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ANÁLISE LINGUÍSTICA: COMO O PROFESSOR DE LÍNGUA
MATERNA (RE) ELABORA ISSO EM SEU DISCURSO E EM SUA
PRÁTICA DE SALA DE AULA?
Oziel Pereira da Silva (UFT)
[email protected]
Janete Silva dos Santos (UFT)
[email protected]
RESUMO: A Análise Linguística é uma nova proposta para o estudo/ensino dos conteúdos
gramaticais que direciona o aluno a uma reflexão sobre a função dos recursos linguísticos
empregados nos textos, tendo em vista o desenvolvimento de suas capacidades linguísticodiscursivas. Ela surgiu como resposta aos resultados pouco significativos apresentados pelo
modelo tradicional de ensino quanto às práticas de leitura e produção textual. Enquanto no
ensino tradicional de gramática as atividades metalinguísticas [definição, classificação e
exercitação] têm prioridade, na análise linguísticaprivilegia-se o enfoque epilinguístico,
reflexivo, não mais mecânico e descontextualizado. Faz-se análise linguística, portanto, não
apenas considerando e/ou extraindo do texto frases, orações e períodos empregados
descontextualizadamente, mas produzindo uma atividade de reflexão sobre a linguagem como
um todo, abordando os múltiplos aspectos que a constituem [incluindo-se, os pragmáticos e
semânticos] e a relacionam com as práticas concretas dos sujeitos em situações reais de
interlocução, de modo que leve o aluno a perceber seus diferentes contextos de uso [da
linguagem], a considerar seus interlocutores no momento de leitura/produção e os diferentes
efeitos de sentido, produzidos pelo uso de um ou outro elemento gramatical. Esta pesquisa,
em fase inicial, busca compreender como o professor constrói seu discurso e sua prática frente
às demandas da análise linguística. Para isso, valer-se-á do método qualitativo [estudo de caso
múltiplo], bem como, das contribuições da Linguística Aplicada e da Análise de Discurso de
linha francesa (Pêcheux e Orlandi).
Palavras-chave: Análise Linguística; Análise do Discurso; Ensino.
1 Introdução
O domínio de uma língua por seus falantes é um bem cultural de valor simbólico
inestimável, uma vez que, enquanto marca de identidade de um povo, ela os significa perante
os seus pares, constituindo-os sujeitos que agem ativamente por meio dela para a construção
e, ainda, para a transformação do contexto no qual se acham inseridos.
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É interessante notar, porém, que o entendimento de como se dá esse domínio pode
variar de acordo com as diferentes concepções que estudam a língua, isto é,há modos
diferentes de conceber como os saberes linguísticos devem ser construídos para que os
falantes desenvolvam suas competências linguístico-discursivas. Geralmente, tem-se, de um
lado, uma postura mais conservadora, que faz uso de uma metodologia que privilegia o ensino
prescritivo das formas linguísticas [à parte do texto], com vistas a um melhor domínio do
código pelo aluno e, do outro, uma proposta que intenta superar as incoerências e
insuficiências teórico-metodológicas do modelo tradicional. Na perspectiva em questão, as
atividades de reflexão sobre a língua [epiliguísticas] sobrepõem-seàs de definição,
classificação e exercitação [metalinguísticas] (BRASIL, 1998 p. 29);O trabalho com os
elementos gramaticais visa não à memorização, mas à compreensão dos sentidos do texto, a
partir da função que nele desempenham, bem como, à adequada utilização desses elementos
nas produções textuais. Essa [nova] proposta de renovação é denominada de Análise
Linguística (AL).
Sendo
assim,
nossa
investigação
será
norteada
pela
seguinte
questão
problematizadora: O que o professor de língua materna compreende por “prática de análise
linguística?”.
