ele poderá exemplificar com dados reais ou sanar dúvidas sobre o conteúdo envolvendo situações variadas. Na sequência serão apresentadas propostas de como construir conceitos de conteúdos geométricos do ensino fundamental, utilizando situações, materiais, entre outros, que estão presentes no dia a dia destes profissionais envolvidos com a construção civil. 4.1.1 Explorando a geometria plana na planta baixa O desenvolvimento dos conteúdos e a atuação do educador são pontos importantes na construção do conhecimento. Quanto melhor explorados os recursos disponíveis em sala de aula, mais satisfatórios serão os resultados obtidos. Por isso, sugere-se que o professor aproveite os recursos, a fim de desenvolver uma aula construtiva, em que os alunos realmente construam seus conhecimentos, visualizando e manuseando o material didático. A utilização da planta baixa, para o desenvolvimento dos conteúdos da Geometria Plana, proporciona também ao professor, a exploração do material de desenho geométrico 16 como: régua, compasso, transferidor. Ele sugerirá à turma o esboço de um projeto de planta baixa, seja da sala de aula, do colégio ou de sua casa. Talvez, trazer o esboço pronto e distribuir aos alunos seria mais cômodo para o professor, pois além de ganhar tempo, os alunos não se dispersariam enquanto desenham. No entanto, o resultado expresso pelos alunos, na construção e estruturação dos conceitos geométricos podem não obter a mesma profundidade e amplitude. Segundo Vygotski (1998 apund Grando; Marasini, 2008), “o conceito surge quando chegamos a conhecer o objeto em todos seus nexos e relações”. Portanto a sugestão é que o educador leve um esboço para a sala de aula, somente para os alunos identifiquem o que é uma planta baixa. Analisando a planta baixa de uma casa (figura 1), podem-se destacar conteúdos a serem explorados através de seu estudo, como: conceitos elementares de Geometria Plana, medidas de superfície e proporcionalidade. Conteúdos estes que terão sua ordem de aplicação, conforme a projeção de ensino do professor ou conforme o desempenho e exigência da turma. Figura 1 Fonte: O esboço apresentado pode instigar os alunos a desenvolver seus próprios conceitos sobre pontos, retas, plano, ângulos, circunferências e polígonos, identificando e estruturando o conhecimento da Geometria plana. 17 4.1.2 Ponto, reta e plano A interação do aluno com o conteúdo estudado o conduzirá a um processo de atribuições de significados para que este relacione o conteúdo com o material didático, possibilitando que o mesmo seja capaz de desenvolver os conceitos, de forma sequencial e organizada. O aluno visualizará que no encontro entre duas retas (que na planta representam as paredes da casa) ou nos extremos de um segmento de reta, existe o que determinamos de ponto. Sempre representado por letras maiúsculas A, B, C,..., Z. A parede de um quarto pode ser considerada um segmento de reta que tem seus extremos limitados por pontos, representado por , como mostra a figura 2. Figura 2 Fonte: Quando prolongado este segmento de reta para ambos os lados, seguindo nas mesmas direções, a reta é representada por letra minúscula (r, y, t) ou . Figura 3 Fonte: E se prolongar o segmento de reta somente para um lado, tem-se a semi-reta representada por . 18 Figura 4 Fonte: E as paredes laterais que estão na horizontal são retas, que uma ao lado da outra, numa mesma direção, determinam as retas paralelas. Figura 5 Fonte: Quando duas paredes se cruzam representam duas retas, que em determinado ponto cruzam e se tornam as retas concorrentes (figura 6). Quando as retas concorrentes têm a mesma abertura em todos os lados, tem-se o que chamamos de retas perpendiculares (figura 7): Figura 6 Fonte: Figura 7 Fonte: 19 Elaborados os conceitos acima, é imprescindível demonstrar que isso está contido em um plano, ou seja, o desenho da planta baixa pertence a um plano, que no caso é a folha de papel. Estes planos são representados por letras gregas (α, β), conforme figura 8: Figura 8 Fonte: Desta forma, a contextualização de conteúdos, com demonstrações, comentários e comparações, possivelmente, encaminha para um ensino diferenciado, no qual professor e aluno desenvolvem o ensino-aprendizagem e ambos se envolvem numa troca de experiência e numa pesquisa conjunta sobre as possíveis relações entre os conteúdos geométricos da sala de aula e a Geometria presente na construção civil. Geralmente, quando se faz a demonstração dos conteúdos na prática, consegue-se fazer entender a teoria. É muito mais fácil o aluno compreender o significado de um ponto quando o compara com os pilares, as retas com as paredes e o plano com o papel, em que está desenhada a planta baixa, ou o terreno no qual a casa será construída. 