Energia
Aposta energética do país deveria recair por todo setor e não só os
domésticos da eletricidade - António Sarmento
2010-12-27, 07h15
Lisboa, 27 dez (Lusa) -- O especialista em energia das ondas António Sarmento considera que os
custos da aposta do país nas renováveis deveria recair sobre todo o setor da energia (fósseis e
elétrico) e não só à custa dos consumidores elétricos domésticos.
"Porque é que o sobrecusto da alteração do paradigma é paga apenas na fatura elétrica? Porque não é
paga na fatura do combustível e por todos", questionou o professor António Sarmento, presidente da
direção do Wave Energy Center, numa entrevista à agência Lusa.
Para o mesmo especialista, não há hoje dúvidas de que o setor da energia "vai ter de levar uma volta"
que passa "pelo desenvolvimento de nova tecnologia, nova regulação, novos negócios e novos
serviços".
"Tudo isso tem um enorme potencial de exportação e a pergunta é 'Quem é que tem de pagar isso?'",
argumentou a mesma fonte.
"A visão deste Governo foi de que quem paga isso são as energias renováveis, ou seja o setor onde se
faz a transição. Mas porque é que não é o setor da energia que paga isso?", questionou.
António Sarmento propõe, por isso, a constituição de "um mecanismos, um fundo de inovação
constituído à custa do consumo de energia, quer da fóssil quer da elétrica".
O resto é uma questão de matemática.
"É ver quanto gasta o país em energia (fóssil e outra) e ver quanto é que precisa para alterar o
paradigma energético. Para esta alteração estamos a falar de uma ninharia sem expressão [face à
fatura total] e tem um impacto positivo na nossa economia", explicou.
"Mas como isso é feito à conta dos consumidores elétricos domésticos é evidente que o resultado dá
nisto", concluiu.
Por outro lado, o presidente do centro que gere a Central de ondas do Pico rejeita a ideia atualmente
em debate na sociedade civil de que as renováveis geram sobrecustos exagerados face à energia mais
convencional.
"Uma grande parte do sobrecusto, não é de facto um sobrecusto é um custo de aprendizagem, que é
uma coisa diferente", disse António Sarmento, acrescentando que "quando alguém estuda está a
gastar dinheiro, mas isso não é um custo é um investimento".
"Na minha perspetiva é um investimento por vários motivos. Em primeiro lugar estamos a reduzir a
despesa com importação de combustíveis, porque cada euro que eu gasto em combustível é um euro
posto fora da nossa economia, cada euro gasto nas renováveis é um euro que eu ponho na nossa
economia, que se traduz em emprego e em desenvolvimento tecnológico", explicou.
As renováveis também se traduzem em segurança do abastecimento, um problema que ainda não se
coloca mas do qual o país "não está livre dentro de 10, 20 ou 50 anos".
Os sobrecustos com as energias renováveis deverão ascender em 2011 a mais de 500 milhões de
euros. O sobrecusto com a produção em regime especial (PRE, essencialmente renováveis mais cogeração) deverá ascender a 1,2 mil milhões de euros.
Os custos de interesse económico geral, que incluem a PRE, rendas aos municípios e a subsidiação às
regiões autónomas, ultrapassará os 2,5 mil milhões de euros em 2011.
NVI
***Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico***
Fonte: Agência LUSA
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