O objetivo geral desta pesquisa é compreender o imaginário do professor acerca das
novas demandas sobre a abordagem da língua orientada pelos PCN e por teorias atuais de
ensino de gramática. Constituem-se como objetivos específicos: (i) verificar como o professor
de língua materna (re) elabora os princípios da análise linguística em seu discurso e em sua
prática de sala de aula; (ii) confrontar as duas interpretações feitas no primeiro objetivo; (iii)
identificar como, através das marcas linguísticas, ele se (re)constrói em seu discurso frente
aos novos desafios impostos por essa nova abordagem de ensino de gramática. O campo de
investigação será uma Escola Estadual localizada no município de Conceição do Araguaia,
região Sul do Pará, com 03 (três) docentes da 1ª, 2ª e 3ª séries do Ensino Médio, num total de
três turmas; Nosso percurso METODOLÓGICO será norteado POR UMA ABORDAGEM
QUALITATIVA e o TEÓRICO será construído sob bases interdisciplinares, concretizadas
pelo diálogo entre a Linguística Aplicada e a Análise de Discurso de linha francesa.
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2 Justificativa
Nas últimas décadas, o ensino de língua portuguesa tem sido objeto de
questionamentos constantes, posto que, estudiosos têm constatado que a prática tradicionalnormativa, por privilegiar o ensino transmissivo e memorístico da nomenclatura gramatical
com suas inúmeras classificações e regras [estudadas à parte do texto], pouco tem contribuído
para a formação e o desenvolvimento da competência linguístico-discursiva dos alunos, e
cujos resultados refletem junto aos sistemas de avaliação de desempenho. Assim, a
questionável eficiência desse modelo levou ao surgimento da Análise Linguística (AL), uma
nova proposta para o estudo/ensino dos conteúdos gramaticais com base em textos que
circulam socialmente, que direciona o aluno a uma reflexão sobre a função dos recursos
linguísticos neles empregados.
Nesse contexto de transição, entre uma prática já há muito estabelecida e outra que
tenta estabelecer-se propondo mecanismos de abordagem totalmente significativos e
inovadores em relação ao estudo da língua, está o professor com seus questionamentos,
dúvidas e inseguranças, resultantes de um trabalho que, por anos a fio, demandou ações
fundamentadas na tradição normativa.
Desse modo, interessa a este trabalho compreender como o professor se constitui
sujeito produtor de seu próprio discurso e de sua prática, frente às demandas da análise
linguística. Igualmente, interessa ainda, contribuir para o aprofundamento das discussões que
envolvem essa nova proposta de ensino da língua materna, acreditando que o desempenho
satisfatório das competências exigidas, sobretudo dos estudantes das etapas finais da educação
básica, somente ocorrerá, dentre outros, mediante um ensino que possibilite a efetivação do
eixo uso-reflexão-uso, preconizado nos PCN.
3 Fundamentação teórica
A crítica à prática tradicional de ensino de gramática tem se tornado cada vez mais
frequente, e são muitos os estudiosos que têm se dedicado a essa questão. Só para citar
alguns: (GERALDI 2004; ANTUNES, 2003 e 2007; BAGNO, 2007; SILVA, 2011). Isso
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ocorre, dentre outros, porque esse modelo subsidiado por pressupostos lógicos e filosóficos se
preocupa em fixar padrões linguísticos, com vistas à supervalorização da norma social de
prestígio, a chamada norma culta. Ressalte-se, que o principal equívoco dessa abordagem
reside, não em ensinar a norma culta, mas em como a efetiva, ou seja, por meio do
conhecimento/reconhecimento das estruturas linguísticas, de exemplos criados para fins de
memorização da teoria e de repetitivos exercícios de fixação, futuramente cobrados em um
processo avaliativo. (cf. ANTUNES, 2003)
Crê-se, equivocadamente, que o domínio de aspectos fonéticos, morfológicos e
sintáticos é suficiente para transformar os alunos em leitores e escritores proficientes. A esse
respeito, a mesma autora (2007, p. 53-67) é enfática ao afirmar que “Não basta saber
gramática para falar, ler e escrever com sucesso”. Há diversos conhecimentos implicados no
desenvolvimento dessas competências, dentre as quais o “conhecimento do mundo, das regras
de textualização e das normas sociais de uso da língua”.