4.1.3 Porta e ângulos Atualmente, é comum se ter paredes nas casas formando ângulos diferentes de 90º graus, como no caso da figura 1. A parede entre a cozinha e a sala indica ao construtor que o ângulo não será reto. Também, se podem trabalhar os ângulos, analisando a abertura das 20 portas que dispõe de diferentes medidas de ângulos, conforme abrimos ou fechamos as mesma. Como mostra a figura 9: Figura 9 Fonte: Conforme Biembengut (2004, p.53), as portas representam semi-retas que giram em torno do ponto O, sem sair do plano que no caso é a folha de papel. Quando uma semi-reta faz um movimento de rotação, a parte descrita é determinada ângulo. Observando a figura 2, o espaço entre as semi-retas ( ), possui a mesma origem, determinando o ângulo AÔB, em que o ponto O é o vértice do ângulo. Na elaboração dos desenhos, o professor deve incentivar o uso dos materiais de desenho geométrico, como a régua para traçar as retas e o compasso para desenhar os ângulos, os arcos e as circunferências. E, para visualizar as medidas dos ângulos, fazer uso do transferidor. Por isso, conforme a série do ensino fundamental que está sendo aplicado o conteúdo, deve se explicar como se manuseia o transferidor e que este é um instrumento de medida, dividido em 180 partes iguais e que cada parte representa um grau. Quando se abre uma porta, fazendo o movimento de rotação, a área entre as duas semi-retas (a porta e a parede), pode assumir diferentes medidas de ângulos, ou seja, se a abertura da porta for de 90°, determina-se ângulo reto. Se a porta abriu e formou um ângulo de 180°, chama-se ângulo raso. E, por último se for uma porta giratória e esta completar uma volta completa tem-se o giro de 360°. Também classificamos os ângulos como: ângulo agudo – menor que 90° ângulo reto – igual a 90° ângulo obtuso – maior que 90° 21 Dois ângulos agudos, cuja soma é igual a 90°, determina-se que estes ângulos sejam complementares. Assim, como se a soma de dois ângulos quaisquer seja igual a 180°, tem-se ângulos suplementares. Os ângulos também podem ser congruentes, consecutivos ou adjacentes. Dois ângulos que possuam a mesma medida são chamados de ângulos congruentes. Figura 10 Fonte: O ângulo (lê-se “ é congruente a tem a mesma medida e pode ser feita a seguinte indicação: ”) Para que os dois ângulos sejam consecutivos, eles devem possuir o mesmo vértice e ter um lado em comum. Como na figura 11. Figura 11 Fonte: Aqui, identificam-se os ângulos AÔC, CÔB e AÔB. Dois ângulos que não possuem pontos internos em comum, chamam-se ângulos adjacentes. Duas retas concorrentes determinam vários ângulos adjacentes. Exemplos: 22 Figura 12 Fonte: Na figura 12 pode-se identificar o que é um ângulo oposto pelo vértice. Se observarmos os ângulos AÔB e CÔD, eles têm a mesma medida, mas são opostos entre eles. Isto porque os lados de um deles são semi-retos, opostos aos lados do outro. Nos estudos dos ângulos se tem o que se denomina bissetriz, que é uma semi-reta com origem no vértice desse ângulo e divide em dois outros ângulos congruentes. Veja abaixo: Figura 13 Fonte: m (AÔC) = m (CÔB) = 20º Nesse caso, a semi-reta é denominada bissetriz do ângulo AÔB. 23 Também se podem trabalhar os ângulos explorando inúmeras outras situações encontradas na construção civil, como os ângulos formados por escadas encostadas na parede, detalhes arquitetônicos das janelas, telhados e paredes. 4.1.4 Circunferência ou círculo? Uma porta giratória, em que o giro da porta se dá em torno de um pino, quando girada a um ponto de partida 0°, fazendo o giro de 360°, obtém uma volta completa. No papel, desenhada com o auxílio do compasso, a trajetória percorrida pela porta é chamada de circunferência. Na qual, o pino de giro da porta representa o centro (O) da circunferência. À distância entre o centro (O) e a circunferência determina-se raio (r). Se esticarmos uma linha de um ponto a outro ponto da circunferência, passando pelo centro se obtém dois raios (r) que determinam o diâmetro da circunferência, sendo D = 2r. Veja na figura abaixo: Figura 14 Fonte: Para um melhor entendimento, pode-se utilizar uma tampa circular e um pedaço de barbante. Faça a demonstração, deixando-os buscar suas próprias respostas. Aqui, identifica-se com os alunos a diferença de um círculo e uma circunferência. Visto que a circunferência é a linha que representa o giro de 360º e o círculo é a área limitada pela circunferência. As circunferências podem ser exploradas nas bitolas de canos de água e esgotos, em furos feitos em lâminas de vidro das janelas, das portas e do box para banheiro, necessários para a instalação de fechaduras e maçanetas. 24 Conforme a série que a atividade está sendo desenvolvida, pode-se explorar a atividade e construir a aprendizagem sobre o perímetro da circunferência, a área do círculo e as posições que uma reta pode ocupar em relação a uma circunferência e suas propriedades. 