CONHECIMENTO E PODER NA SAÚDE: IMPLICAÇÕES PARA O PROJETO DA SAÚDE COLETIVA João Arriscado Nunes CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS – LABORATÓRIO ASSOCIADO FACULDADE DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA [email protected] www.ces.uc.pt O projeto da saúde coletiva - A saúde colretiva como projeto de conhecimento e projeto político - O horizonte da transformação do “modelo biomédico” (S. Arouca, 1975) - Realizações e limites da saúde coletiva As transformações da vida e da saúde - Da “vitalidade das profundidades e determinações” à vitalidade das “superfícies e associações” (N. Rose, 2007) - Biomedicalização da saúde e visão molecular da vida - Nova economia política da saúde; emergência do biocapital - Política da “vida mesma”, novas formas de biopoder, biosocialidade e biocidadania A biomedicalização da saúde - importância crescente para a saúde dos conhecimentos e tecnologias das ciências da vida - ênfase na “saúde mesma” (mais do que na doença) e emergência das medicinas do risco e da vigilância e da “oprimização somática” - reconstituição da economia política do sector da saúde, emergência e expansão do biocapital - mudanças na produção, distribuição e consumo do conhecimento biomédico e da gestão da informação médica - transformação dos corpos, com novas propriedades, actores emergentes e identidades colectivas tecnocientíficas (cidadania somática, biosocialidade, biocidadania) (A. Clarke et al, 2003; N. Rose, 2007; P. Rabinow, 1996) Biopoder, biosocialidade e biocidadania Expressões do biopoder A biosocialidade e as suas formas A biocidadania (Rabinow, 1996; Rose, 2007; Gibbon e Novas, 2008) Biopoder - Discursos de verdade sobre o carácter “vital” dos seres humanos - Conjunto de autoridades consideradas competentes para enunciar a verdade - Estratégias de intervenção na existência colectiva em nome da vida e da saúde - Modos de subjectivação: o trabalho sobre si em nome da vida ou da saúde individual ou colectiva (P. Rabinow e N. Rose, 2003) Biocidadania Formas de biocidadania: - cidadania sanitária (C. Briggs e C. Mantini-Briggs) cidadania biológica (A. Petryna) cidadania farmacêutica (J. Biehl) cidadania biomédica (S. Epstein) Questões - Diversidade de definição da saúde e dos problemas de saúde - Diversidade dos processos de biomedicalização - Diversidade de formas emergentes de biosocialidade e de cidadania biológica - Diversidade de actores colectivos na saúde: movimentos sociais na saúde, organizações de pacientes - Diversidade de formas de participação pública e inovação institucional no domínio da saúde Para repensar a saúde coletiva Saúde coletiva como ecologia de saberes (B. S. Santos) Diversidade interna dos saberes da saúde Ciências sociais e humanas Saberes “profanos”, locais ou indígenas, alternativos ou tradicionais Interferências entre saberes Novas configurações Pragmatismo epistemológico Para repensar a saúde coletiva Economia política da saúde Saúde como bem público SUS como expressão institucional da saúde como bem público Reafirmação e realização dos princípios na fundação do SUS: universalidade, equidade, integralidade Orientação para solidariedade e lógica do cuidado e da atenção Solidariedade pragmática Gestão descentralizada e participativa com repasse adequado de recursos financeiros Controle social como condição de sustentabilidade de orientação solidária Sustentabilidade financeira do sistema: processo de alocação de recursos “resistente” a mudança de políticas de governo Desenho e aplicação de procedimentos de avaliação do sistema, do seu desempenho e dos seus agentes (incluindo métricas) adequados à sua natureza pública e solidária Articulação com pesquisa e desenvolvimento tecnológico orientados por mesmos princípios e por soberania cognitiva e sanitária Para repensar a saúde coletiva Política da vida Baseada no “princípio vida” (E. Dussel, F. Hinkelammert) Saúde como Direito Humano Positivação dos direitos ligados a subsistência, desenvolvimento e promoção da vida humana Ampliação e articulação de políticas públicas Cidadania sanitária, cidadania coletiva Diversidade de atores do campo da saúde Diversidade e distribuição dos lugares de realização da política da vida como condição da efectivação desse direito Espaços de luta, tensão entre instituinte e instituído Controle social Lugares de articulação do conhecimento, da política da vida e dos direitos: por ex., formação em saúde, promoção de saúde, conferências e conselhos, atenção básica