Entretanto, já em meados dos anos 1980, Geraldi em O texto na sala de aula
propunha uma nova abordagem de estudo/ensino da gramática, a prática de Análise
Linguística (AL), cujo objetivo essencial é a “reescrita do texto do aluno.” E, mais: “O
objetivo não é o aluno dominar a terminologia (embora possa usá-la), mas compreender o
fenômeno linguístico em estudo.” (GERALDI, 2004 p. 74)
Em concordância com os mesmos pressupostos, Mendonça (2006, p.208) afirma:
O que configura um trabalho de AL é a reflexão recorrente e organizada,
voltada para a produção de sentidos para a compreensão mais ampla dos
usos e do sistema linguístico, com o fim de contribuir para a formação de
leitores-escritores [...].
Conforme se depreende, sob essa perspectiva privilegia-se o enfoque epilinguístico
(reflexivo; não mais mecânico e descontextualizado), que mediante uma compreensão
funcional [efeitos de sentido] dos recursos linguístico-expressivos, possibilita a construção de
sentidos no processo de leitura e de reescrita textual; Uma atividade, enfim, de reflexão sobre
a linguagem como um todo, abordando os múltiplos aspectos que a constituem [incluindo-se,
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os pragmáticos e semânticos] e a relacionam com as práticas concretas dos sujeitos em
situações reais de interlocução.
A coerência dessa abordagem foi tão significativa que teve seu reconhecimento
concretizado nos Parâmetros Curriculares Nacionais- PCN (Brasil, 1998), que sugerem um
trabalho a partir de atividades que envolvam o eixo uso-reflexão-uso, isto é, ter como ponto
de partida atividades que envolvam o uso da língua (escuta, leitura e produção de textos orais
e escritos), seguidas de prática de análise linguística, (atividade de reflexão sobre a língua).
Esses documentos trazem duas observações que merecem ser consideradas: a primeira
explicita os objetivos a serem alcançados pelo aluno, mediante um trabalho com a AL.
Espera-se que ele
•
constitua um conjunto de conhecimentos sobre o funcionamento da
linguagem e sobre o sistema linguístico relevantes para as práticas de escuta
,leitura e produção de textos;
•
aproprie-se dos instrumentos de natureza procedimental e conceitual
necessários para a análise e reflexão linguística (delimitação e identificação
de unidades, compreensão das relações estabelecidas entre as unidades e das
funções discursivas associadas a elas no contexto);
•
seja capaz de verificar as regularidades das diferentes variedades do
Português, reconhecendo os valores sociais nelas implicados e,
consequentemente, o preconceito contra as formas populares em oposição às
formas dos grupos socialmente favorecidos (PCN 1998, p.52).
Não é difícil chegar-se à conclusão de que o cumprimento desses objetivos não se
efetivará, apenas ensinando-se aos alunos as regras da gramática normativa, posto que, o
dinamismo da língua extrapola, muitas vezes, as noções reducionistas nela prescritas. Logo, é
imprescindível que o professor reavalie sua concepção de linguagem, reveja seus conceitos e
sua prática, a fim de criar e desenvolver metodologias que possibilitem aos discentes uma
compreensão real da língua que utilizam.
A segunda observação de que falamos explica que a AL “não é uma nova
denominação para o ensino de gramática” (PCN, 1998 p.78). Isso posto, torna-se contraditório
afirmar que se está fazendo uma atividade reflexiva sobre a língua(gem), se as atividades
metalinguísticas [nomenclaturas, classes gramaticais, etc] tiverem primazia sobre as
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epilinguísticas. Haverá, tão somente, mudança de nomenclatura e utilização do texto como
pretexto para o ensino de normas e regras.
Entenda-se, que na AL não se ignora a importância dos elementos gramaticais,
todavia, estes são analisados não mais como significantes, formas isoladas de um sistema,
mas cotexto e contextualmente. Além do mais, nessa prática, os aspectos semânticopragmáticos (logo, não apenas os fonéticos, morfológicos, sintáticos) são também abordados
como elementos proporcionadores de sentidos diversos, a depender das relações interacionais
do ato comunicativo e das finalidades do emissor/produtor.