4.1.5 Os polígonos da planta baixa Se perguntassem aos alunos, que figura geométrica lembra o formato dos quartos, o que será que eles diriam? Dependendo a série, a resposta seria imediata. Considerando a planta baixa inicial, identifica-se que se trata de dois retângulos, ou dois quadriláteros. Também se pode dizer que são dois polígonos. Mas o que é um polígono? O professor deve instigar os alunos a determinarem que polígono é a reunião de segmentos de retas sucessivas entre si e que estas podem ser representadas pelas linhas que limitam o piso do quarto. Os polígonos podem ser classificados pelo número de lados ou vértices. Por exemplo, o polígono abaixo possui cinco lados e cinco vértices. Então nomeamos de pentágono. Figura 15 Fonte: Os lados têm os segmentos AB, BC, CD, DE e EA. Os vértices são os pontos A, B, C, D e E. Ainda, o professor deve propiciar aos alunos que por meio de análises e discussões, eles mesmos identifiquem e nomeiem os polígonos, principalmente os mais conhecidos, como: 25 Figura 16 Fonte: Os polígonos aparecem em várias situações de uma construção predial. Se analisadas as paredes de uma casa, elas têm a forma de um polígono de quatro lados e as cumeiras lembram triângulos. Esses são exemplos, entre inúmeros outros, que podem ser explorados em sala de aula. Os alunos podem ser instigados a pesquisarem outros exemplos que representem pentágonos, hexágonos. Também se pode pedir para que eles desenhem outra planta baixa, isto pode servir de termômetro para verificar qual o grau de aprendizagem estabelecido com a atividade e indicar, se tiver, quem ainda apresenta dificuldade. Portanto, é necessário incentivar os alunos a buscar mais informações para que obtenham êxito na construção do seu conhecimento. Utilizando-se o material proposto, a planta baixa de uma casa, direcionar os próprios alunos a construírem os conceitos dos conteúdos relacionados. Assim, através do manuseio do material, da contextualização, das discussões e reunião de informações, obtidos durante a análise e o estudo das possibilidades de aplicações, desenvolvam o ensino-aprendizagem de forma eficaz, fugindo da tradicional decoreba. 4.1.6 Um quarto de quatro lados Normalmente, ouvem-se pessoas chamar um retângulo de quadrado. Isto ocorre porque relacionam a figura geométrica, com base no número de lados, que é quatro, desprezando as medidas que cada lado possui. Tanto o quadrado, quanto o retângulo, são figuras geométricas, denominadas quadriláteras. 26 Conforme a planta baixa inicial percebe-se que nem todos os ambientes da casa são quadriláteros: Figura 17 Fonte: É importante possibilitar ao aluno a percepção que para ser um polígono quadrilátero, a figura geométrica deveria ser composta por quatro lados e quatro vértices: Figura 18 Fonte: Os ângulos são os ângulos internos do quadrilátero ABCD. O segmento de reta, que liga o vértice B ao vértice C, denomina-se diagonal (d). A diagonal é um segmento de reta que une dois vértices não consecutivos (CD). Ela representa a bissetriz do polígono, pois divide o ângulo ao meio. Isso pode ser demonstrado em sala de aula da seguinte forma: peça a um aluno para que se posicione em um canto da sala de aula e, utilizando um barbante, segure uma de suas pontas, estique-a até o outro lado da sala e peça a outro aluno para que fique neste canto segurando o barbante. Neste caso, o barbante ficará como se fosse ser a diagonal da sala. A exemplificação dos quadriláteros com a figura geométrica de um retângulo ou um quadrado é comum. No entanto, torna-se interessante propor aos alunos que busquem outros exemplos de quadriláteros, como o trapézio, o paralelogramo e o losango. 27 Figura 19 Fonte: 4.1.7 A soma dos ângulos internos A planta baixa de uma escada tem um de seus degraus à figura geométrica de um triângulo: Figura 20 Fonte: Os alunos devem ser incentivados a perceber que quando uma figura geométrica possui três lados ou três ângulos, denominam-se triângulo. E seus vértices são A, B e C. Os ângulos internos do triângulo ABC são representados por . Pelas medidas dos lados, os triângulos podem ser classificados como: Quadrilátero = tem todos os lados iguais; Isósceles = tem dois lados iguais; 28 Escalenos = tem os três lados diferentes; A medida dos ângulos internos permite uma classificação dos triângulos. Chama-se de triângulo acutângulo quando todas as medidas dos ângulos internos são menores que 90°. Triângulo retângulo possui um ângulo igual a 90° e dois ângulos agudos. E, o triângulo obtusângulo, um dos ângulos é maior que 90° e os dois outros são ângulos agudos. triângulo retângulo triângulo obtusângulo triângulo acutângulo Após a classificação dos triângulos, pode-se coordenar para que os alunos façam uma relação entre as medidas dos ângulos internos do triângulo, determinando a soma. Considerando um triângulo retângulo, que tem o maior ângulo de 90° e os outros dois são ângulos agudos, só resta determinar as medidas dos mesmos. Pode utilizar-se o raciocínio da diagonal da sala de aula. Então, como a sala de aula, geralmente é retangular, todos os ângulos são de 90°. Traçando uma diagonal com o barbante, divide-se a sala em dois triângulos retângulos, e consequentemente, o ângulo também será dividido em dois, com a mesma medida. Seguindo o raciocínio têm-se dois triângulos com medidas iguais. Se somarmos as medidas de cada triângulo temos: 90° + (90° ÷ 2) + (90° ÷ 2) = 180° Portanto, pode-se concluir que a soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a 180°. E, se um quadrilátero for dividido em dois triângulos se deduz que a soma desse, seja igual a 360°. Após a verificação dos quadriláteros e a determinação de como poderiam ser somados seus ângulos internos, sugere-se propor aos alunos uma apresentação de soluções para que a soma dos ângulos dos polígonos com mais ângulos, como o hexágono, octógono, decágono. Também, pode-se instigá-los a deduzir que a soma dos ângulos internos pode ser simplificada se considerarmos o seguinte: se um quadrado foi dividido em dois triângulos, em quantos triângulos podemos dividir um octógono? 29 A partir de um único vértice (A), traçar segmentos de retas, unindo os vértices nãoconsecutivos, dividindo em triângulos como no polígono abaixo: Figura 21 Fonte: Neste caso, com um polígono de oito lados, obtêm-se seis triângulos. Se multiplicados: 180° x 6 = 1080°. Propõem-se repetir esta operação com outros polígonos. Caso seja preciso utilizar novamente a prática da diagonal da sala de aula. Então, deixar que os alunos determinem qual é o número de lados que menos dois seja igual ao número de triângulos que multiplicado por 180° resulta na soma dos ângulos internos dos polígonos regulares. Também se deve permitir que os alunos construam os conceitos e desenvolvam as fórmulas, tornando as atividades da sala de aula muito mais atrativas, despertando o interesse pelo conteúdo, pois é muito mais interessante quando há desafios a serem superados. Se as fórmulas são dadas prontas, não haverá coisas que eles possam encontrar. Como sugestão para avaliar o entendimento de cada um sugere-se pedir aos alunos que exemplifiquem e proponham situações problemas contextualizados. Com isso possibilitase a visão dos mesmos sob outros ângulos dos conceitos construídos em sala de aula. 30 4.1.8 Perímetro e área das figuras geométricas É interessante o desenvolvimento de conteúdos, em sala de aula, que estejam contextualizados com o cotidiano. Muitos alunos não imaginam que um pedreiro utiliza cálculos de áreas geométricas e do perímetro para definir o material necessário para a construção de uma casa, o preço que cobrará de mão de obra ou a posição e o formato que a essa terá. Para a aplicação destes conteúdos geométricos, espera-se que os alunos já tenham embasamento dos conteúdos básicos envolvendo sistemas de medidas, como noção de medidas lineares (mm, cm, dm, m, dam, hm e km). Mas o que é o perímetro? Como pode ser calculado? Com base na planta baixa, pedir para que os alunos meçam as paredes de cada ambiente da casa, para verificar quantos metros de rodapé iria a cada um. Quando feito isto, conduzir os alunos à conclusão que perímetro é a soma da medida linear dos lados de um polígono. No caso, as paredes dos ambientes. Nos cálculos de áreas, trabalhar as unidades de medidas de superfícies, determinando km², hm², dam², m² dm², cm² e mm². Para a construção de conceitos de medidas de superfície plana, o professor pode utilizar as medidas da própria sala de aula. Juntamente com os alunos, identificar qual polígono a sala de aula representa. E, em seguida, com o auxílio de uma fita métrica medir as paredes, verificando suas medidas. Pedir aos alunos para que desenhem no caderno a planta baixa da sala de aula, numa escala de 1:1, e coloquem as medidas conforme seus respectivos lados. Conforme exemplo: Figura 22 Fonte: Com o auxílio da régua, divida a base e a altura em segmentos de 1 cm. Se obtiver 54 quadrados de 1 cm de lado, ou seja, 1*1=1 cm². Tem-se 54 quadrados. Então tem 54 cm². 31 Proporcione ao aluno a associação de que o produto da multiplicação da base pela altura é: 9 * 6 = 54 cm². Além de trabalhar as áreas do retângulo e quadrado, o professor poderá aproveitar o momento para trabalhar e desenvolver os conceitos de áreas e perímetros de outras figuras geométricas, como o triângulo, o trapézio, o losango, o círculo, a circunferência, entre outros. Também, identificar suas propriedades, deduzindo suas respectivas fórmulas para calcular suas áreas. Para isto poderá explorar as figuras que possuem o formato de terrenos, praças, quarteirões, a própria planta baixa de casas ou até detalhes arquitetônicos. Lembra-se que o cálculo do perímetro e da área dos ambientes de uma construção está diariamente presente na vida dos profissionais envolvidos. O pedreiro mede cada parede para sair conforme as medidas contidas na planta baixa. O pintor, guiando-se pelas medidas das paredes construídas, calcula a área da superfície para saber quanta tinta precisa ser comprada. O vendedor de material de construção calcula, pela planta, quantos metros de revestimentos precisarão e quantos metros lineares de rodapé. Enfim, opções de aplicações do cálculo geométrico não faltam para ser trabalhadas em sala de aula. Depende do professor, selecionar o melhor conteúdo a ser explorado, dando ênfase ao desenvolvimento e à construção da aprendizagem, valorizando os materiais didáticos levados. 