A compreensão, na totalidade, desse emaranhado teórico pelo professor não é tarefa
fácil. Este, disposto a desempenhar sua função de forma resoluta e significativa, tenta adequar
o conhecimento já estabelecido (tradicional) com o outro (novo) que se propõe a oferecer
conceitos, abordagens e metodologias disruptivas no trato com a gramática; Nesse entremeio,
vai construindo seu discurso e desempenhado sua prática, tentando adequá-los aos preceitos
firmados nos documentos oficiais.
Convém ressaltar, que os pressupostos teóricos que nortearão nosso percurso
investigativo advêm dos estudos da Linguística Aplicada [doravante LA] e das contribuições
da Análise de Discurso [doravante AD] de linha francesa (Pêcheux e Orlandi) desta,
abordando noções: como sujeito, ideologia, assujeitamento, incompletude, dentre outras.
3.1 Da Linguística Aplicada
As discussões que envolvem práticas de ensino da língua são território de interesse
da LA, posto que, se preocupa com questões sociais, dentre as quais, aquelas que envolvem os
usos da linguagem, por seu turno, efetivados na interação entre sujeitos sociais contextual e
ideologicamente situados. Dito de outro modo, a LA, em sua essência, contribui com o
desenvolvimento de políticas públicas que visam à formação linguística e sociocultural do
indivíduo:
Tendo em vista que a linguagem permeia todos os setores de nossa vida
social, política, educacional e econômica, uma vez que é construída pelo
contexto social e desempenha papel instrumental na construção dos
contextos sociais nos quais vivemos, está implícita a importância da LA no
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equacionamento de problemas de ordem educacional, social, política e até
econômica (CELANI, 2008, p. 20 apud SANTOS, 2010 p.12).
Outro aspecto a considerar é que, por ser uma área que constrói suas próprias teorias,
não as dissociando da prática, a LA além de contribuir para seu fortalecimento interno,
também colabora com o avanço do conhecimento em outras áreas do conhecimento, uma
demonstração de sua natureza interdisciplinar. (MOITA-LOPES, 1996 p.21 apud SANTOS,
2010 p.10-1)
Por tudo isso, acredita-se que as implicações feitas ao ensino de língua materna pela
LA, contribuirão para o enriquecimento desta pesquisa, bem como, para um melhor
direcionamento das práticas docentes.
3.2 Da Análise do Discurso
Fundada por Michel Pêcheux, no início dos anos 60 do século XX, a vertente
francesa da AD privilegia, como o próprio nome indica, o discurso. Não o discurso enquanto
fala de alguém (ato puramente psicofísico), informação transparente e despretensiosa
(construção linear de sentido imanente), mas o discurso enquanto “efeito de sentidos”
resultante de práticas sócio-históricas construídas sob a linguagem e marcadas pela ideologia.
(ORLANDI, 2005 p.21)
Segundo palavras da mesma autora: “Na análise de discurso, procura-se compreender
a língua fazendo sentido, enquanto trabalho simbólico [...]” (p.15). Depreende-se, logo, que o
fazer sentido da língua exige uma estreita relação com outros elementos externos ao sistema
(a ideologia, a história e o inconsciente), contrariando, portanto, o que defendiam os
estruturalistas. Deve-se analisar os fenômenos da língua intentando encontrar nas entrelinhas
da materialidade linguística, traços característicos que indiquem/suponham/sugiram
significações outras diferentes daquela supostamente inerente no texto.