4.1.9 O construtor e a escala O engenheiro ao projetar, no papel, a planta de uma casa, informa as medidas das paredes, a área de cada ambiente, e outros dados, como a escala em que a planta foi desenhada. A escala é uma razão de proporcionalidade. Ou seja, ela permite aumentar ou diminuir o tamanho de um desenho, para que este se mantenha semelhante ao original. Isto acontece porque quando aplicada a um desenho, ela atua em todas as medidas, como no exemplo: Um retângulo de lados 4 cm e 5 cm, se forem triplicar seu tamanho é só multiplicar 4*3 = 12 cm e 5*3 = 15 cm. Verifica-se que aumentou de tamanho, mas manteve-se semelhante ao original. 32 Quando o construtor civil está interpretando uma planta, ele analisa a medida indicada e sua escala. Com isso, sabe exatamente o tamanho da casa e as medidas de cada divisória. Então, quando uma figura geométrica tem tamanhos diferentes, mas as medidas dos lados diretamente proporcionais, considera-se figuras semelhantes. Ao passo que se constroem os pensamentos geométricos nos alunos e elaboram-se conceitos a cada anotação, um aprendizado eficaz se desenvolve em sala de aula. Possivelmente, o conceito sobre o que é uma planta baixa mudaria. Ao invés de só traçar as paredes, os alunos também colocariam medidas para estas, posicionando janelas e portas, informando as áreas dos ambientes. Entender com clareza, demonstrar e comprovar aos alunos com sabedoria e confiança, nos faz capaz de transformar uma parede em um segmento de reta. Um movimento habitual de abrir e fechar a porta torna-se uma situação de estudos sobre ângulos. Portanto, não faltam exemplos para a fábrica do conhecimento. A sugestão de se contextualizar, construir e/ou aprofundar os conhecimentos geométricos com a Geometria presente no ramo da construção civil, é mais uma proposta. 4.2 AS FIGURAS ESPACIAIS Quando se fala em figuras espaciais, é o mesmo que falar em figuras tridimensionais, ou também, como conhecidas nos programas tecnológicos de engenharia, figura em 3D. Atualmente, já existem programas de computador específicos para facilitar o trabalho dos projetistas. Eles possibilitam visualizar a planta baixa, a planta em 3D e a maquete da casa na tela do computador. Na planta 3D, se consegue visualizar a distribuição dos móveis de cada ambiente, com escala proporcional a medidas reais. As maquetes permitem à determinação do melhor formato do telhado da sua casa e como esta ficaria depois de pronta. Numa proposta de aplicação em sala de aula, de explorar os sólidos geométricos, contextualizando com a construção civil, Biembengut (2004, p. 83-84) sugere a confecção da maquete de uma casa, explorando os conteúdos geométricos, conforme aplicados durante o ano letivo, permitindo que o material didático seja manuseado várias vezes. A maquete pode ser de papelão, madeira ou isopor. 33 Nesta mesma concepção, a construção dos conceitos sobre as figuras espaciais e suas propriedades, é desenvolvida passo a passo durante o período letivo. A construção artesanal da maquete leva o aluno a observar que a figura espacial assume diferentes formas e que estas ocupam espaço físico. Há vários tipos de sólidos geométricos, como os exemplos abaixo: cubo cilindro prisma Os sólidos geométricos, como os prismas e as pirâmides, possuem base e faces limitadas por segmentos de retas. Se comparados a uma sala, por exemplo, as bases seriam o piso e o teto. E as faces seriam as paredes. O canto da sala representaria o vértice e, o encontro entre as paredes as arestas. No caso dos cilindros e dos cones, eles possuem bases, mas não possuem faces, nem arestas. E, a esfera, por ter suas retas em curvatura, não determina nenhuma das propriedades acima. 4.2.1 Área total de um sólido geométrico Para calcular a área total de um sólido geométrico, primeiramente, deve-se observar que forma geométrica que ele possui. Em seguida, observar as faces, para verificar quais polígonos foram usados para sua construção. O pintor, quando vai pintar as paredes externa de um prédio, determina a área total do mesmo. Observando que as faces e as bases desse possuem o formato de figuras retangulares, com medidas já determinadas, ele calcula a área de cada parede e a soma total, facilitando o cálculo da quantidade de tinta necessária para a pintura. Uma sugestão, para facilitar o cálculo dos diferentes sólidos geométricos, é a planificação dos mesmos, o que facilita a identificação das figuras planas. Sugere-se sua relação com objetos dispostos no cotidiano, como latas de pintura, caixas, sacolas, canos, entre outros. A utilização dos inúmeros sólidos geométricos, de várias formas, proporciona aos alunos o desenvolvimento de seus conceitos e o raciocínio lógico. 34 4.2.2 Volumes e capacidades O cálculo do volume de areia, que precisa para encher a carroceria de um caminhão, pode ser uma sugestão para o aluno conceituar o volume interno de um objeto. Ou seja, propõe a determinação da capacidade da carroceria. Como é um objeto tridimensional, ela possue três medidas: largura, comprimento e altura. Assim, o raciocínio pode ser construído a partir do cálculo da área do chão da carroceria. Multiplica-se a largura com o comprimento. O resultado, seguidamente deduz-se que se multiplica, com uma terceira medida: a altura. Portanto, o produto destas multiplicações é igual ao volume de areia. Vejamos: l*c = a²*h = v Pode ser feita a verificação do raciocínio, juntamente com os alunos. Considerando uma caixa, em formato cúbico, com 1 m de arestas, calcula-se: 1 m*1 m*1 m = 1 m³, decompondo fica 1 m*1 m = 1 m²* 1 m = 1 m³ Neste caso, o volume de areia, ou a capacidade da carroceria, é indicado conforme a unidade de medida utilizada (cm³, m³). Outra unidade de medida de capacidade bem conhecida pelos alunos é o litro (l), que pode ser expressa em unidades cúbicas. Esta unidade de medida divide-se em: Múltiplos: Quilolitro = Kl = 1000l Hectolitro = hl = 100l Decalitro = dal = 10l Submúltiplos Decilitros = dl = 0,1l Centilitro = cl = 0,01l Mililitro = ml = 0,001l Portanto, determina-se que 1l corresponde a 1dm³ ou a 1000cm³, aproximadamente. Os reservatórios de água são ótimos exemplos para se criar os conceitos e estabelecer relações entre as unidades de medidas. Eles podem assumir diferentes tamanhos e formas geométricas. Os reservatórios de água são opcionais numa obra. O dono pode optar pela sua instalação. 35 4.2.3 Quanto pesa 1000l de água? Calcular o peso que um reservatório de água tem, quando está cheio, é fundamental no momento de determinar o local de instalação. Geralmente, é indicado que se faça uma laje bem plana, para que o reservatório fique com toda a sua base assentada. Isto pode evitar possíveis transtornos. É interessante ressaltar aos alunos que massa e peso não são a mesma coisa. Biembengut (2004, p. 98-99) explica que a massa corresponde à matéria que compõe o corpo, e o peso é à força de atração que a terra exerce no corpo. O instrumento utilizado para fazer a medida da massa é a tradicional balança, com diferentes tamanhos, ela pode nos dar com precisão as medidas desejadas. Desde medidas pequenas, como os quilates, quanto às grandes medidas, como a tonelada. A medida de unidade de massa adotada é o quilo-grama (kg). Ele divide-se em: =>Múltiplos Quilograma = 1 kg = 1000g Hectograma = 1 hg = 100g Decagrama = 1 dag = 10g => Submúltiplos Decigrama = 1 dg = 0,1g Centigrama = 1 cg = 0,01g Miligrama = 1 mg = 0,001g Como determinado anteriormente, em volume, 1l de água é igual 1 dm³, sugere-se que os alunos meçam a massa dessa água, utilizando uma balança. Isto serve para que eles mesmos verifiquem que 1 litro de água é, aproximadamente, 1 dm³. E, 1 dm³ é, aproximadamente, 1 kg. Ou seja: 1l 1 dm³ 1kg. Portanto, 1000l de água equivale a 1 m³ e tem aproximadamente 1000 kg ou uma tonelada de massa. Daí a importância de se fazer uma base reforçada para sustentar o reservatório. 36 4.3 OS TRIÂNGULOS NAS CONSTRUÇÕES CIVIS É comum encontrarmos a forma triangular, aplicada em construções feitas pelos homens, principalmente nas estruturas de telhados, de portões, de pontes e estruturas metálicas. Esse procedimento é justificado por ser o triângulo uma figura rígida, ao contrário de quadrados e retângulos, que podem mudar de forma. O triângulo possui rigidez geométrica, isto é, dados os três lados, sendo a medida de qualquer um dos lados, é menor do que a medida da soma dos outros dois lados, defini-se o triângulo. O triângulo, uma vez construído, é capaz de modificar a abertura de seus ângulos e construir outro triângulo, porém sua forma não muda, sempre será um triângulo. Já outras estruturas geométricas, se exercerem força sobre elas, podem mudar de forma, veja: Figura 23 Fonte: Essa propriedade tem bastante valor e é muito utilizada na carpintaria, engenharia e arquitetura. Em especial, na construção da estrutura dos telhados, conhecida como tesoura ou treliça, feita de madeira e composta por diversos triângulos. Desta forma, conclui e justifica-se que as estruturas triangulares possuem maior resistência aos pesos nelas exercidos. A estrutura do telhado pode ser