Esse novo olhar sobre a língua [texto] proposto pela AD visando o estabelecimento
da relação entre a linguagem e a exterioridade se deu mediante as contribuições da Linguística
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e das Ciências Sociais: Marxismo [materialismo histórico, de quem ela herdou conceitos
como ideologia, historicidade] e Psicanálise [inconsciente]. Assim,
Ela [AD] se constitui na relação da Linguística com as Ciências Sociais não
enquanto complementação de uma pela outra, ou melhor, como se ela
pudesse superar o limite (a falta) necessário que define a ordem de cada uma
dessas disciplinas. (ORLANDI, 1994 p.53) [acréscimo nosso]
Deve-se ter claro, que as contribuições advindas de outras ciências não foram
recebidas acrítica e passivamente, mas questionadas e reformuladas a fim de atender aos seus
objetivos,
[...] a Linguística, para se constituir, exclui o sujeito e a situação (o que
chamamos exterioridade), e as Ciências Sociais não tratam da linguagem em
sua ordem própria [...]como sistema significante[...],como se ela fosse
transparente. [...] A Análise de Discurso, por seu lado, ao levar em conta
tanto a ordem própria da linguagem como o sujeito e a situação [...] vai
estabelecer sua prática na relação de contradição entre esses diferentes
saberes.[...] A Análise de Discurso produz realmente outra forma de
conhecimento, com seu objeto próprio, que é o discurso,[...] lugar específico
em que podemos observar a relação entre a linguagem e a ideologia. (idem)
Ao eleger o discurso como seu objeto a AD inscreve o sujeito, constituído pela
história e pela ideologia (que será discutida logo abaixo), na dinâmica da relação que procura
articular a linguagem com os fatores externos ao sistema, contrariamente, ao que fazia a
linguística. Veja-se, que o sujeito preconizado não é o indivíduo em si, mas aquele que fala a
partir de uma posição discursiva, por sua vez, produzida pelas formações discursivas, e estas,
pela ideologia; Que se constrói na história pelo jogo dialético entre o já-dito (interdiscurso,
memória discursiva) e o que se está dizendo (intradiscurso) para, enfim, firmar-se e significarse em relação ao mundo por meio daquilo que diz.
Conceito fundamental em AD, a ideologia é concebida não em termos sociológicos,
ou seja, enquanto construção teórico-filosófica que supõe a imposição de um discurso com
vistas à legitimação de uma classe em relação à outra, que julga ser inferior. Aqui, ela é
entendida como princípio estruturante do processo discursivo de construção de sentidos, posto
que, o estabelecimento destes supõe interpretação por parte do sujeito e este ao fazê-la, reflete
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suas constituições ideológicas. Nesse contexto, são esclarecedoras as palavras de Pêcheux
(1975): “não há discurso sem sujeito e não há sujeito sem ideologia.” (PÊCHEUX, apud
ORLANDI, 2005 p.17)
Outro termo vinculado aos abordados acima é o de assujeitamento, entendido como a
destituição/anulação do sujeito de sua posição de produtor [histórico] de sentidos, sob
influência do inconsciente, e que transforma esse sujeito em repetidor acrítico dos discursos
provenientes do interdiscurso [assujeitamento passivo].
Há, por outro lado, um tipo de assujeitamento, de igual modo influenciado pelo
inconsciente, que leva à desestabilização, ao rompimento de práticas cristalizadas, fazendo
emergir o novo e isso, mediante o desenvolvimento da historicidade do sujeito
[assujeitamento reflexivo].
A posição discursiva do sujeito, de que falamos anteriormente, resulta de um
processo sócio-histórico complexo que o coloca em constantes movimentos de construção e
reconstrução de si mesmo, enquanto produtor de sentidos. Depreende-se disso, que ambos
[sujeito e sentido] apresentam como marca a incompletude, mecanismo que possibilita serem
eles desenvolvidos em suas relações dinâmicas com a língua e a história.
As contribuições da AD para esta pesquisa se dão exatamente por ela oferecer um
melhor entendimento da construção do professor-sujeito, por seu discurso, em relação ao
objeto de pesquisa em foco, a análise linguística.
4 Metodologia
Os princípios norteadores desta pesquisa são os qualitativos (CHIZZOTTI, 2006;
LÜDKE & ANDRÉ, 1986; BORTONI-RICARDO, 2008 dentre outros) sob a forma de estudo
de caso múltiplo (YIN, 2001).
Do contexto das chamadas “revoluções científicas” de que falou Kuhn (2007)
sobressaíram-se dois paradigmas quanto à compreensão e construção do conhecimento
científico: Um de cunho positivista e o outro, interpretativista; às nossas finalidades interessa
este último.