fortalecida se tiver a forma de um triângulo isóscele, pois o suporte central dividirá o triângulo em outros dois triângulos retângulos. Além disso, o telhado com forma triangular facilita o escoamento da água, evitando possíveis infiltrações. Na Europa, percebesse que os telhados possuem maior caimento que no Brasil. Isso porque a neve é intensa durante o inverno. Neste caso, os telhados possuem maior caimento para facilitar o deslizamento da neve e não comprometer a estrutura com o peso, aumentando também, a vida útil da telha. A estrutura do telhado é feita conforme o material a ser utilizado. É ela que determina as medidas e o caimento que o telhado terá. 37 4.4 APLICAÇÕES DO TEOREMA DE PITÁGORAS Os povos egípcios usavam uma corda com doze nós para construir o triângulo retângulo, ou seja, utilizavam para obter cantos com ângulos retos. O triângulo era formado pelas distribuições dos nós entre os lados, ficando assim, um lado com três nós, o outro com quatro nós e terceiro lado com cinco nós. Baseando-se neste triângulo retângulo particular dos egípcios, desenvolveu-se em sala de aula, a relação entre as medidas dos lados desse triângulo. Sugere-se utilizar o exemplo dos egípcios no desenvolvimento deste conteúdo. O interessante do triângulo retângulo é a relação que se estabelece entre as medidas dos lados. Se cada lado do triângulo fosse também o lado de um quadrado, obteríamos a seguinte figura: Figura 24 Fonte: Calculando as áreas dos quadrados: 5² = 25 5² = 4² + 3² 25 = 16 + 9 25 = 25 4² = 16 3² = 9 38 Observando os resultados, nota-se que a soma das áreas dos dois quadrados menores é igual à soma da área do quadrado maior. O filósofo e matemático grego, Pitágoras conseguiu provar que essa relação métrica era válida para todos os triângulos retângulos. Ficando a seguinte relação: a² = b² + c² Essa teoria é muito utilizada na construção civil. Com ela, pode-se calcular a altura de prédios, largura de rios para construção de pontes, altura dos telhados para o cálculo das telhas, entre outros. O pedreiro costuma verificar se a obra está no “esquadro”, ou seja, se as medidas estão certas. Ele poderia usar o Teorema de Pitágoras para fazer isto. Mas, atualmente, ele disponibiliza de uma ferramenta chamada esquadro, projetada especialmente para isso. Essa atividade pode ser realizada em sala de aula, para construir o conceito de relações métricas e desenvolver o Teorema de Pitágoras. Caso o professor venha de uma sequência de contextualização da Geometria com a construção civil, os alunos poderão construir a maquete de uma casa. Então, o podem utilizar para verificar se a casa não está torta, ou seja, se as medidas estão corretas. Sugere-se que primeiro seja medido e depois calculado conforme o teorema. Como mostra na figura: Figura 25 Fonte: a² = d² + c² e² = b² + a² a² = 3² + 5² e² = 3² + 4,8990² a² = 9 + 15 e² = 9 + 24 a = √24 e = √33 a = 4,8990 m e = 5,7445 m Portanto, para saber se as paredes estiveram corretamente no “esquadro”, elas terão as medidas encontradas acima. 39 Caso o professor não tenha ou esteja trabalhando com maquetes, ele pode utilizar outras situações que permitam a aplicação dos conceitos abordados, como: caixas, cubos, prismas ou a própria sala de aula. Além destas sugestões de aplicação do teorema, pode-se utilizar em diversas outras situações. Como no cálculo das madeiras, utilizadas nas estruturas dos telhados das casas, em que pode ser aprofundado o estudo das relações métricas no triângulo retângulo e suas propriedades. Neste caso, também podem ser explorados os conteúdos das relações trigonométricas nos triângulos, desenvolvendo o estudo e a aplicação de seus conceitos. O desenvolvimento dos conceitos da Geometria tridimensional e de suas propriedades, em sala de aula, pode apresentar uma aprendizagem mais ampla e significativa para o aluno quando se relaciona com objetos presentes no seu cotidiano. O incentivo à criatividade do aluno, mediante a construção da maquete de uma casa, permite a ele identificar os tipos de sólidos geométricos existentes, as formas que cada sólido assume e quais figuras geométricas representam cada face, bem como a área, o volume e a capacidade. Como mostra o exemplo do reservatório de água. Também, pode-se explorar o Teorema de Pitágoras com o cálculo da diagonal das peças da maquete para verificar se as medidas estão corretas. O desenvolvimento de um estudo completo sobre os triângulos pode ser feito com a construção dos telhados da maquete, proporcionando aos alunos uma aprendizagem mais complexa, construindo conceitos sobre relações métricas do triângulo retângulo, o próprio Teorema de Pitágoras e as relações trigonométricas nos triângulos. Também poderá verificar a importância que o triângulo tem, na construção civil, por ser uma figura geométrica rígida. Portanto, desenvolver uma aula prática, explorando os mais diversos materiais didáticos que permitam relacionar os conteúdos geométricos do ensino fundamental com o cotidiano dos alunos, possibilita um momento de troca de experiência entre aluno e professor, e também, entre os próprios alunos, permitindo que os conceitos dos conteúdos geométricos sejam construídos e a aprendizagem se desenvolva na vida do mesmo. 40 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho foram relacionados os conteúdos geométricos propostos para o ensino fundamental, que se encontram diretamente presentes na construção civil. Os conceitos foram construídos de forma contextualizada, seguindo uma sequência de complementação conceitual, conforme proposto inicialmente. Também foi sendo apresentada, no decorrer do desenvolvimento deste, outras propostas de aplicações para as construções dos conceitos geométricos neste ramo de atividade. O ensino da Geometria, apesar dos esforços, ainda não é devidamente valorizado. Pode-se verificar durante a pesquisa, que muitos professores não ensinam a Geometria porque, em suas concepções, ela não é importante para a formação do ser humano. Para eles, o importante é o ensino de Álgebra e Aritmética, e que estas sim, serão utilizadas pelos alunos. Este ponto de vista defronta-se com o que coloca os PCN’s Matemáticos (livro 1), pois apontam que os conceitos geométricos, assim como todo o contexto matemático, são possibilitadores do desenvolvimento de habilidades e competências essenciais na formação do indivíduo. Os PCN’s, assim como outros autores citados, propõem para o ensino da Geometria, aulas contextualizadas. Com atividades que envolvam o manuseio, dos mais variados materiais concretos, como: caixas, situações problemas e atividades lógicas. O objetivo de realizar aulas práticas e explorativas é aproximar a Geometria da sala de aula com a Geometria inserida na sociedade que vive. Pelo pressuposto que a Geometria surgiu pela necessidade do ser humano, de transformar e construir o ambiente em que se vive, a proposta de se ensinar Geometria, nas séries iniciais, ganha fundamento, pois devemos desenvolver os pensamentos geométricos com uma visão ampla, ultrapassando os limites escolares. O ensino-aprendizagem construído em sala de aula, envolvendo situações presentes na construção civil, colocou frente ao aluno, a possibilidade das relações que podem estabelecer entre conceitos e práticas diárias. O possível aprendizado construído com as necessidades apresentadas terá vinculo com o cotidiano presente, associando a realidade sócio-cultural do aluno, ao contexto escolar, atribuindo significado ao que está querendo ensinar. Os conteúdos com seus conceitos e as possibilidades de contextualizar, foram levantados, conforme proposto. Verificou-se que os conteúdos geométricos estão presentes 41 em várias situações. Os pensamentos da Geometria, básica e plana, foram sendo construídos relacionando com a planta baixa e suas atribuições. Para as figuras espaciais atribuiu-se a relação com objetos tridimensionais e a construção de maquetes, identificando suas formas, calculando suas áreas e volumes. Para o Teorema de Pitágoras, a proposta vai do cálculo na planta baixa para suas atribuições na Geometria espacial. Como pode ser visto, praticamente todos os conteúdos geométricos propostos para o ensino fundamental estão expressos na construção civil. Contudo, não se podem provocar abusos no uso dos materiais didáticos. Deve-se manter um equilíbrio entre teoria e prática. A sugestão é que se tenha a prática para que o aluno construa conceitos visuais, mas anexada a esta, os fundamentos da teoria. Conclui-se que, o ensino da Geometria está mudando suas concepções de como ser trabalhado em sala de aula, novas metodologias são propostas periodicamente, direcionadas cada vez mais, para o cotidiano. Técnicas que estão exigindo do educador conhecimento e profissionalismo. 42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIEMBENGUT, Maria Salett. Modelagem Matemática & Implicações no Ensino e na Aprendizagem de Matemática. 2. ed. Blumenau: Edfurb, 2004. BIEMBENGUT, Maria Salett; HEIN, Nelson. Modelagem Matemática no Ensino. 3. ed. São Paulo. Contexto, 2003. BOYER, C.B. História da Matemática. Tradução Elza F. Gomide. 2ª ed., São Paulo. Edgard Blucher, 2002. D’AMBROSIO, Ubiratan. Educação Matemática da Teoria à Prática. Coleção Perspectiva em Educação Matemática. Campinas, SP. Papirus, 1996. FONSECA, Maria da Conceição F. R., et al. O Ensino de Geometria na Escola Fundamental: Três questões para formação do professor dos ciclos iniciais. Belo Horizonte: Autentica, 2001. GIARDINETTO, José Roberto Boettger. Matemática Escolar e Matemática da Vida. Coleção Polêmicas do Nosso Tempo; v. 65. Campinas, SP: Ed. Autores Associados, 1999. GRANDO, Neiva Ignês, MARASINI, Sandra Mara. 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