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O paradigma interpretativista [qualitativo], diferentemente do paradigma positivista
[quantitativo], propõe um percurso diferente de produção do conhecimento. A preocupação
não está em quantificar os dados, em coletá-los em quantidades elevadas (TRIVIÑOS, 1987
p.132) e, muito menos em manter o pesquisador distante de seu objeto de pesquisa.
Particularmente, sobre esse aspecto Lüdke & André (1986) asseguram:
Não há, portanto, possibilidade de se estabelecer uma separação nítida e
asséptica entre o pesquisador e o que ele estuda e também os resultados do
que ele estuda. Ele não se abriga, como se queria anteriormente, em uma
posição de neutralidade científica [...] (p.3-5)
Nessa perspectiva, os dados são gerados em seu ambiente natural, com o uso de
questionários, entrevistas, observações, etc.; As hipóteses são testadas, não no final, mas no
momento em que o pesquisador assim o desejar; A objetividade dá lugar à subjetividade do
pesquisador, entendida aqui, não como uma ação contemplativa, mas como uma atividade
fundamentada em pressupostos teóricos que lhe permitam uma visão correta dos fatos e
garantam a qualidade do processo; A análise dos dados não requer, necessariamente, o uso de
métodos estatísticos, entretanto, pode deles fazer uso.
De maneira geral, prioriza-se a compreensão, a ampliação e o aprofundamento das
questões pesquisadas [impressões, valores, discursos, etc.] valorizando-se todos os dados da
realidade estudada, o significado que as pessoas atribuem à vida e às coisas que integram seu
cotidiano, dentre outros.
Conforme afirmamos inicialmente, nossa pesquisa será desenvolvida com base nos
princípios qualitativos, visto acreditarmos que a realidade educacional se constitui em um
objeto complexo que para ser compreendido, deve ser analisado para além de dados
estatísticos que apenas confirmam hipóteses. Para isso, o método de abordagem será o estudo
de caso múltiplo.
O estudo de caso prima, em essência, pelo estudo de um objeto dentro de uma
realidade diversificada e multifacetada [contexto natural], por sua singularidade representativa
dentro dessa realidade. (LÜDKE & ANDRÉ, 1986 p. 21)
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Dentre as características desse método temos a ênfase na interpretação em contexto,
por considerar que a apreensão mais completa de um objeto é possível somente levando em
conta o contexto em que ele se situa; busca retratar a realidade de forma completa e profunda;
utiliza fontes variadas de informações; os dados podem ser apresentados de variadas formas
[desenhos, fotografias, slides, etc]; O relato narrativo é construído informalmente, e pode ser
ilustrado por figuras de linguagem, citações, etc. (LÜDKE & ANDRÉ, 1986 p. 18-20).
De acordo com Yin (2001), “O mesmo estudo pode conter mais de um caso único.
Quando isso ocorrer, o estudo precisa utilizar um projeto de casos múltiplos” (p.67) (destaque
nosso). Nossa pesquisa se valerá dessa variante do estudo de caso, por enfocar três casos
[sujeitos] como objeto de estudo, tendo por objetivo descrever o modo como se dá a
construção de seus discursos em relação à análise linguística.
Citando Herriot & Firestone (1983), o mesmo autor afirma que "As provas
resultantes de casos múltiplos são consideradas mais convincentes, e o estudo global é visto,
por conseguinte, como sendo mais robustos.” (p.68). Isso não significa que a consecução
desse tipo de procedimento seja fácil. Ele exige, dentre outros, maior disponibilidade de
tempo por parte do pesquisador, além dos atributos que já lhes são requeridos.
Os instrumentos de pesquisa que utilizaremos para a geração de dados
compreendem: (a) observação de aulas de língua materna; (b) questionários (abertos e
fechados); entrevistas semiestruturadas aplicadas às professoras investigadas; (c) produção de
notas de campo [descrição das aulas; conversas com as professoras, etc].
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